Concorrência internacional obriga investimentos tecnológicos em máquinas para trabalhar madeira.
Texto: Alexandre Atanasov
A indústria de máquinas e equipamentos possui hoje uma grande participação na economia nacional, empregando milhares de pessoas e obtendo um lucro crescente nos últimos anos. Pesquisas realizadas apontam que entre janeiro de 1999 e dezembro de 2000 o número de empregados no setor sofreu um acréscimo de 9%. Obteve-se, no mesmo período, uma variação de 12,8%, nos faturamentos, que evoluíram de R$18,6bilhões para R$21.08 bilhões. Estima-se até o final deste ano um crescimento de produção em torno de 10%.
Por sua vez, a indústria de máquinas para trabalhar madeira, apesar de deter ainda um pequeno percentual no setor de maquinários em geral, se encontra em franca expansão no Brasil, considerando dados de dez anos para cá. Este fato pode ser constatado não só em uma análise da evolução do mercado interno, como também quando nos referimos à exportações para mercados extremamente exigentes, como Estados Unidos e Alemanha, dentre outros países europeus. Indicativos como este demonstram a preocupação de boa parte dos fabricantes brasileiros em investir em novas tecnologias, proporcionando equipamentos similares aos vendidos no exterior.
Atualmente, com o crescimento da indústria da madeira em todo o mundo, o grande desafio dos empresários brasileiros é o de obter novas formas de se manter competitivos num mercado que passa por rápidas mudanças, impulsionado pelo processo de globalização. Permanecer vivo e ativo hoje no mercado implica necessariamente em investir em maior qualidade nos produtos oferecidos, seja agregando valor ou buscando um diferencial para fugir da concorrência. Para tal, necessita-se de equipamentos de ponta, com alto nível tecnológico.
Porém, no segmento de fabricantes de máquinas para trabalhar madeira, ao traçarmos uma analogia com o mercado exterior, encontramos atualmente no Brasil um disparate em oferta de tecnologia de equipamentos. É possível encontrar desde indústrias oferecendo produtos extremamente sofisticados, grande parte delas orientadas para a exportação, até empresas negociando máquinas totalmente defasadas, que eram utilizadas há mais de uma década atrás, e sem perspectivas de evolução.
Quando um fabricante produz maquinários com tecnologia obsoleta, para uma parcela da demanda nacional pouco exigente, acaba não se atentando para uma realidade: existe uma enorme lacuna deixada pela indústria nacional, que está sendo preenchida por empresas que vêem de fora. Estima-se que uma média de duas empresas estrangeiras, ligadas ao setor madereiro, se instalam Brasil a cada mês. Em outras palavras, perde-se terreno para o fortíssimo mercado internacional, que há muito está adaptado para uma nova realidade.
inversão
Observa-se no Brasil uma situação inversa à tendência mundial. Enquanto em países desenvolvidos a chave de todo o raciocínio está relacionada com o item “custo-benefício”, onde procura-se adquirir apenas equipamentos de qualidade, que ofereçam soluções para as necessidades da empresa, em nosso país, a política da satisfação momentânea da compra ainda impera. Neste contexto, a ordem continua sendo “copiar o que o vizinho está fazendo”, e não buscar informações em países do exterior, por exemplo. Procura-se adquirir o mais barato, quando já é possível efetuar compras de maquinário dispondo de tecnologia avançada e com custos altamente reduzidos. Desta forma, percebe-se que o empresário brasileiro da madeira ainda aposta muito pouco na renovação tecnológica de seu parque fabril.
Não há dúvidas de que a mudança desta realidade está intimamente ligada à implantação de uma nova cultura empresarial, onde o empresário necessita, acima de tudo, entrar em sintonia com o que está acontecendo, e de forma muito rápida, no mercado exterior. Se levarmos em consideração que boa parte das empresas fabricantes de máquinas para madeira no Brasil oferecem produtos com tecnologia defasada, podemos antever que uma maior atenção global dos fatos, resultaria em um incremento no número de vendas. Além disso, decisões como aumentar os intercâmbios e estar presente em eventos internacionais são primordiais, ações pouco desenvolvidas em empresas nacionais.
Diversos fatores demonstram que o setor deve crescer de forma espantosa nos próximos anos, o que reforça a necessidade de uma rápida adaptação por parte dos empresários brasileiros. Um bom exemplo disso é a estimativa de duplicação da população mundial nas próximas décadas, que resultará em um maior consumo de madeira para necessidades elementares, tais como aquisição de novas moradias, e, consequentemente uma movimentação no setor moveleiro. No entanto, sem investimentos, o ramo de atividade terá dificuldades em aproveitar o mercado que se vislumbra. Não se pode perder o foco principal, ou seja, dispor de diversas técnicas não significa necessariamente estar atualizado em termos de tecnologia.
Apesar de o mercado nacional já apresentar indícios de reação, com empresas preocupadas em estreitar relações com países europeus, ainda são relativamente poucos os empresários que estão direcionados a um raciocínio empresarial . Há que se destacar que algumas empresas nacionais já estão adequadas a esta nova linha de pensamento, e permanecem aumentando seu número de exportação para centros europeus importantes, como Itália, Espanha, Portugal e até mesmo Alemanha, país que detêm hoje um alto grau de investimento tecnológico. No mesmo ritmo, indústrias moveleiras aumentam sua exportação de produtos “made in Brazil” , acompanhando o padrão de exigência internacional, o que só é possível através de, dentre outros fatores (bom preço, cumprimento de prazos de entrega e diferenciação no produto), investimentos tecnológicos.
Tendências
No que se refere à indústria da madeira, uma forte tendência vem se propagando hoje em empresas do mundo inteiro: obter melhoraria da qualidade, reduzindo os custos de produção, mesmo com a aquisição de novos e modernos equipamentos. Para se alcançar tais resultados, uma empresa deve estar atualizada no mercado e organizada em seu processo de produção.
