Existem hoje no Brasil cerca de 2 milhões de hectares reflorestados com pinus. Metade desse total está localizado na região Sul, onde são usadas basicamente as espécies Pinus taeda e Pinus elliottii, ambas originárias da América do Norte. O uso de poucas espécies, associado à alta densidade de árvores por hectare e ao manejo florestal inadequado, tem favorecido o aparecimento de surtos de pragas e doenças, destacando-se entre elas a vespa-da-madeira e os pulgões-do-pinus.
No Brasil, a vespa-da-madeira (Sirex noctilio) foi constatada pela primeira vez em 1988, em plantações de pinus no Rio Grande do Sul. Atualmente, esta praga também é encontrada nos estados de Santa Catarina e Paraná, atingindo cerca de 350 mil hectares de povoamentos de Pinus spp., podendo provocar um prejuízo de até U$ 6,5 milhões anuais. Nas regiões de origem (Europa, Ásia e norte da África) ela é uma praga secundária e não causa perdas econômicas. Entretanto, nos países em que foi introduzida, como Nova Zelândia, Austrália, Uruguai, Argentina, Brasil e África do Sul, tornou-se a principal praga das florestas de pinus.
A vespa-da-madeira é um inseto himenóptero, ordem da qual fazem parte vespas, abelhas e formigas, e atinge cerca de 25 mm de comprimento, quando adulto. No Brasil, a maioria dos adultos emerge de dentro das árvores de pinus do início de novembro à primeira quinzena de janeiro, com picos em novembro e dezembro. Após o período inicial de vôo, quando acasala, a fêmea perfura o tronco da árvore com seu ovipositor e coloca os ovos na madeira. Entretanto, durante a postura, ela introduz também esporos do fungo simbionte Amylostereum areolatum e uma secreção mucosa, que são tóxicos e podem causar a morte das plantas. Durante seu desenvolvimento, as larvas da vespa constroem galerias no interior da madeira e se alimentam do fungo. Este processo leva cerca de um ano.
Os sintomas de ataque começam a aparecer logo após os picos populacionais dos insetos adultos (novembro a dezembro), mas tornam-se mais visíveis a partir do mês de março, sendo eles: amarelecimento da copa, que depois se torna marrom-avermelhada e posteriormente ocorre a perda das acículas (folhas do pinus); respingos de resina na casca (em função das perfurações para a postura); orifícios de emergência dos adultos; manchas marrons no tecido logo abaixo da casca, que indicam a presença do fungo A. areolatum; e galerias feitas pelas larvas.
Os plantios mais suscetíveis ao ataque dessa vespa têm, geralmente, entre 10 e 25 anos de idade. Áreas sem desbaste são mais suscetíveis pois apresentam maior número de árvores estressadas, que são altamente atrativas para a praga.
O modo mais eficiente de prevenir os danos provocados pela vespa-da-madeira é a utilização de tratos silviculturais, como o desbaste, nas épocas adequadas. O desbaste do plantio permite que as árvores que permanecem cresçam em melhores condições de nutrição, sendo mais vigorosas e capazes de tolerar melhor o ataque desta praga.
O controle da vespa-da-madeira é realizado pela associação do manejo florestal (principalmente pela prática e atualização dos desbastes) com a introdução de inimigos naturais, entre os quais destaca-se o nematóide Deladenus siricidicola, que esteriliza as fêmeas da vespa.
No Brasil, a constatação desta praga levou à criação, em 1989, do Fundo Nacional de Controle à Vespa-da-Madeira (Funcema), que deu suporte financeiro ao Programa Nacional de Controle à Vespa-da-madeira. Os objetivos do programa são monitorar a praga e gerar ou adaptar tecnologias para combatê-la. O Funcema reúne órgãos públicos e mais de uma centena de empresas do Sul do país. Além de adotar as soluções recomendadas, as empresas fornecem assistência técnica a pequenos reflorestadores, para que as medidas de controle atinjam todos as plantações.
O programa iniciou em 1989 com a importação, da Austrália, de culturas do nematóide Deladenus siricidicola. As primeiras liberações em plantios de pinus no Brasil aconteceram em agosto de 1989 e, nos anos seguintes, entre março e agosto. A produção em laboratório desse nematóide, para fornecimento aos produtores, vem sendo feita pela Embrapa Florestas.
Em alguns casos, o nível de eficiência do nematóide pode atingir 100%, mas a média obtida é 70%.
A praga também tem sido combatida com outras vespas (Ibalia leucospoides, Rhyssa persuasoria e Megarhyssa nortoni). A primeira chegou ao país junto com a vespa-da-madeira. As suas larvas crescem alimentando-se de ovos e larvas jovens da vespa-da-madeira. As espécies Rhyssa persuasoria e Megarhyssa nortoni foram introduzidas da Tasmânia e estão sendo criadas em laboratório. Tanto o nematóide como as vespas parasitóides são inimigos naturais específicos da vespa-da-madeira, o que garante uma (retirar) maior eficiência no controle desta praga. Usados em conjunto, eles possibilitam a proteção dos plantios de pinus brasileiros do ataque desta praga, a custos mais baixos e sem maiores prejuízos ambientais.
