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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°60 - OUTUBRO DE 2001

Silvicultura

Silvicultura na Alemanha

Há vários anos os 15 países membros da União Européia (EU) já mantém um intenso intercâmbio comercial, que irá se intensificar ainda mais a partir de janeiro de 2002 quando as moedas correntes de 10 destes países se fundirão no Euro. Moedas como o Franco francês e belga, irão desaparecer, além de outras como o Guilder holandês, Lira italiana, Escudo português, Peseta espanhola, finlandês e Marco alemão. A união monetária, está sendo esperada com um pouco de preocupação por muitos europeus e particularmente os alemães. Sua proposta é de facilitar o comércio e a cooperação entre as sociedades européias. Na véspera de outro passo histórico importante, unindo a Europa, focalizamos neste artigo especial uma visão das condições presentes do setor florestal da Alemanha.

A partir do final do século XVII, grandes áreas da Alemanha foram devastadas devido ao crescimento da população e por técnicas industriais que se utilizaram de muita madeira. Foram desenvolvidas leis de silvicultura em reação. Os cortes anuais foram limitados para menos que o crescimento anual.

Isto economizou 10.7 milhões de hectares ou aproximadamente 30% do território alemão de florestas com propriedade fortemente diversificada, como é comum na maioria dos países europeus.

Hoje o país sofre forte pressão em sua área florestal, e entre os principais problemas a contornar estão:

Uma grande pressão por inovações visando competir com os países escandinavos, onde a tecnologia avançada para colheita, transporte e processo de madeira está sendo introduzida rapidamente;

A globalização de mercados, particularmente no caso dos países europeus orientais que se esforçam para ingressar na sociedade da União Européia , abrindo oferta de produção barata estrangeira;

Uma alta demanda de apoio financeiro para os cinco novos estados orientais da República Democrática da Alemanha, onde as taxas de desemprego chegam a 20% em algumas regiões;

Grupos ambientalistas nacionais e internacionais fazem um forte trabalho para o desenvolvimento do “Natura 2000” , programa de conservação da natureza, que está sendo implementado em toda a Europa.



Desenvolvimento tecnológico

Em fevereiro de 1990 , ocorreram duas tempestades fortes de “Wibke” e “Vivian” que colocaram abaixo mais de 50 milhões de metros cúbicos (m³) de madeira, principalmente na Alemanha, Áustria, Tchecoslováquia, Suíça, e França. O dano foi calculado em US$ 4.5 bilhões. O mercado de madeira precisou de vários anos para se recuperar daquele desastre. O processo manual tornou-se impossível, pois na Alemanha mais que um corte anual foi atingido. Pela primeira vez, os madeireiros tiveram que aplicar métodos escandinavos de colheita mecanizada. Enquanto na década de 80 só haviam algumas dúzias de máquinas para silvicultura na Alemanha, hoje já são várias mil presentes em empreendimentos economicamente orientados.

Durante os últimos dois anos desenvolveu-se uma revolução na logística do setor que tem suas razões principais na concentração de unidades de processamento. Algumas destas empresas já superaram a produção anual de mais de 1 milhão de m³, o que está exigindo um constante aperfeiçoamento de provisão de matéria-prima. As grandes serrarias têm que monitorar um fluxo contínuo de matéria-prima, utilizando máquinas de corte e processamento da madeira por computador, que garantem medidas automáticas altamente seguras e com otimização da produção. Estas empresas integram Sistemas de Posicionamento Global (GPS) e Sistemas de Informação Geográficas (GIS), determinando a posição e marcas em mapas digitais onde estão sendo colocados troncos ou tábuas.

Cada vez mais empresas do setor operam com máquinas computadorizadas, interconectadas pela Internet para acelerar a troca de dados .



Outra forte tempestade chamada" Lothar" atingiu a Alemanha no final de 1999, particularmente no sudoeste, onde há muitas florestas. Esta tempestade aumentou o corte anual para 49.1 milhões de m³ ano de 2000. No período 1998/99 a produção foi ao redor 39 milhões de m³, com quase 80% vindo de espécies coníferas. Esta tempestade foi um dos motivos que incentivou o desenvolvimento de métodos novos de armazenar madeira recém cortada, coberta por um plástico, visando reduzir danos de atividades bióticas, cortando a provisão de oxigênio de micro-organismos. O preço médio por m³ em 1998 era 91.4 marcos alemães, representando um total de 3.6 bilhões de marcas, ou seja, cerca de US$ 1.7 bilhão.

O consumo de madeira na Alemanha é calculado hoje em aproximadamente 95 milhões de m³ por ano. Assim, até mesmo no ano 2000, quase a metade da madeira consumida foi importada. De acordo com dados estatísticos da FAO de 1999, as exportações alemãs de produtos de base florestal durante anos vem se mantendo em 10% inferiores que o valor de importações. Para os importadores da região oriental da Europa há o problema de preços mais baixos, devido ao valor reduzido de salários como, por exemplo, na Polônia, Estônia, República da Tchecoslováquia ou Rússia.

Seis países da Europa Oriental estão entre os dez mais importantes exportadores de madeira serrada de coníferas para a Alemanha. Por causa de padrões tecnológicos mais altos, a Escandinávia é também uma forte competidora .



