A madeira que apresenta nós é considerada normalmente de baixa qualidade. Isto porque estes nós causam transtornos no processo de industrialização da madeira, reduzem a resistência física da madeira e nem sempre são aceitos do ponto de vista estético. Em todas as árvores que tem galhos também são encontrados nós na madeira do tronco, depende no entanto do histórico de desenvolvimento destas árvores o tamanho e as características destes nós.
Os nós são formados a partir da base dos galhos. Enquanto os galhos estão vivos, o desvio das fibras da madeira para formar o lenho do galho ou para contornar a base do galho é o maior problema tecnológico. A partir do momento da morte do galho o lenho novo do tronco perde contato com o lenho do galho provocando a descontinuidade das fibras. Após a morte do galho inicia o processo de decomposição de sua madeira, reduzindo ainda mais a resistência da madeira. A porção do galho com madeira sem ligação com o tronco ou com madeira em deterioração é denominada de nó morto.
A deterioração da madeira do galho avança até que o galho quebre. Neste momento inicia a oclusão do nó morto através do crescimento radial do tronco. Concluída a oclusão dos nós é formado lenho sem nós nos troncos, de alta qualidade. Este processo ocorre naturalmente em todas as espécies arbóreas e é denominado de desrama natural. O que muda de espécie para espécie e mesmo entre árvores da mesma espécie é a velocidade e eficiência desta desrama natural. A espécie Eucalyptus saligna plantada em altas densidades apresenta uma desrama natural muito eficiente, enquanto Cupressus lusitanica tem péssima desrama natural.
As características genéticas das árvores, as dimensões dos galhos, a longevidade dos galhos e a resistência à deterioração dos galhos mortos são os principais fatores que determinam a eficiência da desrama natural. Enquanto a indústria madeireira utilizava madeira oriunda de florestas naturais o fator nó não era muito considerado. O crescimento das árvores em seu ambiente natural era mais lento que nos atuais povoamentos plantados. A densidade destas florestas naturais também era mais elevada, levando a galhos finos, de vida curta e rápida deterioração. Conseqüentemente a desrama natural era boa, e a qualidade da madeira excelente. O manejo intensivo dos povoamentos plantados exige no entanto cuidados silviculturais especiais para se garantir a boa qualidade da madeira. A alta produção de madeira está associada a galhos de grandes dimensões, e estes a nós de grandes proporções no tronco. O uso das práticas silviculturais adequadas irá minimizar os efeitos negativos para otimizar a produção de madeira de alta qualidade.
Práticas silviculturais
A porção de tronco de maiores dimensões sempre é a base. Portanto as práticas silviculturais deverão concentrar nesta porção a madeira de melhor qualidade. E é na primeira fase da vida da árvore que é formada esta porção do tronco. Os cuidados para a produção de madeira de alta qualidade iniciam cedo, já no plantio. Desnecessário dizer que as caraterísticas genéticas das árvores são fundamentais. Genótipos que foram selecionados apenas em função da produção de madeira (volume) normalmente não são os melhores para produzir madeira de qualidade. Em programas de melhoramento para qualidade de madeira para laminação os fatores mais importantes são o número, distribuição, dimensão e ângulo de inserção dos galhos no tronco, assim como a tortuosidade do tronco. A produção de madeira de alta qualidade inicia com a escolha de sementes adequadamente selecionadas.
A discussão do espaçamento de plantio é outro ponto importante na produção de madeira de qualidade. Povoamentos com densidade inicial baixa (p.ex. 1.600 plantas/ha) tem um custo de implantação mais baixo que os povoamentos de densidade média (2.500 plantas/ha). Madeira excelente é produzida em povoamentos de densidade elevada (acima de 5.000 plantas/ha), porém também os custos de implantação aumentam bastante. A não ser que se maneje povoamentos oriundos de regeneração natural. Os espaçamentos mais amplos (baixa densidade) exigem tratos culturais mais intensivos, tais como as limpezas e o combate a formigas cortadeiras, e reduzem as possibilidades de seleção de boas árvores. Já os plantios com densidade média exigem menos cuidados culturais e permitem uma maior seleção de bons indivíduos.
Atenção especial deve ser dada à presença de plantas arbustivas junto às árvores na fase jovem. Embora muitas vezes não provoquem a redução do crescimento, podem no entanto provocar um desvio no tronco da planta jovem, que não poderá mais ser recuperado no futuro. Tal efeito também é causado por plantas trepadeiras que se enrolam nas plantas jovens.
Os espaçamentos amplos induzem a formação de galhos longos e grossos, o que aumenta a produção de madeira do tronco. A inserção destes galhos normalmente tende a apresentar a casca inclusa na parte superior do nó, desqualificando a madeira. Para limitar o volume do núcleo nodoso (o cilindro de tronco que contêm os nós) é preciso executar a poda dos galhos.
A função da poda
Nos plantios florestais normais a densidade é muito baixa para provocar a morte dos galhos no momento oportuno do ponto de vista da otimização da produção de madeira sem nós. E como sem galhos uma árvore não produz madeira no tronco, deve ser encontrado um compromisso entre a proporção copa (número e dimensão de galhos) e a produção. Quanto maior a copa maior será a produção de madeira no tronco, porém a madeira terá qualidade inferior, e muitas vezes imprópria para a laminação.
