Somente o desconhecimento das características da madeira pode justificar o uso da madeira verde, principalmente nos usos mais nobres, tais como móveis, esquadrias, assoalhos, instrumentos musicais, telhados, carrocerias de caminhão e inúmeros outros produtos nos quais a madeira deve ser usinada, colada, pregada, ou parafusada, receber acabamento superficial e manter a estabilidade dimensional. Além de se agregar valor ao produto final, inúmeras são as vantagens de se trabalhar com a madeira seca: a) substancial redução de peso, facilitando o manuseio e reduzindo os custos de transporte; b) aumento na resistência natural ao apodrecimento e ao ataque de insetos; c) melhoria de algumas propriedades mecânicas da madeira, como dureza, resistência à compressão e flexão; d) aumento da resistência das ligações pregadas, parafusadas e coladas; e) aumento da resistência elétrica da madeira, melhorando suas propriedades de isolamento térmico e acústico; f) melhoria da usinagem da madeira, principalmente torneamento, molduramento, furação e lixamento; g) ausência de deformações, empenamentos e rachaduras da madeira, com a maior estabilidade dimensional; h) possibilidade de acabamentos superficiais, como verniz, pintura e laca; i) possibilidade de tratamento preservativo.
Toda árvore em crescimento contém grande quantidade de água, comumente chamada de seiva que pode variar de 30 até 200%, dependendo da espécie e da posição na árvore. O alburno, geralmente a parte mais clara da madeira e localizada próxima à casca, apresenta um teor de umidade mais alto que o cerne, porém, mais baixo do que o da medula; existe, também, uma tendência da madeira localizada no topo e na base apresentarem um teor de umidade superior à parte mediana da árvore; em geral, o teor de umidade se apresenta inversamente correlacionado com a densidade. Em algumas espécies de eucalipto, a variação de umidade pode alcançar desde valores muito elevados próximos da medula (80 a 160%) até valores entre 40 a 60% nas partes mais periféricas de um mesmo tronco. Um estudo com sete espécies de eucalipto, com quinze anos de idade, verificou que as madeiras de Eucalyptus citriodora e E. paniculata não apresentavam uma variação de umidade maior do que 20%, enquanto que as madeiras de Eucalyptus grandis e E. urophylla apresentaram uma variação superior a 80%. Devido aos elevados gradientes de umidade no interior da madeira de eucalipto, além da própria constituição anatômica, que dificulta muito a saída da umidade de suas partes internas, todo o gênero pode ser considerado de difícil secagem. Devido à ocorrência de pontuações de pequeno diâmetro, há uma dificuldade ou impedimento do deslocamento de água, através da capilaridade ou na forma líquida no interior da madeira. A permeabilidade da madeira de eucalipto se torna ainda mais difícil devido à presença de tiloses que obstruem severamente o interior dos elementos vasculares.
Como conseqüência da dificuldade de movimentação de água na forma líquida no interior da madeira, as espécies de eucalipto são propícias ao colapso que começa a ocorrer imediatamente após o abate; geralmente o colapso é considerado, ao lado das tensões de crescimento, um dos maiores defeitos da madeira, resultando numa superfície grosseira e desigual, ou ainda, em empenamentos e fendilhamentos, tanto de topo como de superfície. O colapso é provocado por diferenças de permeabilidade entre os anéis da madeira, onde faixas menos permeáveis e saturadas perdem umidade dos lúmens das células. Estas sofrem diminuição de pressão interna em virtude da capilaridade, quando é ultrapassada a resistência das paredes celulares. O colapso é um fator limitante no uso da madeira de eucalipto e as espécies com essa tendência apresentam menor rendimento e exigem programas de secagem mais elaborados quando a madeira é seca em estufa. Os defeitos que aparecem são uma conseqüência da diferença que ocorre na contração entre os planos radial e tangencial das peças. Quanto maior a diferença de retratibilidade entre os planos tangencial e radial, ou seja , a relação T/ R ou fator anisotrópico, maiores serão os problemas decorrentes da secagem de uma determinada madeira. As espécies de eucalipto que apresentam maior tendência ao colapso são aquelas de média densidade, enquanto que as espécies de alta e baixa densidade apresentam pouca tendência ao colapso. As tensões surgidas durante a secagem são acentuadas nas madeiras de curta duração, rápido crescimento e pequenas dimensões.
As rachaduras originárias das tensões de crescimento já presentes em peças serradas se estendem muito pouco durante a secagem. Na madeira de Eucalyptus grandis, verifica-se que o refilamento das bordas em peças serradas antes da secagem, retirando-se o alburno, produz peças mais estáveis, com pouca possibilidade de posterior ocorrência de trincas e empenamentos. Quanto mais densa e espessa a peça de madeira serrada, mais lenta e cuidadosa deve ser a secagem. A secagem da madeira de Eucalyptus grandis acarreta poucos problemas quando corretamente executada, sofrendo pouca desclassificação por trincas de superfície, colapso e empenamento
Para se atingir a umidade final de equilíbrio, em torno de 10 a 12%, a secagem em estufa necessita de 18 a 21 dias, mas para madeira de baixa densidade e madeira juvenil esse tempo em estufa pode ser reduzido para 10 dias. Na secagem ao ar livre, o tempo de secagem para peças de 25mm de espessura nunca é inferior a 4 meses. O tempo médio de secagem de madeira recém-cortada em estufa convencional é de 30 dias, mas esse tempo pode ser reduzido com a realização de uma pré-secagem ao ar por 60 a 90 dias. As peças de madeira que serão submetidas à secagem devem ser classificadas, quanto às suas dimensões e qualidade, procurando-se homogeneizar ao máximo a carga da estufa. A madeira de eucalipto, em geral, deve ser seca em condições suaves de temperatura e umidade relativa do ar, a fim de proporcionar uma secagem mais lenta e com a menor quantidade de defeitos possíveis.
Cuidados especiais devem ser tomados na fase inicial da secagem da madeira de eucalipto e que, não somente os programas, mas também que o secador esteja operando sem criar zonas diferenciadas em seu interior. É aconselhável a utilização da pré-secagem ao ar ou pré-secadores; quando houver viabilidade econômica do processo, recomenda-se a utilização de desumidificadores. Para tornar a secagem menos drástica e amenizar os possíveis defeitos decorrentes da secagem da madeira de eucalipto se deve utilizar uma combinação de temperaturas baixas e umidades relativas altas dentro dos secadores, envolvendo um longo tempo de secagem. Há necessidade de se empregar baixas temperaturas nos primeiros estágios da secagem, devido aos riscos de se remover muito rapidamente a água capilar em altas temperaturas, resultando em colapso. Executar um programa de secagem com sucesso envolve a compreensão dos fenômenos relacionados com a movimentação da água no interior das madeira. Pesquisadores da Universidade Federal do Paraná desenvolveram um programa de secagem (verde até 7%) especial para Eucalyptus grandis e obtiveram bons resultados(poucos defeitos e aproveitamento de 94% das tábuas. quando realizaram uma vaporização inicial com o objetivo de aumentar a velocidade de secagem de peças de 30mm de espessura, envolvendo um período de 26 dias..
Há a importância de programas individuais de secagem para eucaliptos que crescem em diferentes localidades. Os especialistas do setor recomendam a pré-umidificação, o controle rigoroso da baixa temperatura durante a secagem e o recondicionamento em câmara separada.; recomendam, ainda, a combinação dos métodos de secagem natural( pré-secagem) e a secagem em estufa.
José de Castro Silva
Professor UFV/DEF/CEDAF
Agosto/2003 |