Na indústria moveleira, por exemplo, onde a tendência mundial passa necessariamente pelo aprimoramento do design, buscando um diferencial atrativo que viabilize a compra, o que se deseja em termos de aquisição de equipamentos são maquinários que acompanhem esta evolução, proporcionando maior rapidez e agilidade na produção no que se refere ao fator “diferenciação”. Existem inclusive empresas que trabalham com maquinários produzidos sobre encomenda, com o intuito de se organizar em seu processo de produtividade.
É certo que o setor brasileiro enfrenta inúmeras dificuldades relacionadas à economia nacional. As próprias ofertas de financiamento de máquinas para indústrias ficam comprometidas, com o FINAME, órgão de financiamento do BNDS, alternando momentos de glória e total invalidez, através da escassez de recursos. Mas é justamente neste momento, onde fábricas não atualizadas em seu parque fabril fecham suas portas, que o empresário deve manter seus olhos abertos.
Para Bruno Krick, representante e importador de máquinas de última geração, o setor hoje, a nível mundial, não está mais apostando na loteria. Isto se deve a um amadurecimento do empresário, que se preocupa em modernizar e se tornar superior a seu concorrente. “Quem não estiver em total sintonia com esta evolução mundial, se prepara para mudar de ramo ou fechar definitivamente suas portas. ”, ressalta. .
A tendência em todo o mundo, a ser seguida por fabricantes de máquinas, é o da automação. Krick destaca que hoje não se vende mais máquinas para a indústria moderna, vende-se sistemas, que possibilitem uma maior automação, desde o descarregamento de uma estufa até a embalagem do produto acabado. Busca-se também, além da qualidade, tempos de regulagem e preparação extremamente curtos.
Dificuldades
A indústria de base florestal, responsável pelo fornecimento de matéria prima para móveis, papel e celulose, dentre outros, comporta hoje números expressivos em termos de faturamento, chegando a ser responsável por 9% das exportações brasileiras de todos os produtos primários e industrializados. Além disso, o país possui uma fonte “inesgotável” de matéria prima, disponibilizando um alto índice de empregabilidade para o setor.
Porém, de acordo com Lonard Scofield dos Santos, diretor de marketing da Partek Forest Brasil, empresa que comercializa, dentre outras linhas, máquinas florestais Valmet e Timbco, os números expressivos do setor não influenciam diretamente na venda de máquinas de alto porte no Brasil. Isso se deve a um baixo índice de mecanização, devido aos altos custos gerados. Lonard comenta que hoje apenas cerca de 10 a 12% das empresas do mercado estão mecanizadas, percentual que não deve se expandir nos próximos anos. “Utiliza-se ainda a velha conduta da mão-de-obra barata. Os investimentos ficam bloqueados por conta de uma falta de pensamento empresarial. Desta forma, a mecanização acaba não substituindo a prática do machado e moto serra”, explica.
Apesar de existirem máquinas florestais com altíssima tecnologia para serem comercializadas no país, existem também dificuldades de aquisição, como inexistência de financiamento adequado, obrigando fabricantes como a Partek a desenvolverem suas próprias linhas de crédito. Outros entraves, como o não enquadramento das máquinas destinadas à atividade florestal em linhas de financiamento agrícola ajudam a dificultar o incremento de vendas de Harvester e Forwarder no Brasil. “Para o BNDS, se um equipamento não tem quatro rodas e não puxa arado, não pode ser considerado agrícola.”, desabafa Lonard . Ao considerarmos que um plantio de pinus, ou eucalipto, por exemplo, é também uma cultura, que pouco se diferencia de uma atividade agrícola, já que houve um plantio com a finalidade posterior de colheita, colocamos em cheque o que pode ser apenas um problema de nomenclatura.
Novas opções
Mesmo enfrentado diversos problemas, as empresas fabricantes de máquinas de alto porte para atividade florestal permanecem comercializando no Brasil equipamentos de alto nível tecnológico e de baixo custo de operação, similares aos utilizados em todo o mundo. As novas tendências passam pela combinação de Harvester e Forwarder na mesma máquina, permitindo derrubar a árvore, processar e se auto carregar na mesma operação, tecnologia esperada há muitos anos pela demanda nacional. Outra inovação do setor, também disponível no Brasil pela Parket Forest é a substituição do skidder pelo clambunk, que proporciona a remoção da árvore inteira, sem arraste, levando-a suspensa em uma caixa de carga. Esta tecnologia permite a entrega de uma madeira mais limpa, livre de resíduos.
Criado com a finalidade de reduzir os gases poluentes, através do seqüestro de carbono, o Protocolo de Kyoto conta com a participação de 155 países, dentre eles o Brasil. Consiste fundamentalmente em aproveitar recursos naturais, através da plantação de novas florestas. Desta forma, empresas que conseguirem reduzir seus níveis de poluição, ganharão “créditos de carbono”, podendo vendê-los a outros países e plantar mais com o dinheiro que ganhar. Porém algumas regras devem ser respeitadas, dentre elas, a proibição da adicionalidade de matas já existentes. Quando estas florestas adquirirem a maturação poderão ser comercializadas, desde que sejam replantadas. Espera-se que o Protocolo deva mexer com o mercado de vendas de máquinas florestais.
Porém, de acordo ainda com Lonard dos Santos, o Protocolo de Kyoto é um projeto a longo prazo, que não deverá contribuir para o aumento de vendas nos próximos 10 ou 15 anos. “Ainda dispomos de muitas áreas que podem ser comercializadas, e as novas plantações, derivadas do projeto, não deverão contribuir para a aquisição de novos equipamentos a curto prazo”, finaliza. |