Os Pulgões-do-Pinus
Os pulgões-do-pinus, Cinara pinivora e C. atlantica, foram registrados em plantios de Pinus spp., no Brasil, em 1996 e 1998, respectivamente, estando atualmente amplamente distribuídos pelos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais. Originários dos Estados Unidos e Canadá, encontraram no Brasil condições ideais para seu desenvolvimento e dispersão, em função da ausência de inimigos naturais específicos, alimento disponível em abundância e pouca resistência ambiental.
Os pulgões são facilmente transportados para novas áreas através de mudas, sendo que há registros, em diversos países, de espécies que foram introduzidas em áreas onde plantações de pinus e outras coníferas haviam sido estabelecidas, e tornaram-se pragas.
Eles atacam as plantações debilitando árvores, podendo inclusive levá-las à morte. O pulgão alimenta-se da seiva da planta e, ao sugá-la, pode também injetar saliva tóxica. Os danos que têm sido observados são: amarelecimento e queda das acículas (folhas), deformação do tronco em árvores jovens, retardo do crescimento, superbrotação, bifurcação e, em alguns casos, morte da planta. Uma outra conseqüência é que, 90% do que o pulgão consome é eliminado em forma de “honey-dew”, um tipo de secreção açucarada. Esta secreção favorece o desenvolvimento de um fungo, a fumagina, que dificulta a fotossíntese, respiração e transpiração da planta. O ataque deste pulgão já foi detectado desde mudas no viveiro até em plantios com mais de 20 anos.
Algumas características fizeram com que estes insetos tenham se tornado praga, tais como:
alta fecundidade: a cada 12 dias, uma nova fêmea adulta do pulgão é formada e dá origem, durante sua vida (que dura normalmente 30 dias), a cerca de 40 ninfas (forma jovem do pulgão), aumentando incrivelmente a população da praga no campo;
polimorfismo dos indivíduos, com a presença de formas ápteras (sem asas) e aladas (com asas). Na maior parte da sua vida os afídeos são ápteros e deslocam-se muito pouco nas plantas, mas tornam-se alados para a dispersão em condições adversas;
forma de reprodução, que pode ocorrer exclusivamente por partenogenia (só ocorrem fêmeas, que dão origem a novas fêmeas), geralmente em regiões tropicais e subtropicais. Em regiões de clima temperado, ocorre a alternância da reprodução partenogenética, e sexuada, dando origem, no final do outono e início do inverno, a machos e fêmeas ovíparas, que colocam ovos, para passarem o inverno.
Em função dos riscos ambientais e custos associados ao controle químico de pragas em ecossistemas florestais, o controle destes pulgões, no Brasil, deverá ser baseado, principalmente, em métodos biológicos, mecânicos e silviculturais, utilizados de forma integrada, para comporem um “Programa de Manejo Integrado de Pulgões em Pinus” (MIP), que deverá envolver, essencialmente: (1) monitoramento, através da utilização de armadilhas e inspeções terrestres; (2) controle silvicultural, com a utilização de sementes e mudas de boa qualidade e procedência garantida; escolha de sítios para o plantio; realização de tratos silviculturais emergenciais; manutenção da cobertura vegetal, visando proporcionar um ambiente favorável ao desenvolvimento de fungos entomopatogênicos e abrigo a inimigos naturais (3) controle biológico, com a utilização de inimigos naturais específicos; (4) resistência de plantas e (5) controle químico, o qual seria recomendado apenas para prevenir explosões populacionais em plantações de alto valor comercial, como bancos clonais e pomares de semente. Entretanto, esta alternativa necessita ser investigada, pois não existem testes de eficiência de produtos e nem registro para uso em Pinus, no Brasil.
Como parte do MIP, o controle biológico da praga é um dos aspectos mais importantes. Como os afídeos passam grande parte do tempo alimentando-se imóveis e em grupos ou colônias, eles são facilmente encontrados e atacados por seus inimigos naturais.
O controle biológico clássico, que usa os inimigos naturais da área de origem do hospedeiro, é um método atualmente popular e que tem sido utilizado com sucesso no controle de pragas florestais introduzidas.
Assim, desde a constatação desta praga, no Brasil, a Embrapa Florestas já acumulou conhecimento suficiente sobre a biologia, flutuação populacional e alguns aspectos comportamentais e de ecologia, que estão auxiliando na implantação de um “Programa de Manejo Integrado dos Pulgões do Pinus”. Um dos objetivos deste programa, e que está sendo conduzido em parceria com a Universidade Federal do Paraná, Funcema (Fundo Nacional de Controle à Vespa-da-Madeira) e Universidade de Illinois, é controlar biologicamente estes pulgões, pela introdução de pequenas vespas parasitóides, que atacam e matam os pulgões. Estes insetos estão sendo coletados no sudeste dos Estados Unidos e enviados ao Brasil. Quando chegam aqui, vão para o “Quarentenário Costa Lima”, da Embrapa, localizado em Jaguariúna, SP. Após a passagem pela quarentena eles são enviados à Embrapa Florestas para criação e multiplicação em laboratório. Posteriormente eles serão liberados em plantios de pinus atacados pela praga para efetivarem o seu controle.
Susete do Rocio Chiarello Penteado Edson Tadeu Iede Wilson Reis Filho
Julho/2003
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