A implantação dos maciços florestais proporciona, além do retorno econômico, o surgimento de inúmeras funções ambientais. Estas funções ou externalidades positivas não são facilmente mensuráveis, tornando portanto uma tarefa difícil para que as mesmas possam obter um valor de mercado. Porém, estas desempenham um importante valor ambiental, sendo imprescindíveis para melhoria da qualidade de vida. Como exemplo dessas funções ambientais temos a diminuição do aquecimento global, a melhoria do micro clima local e da qualidade do ar, a manutenção da biodiversidade, a ciclagem de nutrientes, a capacidade de suporte para a fauna terrestre, a melhoria das condições estéticas e paisagísticas do local, o controle da erosão e a melhoria da vazão, o desenvolvimento de programas de recreação, lazer e de educação ambiental, o estabelecimento dos sistemas agro florestais, a recuperação de áreas degradadas e a diminuição da pressão sobre as florestas nativas. Embora as florestas plantadas gerem muitas funções ambientais, estas geralmente não são perceptíveis, o que faz com que os projetos florestais sejam vistos na maioria das vezes de forma unilateral, ou seja, apenas como um empreendimento impactante. Será descrita a seguir as funções ambientais relatadas acima tendo portanto como objetivo elucidar os aspectos positivos proporcionados pelos monocultivos florestais.
Um projeto florestal não se restringe apenas ao ecossistema formado pela floresta e pela vegetação de sub-bosque, abrangendo também áreas de preservação permanente e de reserva legal. Dessa forma os maciços florestais acabam proporcionando a manutenção da biodiversidade tanto da fauna quanto da flora. Esse aspecto é de suma importância já que estes componentes bióticos guardam consigo um número ilimitado de substâncias químicas naturais que pode vir a ser inclusive utilizada em benefícios do homem num futuro próximo, como por exemplo, para cura de certas doenças. A biodiversidade dos projetos florestais também pode ser evidenciada dentro dos plantios, principalmente nas áreas que apresentam densa vegetação de sub-bosque. Essa complexidade biótica, quando presentes nesses locais, geram também externalidades positivas, pois proporciona um melhor equilíbrio dos nutrientes no ecossistema, devido principalmente a dificuldade de perda dos mesmos já que estes estão contidos, em grande parte, na biomassa.
Portanto, a conservação mais efetiva dos nutrientes nestas áreas mostra-se como uma externalidade positiva proporcionada por esses mono cultivos. A implantação de florestas do gênero Eucalyptus pode proporcionar ainda melhorias mais significativas da qualidade do sítio. Estudos mostram que o aumento da produtividade do solo pelo eucalipto ocorre em virtude da ciclagem de nutrientes. De acordo com esses estudos, essa espécie pode melhorar a fertilidade do solo devido a capacidade que tem de extrair os nutrientes das camadas mais profundas e os devolver as camadas superficiais pela queda do folhedo. Estas espécies, em virtude do crescimento rápido, proporcionam ainda o recobrindo do solo num curto espaço de tempo, evitando assim à continuidade dos processos erosivos e consequentemente a perda da produtividade do sítio.
Resultados experimentais realizadas mostraram que o escoamento superficial e a erosão diminuíram sensivelmente após o estabelecimento de plantações de eucalipto em terrenos outrora degradados. Como pode ser observado, essa cobertura do solo pelas espécies florestais condiciona um aumento na taxa de infiltração frente aos processos de escorrimento superficial e subsuperficial, garantido dessa forma um melhor abastecimento do lençol freático. Portanto, as florestas plantadas trazem como conseqüência a melhoria da produtividade do local, proporcionando assim externalidade positiva. As espécies de eucalipto, por serem de rápido crescimento, proporcionam também um controle fundamental do aquecimento global, através de sua ação como maciças fontes de absorção de CO2.
Alguns estudos relatam inclusive a importância da implantação de megareflorestamentos com o objetivo de atenuar o efeito estufa provocado pela emissão de gás carbônico. O efeito estufa é inclusive de interesse mundial visto que esse processo pode vir a comprometer a sobrivivência da humanidade em virtude não só da elevação da temperatura, más também pelos efeitos desse aumento, principalmente no que tange a elevação dos níveis dos oceanos. A melhoria da qualidade do ar é uma outra função ambiental gerada pelas florestas plantadas. Este benefício se dá não apenas pela liberação de oxigênio através do processo fotossintético, más também pela retenção de partículas sólidas na parte aérea. O paisagismo é também um aspecto importante a ser considerado no assunto em estudo. A floresta plantada gera externalidades positivas por propiciar boas condições estéticas e paisagísticas do local. Esses efeitos tornam-se mais perceptíveis quando as florestas são implantadas em áreas degradadas, ocorrendo nesses casos uma profunda mudança no cenário em virtude da melhoria da qualidade visual.
A utilização de lenha bem como o uso de espécies florestais de rápido crescimento como quebra ventos, são mais alguns exemplos de externalidades positivas geradas pelas florestas plantadas. Em comunidades localizadas nas proximidades dos reflorestamentos é comum o uso doméstico de restos florestais como fonte de energia. Os plantios florestais podem também oferecer uma proteção contra os efeitos do vento principalmente em áreas próximas de residências ou de culturas agrícolas. Uma outra externalidade positiva gerada pelas florestas plantadas ocorre devido ao fato destas reduzirem a pressão sobre os remanescentes naturais. Estudos mostram que do volume total de madeira consumida nas indústrias, cerca de 39% provém de reflorestamentos.
A floresta plantada pode ser ainda usufruída em termos de uso múltiplo, através da instalação de programas para fins de recreação e lazer. Isso pode ocorrer através do uso desses locais para caminhada ou passeio ecológico. Esses ecossistemas podem ainda ser desfrutados em projetos de educação ambiental, onde pode ser evidenciado a profunda relação da fauna e flora, principalmente em áreas de reserva legal e preservação permanente, as quais compõem áreas consideráveis dentro dos projetos florestais. Portanto, o estabelecimento do uso múltiplo nesse tipo de floresta pode ser considerado como uma externalidade positiva.
Uma outra importância dessas florestas é que elas podem ser consorciadas com outras espécies através dos sistemas agroflorestais. O estabelecimento desses consórcios proporciona uma maior complexidade desses ecossistemas o que reflete no aumento da capacidade de suporte da fauna em virtude de melhorias da qualidade do sitio. Nota-se no entanto que as funções ambientais oriundas dos reflorestamentos são bastante significativas, porém elas não se mostram tão evidentes quando comparadas aos danos ambientais gerados nesses ecossistemas.
Autores
Luís Carlos de Freitas – Mestrando em Ciência Florestal do Departamento de Engenharia Florestal da UFV;
Carlos Cardoso Machado - Professor Titular do Departamento de Engenharia Florestal - U.F.V. |