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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°75 - AGOSTO DE 2003

Pragas

Resistência do eucalipto ao ataque de cupins

Os insetos são o grupo dominante de animais na terra, ultrapassando, de longe, em número a soma de todos os outros animais e plantas. Estima-se que 900 mil espécies já tenham sido descritas, o que equivale a aproximadamente três vezes o que existe no restante do reino Animal. Acredita-se que os insetos tenham 400 milhões de anos, enquanto o homem moderno, talvez, um milhão de anos; nesse sentido, não foram os insetos que invadiram o mundo dos homens, mas os humanos é que invadiram o mundo dos insetos. Os insetos se adaptaram a todos os ambientes, exceto às profundezas do oceano; são extremamente abundantes nos trópicos e dos raros habitantes permanentes da região polar. Alimentam-se de toda a sorte de matéria orgânica disponível.

Em se tratando de madeira, os cupins são, indubitavelmente, os insetos que mais causam danos. As construções, os móveis e os monumentos históricos são impiedosamente consumidos quando os cupins neles se instalam.

Ao se utilizar a madeira, em quaisquer dos usos mencionados, devem ser tomadas algumas medidas de segurança:

escolher espécies de madeiras apresentem boa resistência natural ao ataque de cupins; ou que apresentem boa permeabilidade aos líquidos preservativos;

tomar medidas de prevenção para que o ataque seja reduzido ao mínimo possível.

Para estabelecer a classificação da durabilidade natural, leva-se em conta apenas a resistência natural do cerne, uma vez que o alburno de todas as madeiras é considerado de baixa resistência; para tanto, propõe-se a seguinte escala de resistência natural:

1 – Muito durável

2 – Durável

3 – Moderadamente durável

4 – Pouco durável

5 – Não durável

Para se evitar o ataque de cupins, as madeiras, principalmente as provenientes de reflorestamento, devem ser submetidas a processos de preservação. A classificação de tratabilidade da madeira também obedece a uma escala, dependendo da facilidade de se imunizar a madeira. As classes de tratabilidade são as seguintes:

1 – Fácil de tratar

2 – Moderadamente fácil de se tratar

3 – Difícil de se tratar

4 – Muito difícil de se tratar







Um dos fatores que limita a utilização da madeira em vários usos é, sem dúvida, a sua baixa durabilidade natural. O conhecimento da resistência natural de madeiras ao ataque de organismos xilófagos, principalmente cupins, torna-se um requisito muito importante para a utilização correta da madeira, principalmente, nas indústrias de movelaria e construção civil.

Quanto maior a sua durabilidade natural, uma determinada madeira terá preferência em relação às demais, pois se evitariam os inconvenientes advindos da utilização de produtos químicos, altamente tóxicos, utilizados no tratamento de madeiras de baixa durabilidade, a fim de lhe conferir um desempenho satisfatório em serviço. Além das restrições ambientais aos produtos que hoje dominam a indústria da preservação, também são relevantes alguns aspectos técnicos, relacionados à própria madeira a ser preservada. Tais aspectos estão relacionados à resistência de impregnação da madeira de certas espécies, como é o caso do cerne de eucalipto.

A madeira é degradada biologicamente porque alguns organismos utilizam os polímeros naturais da sua parede celular, como fonte de alimento, e alguns deles possuem sistemas enzimáticos específicos, capazes de metabolizá-los em unidades digeríveis. O alburno é a parte da madeira que apresenta materiais nutritivos armazenados, o que o torna mais suscetível ao ataque de agentes biológicos. O cerne, normalmente, apresenta maior durabilidade natural, devido à ausência de materiais nutritivos e, principalmente, à presença de extrativos. Segundo os mesmos autores, os cupins ou térmitas são os principais insetos xilófagos, considerados hemimetábolos, eusociais e, predominantemente, tropicais. Os térmitas de madeira seca são ativos destruidores da madeira, mesmo formando colônias com, relativamente, poucos indivíduos.

