O segmento da construção civil é de grande importância para o desenvolvimento da nação. No ponto de vista econômico destaca-se pela quantidade de atividades que intervêm em seu ciclo de produção, gera consumos de bens e serviços de outros setores e, do ponto de vista social, pela capacidade de absorção da mão-de-obra.
Segundo Sindicato das Industrias da Construção Civil do Estado do Paraná o déficit habitacional brasileiro era da ordem de 6.539.528 unidades habitacionais, em 2000. Este dado aponta que no decurso de quase uma década, a taxa de crescimento anual foi, em média, de 2,2%. As necessidades atuais de incremento e reposição do estoque de moradias possuem incidência notadamente urbana, que absorvem 81,3% do montante estimado, porém não exclusivamente metropolitana. Estas áreas participam com apenas 29,3% da demanda total englobam 1.951.677 unidades.
O conjunto metropolitano apresentou incremento de 34% em suas estimativas de déficit habitacional ajustado no período de 1990 a 2000, a uma taxa média de crescimento de 3,3% ao ano. As regiões metropolitanas representavam 26,1% do total nacional, em 1991, tendo elevado sua participação para 28,9% do déficit brasileiro, em 2000. As mais representativas continuam a ser São Paulo e Rio de Janeiro. No entanto, há perda de posição relativa do Rio de Janeiro, de 24,9%, em 1991, para 19,6%, em 2000. Este comportamento decorre do reduzido acréscimo relativo de déficit habitacional estimado em 2000 na região metropolitana do Rio de Janeiro, ao passo que são expressivos os acréscimos ocorridos nas demais regiões metropolitanas, principalmente as de Curitiba e Belém.
O Brasil possui a maior e a mais diversificada (em número de espécies) floresta do mundo, é detentor também de um clima e solo apropriado para o plantio de espécies de rápido crescimento. A área cultivada com espécies de rápido crescimento, com o grande impulso de incentivos fiscais da década de 60 para o gênero eucaliptus por exemplo passou de 4.000 mil hectares para 4,8 milhões de hectares. O Brasil é o 4o. maior produtor mundial de produtos florestais e no ramo das exportações é apenas o 14o.
No total de madeira produzida 53% é destinada a lenha e carvão (baixo valor agregado) e 1,53 bilhões de m³ são destinados a transformação industrial. Destes 60% vão para o processamento mecânico, 27% para papel e celulose 13% para a fabricação de painéis reconstituídos.
Apesar do Brasil ser um país com evidente vocação florestal e o déficit habitacional constituir um problema social de enormes proporções. A tradição construtiva em alvenaria de tijolos, introduzida pelos portugueses na época da colonização do país, utilizando mão de obra escrava, ainda é a mais utilizada.
Construção civil e setor florestal
A importância econômica do setor da construção civil é representada pela sua participação no Produto Interno Bruto-PIB. O setor industrial, participou no PIB, no período de 1975 à 1985, com aproximadamente 40% do total, concorrendo, a construção civil, com 6,5%, que corresponde a 16,2% no total das indústrias.
Em 1990, a indústria reduziu sua participação para 34,3%, sendo 6,9% a construção, e em 2000 a construção participou com 9,6% . Desta forma, sua participação no total das indústrias chega a 20,3%. Pode-se observar que isto resultou, em termos relativos, a um crescimento mais acentuado na construção do que na indústria de transformação.
O setor também participa na Formação Bruta de Capital Fixo, já que é responsável pela construção de edificações: indústrias, centros comerciais, escolas e hospitais. Sua participação na População Economicamente Ativa (PEA) é também expressiva: em 1980, a construção foi responsável pela absorção de 7,3% enquanto que neste mesmo período, o total das indústrias absorvia 24,9%. Já em 1986, a construção representou 6,5% da PEA.
A construção civil tem um papel social muito importante na geração de empregos. O setor florestal brasileiro também apresenta grande potencial para a geração de empregos, podendo ainda expandir significativamente.
Dada as vantagens comparativas que o país possui, a participação de apenas 4% no PIB nacional parece muito pequena. Se for considerada uma área plantada de 4,8 milhões e os 500.000 empregos gerados, pode-se concluir que o setor florestal é altamente mecanizado e eficiente.
No Brasil, apesar da oferta de madeira, das potencialidades de reflorestamento e de uma crescente demanda por moradias, o uso da madeira na produção de habitações é irrisório quando comparado com a América do Norte e alguns países da Europa. Restringe-se apenas a produtos de acabamento como pisos, rodapés, meia cana, estrutura do telhado e esquadrias, construção civil é um dos principais mercados de produtos madeireiros.
Embora tenhamos tecnologias disponíveis para construções de casas de madeira, este conhecimento ainda está restrito às universidades, em função do pouco diálogo existente por parte dos empresários, que produzem casas de madeira, com os pesquisadores universitários.
