A vocação florestal dos estados do Sul, em especial do Paraná, impulsionou a silvicultura nas duas últimas décadas, fortalecendo principalmente a cultura de pinus. A silvicultura promoveu, então, o desenvolvimento de uma cadeia de atividades ligadas à madeira que estavam praticamente extintas pela exaustão da madeira nativa. Entretanto, foi através do aumento da demanda internacional por produtos de base florestal que a silvicultura ganhou um novo impulso. Atualmente é vista como um modo concreto de viabilizar a economia rural e de desenvolver uma grande cadeia produtiva nos diferentes segmentos da sociedade.
O reconhecimento da importância do setor florestal brasileiro na estrutura organizacional do Governo Federal levou a criação na Secretaria de Biodiversidade e Florestas-SBF do Ministério, em 1999, do Programa Nacional de Florestas – PNF. Sua primeira tarefa foi identificar a necessidade urgente de novos plantios florestais, fixados em 630 mil hectares/ano, para os anos de 2002 e 2003. Neste cálculo, 80 mil hectares são utilizados somente para atender às necessidades energéticas da região Nordeste, 170 mil hectares para o setor de celulose e papel, 130 mil hectares para uso em móveis e artefatos e 250 mil hectares por ano. O PNF calcula que são necessários investimentos da ordem de R$ 2,3 bilhões até 2007 para consolidar o setor florestal brasileiro, englobando florestas nativas e plantadas. Esse programa pretende destinar os recursos para a expansão da base florestal plantada, incorporando os pequenos proprietários rurais com o aproveitamento de áreas degradadas e expansão das áreas de manejo.
Com a certeza do fim da matéria-prima florestal nativa, que inicialmente parecia infindável, autoridades do setor começaram a buscar um mecanismo tributário para resolver esse problema. O Sistema de Incentivos Fiscais, inicialmente criado apenas para industrializar o nordeste, foi estendido para gerar florestas plantadas destinadas a suprir o parque fabril em iminência de colapso. Em 1964 foi a transferida para Curitiba a Escola de Engenharia Florestal, sediada em Minas Gerais, que passou a ter em todo seu corpo docente especialistas provenientes de diversas escolas mundiais. Já em 1971, aconteceu importante convênio dessa Escola com a Universidade de Fraiburg –Alemanha. Foi a partir desse fato que o Paraná passou a formar profissionais florestais com cultura de primeiro mundo.
Atualmente , o estado do Paraná, no qual a floresta plantada ocupa apenas 2,8% de seu território, é considerado o maior produtor de papel fibra longa, grande produtor de celulose e móveis e madeira serrada. O setor florestal paranaense recebe destaque, ainda, por exportar para os Estados Unidos, Comunidade Européia, Oriente Médio, Ásia e Norte da África. Os números abaixo, referentes às exportações paranaenses, demonstram a expressão do setor de florestas plantadas:
Mudanças no setor
Empresários do setor e entidades de classe buscam a criação de um ministério ou secretaria específica, para coordenar um grande programa florestal para atender, respectivamente, o Paraná e o Brasil. Atualmente a agricultura de árvores está vinculada de forma incorreta ao Ministério do Meio Ambiente. A desburocratização da atividade é outro detalhe a ser amplamente discutido, pois para ela são exigidos cerca de 50 documentos para todas as fases do processo (limpeza do terreno, desbastes, corte, transporte e venda) enquanto nas demais atividades agropecuárias tais exigências resumem-se em quatro documentos.
As árvores ideais para o plantio de florestas produtivas são: pinus e eucalipto (45m³/ha/ano), respectivamente. Porém, na Região Sul, encontra-se com freqüência , mesmo registrando demora em seu crescimento, o Pinheiro do Paraná, mais conhecido como Araucária (2,5m³/ha/ano), árvore símbolo do Paraná.
As duas variedades de pinus mais plantadas no Brasil, elliotti e taeda, foram a melhor solução encontrada para a falta de matéria-prima florestal, que surgiu com o fim extensivo da Araucária no sul do País provocada pelo não cumprimento da Reposição Florestal, conforme prevê o Código florestal. Por outro lado, todas as políticas dos Governos Federal e Estadual (INCRA e IAP), para a expansão agrícola, induziram os empreendedores a desmatarem ao máximo suas propriedades para alcançarem tal objetivo. Fato este que estimulou o desrespeito ao Código Florestal (manutenção de Área de Preservação Permanente e Reserva Legal).
