Apesar de estudiosos apontarem o manejo como solução para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, a madeira manejada ainda representa menos de 5% da produção regional
Um estudo recente, feito por entidades relacionadas ao setor florestal, constatou que há mais de 200 espécies amazônicas comercializadas no Estado de São Paulo. As vendas são feitas por tipo de madeira e não por espécie botânica. Por exemplo, a madeira denominada cedrinho corresponde a mais de 20 espécies botânicas. Em 2001, foram comercializadas aproximadamente 75 tipos de madeira amazônica. Esta demanda demonstra a necessidade de um plano de manejo sustentado para manter a floresta amazônica conciliando o desenvolvimento da economia nacional.
A mata nativa, se manejada, poderá conciliar geração de renda e emprego e ao mesmo tempo garantir a manutenção da floresta. Somente a área de florestas existente na Amazônia, em regime de manejo sustentado, pode ampliar a participação do setor dos atuais 4,5% do PIB para mais de 7%, gerando uma receita anual de US$ 43 bilhões. Mas, os esforços para o desenvolvimento de um setor madeireiro social e ambientalmente
responsável são recentes. Até 1994, o manejo florestal era inexistente na Amazônia. Em 2001, a área manejada já era superior a um milhão de ha, dos quais um terço correspondia às florestas certificadas de acordo com os padrões do Conselho de Manejo Florestal (FSC), o maior sistema de certificação florestal do mundo. Um avanço importante, porém insuficiente, pois a madeira manejada ainda representa menos de 5% da produção regional.
As informações, contidas no livro Acertando o Alvo 2, o primeiro estudo detalhado sobre o uso de madeira amazônica no mercado nacional tem enfoque no estado de São Paulo, que responde por 20% do consumo brasileiro. Este livro é uma extensão do Acertando o Alvo, publicado em 1999, o qual revelou que a grande maioria (86%) da madeira amazônica era consumida no Brasil, enquanto apenas 14% eram exportados. Este estudo foi realizado por uma parceria entre o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Amigos da Terra Programa Amazônia Brasileira e o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora). A iniciativa contou com o apoio da Agência Alemã de Cooperação Técnica (GTZ) e da Embaixada do Reino dos Países Baixos.
No estado de São Paulo, o segmento de indústrias de produtos de madeira (móveis, pisos e esquadrias) que utiliza madeira amazônica é formado por cerca de 600 estabelecimentos. A maioria (63%) dessas indústrias se concentram nos pólos de Votuporanga, Mirassol, Tietê, Itatiba e São Bernardo do Campo e as empresas restantes (37%) nos outros municípios do Estado. Em 2001, essas indústrias consumiram cerca de 457 mil metros cúbicos de madeira amazônica serrada, o que representou 1,3 milhão m³ de madeira em tora.
As indústrias de móveis de madeira usam tanto madeira da floresta amazônica como também madeira de reflorestamento (em especial, pinus), aglomerado e MDF (Medium Density Fiberboard). Por outro lado, as indústrias de pisos e esquadrias de madeira preferem a madeira amazônica.
Em 2001, as indústrias de produtos de madeira no estado de São Paulo consumiram aproximadamente 924 mil m³, dos quais 457 mil m³ (49%) eram madeira serrada de origem amazônica. Considerando-se um rendimento médio de 36% no desdobro da madeira em tora para a madeira serrada, ou seja, 2,8 m³ em tora para 1 m³ serrado (Gerwing et al. 2000), a quantidade de madeira em tora necessária foi cerca de 1,3 milhão de metros cúbicos.
Tipo de madeira utilizado pelas indústrias de produtos de madeira no estado de São Paulo, 2001.
Construção civil
Em 2001, para uma área construída de cerca de 6 milhões de metros quadrados na cidade de São Paulo, foram consumidos aproximadamente 216 mil m³ de madeira serrada (equivalente a 0,6 milhão de m³ em tora) originária da Amazônia. Desse total, 80% representam madeiras descartáveis (fôrmas e andaimes) e apenas 20% produtos beneficiados (pisos, esquadrias e móveis).
As incorporadoras e construtoras em operação no Município de São Paulo revelaram insatisfação com a qualidade da madeira adquirida na Amazônia. Por exemplo, as peças beneficiadas (pisos, esquadrias, móveis etc.) apresentaram vários problemas, tais como secagem inadequada e dimensões imprecisas. Além disso, os fornecedores de madeira amazônica freqüentemente não cumprem os prazos de entrega, o que acarreta prejuízos severos no cronograma das construtoras.
Os tipos de madeira mais utilizados para vigamento foram cupiúba e garapeira (32%); enquanto cedrinho e cambará foram os tipos preferidos para as tábuas e pranchas (27%). Para os forros das casas, cedrinho foi o tipo preferido; enquanto jatobá que é a principal madeira amazônica exportada, representou somente 4% do volume total comercializado. Em 2001, havia 15 empresas de casas pré-fabricadas de madeira cujo consumo total em madeira serrada foi cerca de 60 mil m³. Expresso em madeira em tora, o volume total consumido por essas empresas foi 168 mil m³ por ano. Desse total, a grande maioria (98%) era proveniente da Amazônia. Para efeito de cálculo total de madeira amazônica consumida, esse segmento contribuiu com aproximadamente 165 mil m³ de madeira em tora.
