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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°75 - AGOSTO DE 2003

Pesquisa

Pesquisas otimizam recursos e diversificam produção

Ciência & Conhecimento, Inovação & Tecnologia, Pesquisa & Desenvolvimento. Em país considerado de 3o mundo, para ser líder é preciso unir forças. E esse tem sido o segredo do sucesso. Empresas Florestais & Universidades sempre estiveram associadas na busca da competitividade. O que existe de mais sofisticado no setor florestal somente foi possível com a aliança entre a Indústria & os Centros e Pesquisa.

Como resultado de suas dimensões e localização tropical, o Brasil tem como vantagens competitivas, a sua capacidade de produzir alimentos, investir em turismo e plantar árvores. No que se refere exclusivamente a terceira vantagem competitiva circunstancial, independentemente dos ciclos tecnológicos e os investimentos em P&D que possam ocorrer em outros países, as produtividades obtidas em solo brasileiro são e serão imbatíveis: nossas florestas crescem e crescerão mais e mais rápido. Em uma economia global uma fábrica que consegue produzir mais, em um espaço de tempo menor e com preços abaixo dos praticados no mercado, naturalmente não terá dificuldades de competitividade em nível internacional.

Evolução Da Ciência Florestal Brasileira

O que existe de mais moderno em nosso país, quando tratamos do tema cultivo de árvores, é o desenvolvimento da ciência florestal como um todo, para a produção sustentável de florestas de rápido crescimento. Ciência essa cujo Brasil ocupa um papel de liderança.

No final da década de 60, o governo federal decidiu-se por incentivar a instalação da indústria de base florestal. As empresas, associadas às universidades e centros de pesquisa em engenharia florestal recém criados, desenvolveram primeiramente a tecnologia para a melhoria contínua da matéria prima, ou seja, o material genético (nessa época ainda na forma exclusivamente de sementes). Foram introduzidas uma ampla variedade de espécies e procedências de eucalipto e pinus, provenientes de seus países de origem. Esses materiais foram distribuídos por todo o território nacional, visando identificar as espécies mais adaptadas e produtivas para as mais diferentes condições de solo e clima. Em seguida foram recombinados entre si, para a obtenção de materiais híbridos (por exemplo, mãe E. grandis e pai E. urophylla), para obtenção de novas e superiores gerações de materiais genéticos, e finalmente já em meados da década de setenta foi possível apresentar a comunidade científica internacional, o grande produto dessa tecnologia chamada melhoramento genético: a clonagem do eucalipto. Essa moderna ferramenta foi operacionalmente viabilizada logo em seguida pela empresa florestal Aracruz.

Porém a liderança de nosso País no campo da ciência florestal não é exclusividade apenas do desenvolvimento de modernas ferramentas para a propagação vegetativa dos materiais mais produtivos, mas também pelo know how em garantir a sustentabilidade dessas produtividades em gerações futuras da floresta.

Manejo Das Florestas E As Pesquisas Tecnológicas

Sistemas de Informações Gerencias

Antes do plantio, em áreas de implantação ou reforma de reflorestamentos que foram colhidos, são utilizadas modernas técnicas de monitoramento espacial das áreas (sistemas de informações geográficas ou em outras palavras os bancos de dados das empresas contendo mapas de solo, topografia, vegetação, estradas e precipitação) visando-se determinar os locais aptos para a (re)introdução das florestas, ou aqueles que precisam ser preservados, sejam pelos aspectos legais ou sócio-ambientais. A modernidade tecnológica está no equilíbrio encontrado pelas empresas entre as florestas de produção e os ecossistemas naturais.

Ao se traduzir banco de dados por um sistema de informações gerenciais ou por tecnologia da informação, tornamos essa ferramenta essencial e imprescindível para o sucesso do manejo de recursos florestais. Sem o histórico da evolução desses recursos naturais aliados ao conhecimento sobre o assunto não há condições de tomada de decisões que garantam a competitividade de qualquer empreendimento florestal.

Propagação Vegetativa e Produção de Mudas

O uso de materiais genéticos adaptados às condições climáticas e edáficas é uma das formas de se otimizar o uso dos recursos naturais e acelerar o retorno financeiro, pela elevação da produtividade. Entre as técnicas de propagação vegetativa, a micro propagação vem sendo implantada nas empresas desde o início da década de 90. Suas vantagens estão: no rejuvenescimento do material adulto; na possibilidade de estudos de fisiologia, na nutrição, bioquímica e estresse in vitro; na redução do uso do AIB na fase de enraizamento das estacas (hormônios); na uniformidade dos povoamentos florestais; e no aumento da produtividade propriamente dito.

