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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°78 - FEVEREIRO DE 2004

Manejo

O novo desafio do manejo florestal

Na última década, uma das discussões básicas sobre o manejo das florestas tropicais foi a sua sustentabilidade. Sabe-se que na exploração florestal adequada os danos ao povoamento podem cair de 40% para 5 - 10%. Atualmente, modelos matemáticos simulam o crescimento de um povoamento florestal permitindo o prognóstico de seu desenvolvimento. O planejamento adequado das diferentes fases da exploração e sua interface podem reduzir os custos destas atividades. Isto pode ser facilitado por vários instrumentos existentes, como análise de modelo, programação linear e outras ferramentas matemáticas oriundas da Pesquisa Operacional e da Ecologia.

Modelos de crescimento são utilizados permitindo variar o ciclo de corte, grupos de espécies de utilização, intensidade do aproveitamento e dos tratamentos silviculturais. Por outro lado, o dano à floresta, em grandes proporções, durante a exploração já podem ser mitigados. Bem conduzidos, os cálculos da taxa de extração e planejamento de exploração, pode-se contar, sem dúvida, com uma segunda rotação. Estudiosos do setor e as diretrizes da Organização Internacional de Madeiras Tropicais (ITTO) identificam que um excelente auxiliar na sustentabilidade da produção madeireira é a chamada exploração cuidadosa (best pratices) das florestas tropicais.

Estímulos nacionais e internacionais de organismos como ITTO preconizam a muito tempo o bom manejo. Os governos estaduais passaram a se interessar pelo tema em regiões de floresta tropical e adotá-lo como paradigma. Entretanto, até o momento, a forma correta de manejar tem atraído poucos produtores.

Este desinteresse, por sua vez, reflete na incapacidade do manejo em gerar produtos (máquinas dimensionadas, automação industrial, exploração de precisão) e sistemas corporativos de planejamento e gestão, observados nas indústrias de base florestal como celulose e papel, siderurgia, MDF (medium density fiberwood) e mais recentemente madeira serrada. Soma-se, do ponto de vista do produtor a volatilidade da produção, influenciada por mercados, acesso a base florestal e a “propriedade da terra”, associada a sua permanência na atividade, sugerindo que a sustentabilidade do sistema de produção é formal, atendendo apenas às exigências legais.

A própria legislação florestal brasileira está consolidada quanto ao conceito de reposição de estoques (reflorestamento), sujeitando o manejo de estoques à proibições específicas (Switenia macropylla) ou retiradas arbitrárias de volumes pré determinados.

O direcionamento principal das pesquisas realizadas para o manejo eram sobre o crescimento dos povoamentos e a simulação do desenvolvimento dos mesmos. Num período relativamente recente, foi levantada a questão do manejo de impacto reduzido, o qual minimiza drasticamente o dano ambiental e auxilia, em boa parte, no planejamento. Inclui-se aí, cuidados para redução dos custos de operação. Agora, muitos produtores madeireiros, céticos no início, começam a admitir que acontece uma drástica redução nos custos devido ao adequado planejamento.

Entretanto, existe a necessidade de se garantir um fluxo constante de madeira com potencial comercial para que a viabilidade da empresa seja efetiva. Isto nem sempre é possível devido à disposição dos talhões e a distribuição das espécies de interesse na floresta nativa ser espacialmente irregular. Ou seja, mesmo que o crescimento do povoamento como um todo seja regular e de acordo com os estudos de crescimento efetuados, pelo menos a curto prazo, a alocação dos talhões para garantir quantidades homogêneas é praticamente impossível dentro dos critérios atuais. Isto ocasiona, uma renda de madeira satisfatória em determinado ano, mas não necessariamente no ano seguinte.

Num momento em que os microcomputadores atingiram a capacidade de armazenamento e processamento dos atuais, são tímidas as propostas para administração da floresta tropical baseadas em modelos matemáticos e estatísticos.

