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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°74 - AGOSTO DE 2003

China

Relações comerciais mostram rápida evolução

Atualmente, a China é o país que surge com maior otimismo para as relações de negócios externos, e com potencial para o setor de base florestal. O continente asiático tem se destacado como grande mercado comprador de madeira, compensados e, principalmente, celulose. Inúmeras missões de negócios partiram para a China, nos últimos anos. O Brasil tem estreitado esta relação em virtude, principalmente, da necessidade de consumo dos chineses e do grande potencial brasileiro, para incrementar a oferta de madeira. “O Brasil pode ser o maior ‘tigre’ de exportações do mundo”, afirma Charles Tang, presidente binacional da CCIBC - Câmara de Comércio e Indústria Brasil China.

De acordo com Charles Tang, a experiência da China e dos demais ‘tigres’ asiáticos ensina que o caminho da riqueza de uma nação não é demorado, nem, muito menos, impossível. Ele explica que duas décadas de evolução econômica brasileira, correspondem exatamente ao tempo que a China levou para dar um grande salto, do estágio de nação pobre e estagnada, para a sua atual condição de potência econômica do mundo globalizado.

Como é que a China conseguiu tamanhas transformações? Na verdade, o chamado ‘milagre econômico chinês’ tem a ver com um projeto de nação para atingir a prosperidade; um projeto que considerou friamente as condições em que o país se encontrava e os objetivos a atingir, a fim de conquistar a prosperidade. Compreende uma vontade política de reforma e abertura econômica, negociada com vantagens para si, mediante um desenvolvimento econômico real, consistente em muito trabalho de produção, de exportação de menor custo nacional e de atração de investimentos e de tecnologia avançada de outros países, tendo em vista obter receitas em divisas.

Na visão do presidente da CCIBC, a China só tem conseguido atrair anualmente imensos volumes de investimentos externos por haver criado, antes de tudo, uma base econômica confiável para os investidores. Tamanha é a importância dada às exportações que, além do Ministério de Comércio Exterior, mantém órgãos correspondentes em todas as províncias, municípios, regiões autônomas, regiões administrativas e zonas econômicas especiais. E, existe também o importante Conselho de Fomento do Comércio Internacional, sediado em Beijing, com ramificações em todas as unidades administrativas do País, de alto a baixo. A função principal desses órgãos é educar e incentivar as empresas públicas e privadas a exportar, além de criar facilidades cada vez maiores para as exportações. Tang sugere que sejam criadas zonas de processamento de exportações (ZPE) no Brasil. A China possui oito ZPEs. Em virtude destas zonas, somente a cidade de Shenzhen, próxima a Hong Kong, exporta 50% do que produz para o Brasil.

A China passou a implantar, em 1980, zonas econômicas especiais (ZEE) em Shenzhen, Shantou e Zhuhai, na província do Guangdong, perto de Hong Kong e Macau. Logo no ano seguinte, foram implantadas as de Xiamen, na Província do Fujian, e a da Ilha de Hainan, convertida em Província Econômica Especial. Hoje, as ZEEs litorâneas chinesas somam quase vinte. Somente as exportações da ZEE de Shenzhen, que, há duas décadas, era apenas uma vila de pescadores, criadores de porcos e hortaliças, equivalem a 50% das exportações do Brasil. “No Brasil, a única zona econômica especial instalada não foi criada para ganhar divisas, nem para exportação”, lembra.

Na visão de Tang, a formação da riqueza de uma nação depende também de uma teoria mercantilista de exportação, a qual nas décadas passadas nunca fez parte do plano econômico brasileiro. “Graças ao processo de reforma e abertura dos últimos 24 anos de uma economia mercantilista, a China atingiu um patamar de bem estar social jamais alcançado em seus mais de cinco mil anos de sua história escrita”, afirma.

Em recente crise asiática, a China demonstrou ao mundo que é possível manter a estabilidade econômica enquanto se gera prosperidade. “Com grandes custos para si, ela não desvalorizou sua moeda (o yuan), tendo conseguido, assim, manter a estabilidade interna em toda a região asiática, ao mesmo tempo em que manteve o seu crescimento econômico”, avalia Charles Tang.



Nas palestras que ministra pelo Brasil, Charles Tang sempre questiona:

“Por que até agora não se adotou a teoria mercantilista e as estruturas necessárias para transformar o Brasil no maior ‘tigre’ exportador do mundo?”

“Por que insistimos em experimentar, sob novos rótulos, um mesmo modelo econômico, que, há tantos anos, só tem fracassado em todas as suas variantes?”

“Por que não conseguimos enxergar que, para ser um país próspero é indispensável gerar receita?”

“Agora que se reconhece o item Exportação como prioridade, por que ainda não se reestruturou a economia, desmontando a danosa estrutura do ‘custo Brasil’, a fim de assegurar nossa competitividade internacional?”