A poda (corte dos galhos) deve seguir um programa que leva em conta o desenvolvimento da árvore e as dimensões do tronco. Para a maior parte dos usos da madeira o núcleo nodoso pode ter um diâmetro máximo de 10 a 15 cm. Portanto os galhos devem ser cortados quando o tronco no ponto de inserção dos galhos atingir o diâmetro fixado. Como o tronco das árvores não é um cilindro e sim um cone, o diâmetro máximo deve ser considerado como o da base do cone.
Estudos realizados no Sul do Brasil mostraram que no caso do Pinus taeda um bom programa de poda é baseado na altura total das árvores dominantes. Mantendo-se uma copa verde de no mínimo 3 m de comprimento e equivalente a 40 % da altura total da árvore é garantida a produção adequada de madeira de qualidade. O programa de podas recomendado é:
1a poda – altura das árvores dominantes de 4,5 m, poda das árvores até 2,7 m;
2a poda – altura das árvores dominantes de 7,0 m, poda das árvores até 4,2 m;
3a poda – altura das árvores dominantes de 10,0 m, poda das árvores até 6,0 m.
Na primeira poda o comprimento de copa remanescente é inferior aos 3 m, porém como nesta fase jovem o crescimento é muito rápido não há maiores perdas de produção.
Efeito do comprimento de copa remanescente após a poda sobre o incremento corrente anual do DAP em Pinus taeda. Podas executadas aos 4, 5 e 6 anos de idade.
A idade para executar estas podas varia com a qualidade do sítio, pois esta afeta principalmente o crescimento em altura. Na média geral estas podas serão realizadas aos 4, 6 e 8 anos. Nos espaçamentos amplos face ao maior crescimento em diâmetro das árvores pode ser necessário antecipar a poda em um ano, com efeitos sobre o comprimento de copa remanescente, já que o espaçamento não afeta o crescimento em altura.
A discussão sobre o número de árvores a podar também é interminável. Na primeira poda há consenso em podar todas as árvores do povoamento. No máximo se permite não podar as árvores que serão retiradas no primeiro desbaste, que deverá ser executado logo a seguir. A segunda e a terceira poda são mais críticas, pois haverá um número de árvores remanescente após o desbaste maior do que o número de árvores que atingirão o corte final. O ideal seria podar apenas as árvores do corte final. Experiências práticas mostraram no entanto que mesmo árvores retiradas nos desbastes antes do corte final podem ter dimensões aptas para a laminação. Outro aspecto importante é que nem sempre a qualidade das árvores no povoamento é homogênea exigindo sucessivas seleções. Assim sendo sugere-se a poda de todas as árvores sempre. Árvores de pior qualidade não podadas que permanecem ao lado de árvores de boa qualidade podadas recebem um incentivo para crescer mais, o que é indesejado.
A altura de poda máxima recomendada é de 6 m. Quando se corta uma árvore de 30 m de altura e apenas 6 m da base foram podados nos perguntamos se não seria melhor podar até uma altura maior. De fato esta árvore poderia ainda produzir substancial volume de madeira de boa qualidade. Porém realizar a poda a alturas acima de 6-7 m é bastante oneroso. O rendimento cai drasticamente aumentando o custo. Deve sempre ser ressaltado que a poda só tem sentido se executada em toda a extensão da futura tora comercializada. Portanto se comercializamos toras de 2,5 m de comprimento, as podas deverão ser realizadas a alturas múltiplas deste comprimento mais um adicional para a altura do toco no momento do corte de no mínimo 40 cm. Assim sendo, para obter com garantia uma tora de 2,5 m aos 25 anos de idade, a árvore deverá ser podada no mínimo até 2,9 m quando jovem (uma ou duas podas). Para 2 toras de 2,5 m a altura de poda deverá ser de 5,4 m e assim por diante.
Para executar as podas devem ser utilizadas serrotes manuais apropriados, com ou sem cabos longos. Quando na primeira poda a altura podada é pouca, até 1,5 m, podem ser utilizadas tesouras, pois normalmente estes galhos inferiores são finos. Para galhos acima de 2 cm de diâmetro recomenda-se serrotes. O uso de cabos para estender o alcance dos serrotes é controvertido. Testes realizados na Nova Zelândia mostraram que a poda utilizando escadas ao invés de serrotes com cabos compridos era mais eficiente. O uso de escadas exige escadas apropriadas e treinamento adequado. Não é qualquer escada que resolve. O uso de foices ou facões é totalmente condenado na poda. A possibilidade de cortes imperfeitos é grande. Galhos mal cortados são a maior causa das bolsas de resina formados durante o processo de oclusão do toco remanescente. Estas bolsas de resina desqualificam consideravelmente a madeira.