Outro fator que contribuiu para esta realidade é o fato de que o mercado consumidor brasileiro, no passado, não foi muito exigente em relação aos produtos disponibilizados pela indústria nacional da construção civil. Por outro lado esta situação começou a mudar com a busca de alternativas construtivas mais rápidas e econômicas. Outro aspecto importante é a questão da qualidade, desperdícios e processos construtivos. Os consumidores atingiram uma consciência e um nível de exigências muito maior.
Consumo de madeira
Em 1993 foram realizadas investigações com diferentes empresas construtoras e profissionais da construção. Foram identificados os volumes de consumo, considerando uma unidade habitacional média alvenaria.
Relaciona o setor de uso da madeira e o consumo médio estimado por m² para o sistema construtivo em alvenaria.
O uso da madeira para fins permanentes na construção civil em alvenaria para uma unidade de 50m² foi em média 3,819m³ , 3,405m³ em madeira serrada e aproximadamente 0,414 m³ em painéis para usos não definitivos. Com o desenvolvimento de novos sistemas construtivos, utilizando madeira serrada e painéis poderia ser elevado este consumo de madeira serrada em 21,09% e o de painéis em 78%.
A tabela relaciona o setor de uso da madeira e o consumo médio estimado por m² para o sistema construtivo utilizando madeira como vedação (painéis) e estrutura (madeira serrada) em residências:
A globalização vem provocando a mudança de comportamento do mercado consumidor, exigindo das empresas um ajuste no sentido de tornarem-se mais competitivas. Qualidade apenas não é mais um diferencial competitivo, para conquistar novos mercados. É imprescindível acrescentar elementos e características que identifiquem e diferenciem os produtos e serviços em relação à concorrência. As estratégias empresariais incluem também a inovação tecnológica, e principalmente o design como fator de valorização do produto.
O design é uma atividade multidisciplinar, envolve conhecimentos que iniciam na etapa de concepção de novos produtos e serviços e desenvolvimento de aspectos da produção.
É importante também para o marketing, porque ao se analisar um determinado produto, pode-se perceber a presença do design não só em sua forma de apresentação e utilização, mas também na embalagem, no manual de uso, nos impressos e materiais promocionais, na forma de venda do produto, na marca e logomarca.
O design, ainda, assume o papel de descobrir novos atributos a serem explorados, simplificação e otimização do processo produtivo, e barateamento dos custos de fabricação, aumento da qualidade e agregação de valor aos bens e serviços.
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), há muitos benefícios econômicos e estratégicos advindos da atividade de design, considera-se que esta absorva em média apenas 15% dos custos, mas comprometa cerca de 85% dos investimentos no desenvolvimento de um novo produto.
Outros dados estatísticos recentes apontam que cerca de 90% dos projetos implementados geraram lucros e o período médio de recuperação do investimento realizado foi de 15 meses, a partir do lançamento do produto. Nos casos em que foi possível fazer comparação com produtos anteriores, as vendas cresceram em média 41% e, 25% dos projetos abriram novos mercados domésticos.
Outros benefícios identificados abrangeram desde a redução dos custos de fabricação até melhorias na imagem externa da empresa e economia de estoques; nos projetos implementados, os riscos financeiros foram baixos para todos os tipos de design.
Na indústria moveleira, onde já existem alguns programas de design como fator de valorização do produto florestal, as empresas já começam a ser competitivas inclusive a nível internacional, a pesquisa de mercado e o planejamento estratégico é parte integrante no processo produtivo, o diferencial do design, que neste caso pode valorizar o produto em até 7 vezes mais no mercado.
Segundo relatos do “ Green Peace” , o mogno que sai ilegalmente do país é vendido pelos índios da aldeia de Kaiapós, por US$ 30,00 o m³; e é vendido como madeira serrada no mercado internacional por mais de US$ 1.000,00, madeira suficiente para confeccionar 12 conjuntos de mesa de até 12 lugares. Cada conjunto chega ao mercado atacadista a US$ 4.150,00x12= US$ 49.800,00. Na famosa loja Harrods, de Londres , um conjunto em mogno com 12 assentos não sai por menos de US$ 8.500,00 x 12 = US$102.600,00 (equivale a 4.275 árvores).
Ao contrário do setor moveleiro a construção civil e o segmento de habitação utilizando sistemas construtivos à seco ( principalmente em madeira), ainda não projetou a casa como um produto do design, (avanços tecnológicos, simplificação e otimização dos processos produtivos, etc.) como um fator de valorização do produto florestal.
A construção civil tem uma demanda em potencial, possivelmente muito maior que o setor de móveis, em contrapartida as soluções que agregam tecnologia ainda não são difundidas. É importante criar um programa de marketing em que haja o esclarecimento da opinião quanto á utilização de sistema construtivos a seco, principalmente os que utilizam materiais ecologicamente corretos como painéis de madeira reconstituída, e principalmente não vincular a madeira à idéia de construções de baixo custo e temporárias mas sim a questão da qualidade e produtividade.
Fonte: Cristiane Laroca, Arquiteta; Professora do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, Departamento Acadêmico de Construção Civil;
Jorge Matos, Prof. Dr. Universidade Federal do Paraná, Engenharia Florestal, Tecnologia e Utilização de Produtos Florestais. |