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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°76 - SETEMBRO DE 2003

Móveis e Tecnologia

As características do mercado italiano

O setor moveleiro italiano tem na França, no Reino Unido e na Alemanha seus principais mercados na Europa, e uma relação comercial intensa com os Estados Unidos e outros países do mundo. A Itália se caracteriza por um mercado de primeiro mundo com muito dinheiro para gastar, porém com a maior parte das necessidades já satisfeitas e alta concorrência. A saída para competir é a inovação, por isso o design é tão focado.

Esses dados socioeconômicos podem ser similares em outros países da Europa, porém não se encontra, no velho continente, uma repetição, do fenômeno italiano, pelo menos da mesma magnitude. Vários fatores fazem a diferença, entre eles está o alto índice educativo e cultural do empresariado, inclusive em empresas familiares. A empresa familiar é uma conseqüência da importância da família na sociedade, outra característica típica italiana, que apresenta empresas moveleiras que já estão na 5º geração. Um diferencial é que estes membros da família não atuam apenas na administração, mas desenvolvem funções na produção, com impecável qualidade e possuem curso superior.

A história do design na indústria italiana ultrapassa 50 anos, quando algumas empresas começaram a solicitar de arquitetos colaborações para o desenvolvimento de novos produtos. A partir dessa parceira foi desenvolvido, em 1954, o prêmio Compasso d’Oro, considerado hoje o Oscar do Design e ADI – Associação para o Desenho Industrial, organização constituída por um grupo de amigos em 1956 e que até hoje agrupa empresas, designers e jornalistas, estudiosos, escolas e pessoas relacionadas com o design na Itália.

Atualmente a AID funciona com base no trabalho voluntário. É sócia e co-fundadora de organismos internacionais do Design, incumbidos de divulgar mundialmente o Design italiano, além de servir como foro de reflexão e iniciativas em prol do Design Industrial italiano.

O problema da cópia ou falsificação e posterior invasão de produto similar com menor preço é sério. A luta contra essa dificuldade é tão criativa quanto o produto exposto nas vitrines. Enquanto o americano procura barrar os produtos asiáticos com base na defesa dos direitos autorais em um esquema policial, geralmente ineficiente, o italiano vê o concorrente interno como um parceiro. Oferece produtos, “know-how” e tecnologia às empresas que o copiam na Ásia, em troca de uma reserva absoluta do mercado americano e europeu e uma pequena comissão das vendas, troca por processos, componentes ou qualquer outra figura tanto ou mais criativa com os mesmos produtos. Assim mesmo, processos que não dispensam a mão-de-obra intensiva, como o trançado em vime, terceirizam-se nessa região. A velocidade com que se estabelecem estes mecanismos de cooperação ou se desfazem quando aparece outra opção mais conveniente define a principal característica italiana: a flexibilidade.

Mão-de-obra

O novo operário italiano está se especializando em controle de sistemas de produção CAD-CAM, fugindo de processos repetitivos, cansativos, pouco prazerosos ou remunerados, como lixamento de detalhes ou alimentação de algumas máquinas que não podem ser mecanizadas. É por isso que o setor moveleiro italiano está sofrendo pela falta de mão-de-obra, contratando ou incentivando a migração de trabalhadores de outros países.

Já as matérias-primas para fazer móveis, como as madeiras, são principalmente importadas. Essas matérias-primas são reprocessadas, melhorando suas condições. Algumas empresas laminam troncos de madeira de reflorestamento, principalmente africanas, gerando lâminas que são posteriormente selecionadas, coladas, tingidas, prensadas e re-processadas até que se consiga uma nova matéria-prima, planejada por CAD/CAM, que imita em tudo a madeira natural; como também texturas artificiais não disponíveis na natureza, tirando as imperfeições naturais, melhorando os limites das propriedades físicas e mecânicas, o que possibilita a produção de móveis em série com centenas de padrões inovadores. A Itália tem ampla produção de outras matérias-primas semiprocessadas como aglomerados, compensados, ferragens e outros, que revende novamente, como valor agregado da re-elaboração a países de alta tecnologia industrial, bem como àqueles que extraem as matérias-primas brutas, como o Brasil.

O mercado moveleiro italiano conta com 87.540 empresas . Cada empresa tem sua tipologia, que define a personalidade de seus produtos. Todos os projetos de produto e de comunicação da empresa devem responder a uma filosofia claramente definida. Isto obriga as empresas a terem um produto com uma linguagem que os leve a um segmento dos consumidores, que se identifiquem com sua proposta, de acordo com sua filosofia de vida. São exemplo de tipologias os diferentes tipos de móveis clássicos, rústico, étnico, temático, moderno, tecnológico, lúdico, industrianato, ecológico, fashion, alta-costura e eclético.

O móvel italiano vende principalmente um estilo de vida, em um meio tão competitivo. O sucesso está definido pela força da comunicação e a qualidade do design do produto, que se atualiza de forma permanente para surpreender e agradar o consumidor.

Clássico – reprodução do passado: este tipo de empresa dá ênfase ao conceito artesanal do móvel antigo para reproduzi-lo sem modificações. Peças de alto valor para donos de castelos e mansões antigas onde o móvel é quase peça de museu.

Clássico – ostentação: para um consumidor conservador endinheirado que deseja comunicar poder e dinheiro, peças em madeira maciça, talha artesanal e abundante mistura de bronze (dourados).

Outros clássicos: móveis sem estilo, porém tradicionais: country americano, Provençal, Suíço, com predomínio de madeira maciça e acabamentos rústicos, mas adequados às necessidades modernas.



