A Finlândia é o mais importante e competitivo cluster florestal internacionalmente conhecido. O cluster florestal finlandês movimenta anualmente US$ 16 bilhões, contribuindo com 12% do PIB nacional.
As operações florestais, assim como a indústria de produtos de madeira sólida e a indústria de celulose e papel estão entre as mais eficientes e rentáveis do mundo. Todo o desenvolvimento do cluster florestal ocorreu com base em um modelo exportador, uma vez que o mercado doméstico é bastante limitado.
Mas como o setor florestal finlandês atingiu tal status mesmo operando em condições tão adversas? Clima e topografia desfavoráveis, baixo IMA das florestas, suprimento de matéria-prima baseado em 440 mil pequenos produtores florestais independentes e custo de mão-de-obra extremamente elevado são algumas das condições adversas enfrentadas pelo setor florestal finlandês.
Isso têm exercido influência em diversos componentes de competitividade, notadamente na formação do preço da matéria-prima (tora).
Paradoxalmente, a Finlândia é um dos países onde são praticados os mais elevados preços de tora em nível mundial. Comparando com o Brasil, os preços de tora praticados na Finlândia são, em média, 3 a 4 vezes maiores. Essa diferença mostra-se mais acentuada para tora de serraria. O preço da tora de pinus em pé para serraria na Finlândia é da ordem de US$ 47,00/m3, enquanto no Brasil dificilmente ultrapassa US$ 15,00/m3. No caso de tora de pinus para celulose a diferença do preço também é bastante significativa. Na Finlândia o preço da tora de pinus em pé para celulose atinge quase US$ 15,00/m3, diferentemente daquele atualmente praticado no Brasil (US$ 5,00/m3).
É correta a afirmativa de que o preço da tora contribui significativamente para perda de competitividade da indústria florestal? Errado. Na Finlândia ocorreu exatamente o oposto. O elevado preço da matéria-prima (tora) praticado na Finlândia exigiu que fossem criadas alternativas para contornar tal situação, constituindo-se ao longo das últimas décadas como um instrumento bastante eficiente no desenvolvimento de mecanismos para alavancar e melhorar a competitividade da indústria florestal local. Na realidade, o elevado preço da tora tem servido como incentivo para melhorar a eficiência no processo de transformação da madeira e otimização de toda a cadeia produtiva.
A lição aprendida com base na experiência finlandesa é que os baixos preços de toras representam uma vantagem comparativa (temporária), não podendo ser considerado como vantagem competitiva (permanente).
Soluções Adotadas
Colheita Florestal
As soluções adotadas pela Finlândia para melhorar a competitividade do cluster florestal contemplaram toda a cadeia produtiva. No caso das operações florestais por exemplo, praticamente toda colheita e transporte florestal é mecanizada, sendo aplicada avançada tecnologia.
Os harvesters e forwarders empregados nas operações de colheita e transporte florestal são equipados com computadores de bordo integrados com GIS e GPS, proporcionando a localização exata on-line das máquinas em operação. Isso permite um gerenciamento muito mais apurado das operações, garantindo um efetivo controle da logística envolvida, além de auxiliar os operadores na tomada de decisão durante a colheita e transporte. Todas as instruções dadas aos operadores ocorrem via remota (GSM e satélite).
Os harvesters possuem dispositivos que permitem otimizar, ainda na floresta, o sortimento da tora e medir o volume de madeira colhido simultaneamente ao seu processamento. De acordo com o sortimento adotado, as toras são marcadas (spray) durante o processo de colheita, através de um dispositivo incorporado ao cabeçote do harvester.
Os forwarders possuem weight scales que permitem a medir com acuracidade os volumes carregados nos caminhões.
Todas as informações relacionadas com o volume colhido e transportado, produtividade, turnos de operação, manutenção das máquinas e outros são transferidos on-line para um escritório central, onde as mesmas alimentam os chamados “Sistemas Integrados de Planejamento e Controle das Operações Florestais”.
Indústria Florestal
Com relação à indústria florestal, as soluções adotadas pela Finlândia estão focadas na integração da produção, o que significa que os estágios sucessivos de produção estão interconectados, buscando basicamente melhorar o rendimento na transformação da matéria-prima. A tecnologia desenvolvida para o processamento mecânico de toras de pequenos diâmetros, bem como o uso intensivo de biomassa para geração de energia tem se constituído em elementos chaves na competitividade da indústria de madeira sólida finlandesa.
Atualmente, quase 20% do consumo de madeira para uso industrial na Finlândia é proveniente de cavaco produzido pelas serrarias e fábricas de compensado, o que reflete o elevado nível de integração da indústria florestal finlandesa. No caso do Brasil, a participação do cavaco no consumo de madeira para uso industrial não ultrapassa 6%.
Sistemas de mecanização e automação foram amplamente incorporados pela indústria de produtos de madeira sólida, aliados a sistemas de otimização de corte e Tecnologia da Informação (TI). Isso permitiu a redução de mão-de-obra, aumento nos índices de rendimento, minimização dos impactos ambientais e melhoria na qualidade do produto final, impactando obviamente nos custos de produção.
Logística
Um outro aspecto não menos importante está relacionado com a logística nas operações de transporte. A Finlândia desenvolveu com extraordinária competência soluções orientadas à otimização de transporte, tanto de matéria-prima como produto acabado. Isso foi fundamental, já que toda a produção da indústria florestal finlandesa está direcionada ao mercado externo.
Equipamentos e Tecnologia
A grande maioria das soluções adotadas pela Finlândia ocorreram em paralelo com o desenvolvimento da indústria de máquinas, equipamentos, insumos, serviços e outros. Atualmente, a Finlândia é líder mundial na fabricação de máquinas e implementos florestais, máquinas e equipamentos para indústria de produtos de madeira, celulose e papel, entre outros. Adicionalmente, empresas especializadas em automação, controle e tecnologia de medição emergiram recentemente na Finlândia, voltadas basicamente a atender a demanda criada pela indústria florestal.
O desenvolvimento da indústria de máquinas, equipamentos, insumos, serviços e outros é de fundamental importância para o desenvolvimento de um cluster, particularmente quando se trata do setor florestal.
A STCP (Brasil) tem desenvolvido juntamente com a INDUFOR (Finlândia) vários estudos e projetos envolvendo uma análise pormenorizada do setor florestal tanto no Brasil como na Finlândia. Baseado no conhecimento adquirido, identificou-se que o cluster florestal finlandês pode ser considerado como um modelo para o fortalecimento do setor florestal brasileiro.
É dentro deste contexto que a STCP e a INDUFOR lançaram recentemente um Estudo Multicliente, contemplando um “Benchmarking entre as Operações Florestais Brasileiras e Finlandesas – Lições a Serem Aprendidas e Desafios para Indústria Florestal Brasileira Melhorar sua Competitividade”.
Marco Tuoto
Markku Simula
Maio/2003 |