Um grupo de pesquisadores realizou uma análise econômica da exploração, transporte e processamento de madeira de florestas nativas, no município de Jaru, estado de Rondônia. O objetivo é determinar e analisar os custos de exploração, transporte e processamento de madeira de florestas nativas para serrarias e laminadoras do município.
Os dados foram obtidos por meio de questionários específicos aplicados em serrarias e laminadoras que atuam naquele município. Os resultados mostram que as serrarias têm custos de exploração e transporte maiores que as laminadoras.
Assim, enquanto as serrarias gastam US$ 21.88/m³ na exploração e US$16.40/m³ no transporte, as laminadoras gastam apenas US$15.69/m³e US$10.05/m³ nestas mesmas atividades. Os custos médios de processamento de madeira das serrarias e laminadoras são iguais a US$71.98 e US$48.56 por m³, respectivamente. Para a maioria das espécies florestais usadas pelas serrarias e para todas as espécies usadas pelas laminadoras, o preço de compra das toras colocadas nos pátios das indústrias pelos “toreiros” é menor que a soma do preço de compra da madeira em pé e dos custos de exploração e transporte florestal. Do ponto de vista econômico, neste caso, é mais interessante para as empresas comprar madeira dos “toreiros”, do que arcar com os custos das atividades inerentes à compra, exploração e transporte de toras.
A exploração é a atividade florestal que causa o maior impacto ambiental, bem como, uma das de maior representatividade na formação dos custos da madeira serrada de florestas nativas ou plantadas. Na região Amazônica esta atividade, ainda que caracterizada pelo uso seletivo de poucas espécies florestais por unidade de área e realizada de forma itinerante, resulta em danos ecológicos e econômicos relevantes. Tradicionalmente, a exploração tem sido feita de forma inadequada e desordenada. A mecanização, quando utilizada, prescinde de planejamento e racionalização das atividades de derrubada, arraste e transporte.
A solução desta situação implica em treinamento do pessoal envolvido e na substituição do equipamento empregado que, inicialmente, elevará os custos de extração em função dos investimentos necessários.
A área de estudo é o município de Jaru, estado de Rondônia, localizado no eixo da rodovia Marechal Rondon (Cuiabá - Porto Velho), à cerca de 300 Km a sudeste de Porto Velho. A população é de 53.438 habitantes, a precipitação e a temperatura média anual são de 2.200 mm e 20ºC, respectivamente. A vegetação existente no município compreende os tipos floresta tropical densa e floresta tropical aberta.
O estudo foi elaborado pelos pesquisadores Antonio Donizette de Oliveira, José Roberto Soares Scolforo e José Luiz Pereira de Rezende, professores do Departamento de Ciências Florestais - UFLA, de Lavras – MG, e pelo engenheiro florestal da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental de Rondônia, Eugênio Pacelli Martins.
Custos de exploração e transporte florestal
Entre os itens que compõem o custo de transporte, a depreciação é o que tem o maior percentual de participação, seguido dos custos de manutenção e de combustíveis e lubrificantes. Considerando a soma dos itens de custos de exploração e transporte florestal, a participação da depreciação é a maior, com 27,5% nas serrarias e 25,8% nas laminadoras. Deve-se ressaltar que muitas empresas não consideram a depreciação de máquinas, equipamentos e veículos em seus cálculos de custos, conforme constatou-se nas entrevistas. Esta atitude pode levar ao sucateamento precoce dessas empresas caso não formem um fundo de reserva que permita a reposição das máquinas e equipamentos no momento em que atingirem o final da vida útil.
Algumas indústrias madeireiras do município de Jaru não têm estrutura própria para a exploração e, às vezes, nem para o transporte. A opção dessas indústrias é comprar madeira dos chamados “toreiros” (extratores autônomos responsáveis pela exploração e transporte de madeira até o pátio das serrarias e laminadoras), que atuam apenas como fornecedores.
Em relação aos preços de venda da madeira em pé na floresta e em toras colocadas nas esplanadas ou nos pátios das indústrias, contatou-se que o cedro e o freijó são as espécies mais caras. O preço do metro cúbico de cedro passa de US$ 42.11 para a compra da madeira em pé na floresta para US$ 105.26 para toras colocadas no pátio de estocagem.
Para todas as espécies a soma do preço de compra de madeira em pé e do custo médio de exploração é maior que os preços de compra de madeira em toras colocadas nas esplanadas. Nesse caso, é melhor para as serrarias comprar a madeira nas esplanadas.
Das quinze espécies usadas pelas serrarias, onze (angelim, cabriuva, caixeta, cumaru, garapa, garrote, jatobá, jitó, muiracatiara, roxinho e sucupira) podem ser adquiridas em toras colocadas nos pátios das empresas, por preços menores que a soma do preço de compra de madeira em pé e dos custos de exploração e transporte florestal.
Já os preços das espécies cedro (US$ 105.26/m³, cerejeira (US$ 73.68/m³, cumaru (US$ 105.26/m³) e ipê (US$ 57.89/m³) são mais altos que o total gasto para comprar, explorar e transportar a madeira, sugerindo que as próprias serrarias devem realizar essas atividades.
