MENU
Apicultura
Características
Carvão Vegetal
Construção Civil
Desdobro
Dormentes
Espécies
Madeira Sólida
Manejo
Melhoramento
Melhoramento Genético
Mercado
Móveis
Nós
Óleos Essenciais
Pesquisa
Postes
Pragas
Projeto Genoma
Propriedades
Qualidade
Secagem
Silvicultura
Anunciantes
 
 
 

REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°75 - AGOSTO DE 2003

Propriedades

Os conceitos de qualidade e de uso múltiplo para a madeira de eucalipto

Anatomicamente, a madeira é o xilema da árvore. Ela é o produto do câmbio e consiste de células ou elementos que passaram por várias fases de desenvolvimento, envolvendo a divisão celular, diferenciação e maturação para formar a madeira. Durante o processo de formação, numerosos fatores de ordem interna e externa da árvore levam à variação do tipo, número, tamanho, forma, estrutura física e composição química dos elementos da madeira. Com base nesses conceitos, a qualidade da madeira é uma classificação arbitrária dessas variações nos elementos da madeira, quando eles são contados, medidos, pesados , analisados e avaliados para algum objetivo específico. A formação da madeira é um processo biológico que ocorre dentro da árvore viva, enquanto qualidade da madeira é uma avaliação arbitrária de uma peça isolada de madeira, uma parte da árvore ou um derivado de madeira; consequentemente, a qualidade da madeira somente pode ser alterada através do processo de formação da madeira. Até certo ponto, pode-se modificar, controlar, minimizar ou melhorar os fatores relacionados à qualidade da madeira, através de tratos silviculturais e pela seleção e melhoramento genético.

Somente com o conhecimento das características e da variabilidade da madeira é possível a elaboração de classes de utilização confiáveis. Dentre os principais fatores que afetam as características da madeira pode-se citar o sítio (ambiente onde crescem as árvores), operações silviculturais (espaçamento, fertilização, desbaste, desrama), melhoramento genético, agentes biológicos, exploração, conversão, métodos adequados de processamento, dentre outros. A madeira só poderá ser usada, de maneira eficiente e efetiva, com o conhecimento de seus atributos e características. A qualidade da madeira se refere à sua capacidade para preencher os requisitos necessários para a fabricação de um produto, ou ainda, a combinação das características físicas, químicas e anatômicas de uma árvore ou de suas partes que permitam a melhor utilização da madeira para um determinado uso. A seleção apropriada de uma certa madeira, para atender a um certo uso, requer, antes de mais nada, um conhecimento dos requisitos desse uso. Por outro lado, usar a madeira corretamente significa que se encontraram nela as características que um certo produto requer.

Há uma imperiosa necessidade de esforços, cada vez maiores, dos pesquisadores, no sentido de adequação de tecnologia de processamento às espécies já introduzidas e, também, criterioso estudo de seleção de espécies e melhoramento genético, visando à obtenção de material adequado às novas exigências para o gênero, no mercado nacional e para o atendimento ao mercado externo.

A importância relativa dos atributos da qualidade da madeira para a fabricação de móveis depende de três importantes atributos: a ausência de defeitos, integridade estrutural e a confiabilidade.

As principais características e propriedades da madeira são:

a )Propriedades mecânicas

Resistência ao choque

Rigidez

Elasticidade

Resistência à flexão dinâmica

Resistência à flexão estática

Resistência à tração

Resistência à compressão

Dureza

Relação resistência/ peso

Resistência ao cisalhamento

Dimensão do material( algumas propriedades se alteram com o aumento do tamanho da peça).



b) Propriedades físicas não- mecânicas

Estabilidade

Resistência a rachaduras

Desgaste suave e homogêneo

Flexibilidade

“spring-back”

Resistência à abrasão

Corrosão de metais

Taxa de isolamento

Absorção de água

Condutividade elétrica

Condução de radiação

Expansão térmica

Resistência ao fogo

Resistência a álcalis

Resistência a ácidos

Permeabilidade à água

Permeabilidade a vapores

Permeabilidade a óleos

Durabilidade – resistência ao apodrecimento

Durabilidade – resistência ao ataque de insetos

Durabilidade – resistência ao ataque de perfuradores marinhos

Delaminação – separação dos anéis

Contração radial

Contração longitudinal

Contração volumétrica

Energia térmica por unidade de madeira

Quantidade de empenamento, torção etc.