Clássicos temáticos: tipo de móvel em materiais e acabamentos clássicos, porém com uma identidade especial referida a outros objetos. É o caso de uma empresa que faz beliches, camas e mesas inspirados em navegação: madeira tingida, uso de elementos de fundição em bronze e alumínio, janelas decorativas redondas ao estilo dos barcos, por exemplo. Outro tipo de clássico temático pode ser inspirado em culturas muito antigas, nos livros, primeiras épocas da aviação, personalidades de desenho animado.

Clássico moderno: móveis assinados por famosos arquitetos e designers da primeira metade do século XX, pertences ou representativos do seu tempo.

Rústico campestre: evoca tipo de vida simples e rude, pode ser envelhecido artificialmente, patinado e pelado, raspado e com furos similares aos da traça/polia, interior estampado em papel, porém adaptado às necessidades modernas (ex.: integração dos equipamentos por computação), como cozinha inteligente.

Étnico: móveis de outras culturas: caracterizados, com alto componente artesanal e antropológico, possuem composição literal da cultura de origem, com evocação das condições culturais destes povos. Os móveis temáticos mais conhecidos são de países da Ásia e do México.

Temático moderno: refere-se a temas mais atuais, como videogames, equipamentos industriais, equipamento militar, espaço, esportes radicais e outros.

Estilo Moderno: este estilo define na Itália o tipo de móvel “belo” de alta produtividade e bom preço. A penetração desse setor no mercado se dá a partir das vantagens competitivas e tecnológicas das empresas. Nesse setor entram os móveis desmontáveis, cadeiras para o lar e escritório com produção e venda massificada. São fornecidos especialmente para lojas medianas e megalojas do tipo IKEA (o cliente escolhe o produto solicita uma ordem de compra, vai ao estoque e apanha a mercadoria embalada como veio da fábrica, paga e transporta a própria mercadoria), que oferece a mesma qualidade a um preço menor.

Tecnológico minimalista - é um tipo de produto que procura sempre ressaltar a tecnologia empregada, como fator de diferenciação e alta qualidade. O produto se caracteriza pela leveza visual, com o mínimo de material possível, valorizando textura e acabamento. Mistura materiais inovadores como fibra de carbono, ou poliuretano, além de aços e vidros.

Tecnológico materialista - similar ao anterior, mas sem se preocupar pelo minimalismo e sim por extrair as máximas possibilidades ao limite de suas características físicas e mecânicas. Trabalho a cargo dos designers com altos investimentos. O desafio é conseguir reproduzir qualquer idéia inovadora ou revolucionária.

Lúdico – A idéia é dar um toque humorístico, irreverente ou sarcástico ao produto e que invoque a infância ou juventude.

Industrianato – Móveis em materiais industriais inusitados no setor moveleiro (materiais inovadores na forma como são aplicados), com caráter urbano, tais como mangueiras, fiapos de tecido, lâminas de metacrilato e outros.

Ecológico-natural - Defende um estilo de vida mais natural, próximo da natureza, longe de modismos. Móveis em madeira natural com acabamentos naturais como cera e óleos perfumados, com lembrança do jardim. Aplicações em metal enferrujado, aço inox ou martelado, detalhes artesanais na elaboração. Móveis feitos para durar e envelhecer com dignidade e beleza.



Fashion: Móveis que procura seguir as rápidas mudanças, tendências e cores da moda, da necessidade de individualidade exacerbada, porém dentro de um grupo na vanguarda. Um móvel que como a roupa será artigo descartável por volta de um ou dois anos. Preço altíssimo em função da imagem do produto, modismo.

Alta-costura: Alguns dos mais renomados costureiros emprestam seus nomes para coleções, especialmente de móveis estofados, em que o show corre por conta dos tecidos e acabamentos desenvolvidos por designers têxteis, produtos de altíssima sofisticação e elegância, de formas tradicionais e clássicas.

Eclético: celebra a diversidade de escolha, mistura de estilos e materiais, sempre com elegância e sofisticação, sugere a individualidade.

Trabalho do designer

Em Milão, de acordo com a ADI, trabalham 400 designers estrangeiros e 3 mil nacionais. A escola de design tem uma relação intensa com a indústria, e a maior parte dos estudantes já consegue trabalho ainda na escola por meio de práticas profissionais. Evento como a Feira Milão reserva um espaço denominado Salão Satélite, para proporcionar visibilidade às inovações produzidas por jovens profissionais, expostas através de protótipos, com o objetivo de incentivar a inovação e a inserção do jovem no mercado de trabalho.

É muito usual que os profissionais de Design de produto optem pela autoprodução. Aproveitam a enorme rede de empresas, terceirizam a produção das peças e vendem nas lojas, ou montam lojas próprias.

O designer na Itália se responsabiliza por seu próprio marketing para oferecer seus serviços. Faz propostas em espetaculares apresentações por computação gráfica para convencer o industrial em produzir suas peças, ou apresenta protótipos durante eventos como o Salão Satélite da Feira de Milão. Os mesmos métodos que os empresários usam para destacar-se no mercado são usados pelos designers para se promover no mercado perante os empresários.

A diferença do designer latino-americano, que em geral se adapta ao estilo da empresa que lhe contrata, o designer de nome na Europa tem um estilo característico que lhe identifica, normalmente tem uma publicação com sua obra. Como a empresa italiana tem bem definido seus objetivos e seu nicho de atuação, ela contrata profissionais pela especialidade ou tendências.

Milão é a capital mundial do design e atrai designers de todo o mundo. Os fabricantes estão atrás de novas idéias e a indústria italiana continua cumprindo seu papel inovador desenvolvido, cada vez mais, por especialistas internacionais.

Fonte: Aprendendo com o Líder, Cinex. Autores: Jorge Montana e Mauro Lins Paixão

Setembro/2003