Indústrias de Móveis
A grande maioria (91%) das 3.500 indústrias de móveis do Brasil utiliza madeira como matéria-prima, enquanto apenas 9% usam metal, plástico e outros materiais, segundo a Abimóvel. Essas indústrias estão situadas principalmente nos pólos moveleiros de: Bento Gonçalves (RS), São Bento do Sul (SC), Arapongas (PR), Ubá (MG), Linhares (ES) e no Estado de São Paulo, nas cidades de Mirassol, Votuporanga e São Bernardo do Campo.Os tipos de madeira amazônica mais utilizados na fabricação de móveis são garapa, angelim pedra, cedro e cedrinho. A madeira proveniente de reflorestamento é principalmente pinus e, em menor proporção, eucalipto.
Na região de Votuporanga e Mirassol predominam indústrias especializadas na produção de móveis populares, tais como camas, estofados, armários, mesas e outros. Existem, em média, 240 indústrias nesses pólos consumindo cerca de 644 mil metros cúbicos de madeira, dos quais 36% são madeira amazônica. O aglomerado representa 34% do consumo e a madeira oriunda de reflorestamento, como pinus e eucalipto, contribuiu com 17% da madeira consumida, seguida por compensado e chapa dura (7%) e MDF (6%).
Em Itatiba, onde estão situadas as indústrias de móveis finos (móveis para hotéis, restaurantes e lojas de luxo), havia 40 empresas, cujo consumo total foi 9.200 metros cúbicos em 2001. Nesse pólo, o consumo de madeira amazônica representou 64% da matéria-prima utilizada; o compensado representou 26%; o MDF somou apenas 8%; enquanto a lâmina de madeira amazônica somou 2%.
Em São Bernardo do Campo concentram-se as indústrias de móveis que utilizam menor proporção de madeira amazônica em relação ao pólo de Votuporanga. Existem cerca de 75 indústrias de móveis, entre elas indústrias de peças refinadas (móveis finos), mobiliário para escritório e móveis populares. As 225 indústrias existentes no restante do Estado utilizaram 168 mil m³ de madeira. Nessas indústrias, o consumo de madeira amazônica representou 64%, seguido por madeira de reflorestamento (14%), MDF (13%) e compensado e lâmina (9%).
Pisos e Esquadrias
A grande maioria (99%) da madeira utilizada nas indústrias de pisos e esquadrias provém da Amazônia. Essas indústrias, concentradas principalmente no pólo de Tietê, consumiram cerca de 52 mil m³ de madeira serrada da Amazônia, o que representou aproximadamente 147 mil metros cúbicos de madeira em tora. As principais espécies madeireiras utilizadas eram ipê e jatobá.
Não existem pólos de pisos e esquadrias no estado de São Paulo e na região Sul do Brasil. Há somente algumas indústrias dispersas e isoladas nessas regiões.
Os preços dos principais produtos florestais comercializados no estado de São Paulo, em 2001, variaram de acordo com o tipo de madeira utilizada e o tipo de industrialização. Por exemplo, o preço de 1 m³ de cedrinho foi em média R$ 925 para forro, enquanto na forma de tábuas valeu apenas R$ 415. Assim, uma mesma espécie pode ter diferentes preços, de acordo com o tipo de acabamento do produto. Os assoalhos de jatobá e ipê, por exemplo, apresentaram um preço médio de R$ 1.600 por metro cúbico, enquanto as tábuas de cedroarana e cambará alcançaram um preço bem inferior, apenas R$ 390 por metro cúbico. Comercialização
Em 2001, a maioria (60%) das vendas dos produtos industrializados de madeira foi realizada por estabelecimentos de revenda de pequeno porte (lojas de móveis, casas de decoração); 24% desses produtos foram comercializados nas grandes lojas varejistas; 10% das indústrias possuíam lojas próprias; e, finalmente, 6% dos produtos foram vendidos de várias formas, tal como venda direta às construtoras e incorporadoras.
Não há uma tendência majoritária para o uso futuro de madeira amazônica na indústria de produtos de madeira. Nos diversos segmentos do setor de base florestal as opiniões divergem de acordo com o tipo de indústria.
De acordo com 31% das indústrias entrevistadas, a madeira de reflorestamento deverá predominar sobre a madeira amazônica. Essa percepção é mais comum nas indústrias de móveis populares. Para esses empresários, a madeira de reflorestamento (em especial, pinus) possui menor relação custo/benefício quando comparada à madeira amazônica.
Porém, para 30% das empresas, deverá haver um aumento da participação de madeira amazônica na composição dos produtos. Os motivos para essa preferência derivam das vantagens da madeira amazônica como cor, beleza, durabilidade e resistência mecânica.
Para 39% das indústrias entrevistadas, tanto a madeira amazônica como a matéria-prima oriunda de reflorestamento devem continuar sendo utilizadas nas mesmas proporções atuais. Os entrevistados revelaram que uma mudança na preferência ocorreria apenas em função da expansão ou retração dos mercados. Por exemplo, o mercado interno prefere madeira oriunda da Amazônia, enquanto o mercado externo tem optado por madeira de reflorestamento, principalmente pinus. |