Capacidade de segurar parafusos

Capacidade de segurar pregos



c)Propriedades sensoriais

Aparência

Cor

Brilho

Sabor

Odor

Ressonância

Absorção de som

Resistência a mudanças na coloração

Sensibilidade térmica( resposta da pele ao material)



d) Propriedades relacionadas ao formato da árvore e à conversão da madeira

Formato da árvore ou do material lenhoso

Tamanho da árvore ou do material lenhoso

Uniformidade da árvore ou das toras

Facilidade de descascamento

Facilidade de desdobro em serrarrias

Facilidade de laminação

Facilidade de secagem

Facilidade de usinagem

Facilidade de aceitar pregos

Facilidade de fletir

Facilidade de colar

Facilidade de branquear

Ausência de rachaduras

Uso Múltiplo

O uso múltiplo de um determinado bem pode ser explicado segundo duas teorias: a) teoria da igual oportunidade para a utilização dos recursos, onde nenhum bem tem prioridade sobre outro; b) teoria do uso dominante, onde os usos florestais são competitivos, de modo a maximizar os benefícios, requerendo a separação desses usos no espaço e no tempo. O termo uso múltiplo de florestas teve a sua origem e formação nos países desenvolvidos, mas o conceito é utilizado no mundo inteiro, atualmente. O planejamento da aplicação do uso múltiplo em florestas tem sido praticado inconscientemente ao se manejar as florestas , sob os critérios de rendimento sustentado. Em termos gerais, o uso múltiplo é entendido como a possibilidade de se poder destinar à madeira mais de uma aplicação ou dela se poder obter mais de um produto. A multiplicidade ou versatilidade de uso pode ser determinada através do conhecimento das características da floresta e da madeira propriamente dita, suas relações entre si, suas influências sobre as condições do processo e as correlações com as propriedades dos produtos a serem obtidos.

Em geral, as empresas de reflorestamento realizam seus empreendimentos com objetivos industriais muito bem definidos. Ao se realizar o plantio, já se define o destino do material a ser produzido. Muitas vezes, no entanto, as condições econômico-financeiras, crises setoriais ou excesso de oferta prevalescentes na época de exploração da floresta forçam a busca de mercados intermediários e usos alternativos para a madeira produzida. O grande estoque de madeira de eucalipto, atualmente disponível, com idades e diâmetros maiores, é remanescente desses plantios antigos, cuja utilização final (serraria e laminação) é bem diferente daquela proposta no início.

A grande maioria das florestas com eucaliptos no Brasil é manejada para produção de rotações curtas (sete a oito anos), para a produção de celulose, carvão vegetal e painéis. Tais florestas são implantadas, na sua maioria, levando em consideração apenas a produção de biomassa e o rendimento volumétrico. Sempre que se verificam as possibilidades de usos para a madeira deve-se eleger algumas especificações gerais. Se a madeira se destinar à serraria, as toras devem ser retilíneas, grande diâmetro, isenta de nós e bifurcações, idade superior a 15 anos; se a madeira se destinar à laminação, as toras devem ser retilíneas, grande diâmetro, isenta de nós e idade superior a quinze anos; se a madeira se destinar a postes, as toras devem ser retilíneas, grande diâmetro, isenta de nós e idade superior a quinze anos, pouca conicidade, reduzida incidência de grã espiralada. Conclui-se que existem diferentes espécies para um mesmo uso e diferentes usos para a mesma espécie; a grande tarefa é identificar a melhor vocação e o melhor uso. A agregação de valor implica na melhor utilização da madeira.

Várias são as razões para que o eucalipto possa ser indicado como alternativa de oferta de madeira para inúmeros usos. Apesar de a maior parte de suas florestas estar comprometida com a produção de madeira para os denominados usos tradicionais: celulose, papel, chapa de fibras, carvão vegetal e lenha, espera-se que uma parcela possa ser destinada a outras aplicações madeireiras. O potencial do eucalipto, em relação ao número de espécies, proporciona também um importante leque de alternativas para a obtenção de madeiras com diferentes características tecnológicas. Por certo, serão encontradas espécies que substituirão, com vantagens, as madeiras anualmente em uso.

Agosto/2003