Já o mini jardim clonal (micro jardim ou hidro jardim, dependendo da empresa florestal), proporciona: redução da área, localizando-o no interior do viveiro; maior produtividade por metro quadrado; redução no uso de insumos, custos e impacto ambiental; redução da aplicação de auxinas; e maior controle nutricional do sistema.

No que se refere ao viveiro, as inovações passam pela: adequação de substrato, adequação da adubação por fases fenológicas, redução do período de produção de mudas (30 a 45 dias já são números factíveis para algumas empresas florestais) e melhoria na qualidade das mudas.

As tendências na área de propagação vegetativa e produção de mudas são os estudos de nutrição, bioquímica e fisiologia em condições in vitro dos materiais genéticos pré-selecionados, comparando-os com o comportamento no viveiro e no campo; a produção de mudas no sistema hidropônico; e o monitoramento do uso de insumos e da água (eficiência do uso da água).

Vale salientar que, apesar de algumas empresas ainda não terem adotado o mini jardim clonal, não haverá dúvidas de que o recém desenvolvido sistema hidropônico de produção de mudas, irá substituir o mini jardim clonal. Enquanto o mini jardim clonal gera somente a estaca para a produção de mudas, o sistema hidropônico engloba todo o processo, desde o mini jardim até a muda. A produção hidropônica permite maior controle de nutrientes e maior rapidez na produção de mudas. Já se reduziu o tempo em 50%, chegando-se a produzir uma muda em média, em no máximo 50 e 60 dias. A muda do sistema hidropônico é de melhor qualidade e, apesar da técnica ainda estar em estudo, provavelmente será mais barata, pela rapidez na produção, diminuição do consumo de água e automatização de todo o processo.

Preparo do Solo e Plantio de Espécies de Rápido Crescimento

O preparo mínimo do terreno sem queimar os resíduos, procurando-se definir o modelo de plantio das mudas (na linha ou na cova), que promova a menor intensidade possível na estrutura do terreno e o melhor aproveitamento da matéria orgânica disponível naquele ambiente, tem sido a melhoria contínua das atividades silviculturais. Essa modernidade tecnológica passa pela mecanização integrada de diferentes operações de preparo do solo, plantio e manutenção das florestas. Como resultado obtém-se uma melhoria nas características físicas do solo, redução das perdas de nutrientes do ecossistema e diminuição da infestação de plantas invasoras, mantendo ou elevando a atividade biológica e a fertilidade do solo.

Monitoramento Nutricional

A fertilização intermitente, ou fertilização de base é uma das técnicas de manejo florestal que vem sendo adotada pelas empresas em substituição à fertilização contínua. Estudos comprovaram que a fertilização localizada na região próxima a muda promove um aumento no arranque inicial da planta. Já estão sendo testadas doses reduzidas de fertilizantes, pois com essa técnica a muda tem um aproveitamento mais eficiente do adubo. A fertilização intermitente é imprescindível nos plantios com clones, que têm o espaçamento mais aberto, para melhor aproveitamento do fertilizante.

Já o monitoramento nutricional das florestas pode parecer simples, óbvio e necessário, porém garantir a implantação de uma ferramenta prática e operacional (vale lembrar que estamos falando de milhares de hectares em cada uma das empresas) que permita dominar a dinâmica de nutrientes necessários ao crescimento das árvores e após a colheita dessas toras (exportação de nutrientes), manter ou aumentar a produtividade na busca da sustentabilidade constitui-se em mais uma moderna tecnologia disponível nas florestas brasileiras.

O monitoramento nutricional é a técnica que permite a identificação de possíveis deficiências nutricionais no estágio inicial, antes que ela afete a produtividade da planta. O recurso utilizado pelo programa para o monitoramento nutricional é o diagnóstico foliar. O monitoramento é feito com a planta no campo na idade de 9 a 18 meses, a fim de corrigir a disponibilidade de nutrientes no solo e ajustar as futuras adubações quando identificadas deficiências. O objetivo é atingir uma boa produtividade aliada à qualidade da madeira.

A nutrição eficiente pode estar aliada também a materiais genéticos de fácil absorção de nutrientes e seu aproveitamento eficiente. O objetivo é ter um produto final de melhor qualidade, com investimentos cada vez menores em fertilizantes, conseguido através de plantas de melhor absorção.