As Ferramentas da Análise Multivariada podem agrupar talhões/ compartimentos semelhantes do ponto de vista econômico ou separar tipologias florestais diferentes quando considerando espécies , volume, e outros fatores. Análises inicialmente desenvolvidas para identificação de padrões de distribuição de espécies como TWINSPAN, CANOCO e DCA, podem auxiliar no planejamento de talhões.

A Programação por Metas pode “forçar” a renda ao valor médio da floresta, facilitando a organização anual de “novos” talhões compostos, tornando-os portanto semelhantes do ponto de vista produtivo (sempre um problema na floresta tropical).

As imagens de satélite juntamente com formas de inventário florestal estratificado e a análise multivariada podem revolucionar o levantamento das florestas tropicais e baratear custos.

Por outro lado, um fator sempre esquecido no Brasil, por parte dos produtores de madeira, é a resistência em manterem profissionais da área florestal. A busca de um especialista é muitas vezes uma alternativa tardiamente considerada.

Controles de produção e custos são negligenciados. Estes controles, que nada mais são que fotos instantâneas da empresa, normalmente só são feitos no fim do ano ou pós-exploração, quando já é tarde para corrigir possíveis distorções do sistema. Os madeireiros desconhecem ou dão pouca credibilidade a estes controles. Em um período de produção, em muitas empresas, tratores de arraste passam mais tempo parados com problemas mecânicos que em efetiva operação. O empresário preocupa-se apenas com os custos aparentes, esquecendo-se dos invisíveis custos fixos. Os “break-even-points” das operações (simples trade-off entre estradas secundárias e arraste por exemplo) nem mesmo são considerados ou discutidos. As operações de exploração são feitas de forma atropelada, sem respeito a sua interface, resultando em constantes embates contra os fatores climáticos, de antemão conhecidos.

Acrescente-se a isto, pessoal (operadores de máquinas e equipamentos) sem treino e com dificuldades de seguir novos padrões e métodos de trabalho. Aliás, no Brasil, a folha de pagamento das empresas assusta mais os empresários do setor madeireiro do que perdas financeiras no campo ocasionada pela baixa produção ou altos custos de construção de estradas mal planejadas por exemplo.

Some-se um último fator, as escolas florestais preparam os engenheiros florestais sem matérias como pesquisa operacional e modelagem. Isso dificulta a compreensão de manejo florestal, que é a concatenação de eventos naturais e operacionais que permitem a obtenção de bens e produtos florestais.

Para organizações de pesquisa é recomendado o desenvolvimento de novas formas de avaliação e planejamento quantitativa e qualitativa das florestas (utilizando por exemplo a análise multivariada e a pesquisa operacional, possibilitando novos conceitos de compartimentos.

Desenvolvimento de modelos matemáticos (adaptados a novos modelos de compartimentos ou combinação de compartimentos) que facilitem o diagnóstico rápido do potencial madeireiro para otimização da produção na floresta tropical, dentro de critérios sustentáveis, possibilitando a garantia de fluxos constantes anuais de madeira de acordo com necessidades de mercado e renda.

Para as instituições de fomento do manejo florestal é necessário estímulo à utilização de ferramentas simples que facilitem o planejamento e tomada de decisões na floresta tropical, tais como: análise de modelo, seleção de equipamento, avaliação de acessibilidade de exploração e controle das operações.

Para se definir o método ideal de exploração florestal sob condições conhecidas, é necessário analisar primeiro as diversas operações que formam a cadeia do transporte, desde a zona de abate, no interior da floresta até o local de venda ou processamento. Este estudo é denominado análise de modelo. Assim, em muitos casos é possível eliminar um elo da cadeia de trabalho, diminuindo os custos terminais. A análise de modelos decompõe todo o sistema de exploração e transporte e suas possíveis variações e combina aquelas opções mais viáveis do ponto de vista econômico.

