A conversão de toras em madeira serrada compreende o processamento de peças de seção circular ou elíptica em peças de seção retangular. É uma operação que permite um melhor aproveitamento da madeira, além de lhe conferir maior versatilidade para inúmeros usos.
A indústria de processamento primário de madeira deve produzir madeira serrada de qualidade, aproveitando, ao máximo, a matéria-prima, a fim de obter uma maior rentabilidade. Para alcançar esta meta, deve-se controlar a eficiência do aproveitamento do produto principal, determinada como rendimento, bem como a capacidade produtiva e os custos de produção de madeira serrada. O rendimento ou porcentagem de aproveitamento é a relação entre o volume de madeira serrada produzido e o volume de toras produzido. Em geral, o rendimento obtido para coníferas está entre 55 a 65%, devido à forma mais retilínea do tronco, enquanto que o rendimento para folhosas está entre 45 a 55% .
O rendimento em serraria é afetado pela interação de diversos fatores: diâmetro, comprimento, conicidade e a qualidade das toras (isenção de defeitos); espessura de corte, decisões pessoais do operador, tipos, condições de funcionamento e manutenção dos equipamentos; métodos de processamento e número alternativo de produtos, além da possibilidade de aproveitamento dos sub-produtos (costaneiras, cavacos, refilos, destopos e até a serragem). Todos esses fatores interagem de tal forma que é impossível uma análise isolada.
A qualidade das toras a serem desdobradas influencia sobremaneira no rendimento da madeira e tem reflexos sobre todo o sistema de produção da serraria. A serraria pode operar 3 tipos de tora (boa, regular ou ruim), classificadas visualmente no pátio de estocagem. Quanto melhor a qualidade da madeira, melhor a qualidade dos produtos que dela podem ser tirados; evidentemente, a serraria paga mais caro pelas toras de melhor qualidade. O custo da matéria-prima colocada na serraria é o principal componente dos custos totais, mas o aumento nos custos da matéria-prima é compensado pelo aumento da receita nos produtos vendidos.
O rendimento obtido na transformação das toras em tábuas varia de uma espécie para outra, dadas às inerentes distinções entre as características das mesmas, apresentando comportamento diferenciado no desdobro. Dentre as principais características, destacam-se: densidade, disposição dos elementos estruturais, teor de umidade, presença de componentes químicos etc.
A qualidade da madeira começa pela semente, justificando a importância do material genético para se obter uma matéria-prima homogênea e de qualidade. Segundo o mesmo autor, a qualidade da matéria-prima ideal para serraria envolve os seguintes parâmetros: homogeneidade, diâmetros adequados ao processo, baixa presença de tensões e rachaduras, grã direita, ausência de nós, retilínea, forma cilíndrica, ausência de podridão e ataque de pragas, baixa incidência de alburno, pouca diferença entre cerne e alburno, ausência de bolsas de resina, medula centralizada e ausência de impurezas( pedra, areia etc.). A madeira serrada com características dimensionais adequadas melhora o rendimento, através da diminuição das variáveis e sobremedidas. O desdobro da madeira de eucalipto exige técnicas especiais, devido às condições intrínsecas da madeira; a grande ocorrência de tensões internas de crescimento prejudica sobremaneira o rendimento, através da tendência de rachamento das toras antes e durante a operação de desdobro. O mesmo autor comenta que a excessiva espiralização da grã pode ocasionar empenamentos, torcimento e perda da resistência mecânica da madeira, bem como dificuldade no processo de secagem, podendo acarretar perdas do material serrado e consequente diminuição no rendimento final.
A qualidade da tora está presa a fatores que antecedem a sua presença na serraria, como práticas silviculturais (espaçamento, fertilização, desbastes e desramas), técnicas de abate, derrubada e transporte das toras, bem como cuidados na estocagem das toras (limpeza, descascamento). A retidão e a uniformidade da superfície da tora influenciam muito no rendimento. Árvores com crescimento irregular e de formato cônico originam baixo aproveitamento, quando comparadas com aquelas retas e cilíndricas. A presença de encurvamento na tora reflete-se na produção de peças de menor largura, afetando o volume do material serrado e, consequentemente, o rendimento. As toras mais cônicas também redundam na produção de peças mais curtas. A maioria dos defeitos inerentes à madeira de eucaliptos encontrados atualmente podem ser minimizados através do manejo florestal e do melhoramento genético. A idade de corte das árvores é um dos fatores preponderantes para se obter um material de qualidade. Não basta obter árvores de grande diâmetro, mas sim árvores com madeira adulta para garantir a estabilidade da madeira, uma vez que a qualidade da madeira é diretamente proporcional à quantidade de madeira adulta presente na peça. E os valores de resistência crescem significativamente com o aumento da idade da árvore .
O processo de colheita da madeira e seu transporte devem obedecer a alguns preceitos e existem algumas técnicas que podem ser utilizadas para que a madeira tenha maximizado o seu potencial de uso. As árvores de eucalipto jamais devem ser cortadas com o tronco flexionado, evitando-se rachaduras internas, devem ser cortadas com a maior dimensão possível para posterior seccionamento, devem conter anelamento e aplicação de impermeabilizante (parafina) nos topos, e o transporte para processamento deve ser realizado, num prazo máximo, de 3 dias.
