Os óleos essenciais constituem as principais matérias-primas das indústrias ligadas aos setores farmacêutico, de perfumaria e de condimentos. Os óleos essenciais existem naturalmente em diversos órgãos das plantas, principalmente as folhas e consistem numa mistura de mais de cem substâncias sólidas, líquidas e outras voláteis, quimicamente complexas e variáveis na sua composição. No dia-a-dia, inúmeros produtos que utilizamos, como balas, cremes dentais, perfumes, produtos farmacêuticos, detergentes e desinfetantes, levam em sua composição o óleo de eucalipto ou os seus derivados. Entre as aplicações genéricas mais importantes, destacam-se:
as baseadas no odor, constituindo-se nos fundamentos da indústria e da arte da perfumaria e da aromatização de produtos industriais;
as que se fundamentam no sabor, proporcionando às indústrias de alimentos e bebidas recursos importantes para a valorização desses produtos;
as que possibilitam a obtenção de produtos terapêuticos, de solventes e emulsivos industriais ou produtos intermediários para produtos sintéticos;
as que se baseiam na associação odor-sabor, permitindo a maior valorização dos produtos comestíveis, principalmente os produtos de confeitaria.
A busca pelo naturalismo também tem feito crescer a demanda pelos produtos originais obtidos diretamente das plantas. Além do mais, há dificuldades para que os aromas sintéticos aproximem-se da perfeição dos aromas naturais, além das dúvidas ainda existentes sobre os efeitos deletérios ao ser humano, questão esta que cresce fortemente em nível mundial
Os consumidores finais do óleo essencial de eucalipto são as indústrias química, farmacêutica, alimentícia e saunas. Os três pontos mais importantes a considerar nos plantios com a finalidade de exploração das folhas para a produção de óleo essencial são: a). quantidade de massa foliar por árvore; b). rendimento de óleo por quilograma de folha; c)composição química de óleo.
Os métodos mais utilizados de obtenção do óleo são a destilação pela água ou pela vaporização e oferecem resultados satisfatórios, envolvendo um considerável número de plantas. A destilação, tal como é aplicada na produção de óleos essenciais, tem por finalidade separar a parte volátil do óleo essencial da massa restante não volátil, que permanece nas partes da planta. A operação é considerada muito simples e consiste em utilizar um destilador, lançando-se nele uma mistura do material e uma porção de água, elevando-se a temperatura até atingir a ebulição. O vapor resultante é conduzido para um condensador onde é arrefecido e convertido na sua forma líquida, contendo água e pequena quantidade de óleo essencial. Em função de densidades diferentes, formam-se duas camadas bem distintas -óleo e água – perfeitamente separáveis.
A primeira destilação de óleo essencial de eucalipto foi realizada na Austrália pelo cirurgião inglês John White, no fim do século XXIII para substituição do óleo de menta indicado como sedativo. White designou como pappermint-tree a planta produtora de óleo, naquela data, ainda, botanicamente desconhecida. O químico Besiste, de Melbourne, aperfeiçoou depois os métodos de destilação desenvolvendo a sua aplicação na indústria e divulgando diversos usos químicos e farmacêuticos dos óleos essenciais do gênero Eucaliptus.
Segundo o pesquisador José Otávio Brito, da ESALQ/ USP, a produção de óleo essencial no Brasil teve início ao final da segunda década de 1920, tendo como base o puro extrativismo de essências nativas, principalmente do pau-rosa. Durante a Segunda-Guerra Mundial, o Brasil passou a ter a atividade mais organizada, com a introdução de outras culturas para obtenção de óleos, como: menta, laranja, canela sassafrás, eucalipto, capim-limão, patchouli etc. Isto ocorreu em função da grande demanda imposta pelas indústrias do ocidente, que se viram privadas de suas tradicionais fontes de suprimento, em virtude da desorganização do transporte e do comércio, ocasionada pela guerra. Dessa forma, a produção de óleos essenciais no Brasil se consolidou através do atendimento do mercado externo. Também no mercado interno a indústria nacional também tinha dificuldades para importar tais produtos, o que ocasionou um estímulo adicional à expansão da produção. Na década de 1950, instalaram-se no país algumas empresas internacionais especializadas no aproveitamento de óleos essenciais para produção de fragrâncias e aromas, destinadas as indústrias de perfumes, cosméticos, produtos alimentares, farmacêuticos e de higiene. Este fato provocou um aumento do consumo interno dos óleos essenciais, dando maior estabilidade à nossa produção.
Sob o ponto de vista da sua composição química, qualitativa e quantitativamente, os óleos essenciais de eucalipto são misturas, mais ou menos complexas, e variam com as espécies, genética, tipo e idade da folha, condições ambientais (clima, solo, luz, calor, umidade) e processo de extração.
