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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°75 - AGOSTO DE 2003

Mercado

Perspectivas do Setor Florestal Brasileiro

Em cinco décadas, a população mundial pulará de 6 para 9,5 bilhões de habitantes e o consumo de madeira subirá quase na mesma proporção do crescimento populacional. O consumo médio mundial é de 0,67 m3 / ano/ pessoa e as estimativas mais recentes dão conta que a taxas de consumo estão crescendo de 1,2 a 3,4% ao ano. Se tais estimativas estiverem corretas, o consumo mundial em 2010 deverá ser da ordem de 5,9 bilhões de m3; analogicamente, é possível considerar que isto significa uma disponibilidade de 590 milhões de hectares de florestas plantadas, a uma taxa de crescimento de 10 m3 / ha / ano. O consumo médio individual brasileiro é de 0,83 m3 / ano, a uma taxa de consumo de 3% e um crescimento setorial variando entre 6 a 8%. É inquestionável o potencial que o Brasil detém para atender à demanda do mercado mundial, pois os seus 5 milhões de hectares de florestas plantadas representam menos de 1% da área demandada.

O Brasil consome atualmente 350 milhões de m3/ ano, o que significa 8% do consumo mundial de madeira. Os reflorestamentos localizados nas regiões Sudeste e Sul do País têm sido principal fator de competitividade de novos projetos industriais, oferecendo grandes volumes de madeira a baixo preço. Estudos mais recentes indicam que existem no País 4,6 milhões de hectares de florestas plantadas, sendo 1,7 milhões do gênero Pinus e 2,9 milhões do gênero Eucalyptus. A maioria dos plantios, está localizada nas regiões Sudeste e Sul do País.

Os reflorestamentos localizados nas regiões Sudeste e Sul do País têm sido principal fator de competitividade de novos projetos industriais, oferecendo grandes volumes de madeira a baixo preço, mas estudos indicam que, a médio prazo, a situação apresentará uma mudança drástica. A maior parte dos reflorestamentos existentes encontra-se comprometida com os programas de desenvolvimento dos setores de celulose e papel, bem como da indústria siderúrgica e, atualmente, estão servido, também, de base para atender o setor industrial de madeira sólida. Graças à atual estabilidade econômica e à pujança do mercado interno, novos projetos industriais de grande porte estão surgindo e terão impacto significativo sobre a base florestal e o mercado.

Os novos projetos não deverão contar com um aumento da área plantada, dada a inexistência de políticas eficientes que possam reduzir a expansão. A médio e longo prazos, a competitividade e a sustentabilidade da indústria de base florestal no Brasil serão afetadas drasticamente.

Desde o fim dos incentivos fiscais ao reflorestamento, o setor ficou à deriva, adotando uma política de geração de caixa com um bem exaurível no tempo, através da colheita continuada de florestas sem a devida reposição. Isto determinou que o tempo de retomada para evitar a escassez está esgotando, sendo insuficiente para suprir as necessidades no prazo de percepção da falta de madeira.

Diversos alertas já foram dados por entidades e pelos representantes do setor produtivo. As projeções realizadas pela FAO apontam para a gravidade da situação. Considerando-se os incrementos anuais de 25 m3 /ha/ ano para Pinus e 30 m3 /ha / ano, os estoques atuais disponíveis são de 248 milhões de m3, para o setor de celulose e papel, de 240 milhões de m3, para os setores de lenha e carvão e, de 297 milhões de m3 , para o setor de madeira sólida.

Setor de celulose e papel - espera-se que se mantenha o uso de 35% de Pinus e o restante seja de Eucalyptus e algumas latifoliadas, que não chegam a mais de 5% do consumo.

Os 70 milhões de m3 de madeira que deverão ser consumidos em 2.010 correspondem exatamente ao dobro do que se consome atualmente. Se não houver novos plantios, seguramente não haverá madeira para atender ao setor a partir do ano de 2.003.

Setor de energia – espera-se que a demanda permaneça inalterada, não variando radicalmente a composição interna da mesma.

O setor de energia, englobando a produção de lenha e carvão vegetal, tenderá substituir paulatinamente a madeira nativa por madeira plantada numa proporção que tenderá a cair 1/5 do consumo atual, enquanto a utilização de madeira plantada crescerá 1,5 vez. A tendência de consumo se manterá constante nas projeções de uso da madeira para lenha, que se presume ser de 29 milhões de m3 atualmente e que se mantenha até o ano de 2.010. A madeira proveniente de florestas plantadas aumentará sua participação de 7 para 24 milhões de m3, enquanto que a madeira nativa reduzirá dos atuais 21 milhões para apenas 5 milhões de m3 no ano de 2.010. Espera-se que, até o final do ano de 2.001, o estoque de madeira para carvão e lenha tenha se esgotado.

Setor de produtos sólidos derivados da madeira – esse setor requer uma matéria –prima mais refinada, com diâmetros mais avantajados.

Segundo os dados apresentados, até o ano de 2.010, o déficit de madeira atingiria a marca de 271 milhões de m3.

Conjunto de produtos florestais – os valores citados apresentam a totalidade da madeira em todos os tipos de usos.

Com base nos dados apresentados, é possível chegar a algumas conclusões:

Deverão ser plantados anualmente, pelo menos, de 300 a 400 mil hectares/ ano, utilizando-se as espécies ditas convencionais( Eucalyptus e Pinus), além de outras espécies alternativas, de rápido crescimento;

O enorme mercado interno brasileiro assegura que mais de 80% da demanda projetada coincide com os valores citados. Tais valores poderão ser superados caso as exportações cresçam extraordinariamente;

As entidades oficiais deverão desenvolver mecanismos de incentivos para a implantação de florestas plantadas, sob pena de ter as suas reservas naturais ameaçadas;

Caso não haja uma reversão imediata, o Brasil poderá se tornar um importador de madeiras, já a partir de 2.005, principalmente para o setor de produtos sólidos derivados da madeira.



José de Castro Silva Professor UFV/DEF/CEDAF Agosto /2003