No contexto atual, o pinus possui imagem desgastada junto à população. Trata-se de uma espécie exótica, constantemente mencionada de forma pejorativa por ambientalistas, que lançaram sobre ele as maiores maldições admitidas para uma árvore. É acusada de formar um deserto verde, como se fosse a única monocultura existente no Brasil. Poucos sabem, mas a espécie tem a seu favor o rápido crescimento, frente ao pouco espaço ocupado e ao faturamento proporcionado, além de ser considerado pelos silvicultores como o maior protetor das matas nativas. Possui, ainda, capacidade de se desenvolver em qualquer tipo de solo, aceitando e recuperando solos degradados por outras atividades. Isso porque toda a floresta, qualquer que seja, é uma “fábrica” de água por facilitar a absorção da chuva pelo solo, que é liberada para as fontes e rios de forma lenta e gradual, mantendo o fluxo regular e contínuo.
A atividade gera um emprego a cada US$ 2mil aplicados ou a cada sete ha plantados. Utiliza, inclusive, a mão-de-obra rural, não habilitada para atividades sofisticadas que caracterizam a indústria e o comércio. Exatamente o oposto ao custo de um emprego na indústria, que exige um montante de até US$ 100 mil.
O ato de plantar árvores, protege indiretamente a floresta nativa, ao conseguir fornecer matéria-prima para as indústrias e consumidores em geral. Também garante esse abastecimento de forma sustentável, conforme prescreve a Agenda 21 (programa baseado em amplo documento, que constitui a mais ousada e abrangente tentativa de promover um novo padrão de desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica).
Programa florestal
A Assoflor - Associação dos Reflorestadores de Palmas e a APRE - Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal, defendem a criação de um Plano Florestal para o Paraná. Para o presidente executivo da Apre, Roberto Gava, o setor florestal paranaense está apenas aguardando uma oportunidade para contribuir ainda mais com a sociedade. Segundo ele, a silvicultura pode criar mais empregos, oferecer mais oportunidades ao homem do campo, proporcionar aumento de renda e gerar produtos para exportação.
Para os associados da Apre a solução encontrada para viabilizar tantos benefícios é a criação de um amplo Programa Florestal Nacional e Paranaense. O modelo é usado com sucesso em países como Suécia, Finlândia, Canadá e Estados Unidos. Engana-se quem pensa que a implementação de um Programa Florestal compensaria apenas pelo lado econômico. O patrimônio florestal também sairá ganhando, pois a silvicultura abastece o grande parque industrial existente e, ao mesmo tempo, desvia a pressão sobre as florestas nativas, explica Gava.
A implementação de um Programa Florestal no Paraná permitirá a geração de 100 mil empregos diretos e 350 mil indiretos, além de aumentar o volume das exportações em US$ 600 milhões. No município de Jaguariaíva, dos 30.737 habitantes, cerca de nove mil dependem do setor florestal. Na região de Ponta Grossa, cerca de 600 empresas atuam nesse segmento, trabalhando com o mercado internacional.
Em 2003, o agronegócio paranaense bateu recordes de exportação, onde o complexo madeira perdeu apenas para o complexo soja. O Estado também é considerado o maior produtor nacional de papel fibra longa, grande produtor de celulose e móveis de madeira serrada, tudo isso, ocupando apenas 2,8% do seu território ou 560 mil hectares. “Nossa meta é ocupar até 5% da área do Estado”, declara Gava.
A Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal – APRE, uma das entidades responsáveis por manter o desenvolvimento da Silvicultura no Paraná, reúne cerca de 40 empresas ligadas ao plantio florestal, das 60 existentes no estado. O Estado possui 5.212 empresas que consomem produtos gerados a partir da floresta plantada e a indústria florestal é responsável pela geração de mais de 150 mil empregos diretos.
Entidades de classe e empresários do setor buscam a transferência da silvicultura para a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná já que atualmente o setor está vinculado à Secretaria do Meio Ambiente. Segundo Gava, essa tem sido uma luta de muitos anos. “Há tempos nós tentamos convencer o governo de que a silvicultura nada mais é do que a agricultura de árvores e que ela deveria ser de responsabilidade da Secretaria de Agricultura. O complexo de madeira é a segunda cultura mais importante do agronegócio”, conclui o executivo da entidade. |