Já foram identificadas mais de 730 espécies do gênero Eucalyptus, mas um número inferior a vinte espécies são exploradas comercialmente em todo o mundo para a produção de óleos essenciais.
Os óleos essenciais de eucalipto apresentam colorações diversas segundo a espécie, grau de umidade das folhas e idade da planta. Os melhores óleos são obtidos nas épocas do ano com pouca umidade e de folhas já adultas.
A aplicação dos óleos essências de eucalipto depende da sua composição.Os mais importantes são os álcoois, os aldeídos, os ésteres e os éteres. Dentre eles, destacam-se os álcoois porque constituem uma das frações mais aromáticas, destacando-se o citronelol. Outro componente muito importante é o citronelal, do grupo dos aldeídos, que juntamente com os álcoois, forma a fração mais perfumada das essências. O acetato de citronelila é um éster muito utilizado em perfumes e é conhecido pelo agradável odor. Os éteres raramente são encontrados nos óleos essenciais, destacando-se o cineol ou eucaliptol, principal componente do Eucalyptus globulus e muito utilizado na medicina e produtos de limpeza.
Embora quimicamente não apresentem a mesma constituição, os óleos essenciais de eucalipto encerram um grande número de propriedades físicas e químicas comuns:
.- São solúveis no álcool, no éter de petróleo, benzeno e nos solventes orgânicos;
.- São praticamente insolúveis em água;
.- São voláteis e destilam pelo vapor d’água;
.- São menos densos que a água;
.- Fervem a temperaturas superiores a 1000C;
.- São oticamente ativos;
.- Ardem com chama fuliginosa;
.- Apresentam colorações diversas segundo a espécie, grau de umidade das folhas e idade da planta.
A aplicação dos óleos essências de eucalipto depende da sua composição.Assim, por exemplo, o cineol é usado na indústria farmacêutica ou como produto de limpeza. O felandreno é empregado na indústria como solvente e na flutuação de minerais; O terpinol é a base da essência artificial de lilás e é usada em perfumarias. O eudasmol é utilizado como fixador em perfumes. O acetato de eudasmol é empregado como sucedâneo da essência de bergamota e a piperitona é utilizada na fabricação sintética de timol e do mentol.
Para o nosso país, devido à grande área já ocupada pelos reflorestamentos com eucalipto e as tendências para o alargamento progressivo dessa cultura, os óleos essenciais de eucalipto se constituem num produto de crescente interesse econômico contribuindo para a valorização da exploração florestal. Entre as espécies mencionadas, destacam-se, em ordem de importância, o Eucalyptus citriodora e o E. globulus.
O Eucalyptus citrodora tem apresentado maior importância na economia brasileira, por ser uma espécie menos susceptível às variações edafo-climáticas; o óleo obtido das folhas contém o citronelal, a partir do qual se pode obter o hidroxicityronelal e o mentol; além de ser ótimo produtor de óleo essencial, também produz madeira de excelente qualidade, muito utilizada para produção de carvão, moirões, dormentes, postes, lenha para energia e outros. É uma planta de rápido desenvolvimento que suporta cortes seguidos, com excelente brotação. O rendimento em óleo essencial de E. citriodora varia com melhoramento genético da espécie, condições do solo, clima época da colheita das folhas, idade da planta, teor de umidade da folha, tempo entre a colheita e a destilação das folhas, método de destilação, tempo de destilação, pressão de vapor injetado nas folhas e vários outros fatores. Os rendimentos comerciais giram em torno de 1 a 1,5%, sobre o peso do material destilado. Isto significa que, de cada tonelada de folha, obtém-se, em média, 12 kg de óleo.
O E. globulus tem seu valor comercial ligado ao cineol ou eucaliptol, seu principal componente que lhe confere ação medicinal. O mercado de óleos essenciais de eucalipto no Brasil tem como base dois produtos: o citronelal, obtido do Eucalyptus citriodora, e o cineol, obtido do Eucalyptus globulus, que não é cultivado no Brasil. A espécie tem apresentado restrições de adaptação no Brasil, embora inúmeras tentativas de adaptação já tivessem sido realizadas, com resultados nem sempre satisfatórios. A espécie apresenta bom desenvolvimento no Chile, Argentina, Portugal e Espanha, com bom crescimento inicial, não formando árvore de grande porte e sua melhor adaptação está ligada a regiões de climas frios.
Os maiores produtores mundiais de óleo essencial de eucalipto são a China, Austrália, Espanha, Portugal e Brasil; os maiores importadores são a França, os Estados Unidos, Suíça e Espanha. Historicamente, as exportações brasileiras de óleos essenciais de eucalipto são superiores às exportações. Os maiores compradores do óleo brasileiro são os Estados Unidos (31%), Espanha 929%), Colômbia (22%), México (6%), Suíça (3%), Turquia (3%) e outros (3%). Fica evidente que o Brasil ainda não explorou o grande potencial do mercado europeu, podendo aumentar, em muito, as exportações para o Velho Continente.