Mecanização Florestal

A década de 90 foi marcada pela introdução de novos equipamentos para a colheita florestal. As máquinas estão mais desenvolvidas tecnologicamente, visando um menor impacto sobre o ambiente e, ao mesmo tempo, um maior rendimento operacional. A tendência para esses equipamentos é o aumento do número de eixos e da superfície de contato da máquina com o solo, assim como a utilização de gruas com alcances maiores. A utilização desses equipamentos que exerçam menor ação compressiva sobre os solos, aliado ao planejamento da movimentação dos mesmos sobre o terreno, diminui cada vez mais os danos físicos ao solo, como a compactação, podendo também manter ou elevar a fertilidade do solo.

Estudos em compactação de solo vêm sendo realizados para avaliar o impacto das máquinas de acordo com o tipo do solo e das condições de umidade. O objetivo é estabelecer limites de atuação dessas máquinas baseado no tipo de solo e no seu nível de umidade, evitando o trabalho da máquina em certas condições propícias à compactação.

Desenvolvem-se também, atualmente, pesquisas de ergonomia e segurança do trabalho no setor florestal. Essas máquinas mais desenvolvidas tecnologicamente estão também melhor adaptadas do ponto de vista ergonômico, melhorando as condições de trabalho no campo. Estão sendo estudados também os turnos de trabalho e seus efeitos no desempenho do trabalhador. Além disso, pesquisas em diversas Universidades do país vêm realizando uma avaliação dos impactos do trabalho no campo para a saúde, o bem-estar e produtividade do trabalhador. O objetivo é ter subsídios para o desenvolvimento de um código de trabalho e práticas florestais para o Brasil, à exemplo do já existente no Chile desde 1997.

O aumento dos postos de balança e de pedágios nas estradas vem fazendo com que as empresas busquem novas alternativas para o transporte rodoviário de madeira. Métodos de otimização de transporte vêm sendo estudados visando adequar o transporte à legislação, aos aspectos econômicos e de segurança. Carrocerias mais leves substituem os caminhões tradicionais. Novos equipamentos são levados ao campo para tornar a madeira mais facilmente transportável. Muitas empresas já produzem os cavacos no campo para um maior aproveitamento da biomassa. Esse novo formato da madeira exige adequação de equipamentos no campo e do transporte, que usualmente faz o carregamento de toras. Os caminhões estão sendo cada vez mais aprimorados tecnologicamente. São desenvolvidas, por exemplo, novas formas de composição e distribuição de eixos.

Ainda nesta linha de colheita e transporte florestal, existe também uma preocupação em diminuir o impacto da construção e manutenção de estradas sobre o ambiente, em termos de compactação do solo, erosão e recursos hídricos.

Proteção Florestal: Pragas, Doenças, Plantas Infestantes e Incêndios Florestais

O monitoramento e o manejo de pragas, doenças, fogo e plantas infestantes tem a função de priorizar o crescimento das árvores, assim como antecipar potenciais ações de controle, resultando na contínua diminuição do uso de químicos (de baixa toxicidade), necessários à proteção e ao manejo dessas florestas, que inevitavelmente precisam conviver com outros elementos vivos presentes em qualquer ecossistema.

Neste sentido, monitoramento e manejo têm sido as ferramentas mais modernas utilizadas atualmente, quando o assunto é pragas e doenças florestais. Cada vez mais a palavra combate ou controle tem seu uso restrito dentro da ciência florestal. Com o passar dos anos as empresas e os centros de pesquisas tem aprimorado a sua base de informações, bem como o entendimento de como se comportam determinados insetos potencialmente pragas e seus inimigos naturais. Isto se traduz em monitoramento, enquanto o manejo pode ser definido pela utilização de produtos químicos e biológicos de baixa toxicidade e impacto ambiental, bem como pela distribuição de florestas plantadas (em sua maioria com sub-bosque) interligadas por fragmentos florestais, favorecendo o desenvolvimento de inimigos naturais e contribuindo para a manutenção das espécies pragas em seu nível endêmico.

O que se pretende esclarecer é que o controle de pragas e doenças deve ser pensado de uma maneira global, estando, portanto inserido dentro de um sistema de manejo integrado. Os sistemas de manejo devem estar adaptados para as diferentes espécies vegetais existentes em uma floresta ou área de colheita.