Geralmente, as serrarias não consideram adequadamente essas situações pela inexistência de um valor de mercado dos custos de exploração e transporte florestal na região. Entre as espécies consumidas pelas laminadoras (bandarra, caucho, pinho cuiabano e sumaúma), considerando os preços de compra de toras nas esplanadas, só o caucho pode ser adquirido por valor inferior ao da soma do custo médio de exploração (US$ 15.68 / m³) e do preço de compra da madeira em pé (US$ 10.53 / m³)
Em relação ao preço das toras colocadas nos pátios das empresas, todas as espécies podem ser compradas por valores menores que o total gasto com exploração, transporte e aquisição de madeira em pé.
A maioria das laminadoras não terceiriza a exploração e o transporte florestal devido aos entraves burocráticos e estrita vigilância exercida pelos órgãos públicos sobre os autônomos “toreiros” com relação às autorizações de exploração e transporte. Em algumas situações os “toreiros” trabalham de forma ilegal, chegando a provocar descontinuidade no suprimento de matéria-prima às empresas.
Custo de processamento da madeira
Nas sete serrarias pesquisadas, o volume de madeira serrada varia de 670 m³ a 7.500 m³ por ano. Essa grande variação se deve a fatores como o número de espécies usadas pelas serrarias, o tipo e a quantidade de máquinas e equipamentos de cada indústria, a fonte de matéria-prima (compra de madeira dos toreiros ou compra de madeira em pé na floresta).
A serraria VII, por exemplo, tem a maior produção anual de madeira serrada (7.500 m³), trabalha com 15 espécies florestais, tem duas serras de fita, um guincho com conjunto de afiação, duas serras circulares (alinhadeiras), duas destopadeiras, duas fitas de desdobro, três plainadeiras, duas destopadeiras para acabamento, duas taqueadeiras e uma pá-carregadeira. Além disso, compra a madeira em pé na floresta e dispõe de estrutura própria para explorá-la e transportá-la até o pátio de estocagem, o que garante um fluxo contínuo de matéria-prima para processamento.
Por outro lado, a serraria I, que tem a menor produção de madeira serrada por ano (670 m³/ano), trabalha com apenas 4 espécies florestais, tem uma capacidade de processamento de madeira pequena (uma serra fita, um guincho com conjunto de afiação, uma serra circular, duas destopadeiras, uma plainadeira e uma taqueadeira) e compra madeira de toreiros que em algumas épocas do ano não têm toras disponíveis, forçando-a a paralisar suas atividades.
Os custos de processamento da madeira variam entre as serrarias em função do tipo e quantidade das máquinas e equipamentos usados e da quantidade e grau de especialização dos funcionários. Uma serraria típica tem serra de fita (24 das 25 serrarias de Jaru possuem este equipamento), um guincho com conjunto de afiação, uma serra circular, duas destopadeiras, uma fita de desdobro, uma plainadeira, uma destopadeira de acabamentos, uma taqueadeira e uma pá-carregadeira. Dispõe, ainda, de 20 operários não especializados e de 8 trabalhadores especializados, incluindo operadores de serras de fita e empregados de escritório.
Os itens do custo de processamento que mais contribuem para a formação do custo total são os salários (35,05%), os encargos sociais (20,33%) e a depreciação de máquinas e equipamentos (13,73%).
A serraria V tem o menor custo de processamento por m³ (US$ 46.50/m³) e a serraria I tem o maior custo (US$ 164.38/m³). O custo médio de processamento é de US$ 71.98/m³.
Nota-se que, em média, as laminadoras produzem cerca de 11.500 m³de lâminas por ano a um custo de US$ 48.56/m³. Os salários, os encargos sociais e a depreciação são os itens com maior participação na formação do custo total.
Para as condições específicas em que o estudo foi desenvolvido, pode-se concluir que as serrarias têm custos de exploração e transporte maiores que as laminadoras. Assim, enquanto as serrarias gastam US$ 21.88/m³ na exploração e US$ 16.40/m³ no transporte, as laminadoras gastam apenas US$ 15.69/m³ e US$ 10.05/m³ nestas mesmas atividades; os custos médios de processamento das serrarias e das laminadoras são iguais a US$ 71.98 e US$ 48.56 por m³, respectivamente; para a maioria das espécies florestais usadas pelas serrarias (angelim, cabriuva, caixeta, cumaru, garapa, garrote, jatobá, jitó, muiracatiara, roxinho e sucupira) e para todas aquelas usadas pelas laminadoras, o preço de compra das toras colocadas nos pátios das indústrias pelos toreiros é menor que a soma do preço de compra da madeira em pé e dos custos de exploração e transporte florestal.
Do ponto de vista econômico, é mais interessante para as empresas comprar madeira dos toreiros que arcar com os custos das atividades inerentes à compra , exploração e transporte de toras.
Março 2004 |