O uso de madeira para energia vem se mantendo estável nos últimos 10 anos, entre 240 e 260 milhões de m³ anuais. Isto coloca a geração de energia como um importante componente da utilização de recursos florestais no Brasil, preferencialmente resíduos. Se somente o montante de lenha utilizada pelo setor industrial (40% do consumo global) fosse comercializado, o volume de recursos monetário ultrapassaria US$ 500 milhões anuais. A utilização racional de fontes energéticas e a otimização dos suprimentos, dentro de políticas econômicas, sociais e ambientais vigentes justificam um planejamento energético.
Um estudo feito por especialistas da Arflor (Associação de Reposição Florestal do Vale do Caí, Unicamp e UFPB, constatou que numa área de 12.680 ha de plantações de eucalipto com um rendimento médio de 40 mst/ha/ano e um ciclo de corte de 6 anos, produzirão um total de 3,04 milhões de mst de madeira. Considerando a densidade básica média de 500 kg/mst e, que a madeira será utilizada com um teor de umidade médio de 18 %, resultando um total aproximado de 6,33 x 1012 Kcal.
Ao substituir o óleo combustível (BPS 1 A) que possui 10.000 Kcal/Kg, por essa madeira é evitado o consumo de 6,33 x 108 Kg de óleo combustível, que ao preço de R$ 0,51/Kg correspondem a um total de R$ 322.830.000,00. E em substituição à energia elétrica é evitado o consumo de 2,02 x 109 Kwh de energia elétrica, que correspondem a um total de recursos de R$ 283.750.000,00.
O custo médio do mst de lenha de eucalipto para o consumidor é de cerca de R$ 18,00, o que corresponde a um total médio de R$ 54.720 mil e portanto, os custos evitados com as substituições são em torno de R$ 268 mil e R$ 229 mil, para o óleo combustível e energia elétrica, respectivamente.
Segundo o engenheiro florestal Carlos Roberto de Lima, professor do DEF/ CSTR - UFPB, Campus VII, Patos – PB, o planejamento energético regional que considere a biomassa e a reposição florestal obrigatória possibilita reflexos benéficos para o meio ambiente e para a economia regional. Entre os benefícios ele cita: aumento da disponibilidade de madeira; a maior oferta força à redução dos custos; evitam-se os cortes da vegetação nativa; possibilita a geração de empregos e outros. Lima, que é concedeu as informações citadas acima.
Briquetagem
Existem diversas formas de aproveitar os resíduos da madeira, entre elas a briquetagem. A densificação do resíduo através do processo de briquetagem consiste na compactação a elevadas pressões, o que provoca a elevação da temperatura do processo da ordem de 100 ºC. O aumento da temperatura provocará a "plastificação" da lignina, substância que atua como elemento aglomerante das partículas de madeira. Isto justifica a não utilização de produtos aglomerantes (resinas, ceras, etc). Para que a aglomeração tenha sucesso, é necessária uma quantidade de água, compreendida de 8% a 15% e que o tamanho da partícula esteja entre 5 e 10 mm. O diâmetro ideal dos briquetes para queima em caldeiras, fornos e lareiras é de 70 mm a 100 mm, com comprimento de 250 a 400 mm. Outras dimensões (diâmetro de 28 a 65 mm) são usadas em estufas, fogões com alimentação automática, grelhas, churrasqueiras etc.
No equipamento do tipo Prensa Briquetadeira de Pistão, a compactação acontece por meio de golpes produzidos sobre os resíduos por um pistão acionado através de dois volantes. Do silo de armazenagem (aéreo ou subterrâneo) os resíduos são transferidos para um dosador e briquetados em seguida (forma cilíndrica). Na Briquetadeira por extrusão o produto é obtido com 5% de umidade, ou menos.
Quando a matéria prima é conduzida para a parte central do equipamento, chamada matriz, sofre intenso atrito e forte pressão, o que eleva a temperatura acima de 250 ºC, fluidificando-a. Posteriormente, o material é submetido a altas pressões, tornando-se mais compacto. No final do processo, o material é naturalmente resfriado, solidificando-se e resultando um briquete com elevada resistência mecânica. A lignina solidificada na superfície do briquete o torna também resistente à umidade natural.
Amazônia sustentável
Nas décadas de 80/90, reservas gigantescas de gás natural foram descobertas no Estado do Amazonas (Juruá e Urucu) que, entretanto, por não terem sido incorporadas ao modelo de produção energia, ainda não são exploradas com essa finalidade. A Amazônia convive, de um lado, com potenciais gigantescos de produção de energia elétrica ¬ que certamente precisam ser explorados com tecnologias que respeitem o meio ambiente e o povo amazônico¬, e, do outro, com índices de demanda reprimida, que impõem à sociedade limitações à sua sustentabilidade e desenvolvimento.
Lenha
A lenha é provavelmente o energético mais antigo usado pelo homem e continua tendo grande importância na matriz energética brasileira, participando com cerca de 10% da produção de energia primária. A lenha pode ser de origem nativa ou de reflorestamento. Ela chega a representar até 95% da fonte de energia países em desenvolvimento. Nos países industrializados, a contribuição da lenha chega a um máximo de 4%.
As novas tecnologias de conversão da lenha em combustíveis líquidos, sólidos e gasosos de alto valor agregado, têm, atualmente, grande interesse mundial e recebem importante quantia de recursos para suas pesquisas e desenvolvimentos. A combustão ou queima direta é a forma mais tradicional de uso da energia da lenha.
Cerca de 40% da lenha produzida no Brasil é transformada em carvão vegetal. O setor residencial é o que mais consome lenha (29%), depois do carvoejamento. Geralmente ela é destinada a cocção dos alimentos nas regiões rurais. Uma família de 8 pessoas necessita de aproximadamente 2 m3 de lenha por mês para preparar suas refeições. O setor industrial vem em seguida com cerca de 23% do consumo. As principais industriais consumidoras de lenha no país são alimentos e bebidas, cerâmicas e papel e celulose.
A substituição da lenha de mata nativa por lenha de reflorestamento vem crescendo a cada ano, sendo o eucalipto a principal árvore cultivada para este fim. Apresenta mais de 600 espécies, muitas delas foram desenvolvidas e adaptadas no Brasil, onde encontrou condições propícias para o seu rápido crescimento. As árvores de eucalipto podem ser cortadas a partir do sexto ano com produtividade extraordinária.
Na produção de lenha para fins comerciais, uma parte da árvore (troncos e galhos finos) é rejeitada constituindo os resíduos florestais. Além disso, as indústrias que usam a madeira para fins não energéticos, como as serrarias e as indústrias de móveis, produzem resíduos industriais como; pontas de toras, costaneiras e serragem em diferentes tamanhos de partículas e densidade, que podem ter aproveitamentos energéticos.
Maio/2003 |