As ferramentas e técnicas disponíveis que irão viabilizar o estabelecimento do manejo de pragas e doenças ou mesmo de ervas daninhas, são várias, porém, somente o monitoramento será capaz de determinar o real nível de infestação/infecção antes de se definir as medidas de controle que, em muitas vezes, podem causar grandes desequilíbrios, com impactos mais prejudiciais do que os danos causados, pelas próprias pragas ou doenças.

O monitoramento pode ser realizado de várias maneiras, desde uma análise mais superficial, onde subjetivamente, com base na experiência do monitor que avalia o grau de infestação/infecção, podem-se atribuir notas ou níveis de infestação, tais como, baixo, médio ou alto, até sistemas informatizados, que fazem uso de coletores de dados. Os dados coletados no campo podem ser automaticamente transferidos para softwares, desenvolvidos com a finalidade de interpretá-los, fornecendo informações sobre a época e método ideal de controle.

Esses sistemas mais modernos são utilizados no monitoramento e controle de formigas cortadeiras em áreas de manutenção de eucalipto, onde os gastos com formicidas chegam em alguns casos a mais de R$ 40,00/ha/ano, justificando o investimento em ferramentas que otimizam o controle operacional, pois tem uma relação custo/benefício altamente positiva, gerando economia de até 60% na operação de controle.

As armadilhas, outra ferramenta de manejo, são utilizadas para monitorar a presença de insetos indicando o período ideal de controle, como, por exemplo, no manejo da vespa da madeira (Sirex noctilio), que é controlada por meio de inimigos naturais (parasitóides e predadores). Em situações específicas as armadilhas também podem atuar como agentes de controle.

O controle biológico por meio de fungos entomopatogênicos (Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana) é uma outra linha de pesquisa que vem sendo desenvolvida, e apesar de alguns sucessos, a sua utilização ainda está muito restrita, principalmente pelo fato de necessitar de condições climáticas muito específicas para ser eficaz.

Os produtos químicos são uma das medidas utilizadas no controle de pragas, e atualmente os agrotóxicos (defensivos agrícolas) possuem como características um menor risco ambiental, pois existe a busca por moléculas com sítios de ação específicos, que proporcionam a utilização de doses cada vez menores, com aplicações localizadas, como por exemplo o controle de formigas com iscas (inerte a base de polpa de laranja, impregnado com baixíssimas concentrações, 0,03% por exemplo, do ingrediente ativo).

Resíduos Florestais

A aplicação de resíduos industriais e urbanos em plantações florestais tem se mostrado econômica e tecnicamente viável, com pequenas possibilidades de danos ao ambiente, desde que corretamente planejada. Pesquisas vêm testando a aplicação de lodo de esgoto urbano tratado (biossólido) no cultivo de eucalipto e mostram que este resíduo age como fonte de nutrientes e de matéria orgânica para a planta. Já se verificou que o índice de crescimento das mudas numa área que recebeu 40 toneladas por hectare de biossólido foi 30% superior à área que recebeu apenas o fósforo. Já nas plantas que receberam a adubação mineral utilizada pelas empresas, observou-se que na fase inicial elas cresceram mais rapidamente, mas depois de dois anos de experimento, o volume cilíndrico do tronco das árvores que receberam o biossólido adicionado ao fósforo já as superou. E as áreas que receberam doses de biossólido sem o fósforo já alcançaram as de adubação mineral. Conclui-se que, enquanto o adubo comercial está se esgotando, o biossólido começa a agir no solo e seu efeito é prolongado, pois ele libera os nutrientes gradativamente.

Pesquisas na área de manejo de resíduos florestais têm trazido também bons resultados. O descascamento da madeira no campo, por exemplo, pode representar uma economia de até 30% de nutrientes do estoque contido na biomassa da parte aérea. Os métodos atuais de colheita mecanizada, além de cortar, descascam a madeira no campo, deixando no local as cascas, uma fonte de nutrientes e de matéria orgânica para o solo. Estão sendo testados e implantados novos equipamentos para picar e distribuir os resíduos florestais, facilitando as operações de preparo de solo.

Quanto ao aproveitamento de resíduos sólidos industriais de fábricas de celulose, papel e painel de madeira reconstituída, duas possibilidades podem ser experimentadas pelas empresas florestais. A primeira diz respeito à aplicação de lama cal e cinza em plantios florestais, em um raio economicamente viável. A determinação da quantidade máxima a ser aplicada por hectare deve levar em consideração a integração das seguintes informações: (1) analise química da lama cal, pois sua composição pode apresentar variação conforme o processo industrial; (2) cálculo da relação Ca/Mg no solo. Como exemplo, podemos citar a Lwarcel, cuja dose ideal é de 3t/ha, visto que os solos apresentam baixo teor Mg. Doses superiores tendem a causar um desequilíbrio na relação Ca/Mg e também na disponibilidade dos micronutrientes, com quedas de produtividade.