Situação econômica alemã

Em contraste com o resto de Europa, a economia alemã mostra uma tendência de queda por mais de um ano, depois de 1999, quando obteve bons resultados. A taxa de crescimento econômico no segundo trimestre de 2001 foi de apenas 0.6%. A taxa de desemprego está perto de 10%, enquanto as taxas de investimentos também estão em queda. O índice de inflacão na região do Euro atingiu a 3.5% em maio deste ano, e diminuindo deste então para 2.8%. Já o Banco Central Europeu, em Frankfurt, aponta para 2% a sua meta de inflação a longo prazo. Para 2002 uma recuperação econômica geral com taxas de crescimento mais alta está prevista, podendo atingir 2%. Somente um grande impulso nas exportações alemãs poderá reverter a taxa de câmbio fraca do Euro para o dólar americano. Por fim, em julho as importações japonesas de madeira serrada de coníferas dos Estados Unidos e do Canadá caíram em 13%, chegando a 1.36 milhões de m³, enquanto as importações da Europa (sem a Rússia) cresceram 12.2%, chegando a 1,24 milhões de m³ na primeira metade de 2001. Outro mercado grande é a China. As importações de madeira em tora no mesmo período cresceram 25,9%, totalizando 7.99 milhões de m³. Entretanto em valor o aumento foi somente de 3.3%, chegando a US$ 878 milhões.

O mercado alemão apresenta hoje uma super oferta de madeira serrada. A razão principal é a situação ruim, que já dura alguns anos, do setor de construção civil, que é um dos principais clientes para produtos de madeira. Centenas de milhares de casas e apartamentos estão desocupados e esperando para ser demolido. Na primavera de 2001, o número de autorizações para construir foi 25% menor que o ano anterior. Em outros períodos órgãos federais e municipais apoiavam a economia em períodos de retração incentivando a construção pública e projetos de infra-estrutura. Agora, entretanto, todos os níveis administrativos alemães mostram-se sem recursos para esta ação.

Mercados de madeira

Importações de madeiras tropicais em toras aumentou em 21%, chegando a 161,000 m³ em 2000 comparados a 1999, enquanto importações de madeira serrada tropical diminuíram em 11%, totalizando 154,000 m³ no mesmo período. Importações de madeira em tora variam de ano a ano, chegando nos anos 90 a ser duas vezes maior. Como muitos países latino-americanos e asiáticos proibiram a exportação de madeira não processada, visando apoiar sua indústria de processamento nacional, aproximadamente 90% da madeira em tora importada da Alemanha vêm da África, com destaque de Camarões, que no ano de 2000 chegou a 74,000 m³ de exportações.

O mercado de madeira tropical na Alemanha é influenciado pelo sistema de sustentabilidade e conservação florestal. Muitas áreas de plantio florestal alemão possuem a certificação da FSC, ou pela Certificação de Produtos Florestais Européia (PEFC), que está mais relacionada às associações florestais locais. Em um ano o PEFC certificou mais de 3.8 milhões de hectares na Alemanha. Entretanto, fora da Europa este certificado tem pequeno significado.

O FSC é conhecido internacionalmente e possui uma íntima relação com suas companhias certificadas. A Mil Madeireira, de Itacoatiara, que foi certificada pela FSC foi advertida em 1998 por ter misturado madeira para exportação de sua própria área com o de uma companhia adjacente certificada. No dia 27 de agosto deste ano, o FSC anunciou que suspenderá a certificação emitida em 1998 para a companhia Perhutani, da Indonésia, que possui parte de uma companhia estatal, com área de 2 milhões de hectares de plantações de Teca. A razão são conflitos sociais crescentes ativados pelas mudanças políticas na Indonésia, que conduziram a um aumento de roubos de madeira e a violência.



Um conflito que agora está evoluindo na União Européia, e especialmente na Alemanha, refere-se a um programa chamado " Natura 2000." Foi desenvolvido no começo dos anos 90 e junto aos países membros para especificar e declarar 10% do seu território total, assim como áreas de interesse especial para conservação da natureza. Como as florestas em geral estão em um estado muito mais natural, comparável a plantação ou terra para pasto, são incluídas áreas de florestas grandes neste programa. A Alemanha está sendo processada no momento pela Comissão Européia por não ter cumprido suas obrigações suficientemente, de acordo com esta lei, que existe há 9 anos, mas está sendo implementada lentamente.

Aproximadamente 12 milhões de donos de florestas privadas administram 60%, ou 70 milhões de hectares de florestas. Eles estão preocupados em como terão que aceitar restrições em áreas incluídas neste programa, enquanto que a exemplo das muitas compensações da Alemanha, para tais restrições as suas propriedades ainda não estão especificadas. O desenvolvimento econômico neste setor fica imprevisível. Enquanto a madeira serrada e a indústria de papel já reduzem sua oferta de matéria-prima, o consumo de madeira e de papel está aumentando na Europa assim como mundialmente. Ao mesmo tempo, o custo de energia aumenta e a " bioenergia" de cavaco de madeira e outra biomassa fica mais e mais popular. A Suécia já cobre 20% de sua demanda de energia primária total por biomassa e importa ”pallets” do Canadá. A Áustria e a Dinamarca são fortes neste campo, também. O governo alemão também reduziu drasticamente os apoios financeiros ao setor.. Enquanto até mesmo os governos, ONGS e cientistas aceitam a madeira como um recurso natural em crescimento, que não contribui ao" efeito estufa" , o desenvolvimento futuro deste mercado pode ser obstruído pela política governamental contraditória.

Axel Jönsson, Göttingen (Alemanha)

Correspondente Especial – Revista da Madeira