No mundo globalizado de hoje, as nações conhecidas como ‘tigres’ asiáticos e a China constituem notáveis exemplos de reestruturação econômica, tornando-se verdadeiras máquinas de exportação, a fim de construir a sua prosperidade. Para Charles Tang, o Brasil é um país dotado de grande extensão territorial, terras férteis e recursos naturais abundantes. “Além da sorte de estar longe dos circuitos de catástrofes naturais como tufões e terremotos, tem, ao contrário da China, a vantagem de possuir uma população grande, mas não excessiva, sendo um povo cheio de esperanças, disposto a apoiar um plano econômico e a se sacrificar por dias melhores, com disciplina e patriotismo. Portanto, o Brasil tem muito mais condições do que a própria China de prosperar com o modelo mercantilista”, acredita.



Mercado

As perspectivas do mercado chinês para os empresários brasileiros são otimistas. Para se ter uma idéia, a madeira brasileira representa somente 10% da madeira para pisos vendida na China, com grandes chances de incremento na participação. Outro dado interessante é que todo ano, 3% dos chineses deixam de ser pobre e ingressam na “classe média”, o que corresponde a 42 milhões de novos consumidores todos os anos.

O principal desafio de exportar para o mercado chinês está na dificuldade deste de se adaptar com as mudanças que partem do exportador. Trata-se de um cliente com uma organização interna definida e que exige de seus parceiros uma adaptação a sua realidade. Uma das facilidades que torna viável algumas parcerias, é o fato do importador arcar com parte das despesas logísticas, na maioria das vezes. Outra vantagem é a possibilidade de exportar grandes volumes.

Para exportar Pinus para a China, o exportador tem que respeitar características como ausência de rachaduras, azulamento, medula e outros. Porém este mercado aceita bem nós vivos, restringindo três por peça. A espécie deve ter crescimento rápido, a floresta tem que ter desbaste e a madeira deve ir seca, em estufa, para evitar o ataque de fungos.

A China ainda é um país de baixo custo e não oferece vantagens para exportação de produto com maior valor agregado. Prefere comprar matéria-prima, industrializar com mão-de-obra interna e vender para os mercados tradicionais. Como forma de defender o emprego da população, o governo chinês impôs taxas maiores no imposto de importação, proporcionalmente ao seu grau de industrialização. Uma boa alternativa é a venda de partes e peças para móveis, pisos maciços, portas e artefatos de madeira e outros inacabados. Devido ao grande número de indústrias estrangeiras, já instaladas na China, o consumo de componentes para produtos acabados também pode ser uma boa oportunidade para o Brasil em curto prazo.

A China compra tanto espécies tropicais como espécies de reflorestamento como o Pinus ou o Eucalipto. Compra madeira nativa para parquet e piso e, há pouco tempo, pinus para móveis. As principais espécies adquiridas são: Jatobá, Cedro, Cabriúva, Angelim, Itaubá, Tauari, Ipê, Cumaru, Sucupira e outras.

Segundo o presidente da ABPMEX – Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Madeiras, Roque Zatti, para conseguir se manter no mercado chinês é preciso seguir normas rígidas, além de qualidade e transparência. “Qualidade para a China não é a mesma coisa que qualidade para o Brasil. É preciso fazer o que eles querem e não o que o exportador quer”, explica. Roque Zatti também sugere que o empresário não pense em vender apenas uma vez, tem que se preparar para conquistar definitivamente este mercado, oferecendo qualidade total e fazendo o nome do Brasil lá fora.

Apesar de seus 9.600.000 Km2 de extensão territorial, a China não possui muitas florestas porque 1/3 das terras é destinada à agricultura.

O governo da China previu investimentos da ordem de US$ 1,4 bilhão de 2001 até 2005. A verba incentivará o comércio com o Brasil, segundo o cônsul geral da República Popular da china em São Paulo, Zhang Jisan. A relação comercial Brasil – China tem crescido muito os últimos anos, passando de US$ 1,54 bilhão em 1999 para 2,5 bilhões em 2000 e 3,23 bilhões em 2001. Um dos motivos é a prioridade que o governo brasileiro deu as exportações.



China

Área: 9.571.300 Km2

Capital: Beijing (Pequim)

Membro da: ADB – Asian Development Bank, APEC – Asia-Pacific Economic Co-operation, ESCAP – Economic and Social Commission for Asia and the Pacific.

População: 1.232.080.000

Taxa de crescimento demográfico: 1,4%

Expectativa média de vida: H-68 e M-71

Línguas: Chinês do Norte (mandarim) e outras.

Índice de alfabetização (adultos): 77,8%

Moeda: Yuan (US$ 1 = 18,3 yuans)

Curiosidades:

Estima-se que 20 a 25% da população mundial (aproximadamente 1,2 bilhão de pessoas) habitam o país, cuja superfície é a terceira em tamanho, depois da Rússia e do Canadá.

Após um turbulento século XX, a China avança, o que certamente provocará reflexos em todo o mundo.

Agosto/2003