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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°76 - SETEMBRO DE 2003

Preços

Valorização da madeira varia de um pólo para outro

Um estudo publicado pelo PNF – Programa Nacional de Florestas, e que é o parâmetro mais recente para identificar os preços praticados pelo setor na Amazônia, aponta diferenças de preços significativas entre os pólos madeireiros da região Amazônica. No período da pesquisa, a Região onde a madeira de alto valor era mais cara foi na Flonas Bom Futuro e Jamari em Rondônia, custando R$ 19,00/m³, seguido de Caxiuanã, onde o custo era 14,3% mais baixo (R$ 16,3/m³ de alto valor). Na Flona Tefé o preço chega a ser 88% mais baixo, custando apenas R$ 2,3/m³ , para uma classe única de valor, com maioria de espécies de baixo valor, mas incluindo também as de alto valor.

Os preços mais altos em Rondônia estão relacionados principalmente à maior competição entre as empresas madeireiras e ao estoque decrescente de madeira. O baixo preço na região de Tefé está relacionado à abundância de madeira e à distância das indústrias (distância de 400 a 850 km via fluvial para a maioria das empresas operando na região). Isso indica que a capacidade de pagar pela madeira de floresta manejada deve variar grandemente entre estas regiões. Existe também o efeito da variação das espécies que compõem cada grupo de valor.

Em geral, os preços médios da madeira são cerca da metade do valor máximo que as empresas poderiam pagar e ainda lucrar 15% do valor do produto processado. Portanto, o valor da madeira em pé poderia aumentar consideravelmente sem inviabilizar as atuais indústrias. Porém, a abundância de madeira no mercado e a facilidade em obter madeira sem custos silviculturais (por exemplo, de desmatamentos e de exploração seletiva sem manejo) limitam a capacidade de impor preços acima dos preços médios de mercado.

Não foram calculados os preços da madeira em pé para o grupo de “Médio valor” em Caxiuanã devido à pouca variação nos preços das diferentes espécies de madeira extraídas nessa região. Do mesmo modo, em Tefé, as principais espécies de madeira comercializadas são de baixo valor.

A pesquisa analisou dois tópicos importantes : O primeiro identificou os custos da exploração e industrialização da madeira na região das Flonas indicadas como prioritárias para implementação do manejo pelo Programa de Florestas Nacionais. E o segundo apontou os valores máximos potenciais que os madeireiros estariam dispostos a pagar pela madeira em pé, dadas as condições atuais de mercado, parâmetros de preços e de tecnologia. O estudo foi baseado em 111 entrevistas com industriais madeireiros ou seus diretores sobre características e custos da exploração e processamento da madeira em 12 pólos madeireiros próximos às Flonas estudadas.

Os custos de extração da madeira e de processamento (serragem da madeira) também mostram-se diferentes entre as regiões. Os custos de processamento são mais baixos nas proximidades da Flonas Bom Futuro/Jamari em Rondônia. Esses custos menores provavelmente devem-se à maior proximidade com o Centro-Sul, fato que pode baixar os custos de alguns fatores de produção, como assistência técnica e manutenção de máquinas. A existência de energia elétrica estável, proveniente da hidroelétrica de Samuel, também pode ser outro fator.

Os preços médios da madeira serrada em Rondônia são mais baixos do que nos outros locais, com exceção das madeiras de alto valor. Esse fato mostra que o mercado nesse local é mais competitivo, pois os custos menores de produção são repassados aos preços finais dos produtos e para os preços pagos pela madeira em pé, que são mais altos.

Logística

Os custos de transporte fluvial por jangadas e por balsas são os mais baixos, como era de se esperar. O valores de transporte terrestre nas proximidades das FLONAS Bom Futuro/Jamari são mais baixos que os custos de transporte em Tapajós para o intervalo de distância em que atualmente a madeira está sendo extraída (até 250 Km). Novamente, as estradas e a infra-estrutura de melhor qualidade parecem ter efeito na diminuição desses custos.