Devido à grande demanda de madeira e pressões econômicas para resultados imediatos, árvores jovens, de rápido crescimento e de pequenas dimensões tenderão compor o mercado madeireiro num futuro bastante próximo. Segundo especialistas da área, as árvores destinadas à produção de madeira para serraria devem apresentar diâmetros avantajados, com fustes longos e retos, bem como produzirem madeira com critérios de qualidade bem definidos em questão de uniformidade, resistência, estabilidade e trabalhabilidade.
A madeira proveniente de reflorestamento de rápido crescimento deve ser sempre considerada como matéria-prima diferente de uma madeira resultante de ciclo longo. Os defeitos de rachaduras são ocasionados por tensões internas que se manifestam após o abate das árvores, apresentando-se, com maior intensidade, nas idades mais jovens. As tensões internas diminuem consideravelmente com o amadurecimento da árvore. Os níveis de tensões são sempre mais elevados para as árvores de menores diâmetros. Os profissionais da área de processamento de madeira deverão aperfeiçoar os processos de conversão, no sentido de adequação dessas madeiras que, naturalmente, possuirão algumas características tecnológicas diferentes daquelas formadas em ciclos longos de crescimento
Equipamento ideal
Cada equipamento de desdobro apresenta um conjunto de características que o indicam para um certo tipo de madeira e certas características da tora. Cada equipamento possui características próprias de concepção que devem ser conhecidas e que interferem na produção, produtividade e rendimento volumétrico.
Experiências realizadas em São Paulo encontraram um rendimento médio de 55,6% em Eucalyptus saligna, E. grandis e E. urophylla. Os rendimentos conseguidos têm variado entre 42,0 e 50%, dependendo da classe de diâmetro das toras. A produtividade, expressa em metros cúbicos de madeira serrada, produzidos numa unidade de tempo, também depende do diâmetro das toras. Quando se passa de uma classe de diâmetro de 15,0 – 20,0 para outra de 20,0-25,0 cm, o aumento de produtividade é da ordem de 106%. Uma vantagem adicional de se utilizar toras de maiores diâmetros é a obtenção de uma porcentagem mais elevada de madeira sem medula ou de lenho juvenil que, via de regra, apresenta altas contrações e baixa resistência mecânica..
O correto posicionamento e orientação da tora para o desdobro são importantes, pois uma abertura de corte inadequada pode significar grandes perdas em volume ou qualidade da madeira. A tora deverá ser fixada firmemente e com um correto alinhamento durante o transporte e passagem pela serra. O sistema integrado de desdobro deverá estar suficientemente equilibrado para produzir pequenas espessuras de fio de serra, cortes alinhados, com ferramentas bem preparadas e afiadas, visando à produção de superfícies planas e com velocidade de alimentação em níveis aceitáveis. Os fatores inerentes às condições operacionais da serra também podem influenciar no rendimento obtido, como tipo de dentes, relação largura da trava/ espessura da lâmina, tensão da lâmina e espaçamento entre os dentes da serra. A espessura do corte é outro fator relacionado com o equipamento que muito influencia no rendimento. A espessura de corte varia normalmente entre 2,0 a 6,0mm e depende, por sua vez, de diferentes fatores: velocidade de alimentação (maior velocidade de alimentação significa maior canal de corte); espécie de madeira (maior dureza significa menor canal de corte), acondicionamento da lâmina (uma adequada manutenção significa menor canal de corte). A condição e a manutenção dos equipamentos podem interferir na produtividade de uma serraria. Equipamentos que não funcionam ou que não operam adequadamente podem ser a causa dessa interferência negativa.
Para o desdobro da madeira de eucalipto poderão ser adotados vários equipamentos, como:
.- serra dupla de desdobro de toras de fita ou circular – utilizada para a retirada das duas costaneiras simultaneamente, evitando a liberação desproporcional e assimétrica das tensões de crescimento. Através de cortes simultâneos e paralelos das costaneiras, evita-se, principalmente, que haja o arqueamento da tora, em função da liberação das tensões.
.- serra circular múltipla ou multisserra – utilizada em cortes sucessivos da peça, garantindo maior produção, quando comparada à serra simples, e um menor desvio padrão quanto às diferenças dimensionais na largura das peças.
.- serra de fita simples ou reversa utilizada no aproveitamento das costaneiras, gerando peças de qualidade, com menos resíduos, além de aumentar o rendimento em madeira serrada.
.- serra circular alinhadeira ou canteadeira – utilizada para padronização da largura das peças
.- serra destopadeira dupla – constituída de serras circulares posicionadas em duas linhas paralelas e distanciadas das peças serradas no comprimento padrão.
O melhor esquema básico de corte para eucalipto deve constar de duas serras paralelas de fita ou circulares, complementadas com uma série de serras circulares para desdobrar o bloco obtido de duas faces planas. Experiências com Eucalyptus saligna concluíram que o melhor método foi o de duas serras paralelas circulares ou de fita para produzir um bloco de duas faces planas e serras múltiplas para cortar esse bloco em peças com a espessura desejada. Não se recomenda o uso de uma única serra com um carro porta-toras, em função da peça remanescente do primeiro corte apresentar uma curvatura convexa. Agosto/2003 |