Normalmente, os equipamentos utilizados em floresta tropical são escolhidos sem processo de seleção. Como se todas as características das florestas, como capacidade e suporte do solo; inclinação do terreno; potencial da floresta e diâmetros; cargas limites; além de custo e produção diários a manipular fossem idênticos. Sem estas considerações, equipamentos iguais são escolhidos para diferentes florestas, e este processo terá reflexos negativos na otimização dos trabalhos.

A avaliação de acessibilidade de exploração tem por finalidade avaliar o custo de exploração florestal por metro cúbico em um ponto preestabelecido de acordo com condições impostas de abate, determinada intensidade de produção e exploração, e utilização e um determinado número de fatores físicos dominantes e específicos para a área de avaliação. A avaliação destas áreas baseia-se, normalmente, nos inventários convencionais de baixa intensidade. A avaliação de acessibilidade de exploração facilita a decisão anual dos compartimentos a manejar.

Para o controle das operações é importante lembrar que a minimização dos custos (dentro de um compromisso com a sustentabilidade do manejo florestal) é objetivo fundamental do sistema de exploração utilizado. A produção e custos de exploração devem ser calculado inicialmente mediante projeções e depois verificado através de sistemas adequados de controle.

Para se definir o padrão de produção (produção ideal por equipe e/ou equipamento por período considerado), pode-se ter a priori um valor médio regional como base. Na própria análise de sistemas e seleção de equipamentos já mencionada, ter-se-á uma idéia prévia do potencial do equipamento e sistema. Também, a experiência anterior do florestal, pode dar uma idéia inicial.

Hoje, cartas controle, de acordo com bom suprimento de registros (e facilidades da computação e seus aplicativos) podem ser emitidas diariamente.

Os registros facilitarão, além da checagem de falhas no sistema, a identificação do ponto ideal de reparo ou substituição dos equipamentos por exemplo. O Modelo de Substituição de Equipamento, por exemplo. Proporcionado pela Programação Dinâmica (seqüência de decisões inter-relacionadas) simula as relações de custo de operação, preço de compra do equipamento e preço de revenda no decorrer de um período, facilitando a decisão rápida.

Aos cursos de graduação em engenharia florestal é recomendada a introdução de cadeiras ligadas a modelagem, pesquisa operacional e planejamento de campo.

É o momento de se dar um salto de qualidade no manejo florestal. Além de considerações sobre o crescimento e de dano ambiental mitigado com as diretrizes para se obter o manejo de baixo impacto, deve-se estimular formas de administração visando controle da produção e dos custos, além da máxima renda potencial da floresta. Inclusive, o manejo de baixo impacto deve ser obtido como conseqüência do planejamento ou ordenamento florestal baseado em suas características ecológicas e econômicas.

Noções básicas de pesquisa operacional são inerentes as necessidades da atividade florestal. De acordo com a capacidade da empresa, maior ou menor complexidade no planejamento pode ser sugerido. O planejamento deve considerar que a heterogeneidade da floresta, expressada por seu padrão de distribuição de espécies, pode ser uma ferramenta para superar eventuais variações no mercado e não um obstáculo.

A forma de se alcançar estas otimizações é simples, pois baseia-se em ferramentas matemáticas conhecidas, aplicadas à ciências florestais, biológicas e econômicas Com a capacidade atual dos micro computadores qualquer dificuldade fica ultrapassada, menos a mais difícil, a incredulidade dos produtores florestais, estranhamente os que deveriam ser os maiores interessados nestes temas.

Evaldo Muñoz Braz - Eng. florestal, MSc. pesquisador. Embrapa Acre.

Luís Cláudio de Oliveira – Eng. florestal, M.Sc. pesquisador . Embrapa Acre.

Marcus Vinicio Neves d´Oliveira - Ph.D. em manejo Florestal. Embrapa Acre.

Elias Melo de Miranda – Eng. agrônomo , M.Sc. Manejo Florestal. Embrapa Acre.