Estimou-se o valor máximo para a madeira em pé que as indústrias poderiam pagar e ainda obter um lucro de 15% sobre o valor da madeira processada. Os valores máximos foram calculados conforme a distância da floresta à indústria. Em geral, os valores máximos que os madeireiros poderiam pagar são bem mais altos do que os valores que pagam atualmente no mercado para todos os grupos de valores de madeira. Os motivos para essa diferença entre os valores máximos e de mercado podem ser a abundância de matéria-prima em algumas regiões, a falta de informação dos detentores da madeira sobre preços ou falhas no mercado, pois alguns madeireiros podem agir como monopolistas. Por exemplo, os madeireiros podem exigir direito preferencial de compra onde abrem estradas. Deste modo, aparentemente, estão capturando boa parte da renda econômica.

A venda de madeira em pé da Flona Tefé para os pólos de Itacoatiara seria viável apenas para as laminadoras, pois este pólo fica a cerca de 750 km de distância de Tefé. As serrarias poderiam ir, no máximo, até 670 km de distância. As laminadoras, porém, poderiam buscar madeira até cerca de 1.150 km, pagando os preços de mercado da região (R$2,32/m3).

Os valores máximos do preço da madeira apresentados no estudo provavelmente estão superestimados, pois acredita-se que muitos madeireiros entrevistados subestimam seus custos de produção. Assim, os custos médios de produção obtidos nas entrevistas não incluem alguns custos. Por exemplo, a maioria dos madeireiros não incluem os custos de oportunidade do capital em suas planilhas de custo ou, até mesmo, ignoram certos custos fixos. Além disso, existem custos adicionais para legalizar a madeira quando esta é de origem ilegal.

A legalização da madeira pode envolver a produção de planos de manejo fraudulentos e a compra de “Autorizações de Transporte de Produtos Florestais” para transportar madeira ilegalmente explorada. A dimensão e os custos dessa fraude é incerta. No entanto, informantes ligados ao setor madeireiro relatam que as ATPFs podem custar cerca de R$ 2 por m³ de tora ilegal a ser transportada.

As estimativas de custo de transporte também estão subestimadas para distâncias menores que a média da amostra, pois os dados obtidos nas entrevistas referem-se aos custos médios de transporte. Desse modo, os custos fixos, que têm um peso grande em curtas distâncias, ficam subestimados. Entretanto, mesmo considerando-se essas dificuldades em captar os custos totais de produção, as empresas pareciam estar obtendo uma margem de lucro elevada, pois a diferença entre os preços médios e o valor máximo é bastante alta. Além disso, no período do estudo, havia evidências empíricas da alta lucratividade. Várias empresas estavam fazendo grandes investimentos em máquinas para beneficiar a madeira e em caminhões com maior capacidade de carga para transportar toras.

Variações de preços

O mercado de madeira é sujeito a variações de demanda conforme o cenário macro-econômico. Essas variações devem resultar em flutuações na disponibilidade dos madeireiros em pagar pela madeira em pé. Por um lado, há ameaça de recessão no mercado brasileiro e, por outro, há potencial para aumentos de exportação devido à desvalorização da moeda brasileira.

O estudo constatou que a elasticidades do preço da madeira são iguais para variações de demanda pequenas (por exemplo, 1-2%) ou grandes (por exemplo, 10%). A variação no preço será maior quando a elasticidade-preço da oferta for menor (curva de oferta mais inelástica). No curto prazo, é possível prognosticar que uma queda na demanda e nos preços da madeira serrada terão um efeito importante na diminuição dos preços máximos que os madeireiros poderiam pagar pela madeira em pé. No entanto, é incerto qual a tendência de demanda diante das incertezas do mercado (potencial aumento da exportação ao mesmo tempo que existe ameaça de recessão no Brasil).

O projeto “Agenda Positiva para o Setor Florestal” tem como objetivo promover reformas no setor florestal da Amazônia para reorientar a indústria madeireira no caminho da produção sustentável. A concessão de florestas públicas para a exploração madeireira pelo setor privado é uma das principais metas de reordenação. Essas concessões têm como objetivo gerar impostos na forma de royalties cobrados pelos recursos naturais explorados, regulamentar a exploração madeireira e diminuir a extração ilegal de madeira de áreas privadas e públicas. Entretanto, ainda existem muitas incertezas e falta de informação sobre como funcionaria um sistema de concessões. Por exemplo, faltam informações chaves sobre os custos de exploração e lucratividade das empresas madeireiras atuando na região. .

Fonte: Programa Nacional de Florestas – PNF

Eugênio Arima; Adalberto Veríssimo (Imazon)

Setembro/2003