A segunda opção para elevar os resíduos industrias à categoria de subprodutos é a possibilidade de incorporação de caulim e celulose em materiais cerâmicos (blocos), que podem ser utilizados na construção civil. Estudos realizados em parceria com a Votorantim Celulose e Papel resultaram na viabilidade de incorporação de 10 a 30% de resíduo em relação ao volume de argila empregado, obtendo blocos cerâmicos com excelente a acabamento sem comprometer a resistência físíco-mecânica desses blocos.

Biodiversidade

No campo da biodiversidade existe uma série de modelos econômicos, sociais e/ou ambientais de recuperação de áreas degradadas e de restauração de ecossistemas naturais, cujo maior desafio para o setor florestal brasileiro foi a determinação do mix de espécies nativas de cada região, que poderiam ser plantadas, visando o retorno de uma porção alterada da paisagem a uma condição melhorada e mais natural, incluindo tanto aspectos estruturais, como funcionais dos ecossistemas.

Vale lembrar as inúmeras ações das empresas florestais em parceria com as universidades, para a conservação de espécies da fauna e da flora ameaçadas de extinção nos mais diferentes regiões do Brasil. Neste aspecto, a tendência tem sido pela escolha de uma espécie símbolo de uma região ecológica da empresa, através de determinados requisitos básicos, buscando concentrar estudos genético-ecológicos em uma espécie representativa dos seus ecossistemas.

Nas áreas do entorno de suas florestas e indústrias, vários são os programas de educação ambiental objetivando a melhoria da qualidade de vida das comunidades que convivem com a atividade florestal em nosso país.

Outra inovação passa pelo monitoramento ambiental em microbacias hidrográficas, voltado principalmente para a verificação de efeitos hidrológicos (qualidade e quantidade de água) e biogeoquímicos (balanço geoquímico de nutrientes) decorrentes das atividades florestais, na identificação e teste de indicadores hidrológicos de manejo sustentável de plantações florestais, bem como no estabelecimento de modelos físicos que auxiliam na extrapolação e generalização dos resultados.

Floresta x Indústria

O principal destaque na área de produção de celulose e painéis de madeira está no estreitamento da relação floresta/indústria/consumidor. Pesquisas já permitem identificar o material genético mais adequado para o atendimento das necessidades de determinados clientes. A viabilidade desse resultado passa pela singularidade em harmonizar crescimento da floresta, processo industrial e desempenho ideal da matéria prima no produto final.



Tecnologia de Produtos Florestais: Madeira para Diferentes Usos

A terminologia “competitividade em nível global” aproximou-se parcialmente da floresta. Dizemos parcialmente porque a indústria, e não a floresta, tem buscado o aumento de sua escala de produção, com conseqüente racionalização de processos, por meio de fusões e incorporações.

Na floresta, a competitividade é ambicionada essencialmente pela adoção de inovações tecnológicas, ao contrário de permitir-se “agregar valor ao negócio”, mais conhecida como uso múltiplo da floresta (ou da madeira). Essa sem dúvida, será a etapa complementar da “competitividade em nível global”. Alguns exemplos nacionais ilustram essa tendência, como é o caso da Klabin (no Paraná), da Norske Skog (no Paraná), da Aracruz (na Bahia) e da CAF (na Bahia e em Minas Gerais). Essas empresas dão uma nova interpretação ao “core business”. É possível atender a demanda da fábrica, porém diversificando a produção de madeira para outros usos, invertendo-se os valores que regem a relação floresta x indústria: a indústria torna-se um dos clientes da floresta.

Qualidade Total

Finalmente, o controle de qualidade pode ser definido de duas maneiras. A primeira pelo mercado, por meio de processos de certificação ambiental (ISO e selos verdes), onde uma boa parte de nossas florestas (selos verdes) e de nossas empresas (ISO), já atendem aos mercados mais exigentes, dispostos a consumir produtos fabricados a partir de florestas manejadas de forma ambientalmente correta, economicamente viável e socialmente justa. As estatísticas mais recentes do FSC ilustram que aproximadamente 1,2 milhão de hectares de florestas já estão certificadas, com a expectativa de se chegar a 2 milhões de hectares até o final de 2004.

