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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°80 - ABRIL DE 2004

Eucalipto

Multiprodutos em povoamentos de eucalipto

As florestas plantadas no Brasil ocupam uma área de 4,8 milhões de hectares, dos quais, aproximadamente, 3 milhões plantados com o gênero eucalipto, sendo estes, em quase sua totalidade, ligados a empreendimentos verticalizados, não apresentando ainda um uso que proporcione uma agregação mais rentável, com exceção das empresas do setor de celulose.

O uso atual de madeira reflorestada do gênero Eucalyptus tem recebido especial atenção tanto por parte de pesquisadores como por parte do setor madeireiro em função do seu grande potencial de disponibilidade em curto espaço de tempo e da ampla possibilidade de uso da madeira.

A madeira proveniente dos empreendimentos florestais era, até alguns anos, exclusivamente voltada para a produção de matéria-prima para celulose, carvão vegetal, moirões e postes. Porém, com o crescente desenvolvimento e o aumento da demanda de mercado por produtos madeiráveis, as empresas do setor florestal estão buscando ampliar as possibilidades de utilização da madeira e diversificar a sua produção.

O setor florestal é responsável por 4% do PIB nacional e assegura 3,6 milhões de empregos diretos e indiretos, resultando o sustento de 10 milhões de brasileiros e desempenhando importante papel no contexto geral da economia brasileira. Porém, o longo prazo dos projetos florestais torna-os mais arriscados que outros de menor duração. No entanto, a grande diversidade de uso da madeira tem contribuído para sanar este problema e ainda expandir este setor. Além disso, as múltiplas funções das florestas têm contribuído para tornar este setor cada vez mais estratégico.

A tendência atual é que parte dessas plantações seja utilizada segundo o conceito de florestas de multiprodutos, onde de um mesmo fuste de uma árvore consegue-se extrair madeira para laminação, serraria, fabricação de papel e celulose, e, ainda, o aproveitamento dos resíduos da madeira para fabricação de chapas de fibras e geração de energia, entre outros produtos.

A idéia dos multiprodutos da madeira de reflorestamento corresponde à atuação em conjunto de diversas áreas da tecnologia da madeira, interligadas por meio da matéria-prima, ou seja, a partir de uma mesma fonte de material, vários tipos de materiais são produzidos, otimizando os ganhos finais com a sua colocação estratégica no mercado.

É importante diferenciar os termos multiprodutos e uso múltiplo da floresta. Os multiprodutos referem-se a multiplicidade de produtos obtidos a partir dos povoamentos florestais, tendo a madeira como principal fonte de matéria-prima. Os multiprodutos da madeira possuem enfoque tecnológico, de processamento da matéria-prima madeira por indústrias de diferentes segmentos, que otimizam a utilização do material produzido no campo. Já o uso múltiplo refere-se, do ponto de vista técnico e científico, à integração deliberada de áreas mais adequadas e seus usos apropriados. Neste sentido, o termo uso múltiplo de povoamentos florestais vem sendo utilizado para inúmeras situações em que uma área com cobertura florestal, implantada ou não, independente das espécies presentes, apresenta mais de uma atividade fim.

As constantes e rápidas transformações ambientais, tecnológicas, sociais, econômicas, políticas e institucionais em curso nos âmbitos internacional e nacional, exigem que os sistemas público e privado busquem, cada vez mais uma maior sintonia com os rumos da sociedade, antecipando os novos desafios ao seu desenvolvimento.

Atualmente observa-se o surgimento, o desenvolvimento e o crescimento dos mercados globalizados. Verifica-se, mundialmente, o acirramento da concorrência. Isto faz com que as empresas adotem uma nova mentalidade, que lhes propiciem condições de crescimento. A busca pela formação de vantagens competitivas é um dos meios para garantir sua sobrevivência a longo prazo.