O regime de desbastes
A produção de madeira sem nós além da poda está intrinsecamente associada ao regime de desbastes adotado. O desbaste deve ser visto como uma prática silvicultural que melhora o povoamento florestal. Não é uma antecipação de renda. Como a poda, o desbaste é um investimento para a produção de madeira de boa qualidade. Para que cumpra esta função de investimento o desbaste deve ser criterioso, orientado pela identificação das melhores árvores do povoamento (árvores futuras), adequadamente espaçadas e distribuídas.
O desbaste deverá garantir o desenvolvimento harmônico da copa das árvores selecionadas para o corte final. Pouco adianta ter uma árvore podada de grandes dimensões com um núcleo nodoso adequado porém excêntrico. Assim os desbastes sistemáticos tendem a provocar tortuosidade e excentricidade na porção basal do tronco. A copa tem mais espaço em um lado que nos demais, havendo um maior crescimento dos galhos para o espaço vazio e consequentemente uma inclinação da árvore para este lado.
A qualidade do desbaste é dada pelo peso e tipo de seleção. O desbaste sistemático normalmente não melhora a qualidade do povoamento residual. O mesmo vale para um desbaste seletivo em que são retiradas as árvores de menor porte apenas. O desbaste para aumentar a qualidade do povoamento residual deve ser seletivo, eliminando as árvores concorrentes com as árvores futuras selecionadas.
O peso do desbaste, ou seja, a proporção de árvores, área basal ou volume retirado do povoamento tem efeito direto sobre a produção das árvores remanescentes. Quanto maior o peso do desbaste, maior será o crescimento das árvores remanescentes. Uma retirada precoce de um grande número de árvores pode reduzir o universo para a escolha das árvores futuras de melhor qualidade. Experiências práticas mostraram que até completada a última poda, os desbastes devem ser conservadores, com pouco peso. Após completada a última poda os desbastes devem ser mais pesados. Não há mais sentido para indefinições. As características do segmento de tronco podado estão definidas. Deste ponto em diante a copa deve ser mantida a maior possível para garantir a produção de madeira no tronco.
A grande dúvida com relação ao desbaste é saber se queremos poucas árvores de grandes dimensões com anéis anuais de crescimento largos porém com um volume total menor ou mais árvores de dimensões menores com anéis anuais de crescimento mais estreitos porém com um volume total maior. Dependendo do mercado e da valoração dos sortimentos as estratégias de produção serão diferentes. O regime de desbastes influi no afilamento dos troncos das árvores, e conseqüentemente no aproveitamento industrial da madeira. Desbastes pesados produzem poucos troncos de maiores diâmetros e com afilamento grande. Desbastes mais leves produzem mais troncos com menores diâmetros e afilamento menor, são troncos mais cilíndricos.
No mercado de toras para laminação o diâmetro mínimo da ponta fina está em torno de 30 cm. É perfeitamente possível produzir toras para este sortimento em 15 anos, desde que aplicado o regime de desbaste adequado (desbastes pesados). Porém o volume será pequeno. Com um regime de desbastes menos pesados podem ser produzidas estas toras em 20 anos, com um volume por hectare mais elevado. Se não houver nova faixa de preço para toras de 40 cm de diâmetro na ponta fina será mais vantagem utilizar o regime de desbastes leves.
Avaliação econômica
A poda é prática silvicultural bastante interessante do ponto de vista econômico. Como a madeira sem nós para laminação é mais valorizada, um comparativo muito simples pode ser feito. Os elementos mais importantes para esta comparação são o custo da poda e o valor da madeira. No custo da poda os fatores mais importantes são o custo da mão-de-obra, o rendimento do trabalho e o número de árvores podadas por hectare. De menor importância é a distância a ser percorrida até o local de trabalho e o custo das ferramentas e equipamentos. Admitindo-se o salário mínimo como base de cálculo e exagerando-se nos custos sociais e de equipamentos e no número de árvores podadas por hectare, conclui-se que a poda das árvores em um hectare até a altura de 6 m custa aproximadamente R$ 300,00 .
Para a correta análise econômica o investimento deve ser capitalizado. Para este cenário utilizou-se uma taxa de juros de 6 % ao ano. Para mostrar o resultado econômico deste investimento é necessário estabelecer um valor para o produto podado. Os preços das toras podadas são variáveis, porém admitindo-se um valor mínimo de R$ 120,00 por metro cúbico, podemos converter o custo capitalizado da poda em metros cúbicos de madeira podada. Basta portanto produzir 4,8 m3 de madeira podada aos 15 anos para pagar toda a poda das árvores em um hectare. Pelo mesmo raciocínio são necessários 11,52 m3 de madeira aos 30 anos para pagar a poda (desde que esta seja a primeira venda de madeira podada).
A estimativa de produção de toras podadas é de no mínimo 200 m3/ha. Descontando o pagamento da poda sobra muita madeira podada, demonstrando a elevada vantagem econômica desta prática silvicultural, necessária para a produção de madeira de qualidade para a laminação.
Prof.Dr. Rudi Arno Seitz
Professor de Silvicultura
Departamento de Ciências Florestais
Universidade Federal do Paraná
seitz@floresta.ufpr.br
Maio/2003 |