A segunda maneira está ligada diretamente a ciência, com o desenvolvimento dos indicadores de sustentabilidade de florestas plantadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como resultado de suas dimensões e localização tropical, independentemente dos ciclos tecnológicos e dos investimentos em P&D que possam ocorrer em outros países, as produtividades obtidas em solo brasileiro são e serão imbatíveis: nossas florestas crescem e crescerão mais e mais rápido. Em uma economia global uma fábrica que consegue produzir mais, em um espaço de tempo menor e com preços abaixo dos praticados no mercado, naturalmente não terá dificuldades de competitividade em nível internacional.

Porém os desafios para o setor florestal brasileiro, ao se falar de um mercado sem fronteiras, será o de ter escala. Vários são os investimentos em ampliação de nossa capacidade instalada para a produção de celulose e papel, porém aquém das capacidades de produção das indústrias pós recentes fusões. Na ciência, o mercado sem fronteiras pode ser maléfico, ao permitir a entrada de insetos e outros agentes vivos que poderão se constituir em pragas e doenças que facilmente ultrapassarão o frágil controle quarentenário de nossos escritórios alfandegários.

Outro desafio está na conservação dos ecossistemas e fragmentos naturais em mãos das empresas florestais. Apesar de não haver estatísticas confiáveis no Brasil, o número de hectares com florestas comerciais variam de 4 a 6 milhões, o que significaria de 2 a 3 milhões de hectares de reservas naturais sob propriedade do setor florestal brasileiro. Além disso, o uso múltiplo da floresta e da madeira e a integração floresta/indústria/cliente na busca da adaptação da tecnologia na busca do atendimento da demanda do consumidor final também representam importantes desafios para o setor.

Por outro lado, o maior desafio para o setor é esclarecer à opinião pública e à mídia, sobre a distância que existe entre as florestas de produção e as florestas de conservação. A sociedade como um todo sabe exatamente o significado de “plantar e colher”, porém quando a cultura em jogo é o eucalipto ou o pinus, as duas palavras são substituídas por “desmatamento”. Existe um completo desconhecimento sobre a necessidade de se plantar árvores para a produção de madeira e papel, contribuindo, no mínimo para a diminuição da pressão pelo consumo de nossas florestas naturais. A sociedade organiza-se rapidamente para combater as essenciais florestas de produção, porém exige “móveis de madeira maciça” ou “móveis de lei”, assiste passivamente à queima e ao desmatamento da floresta amazônica e do cerrado, aplaude a expansão da fronteira agropecuária no norte e participa da pesca pedratória no pantanal, além de viver e lutar para construir o seu lar sobre aquilo que já foi ou ainda resta da mata atlântica.

Como última consideração, devemos reforçar que a produção de florestas de rápido crescimento nunca esteve à margem da necessidade do “capital intelectual”.

Para citar apenas o exemplo da nutrição das plantas: houve um período de nosso desenvolvimento tecnológico, que apenas uma única adubação era suficiente para obter respostas em crescimento (esse conceito durou 20 anos – “uma refeição por dia”). Em seguida, descobriu-se que o parcelamento em duas fases (implantação e manutenção) apresentava resultados superiores aos anteriores (esse conceito durou 5 anos – “duas refeições por dia”). E hoje? E amanhã? As empresas estão aprimorando continuamente o processo de nutrição de suas florestas, levando-se em consideração as unidades de manejo, a dinâmica de ciclagem de nutrientes ao longo de rotações sucessivas e a mudança anual do material genético que apresenta exigências nutricionais completamente diferentes dos plantios anteriores. O monitoramento e atualização apenas dessa tecnologia têm representado o acréscimo de milhares de metros cúbicos para as “empresas inteligentes” (as empresas que aprendem – learning organization).

As empresas florestais estão atentas ao fato de que não são exceções dentro do processo de mudança tecnológica. Segue alguns exemplos da história: fotografia (112 anos), telefone (56 anos), rádio (35 anos), radar (15 anos), televisão (12 anos), transistor (5 anos), circuito Integrado (3 anos), AT 286 (1 ano), do 486 ao Pentium (1 mês). Segue apenas um exemplo do setor florestal nacional: sementes melhoradas, propagação vegetativa, micro propagação vegetativa, jardim clonal convencional, mini jardim clonal e sistema hidropônico para produção de mudas.



Edward Fagundes Branco

Gerente Geral Florestal

Eucatex S/A Indústria e Comércio

Agosto/2003