Os cupins pertencem à ordem Isoptera e estão distribuídos em mais de duas mil espécies. Os cupins de madeira seca pertencem à família Kalotermitidae e à espécie Cryptotermes brevis, vivendo exclusivamente dentro da madeira da qual se alimentam, formando colônias. Sob o ponto de vista econômico, tal espécie é a mais importante, no Brasil. Os cupins de madeira seca instalam suas colônias em peças de madeira, com baixos teores de umidade, variando de 10 a 12%, não exigindo contato com o solo. Iniciando o ataque após a revoada, cada par sexuado dessa espécie penetra na madeira, através de rachaduras ou de outras aberturas naturais, e inicia a escavação para o interior, fechando a entrada com partículas da própria madeira. Durante a escavação das galerias, os cupins de madeira seca eliminam pequenos resíduos fecais, através de orifícios abertos temporariamente, o que ajuda na detecção do ataque dos térmitas.

Pesquisadores brasileiros e de outras partes do mundo têm-se preocupado com o problema dos cupins. Estimou-se um prejuízo de US$ 3,5 bilhões, ao se realizar um levantamento em duzentas e quarenta edificações, na cidade de São Paulo, no período de 1973 a 1993; segundo o pesquisador, o dano real causado pelos térmitas é, ainda, desconhecido. Constatou-se a presença de térmitas do gênero Cryptotermes, destruindo obras sacras, molduras de quadros, altares, vigas, caibros, ripas e constituintes do madeiramento das coberturas das edificações da cidade histórica de Olinda, em Pernambuco.

No Brasil, pouco ou quase nada se conhece a respeito do comportamento real da madeira das espécies do gênero Eucalyptus, em relação à resistência ao ataque de cupins. Poucos estudos foram desenvolvidos e os resultados revelaram que algumas espécies são mais susceptíveis a tais insetos que outras, mas, no geral, todas apresentaram resistência natural variando de baixa a moderada. O pesquisador José Tarcísio da Silva Oliveira estudou o comportamento da madeira de sete espécies de eucalipto, verificou que as madeiras de Eucalyptus grandis e Eucalyptus urophylla foram altamente suscetíveis ao ataque de cupim de madeira seca, em condições laboratoriais. O mesmo autor verificou que as madeiras de Eucalyptus microcorys, Eucalyptus citriodora e Eucalyptus cloeziana apresentaram uma elevada resistência ao ataque de cupins, confirmando, inclusive, várias citações de literatura. Tal resultado se mostrou correlacionado com a baixa massa específica e, principalmente, ao teor de extrativos, permitindo concluir que, quanto mais elevados forem a massa específica e, principalmente, o teor de extrativos, mais reduzido será o desgaste provocado pelos cupins de madeira seca. Os resultados obtidos pelo autor permitiram-no credenciar as últimas madeiras para o uso na construção civil.

O alburno da madeira de Eucalyptus grandis, E. urophylla e E. citriodora apresenta baixa resistência ao ataque de cupins de madeira seca; no caso específico do Eucalyptus grandis, até mesmo o cerne apresentou elevado desgaste. Comparada às demais espécies em questão, tal espécie foi a que apresentou menor resistência natural.

O professor e pesquisador da Universidade Federal de Viçosa, José de Castro Silva, avaliou a resistência natural da madeira de Eucalyptus grandis, de quatro diferentes idades (10, 14, 20 e 25 anos), ao ataque de cupins de madeira seca (Cryptotermes brevis, da família Kalotermitidae) . Verificou que a madeira de Eucalyptus grandis, independente da idade, é altamente suscetível ao ataque de cupim de madeira seca, uma vez que o desgaste apresentado para todas as idades ficou muito próximo do desgaste apresentado pela madeira de Pinus sp., que serviu de testemunha. Todas as amostras das várias idades apresentaram um desgaste que variou de acentuado a profundo, segundo a norma do IPT.

A madeira da espécie, apesar de ser indicada para a produção de móveis, deve sofrer um tratamento preventivo, a fim de evitar o ataque de cupins de madeira seca.



Prof. José de Castro Silva

Agosto/2003