No mercado competitivo, a demanda e a oferta do produto definem o uso a ser dado a determinada tora e a qual, ou quais produtos ela deve ser convertida. Os multiprodutos advindos da conversão da madeira podem ser madeira serrada, laminados, dormentes, postes, moirões, estacas, aglomerados, celulose, carvão, lenha, dentre outros. Essa multiplicidade de produtos permite à empresa florestal uma maior flexibilidade quanto à comercialização de produtos que têm diferentes valores de mercado, apresentando, também, variações em relação à demanda, ao longo dos anos. Assim, em caso de oscilações bruscas no mercado de celulose, as outras opções de uso da madeira poderão garantir a rentabilidade momentânea da atividade florestal.

Neste contexto, pode-se perceber uma tendência entre as empresas florestais brasileiras de se estruturarem operacionalmente e administrativamente dentro de metodologia gerencial mais moderna adotando novas tecnologias que permitam seu desenvolvimento e retornos financeiros melhorados.

A busca por técnicas capazes de permitir a obtenção de vários produtos da madeira, em quantidade e principalmente qualidade adequadas, se apresenta hoje como um imperativo para o desenvolvimento do setor florestal brasileiro.

Diante da pressão exercida sobre as florestas nativas, as florestas plantadas tornam-se importantes fontes alternativas de multiprodutos da madeira, especialmente as de eucaliptos. Na atualidade, a busca do uso múltiplo das florestas e de melhor remuneração para a madeira tem incentivado o estabelecimento de estratégias por parte das empresas para a oferta de madeira serrada dessa espécie. As empresas, além de concentrar esforços e tecnologias para produção de florestas energéticas de eucalipto, nos últimos anos têm direcionado suas atividades também para diversificar produção e produtos, a fim de diluir os riscos e a vulnerabilidade de um único segmento de negócio.

A principal vantagem advinda da adoção da diversificação do uso da madeira por determinada empresa é a diminuição do impacto em sua receita causado por oscilações do mercado que possam afetar o preço de seu produto principal.

A implantação da política de multiprodutos proporciona equilíbrio ao fluxo de caixa. Entretanto a execução de tal política exige conhecimento das equações matemáticas necessárias para a quantificação dos multiprodutos e planejamento a longo prazo.

Pesquisas sobre o manejo de florestas de eucalipto, destinadas a multiprodutos, têm sido implementadas, contudo, resultados consistentes somente estarão disponíveis daqui a alguns anos.

O uso da madeira de eucalipto para produtos diversificados vem apresentando um aumento crescente em importância devido ao escasseamento e encarecimento das madeiras nativas para uso em serraria e ao aumento da disponibilidade de madeira de melhor qualidade.

Para certos usos, tais como madeira para construção, embalagens e paletes, as florestas atuais, em princípio, podem ser usadas desde que fatores econômicos tais como localização, produtividade, demanda e outros, sejam favoráveis.

Atualmente, a busca do uso múltiplo das florestas de eucalipto e da melhor remuneração para a madeira, tem incentivado o aprimoramento de técnicas de produção de madeira serrada. As razões pelas quais o eucalipto apresenta-se como uma espécie para multiprodutos são: idade de corte reduzida, custo competitivo da madeira, segurança de abastecimento com matéria-prima homogênea e alta produtividade das florestas.

Não obstante, é necessário destacar que as florestas apresentam outros valores, tão importantes como os sócio-econômicos, como os ambientais, que são difíceis de serem mensurados e contabilizados. Esses valores referem-se às funções de melhoria da qualidade do ar, minimização do efeito estufa, controle do efeito erosivo dos ventos, regularização dos mananciais hídricos, redução da pressão sobre a vegetação nativa, utilização para fins recreacionistas, alternativa de energia renovável, etc.

Estas várias funções demonstram a importância dos povoamentos florestais e frisam a necessidade da conscientização do potencial florestal do Brasil como solução para sanar grande parte dos problemas sócio-econômicos além de ser uma maneira do país se inserir definitivamente no mercado mundial de produtos florestais.

Thelma Shirlen Soares Doutoranda em Ciência Florestal na Universidade Federal de Viçosa. Viçosa/MG.

Rosa Maria Miranda Armond Carvalho Doutoranda em Ciência Florestal na Universidade Federal de Viçosa. Viçosa/MG.