Os resíduos gerados pela indústria madeireira, que são normalmente desprezados, podem ser utilizados para o cultivo de cogumelos comestíveis, construção de casas com roletes e confecção de tonéis, além da produção de chapas de aglomerados e manufatura de artefatos de madeira, entre outros. É o que recomenda pesquisa executada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), custeada pelo Banco da Amazônia S/A (Basa).
O estudo foi elaborado em indústrias do pólo madeireiro de Manaus/Itacoatiara, no Estado do Amazonas, com aplicação em toda a região amazônica, cujo relatório final, apresentado ao Banco da Amazônia, reforça diversas possibilidades de obtenção de produtos de alto valor agregado.
Os rejeitos, de um modo geral, já são usados na fabricação de pequenos objetos de madeira, que foram catalogados pela equipe do projeto, coordenado pelos pesquisadores Basílio Franco Vianez e Ana Paula Barbosa. Mas, além disso, eles podem ser utilizados na construção de habitações alternativas pela técnica de sweedish cope, considerada a mais adequada para a construção de casas do tipo log home, a partir de roletes das indústrias de chapas compensadas.
Roletes são sobras do desdobro de lâminas em indústrias de chapas compensadas, que podem ser usados como componentes individuais e uma casa de padrão popular (sala, dois quartos, cozinha e banheiro). A pesquisa do INPA submeteu sobras desse tipo das espécies copaíba, amapá, faveira-bolacha, caucho, cedro e muiratinga a análises de resistência, funcionalidade e, ao final, propõe a construção de um protótipo, em escala reduzida, para melhor avaliação do desenho proposto.
Nos estudos sobre cogumelos comestíveis, o fungo Lentinus edodes (Shiitake) apresentou bom potencial de crescimento quando cultivado em serragem. Os testes foram executados tendo como substrato um composto de serragem de madeira mais farelo de soja ou arroz. Em resíduos das espécies muiratinga, marupá, amapá-doce, cajuí e breu, foram avaliados o desenvolvimento e o comportamento dos cogumelos durante o período de produção, o sistema de cultivo, a produção final e o peso seco, faltando, ainda, estudos de viabilidade econômica e a implantação de um projeto-piloto.
Estudos sobre aplicação de design e acabamento de qualidade deram origem a 62 objetos, entre jogos e brinquedos, utilitários para cozinha e objetos de decoração e escritório, que foram expostos na Amazônia Design & Madeira do ano passado em Manaus.
Pesquisadores e técnicos do INPA, estudantes e professores das universidades federais do Maranhão (UFMA) e do Amazonas (UFAM) iniciaram um processo de inovação no design e no processo produtivo, entre as quais, a colagem de blocos com adesivo à base de PVA modificado, torneamento e lixamento em máquina manual e acabamento final com cera de carnaúba.
A pesquisa identificou 60 espécies florestais em uso pelas indústrias do pólo, sendo que a mais aproveitada por serrarias e marcenarias é o angelin-pedra, enquanto que na indústria de chapas, o assacu tem a preferência e gera, também, a maior quantidade de resíduos: 650 metros cúbicos por mês na área pesquisada.
Nos estudos sobre chapas aglomeradas, chamadas tecnicamente de “biocompósito cimento-madeira”, os pesquisadores concluíram que resíduos de todas as espécies florestais mostraram-se compatíveis com o cimento e úteis para a produção de chapas.
Para as instituições de pesquisa regionais como o INPA, a agregação de valor aos bens produzidos pela indústria madeireira contribui para a sustentabilidade econômica do setor, mas o potencial de aproveitamento dos resíduos vem sendo subestimado, apesar de servirem a diversos usos, tais como a fabricação de pequenos objetos de madeira, chapas de madeira reconstituída, insumos para a agricultura e geração de energia. O INPA vem desenvolvendo projetos de aproveitamento até de resíduos tais como galhos que ficam no piso da floresta. O aumento do rendimento das indústrias de base florestal conduzem ao aumento da competitividade do mercado, em um setor que ainda é caracterizado pelo alto índice de desperdício.
De acordo com os pesquisadores, uma quantidade enorme de resíduos é gerada pelo processamento inadequado da madeira pela indústria. O uso adequado dos resíduos, por outro lado, poderá proporcionar a geração de novos empregos, com o surgimento das atividades decorrentes de sua aplicação. |