As florestas da Ásia estão se reduzindo em um ritmo acelerado e a China é o país de maior demanda. Durante as três décadas passadas, o consumo japonês de madeira absorveu as florestas tropicais das Filipinas e de Bornéu. Os ecologistas temem agora que a China demande o restante. Em 1998, depois que a República do Povo foi atingida por temporais devastadores, causados pela destruição das florestas, Pequim proibiu o corte ao longo dos rios Yang-tsé e Amarelo - e determinou uma drástica redução em outras províncias. Mas ao se mobilizar para evitar um desastre ecológico em casa, Pequim estaria causando um recuo das florestas da Birmânia até a Sibéria e a Indonésia, cuja maioria sofre limitações legais. A solução para evitar o caos está na importação, já que o reflorestamento não acompanharia a demanda chinesa .
A prova disso é que China se tornou, em pouco tempo, o segundo maior importador de madeira do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. A proibição do corte é uma grande causa – a China, agora, produz apenas metade da madeira do que consome -, mas há outras também. O consumo doméstico está aumentando rapidamente, enquanto a classe média chinesa compra novas casas e Pequim assume grandes projetos de construção civil, impulsionando a aquisição de madeira.
A entrada da China na Organização Mundial do Comércio também levou as tarifas de importação para próximas de zero, incentivando importações assim como a rápida expansão de uma indústria exportadora de qualquer coisa desde polpa e papel até móveis e decorações, a maior parte destinada para os Estados Unidos e Europa.
Insatisfeita com as importações legais, o consumo chinês de madeira também causou cortes ilegais. Segundo especialistas internacionais em florestas, cerca de 40% das importações de madeira da China vêm de corte ilegal, que coloca em risco os recursos naturais asiáticos. Quase metade das atuais importações da China vem das vastas florestas coníferas do extremo leste russo, uma fronteira selvagem em que pobreza, corrupção e uma força policial deficitária permite a algumas empresas cortar árvores ilegalmente.
Pelo fato de as madeiras ilegais serem muito baratas - sem impostos na Indonésia, nem tarifas na China - as empresas do continente têm uma grande vantagem competitiva nos mercados de exportação. Para uma empresa de Jacarta, de fato, o preço da madeira originária da Indonésia e passada ilegalmente pelas aduanas chinesas podem ser mais baratas do que o preço das madeiras vendidas legalmente na Indonésia.
Mas, este tipo de atitude vem se restringindo e tende a acabar. No final de dezembro passado, Pequim e Jacarta assinaram uma carta de intenções para conter o fluxo de madeira ilegal para a China. É apenas uma lista de intenções, mas aponta cenário positivo, como o incremento das exportações do setor de países como o Brasil.
Com um ritmo de crescimento invejável e um mercado de 1,3 bilhão de consumidores a China é uma parceria muito rentável e o Brasil vem investindo na oportunidade. Graças ao ritmo de crescimento das exportações, a economia brasileira manteve o fôlego perdido com o desaquecimento do mercado interno. Tudo indica que o País deve fechar o ano com um saldo comercial positivo de US$ 17,5 bilhões, o melhor desempenho desde 1988, quando o superávit da balança comercial ultrapassou os US$ 19 bilhões.
Embora ainda mantenha o regime comunista implantado por Mao Tsé-tung em 1949, a China segue um programa estratégico de abertura econômica. No final de 2001, aderiu à Organização Mundial do Comércio (OMC) e derrubou inúmeras barreiras às importações.
O relatório anual sobre o comércio mundial, divulgado no início de agosto pela OMC, confirma a importância do mercado chinês para o mundo. De acordo com o informe, a participação dos países em desenvolvimento do Hemisfério Sul nas trocas internacionais de mercadorias aumentou de 6,5% em 1990 para 10,6% em 2001. “Grande parte desse crescimento no intercâmbio comercial ocorreu nos países da Ásia, especialmente na China”, diz o relatório.
Em 2003, a previsão da OMC é de que a locomotiva chinesa continue puxando o crescimento de 3% previsto no comércio mundial, apesar dos efeitos da epidemia da Síndrome Respiratória Aguda (Sars).
A expectativa do governo para o futuro é de que a China, importante compradora de matérias-primas, seja também um grande mercado para os manufaturados brasileiros. Isso, no entanto, depende de iniciativas de marketing que mostrem os produtos brasileiros com mais clareza para os chineses.
Desde novembro de 2001 quando, após quinze anos de negociação, a Organização Mundial do Comércio aprovou o ingresso da China, um novo mercado começou a se abrir, especialmente para os produtos manufaturados. ).
Graças às reformas econômicas que têm sido feitas desde a década de 80 com o objetivo de criar uma "economia socialista de mercado", um surto de crescimento econômico tomou conta do país. Segundo o Banco Mundial, até 2020 a China terá o maior PIB do mundo. O incentivo do governo chinês para aquisição de matérias-primas manufaturadas é convidativo para o setor.
Nos últimos dez anos, de 1991 para 2001, as exportações para a China cresceram 739% em dólares, passando de US$ 226,4 milhões para US$ 1,9 bilhão. Em 1991, representavam 0,7% do total das exportações do Brasil. Em 2001, saltaram para 3,3%. Para se ter uma idéia da importância da China para o País, no ano passado as exportações para o Mercosul - com todas as suas facilidades tarifárias ¬- significaram apenas 11% do total. ).
Em 2001, 59% das exportações brasileiras para a China foram de produtos primários; 16,5% foram de semimanufaturados e 24,5%, de manufaturados. Após a entrada da China na OMC, os semimanufaturados já ganharam força: no primeiro bimestre deste ano, passaram a representar 26% das exportações, ou US$ 48,1 milhões. Os cinco principais produtos exportados no primeiro bimestre foram minério de ferro, minério de ferro aglomerado, pasta química de madeira, billets de ferro e aço e lâminas de madeira - a maioria, portanto, semimanufaturada.
A partir dos embarques de grãos do Paraná para a China, iniciou uma etapa duradoura das aquisições chinesas, expressando uma parcela do potencial desse mercado. Adicionalmente, percebem-se sinais de uma ligeira diversidade da pauta, com a inclusão de segmentos relativos a material de transporte e madeira, os quais ocuparam, respectivamente, a 2ª e 3ª posições no ranking das exportações paranaenses à China em 2002. Destaque-se, contudo, que a inserção desses grupos mantém a característica da demanda chinesa por insumos industriais e matérias-primas, os quais se destacam autopeças e madeira serrada.
As relações comerciais entre Brasil e China vêm se fortalecendo nos últimos anos, evidenciadas pelo avanço na corrente de comércio, que saltou de US$ 2,24 bilhões para US$ 4,07 bilhões entre 1996 e 2002. Ressalte-se que o crescimento de 81,35% situou-se muito acima do desempenho global da corrente de comércio brasileira, cuja variação foi de 6,48%. Nesse intercâmbio de comércio, não há posição consolidada quanto ao equilíbrio entre o fluxo de exportação e importação, pois em 1996 teve início uma etapa de pequenos déficits com ritmo crescente, que se estendeu até 2001. No ano seguinte houve interrupção dessa tendência, com o registro de um superávit de US$ 574 milhões.
No que diz respeito às exportações para a China, o Brasil registrou aumento de 126,28%, evoluindo de US$ 1,13 bilhão para US$ 2,52 bilhões no período em questão. Essa evolução nas relações comerciais, aliada à pauta das compras chinesas, com concentração em minérios e soja, posiciona os Estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Mato Grosso como principais exportadores.
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