No Brasil, são poucas as indústrias envolvidas na produção de óleos essenciais de folhas de eucalipto. Poucas empresas localizadas nos estados de São Paulo e Minas Gerais ainda processam folhas de Eucalyptus citriodora, mas o mercado tem sido pouco atraente, em função da concorrência de produtos sintéticos e da grande oferta de óleos no mercado internacional, reduzindo significativamente os preços. A produção nacional de óleo de eucalipto é estimada em pouco mais de mil toneladas anuais e está baseada em pequenas e médias empresas, utilizando cerca de 10 mil hectares de florestas, gerando aproximadamente 10 mil empregos diretos, envolvendo cifras que variam em torno de 4 milhões de dólares, com quase a metade devido às exportações Nessa estimativa, considera-se que apenas quatro empresas respondem por 60% da produção nacional e os pequenos produtores de óleos essenciais respondem pelos 40% restantes.
Considerando-se a importância da produção de óleo essencial de eucalipto para a economia do País, é urgente e estratégico o desenvolvimento de pesquisas que aumentem a capacidade produtiva, aumentando a produtividade de biomassa e o rendimento e a qualidade do óleo, para garantir a competitividade e estimular o setor.
Algumas informações adicionais sobre a obtenção do óleo a partir das folhas de Eucalyptus citriodora:
a) A colheita das folhas deve ser feita nos meses secos do ano (abril a setembro), em função do maior rendimento em óleo e da menor umidade das folhas. A qualidade do óleo obtido nessa época é mais rica em citronelal. Observações feitas nas empresas comprovam os seguintes dados:
.- período seco ( abril a setembro) – 79,5% de citronelal ;
.- período chuvoso(outubro a março) – 77,4% de citronelal.
b) A exploração das folhas pode ser iniciada a partir do primeiro ano de vida da planta, envolvendo um desrama artificial dos galhos laterais, deixando-se apenas uma pequena copa de ponteiro para dar continuidade ao desenvolvimento da planta. Os desbastes poderão ser mais intensos com o desenvolvimento da planta. O período de desrama pode variar de 6 meses um ano e meio, dependendo das condições do solo. A massa foliar média de cada colheita é de 3 quilos por árvore.
c) Após a colheita das folhas, faz-se a amontoa do material em local sombreado, para que as folhas percam um pouco da umidade natural e murchem. A exposição demorada das folhas ao sol acarreta sensíveis perdas de óleo e afeta a sua composição, depreciando a sua qualidade.
d) A composição básica do óleo essencial de E. citriodora é:
. citronelal – 65 a 85%
. citronelol – 15 a 20%
. geraniol – 1 a 5%
e) O preço pago pelas indústrias está diretamente relacionado com a quantidade de citronelal. Atualmente, o mercado interno paga por volta de US $ 7.00 o quilograma de óleo, que deverá apresentar, pelo menos, 72% de citronelal.
f) e) A importância comercial do óleo de E. citriodora é decorrente da sua riqueza em citronelal, sendo pouco usado como adjunto de composições odorizantes e, nesse caso, apenas para sabões baratos e para desinfetantes domésticos e inseticidas..
g) As características físico-químicas do óleo essencial de E. citriodora são:
. peso específico – 0,859 a 0,870
. índice de refração a 20o C – 1,4490 a 1,4560
. constituinte principal – citronelal (65 a 85%)
. solubilidade em álcool – solúvel em 1,3 a 1,7 vol
h) Alguns equipamentos, principalmente as dornas, devem ser construídos de chapas de aço inoxidável de 2 mm de espessura, devido ao efeito corrosivo do óleo essencial.
i) A qualidade do óleo depende das condições de armazenamento. Se as condições de armazenamento não forem ideais, o óleo pode deteriorar-se rapidamente.. Para tanto, é preciso que ele esteja isento de água ou qualquer outra substância que possa alterar a sua composição. As embalagens utilizadas para armazenamento e transporte são os tambores de latão com capacidade para 200 litros (175 kg de óleo), revestidos internamente com cera epóxi, ou tambores de polietileno de alta densidade. O tempo de armazenamento vai depender do material usado na embalagem:
.- latão revestido com epóxi: armazenamento por 60 a 90 dias;
.- tambor de polietileno; armazenamento por seis meses a um ano.
Considerando-se a importância da produção de óleo essencial de eucalipto para a economia do País, é urgente e estratégico o desenvolvimento de pesquisas que aumentem a capacidade produtiva, aumentando a produtividade de biomassa e o rendimento e a qualidade do óleo, para garantir a competitividade e estimular o setor. É necessário selecionar material genético (Eucalyptus citriodora) de melhor qualidade, adequadas à maior produção de óleos.
José de Castro Silva
José Tarcísio da Silva Oliveira
Departamento de Engenharia Florestal – UFV. |