O mercado brasileiro de painéis de madeira vem sofrendo uma forte transformação desde a última década. Nenhum outro segmento do setor florestal brasileiro experimentou uma expansão no nível verificado pela indústria de painéis de madeira. Seguindo a tendência mundial, a indústria de brasileira de painéis de madeira tem realizado grandes investimentos em modernização, para garantir competitividade. Como reflexos dos investimentos, impulsionados pela crescente demanda, a produção praticamente triplicou na década de 90. Em 1990 a produção de painéis de madeira não alcançava mais que 2,2 milhões de m³, passando para algo em torno de 6,1 milhões de m³ em 2002.
Isso provocou uma mudança bastante significativa no perfil de produção de painéis de madeira. A chapa dura e o compensado perderam espaço para o aglomerado, MDF e OSB.
Paralelamente ao aumento na oferta de painéis de madeira, os produtores de painéis de madeira, particularmente aglomerado e MDF, estão buscando agregar valor aos seus produtos de forma a diferenciá-los no mercado, uma vez que a competição tem se intensificado nos últimos anos. Uma das alternativas encontradas foi a aplicação de revestimentos (FF, BP e HPL).
De acordo com seu uso e aplicação, existe a preferência por um determinado tipo de revestimento, dependendo do tipo de painel de madeira considerado . No caso do aglomerado 56% da produção é comercializada com algum tipo de revestimento (FF ou BP), enquanto que se tratando do MDF menos de 20% da produção é revestida pelos fabricantes.
Contudo, é importante observar que grande parte do aglomerado e MDF sem revestimento (cru) comercializado pelos produtores nacionais é posteriormente revestido pela indústria moveleira. Atualmente os tipos de revestimentos mais comuns empregados pela indústria moveleira são o PVC e, principalmente, a impressão direta. Existe inclusive a tendência de substituição do FF pela impressão direta. Este processo de substituição está sendo favorecido pelo baixo custo e pela tecnologia relativamente simples empregada na impressão direta.
A melhoria do acabamento superficial dos painéis de madeira, principalmente o aglomerado e o MDF, também têm alavancado a impressão direta. Em um primeiro momento, a impressão direta estava restrita somente ao MDF, dado seu excelente acabamento superficial. A partir da adoção de novas tecnologias pela indústria de aglomerado, verificou-se uma melhoria significativa na qualidade superficial das chapas, permitindo o emprego da impressão direta também no aglomerado.
Revestimentos como o HPL (fórmica) e lâminas de madeira estão perdendo espaço para os demais tipos de revestimento, particularmente o BP. Atualmente, tais revestimentos estão restritos a nichos de mercados específicos.
Apesar da forte competição que os papéis decorativos, principalmente o FF e o BP, estão sofrendo frente a impressão direta, existem lacunas no mercado ainda não completamente atendidas pela indústria local, o que de certa maneira tem limitado o aumento da demanda interna. Entre as demandas não atendidas, destacam-se:
Papéis de alto brilho: A oferta limitada de papéis decorativos de alto brilho tem favorecido a substituição do FF pela impressão direta, visto que altos níveis de brilho podem ser alcançados na impressão. Atualmente, especialmente no caso dos móveis populares, existe a preferência por móveis com alto brilho. Trata-se de uma preferência de mercado.
Papel com baixa gramatura: A oferta de papéis decorativos com baixa gramatura no mercado doméstico é muito pequena. Os consumidores têm buscado papéis decorativos com baixas gramaturas devido ao seu menor custo. A adoção de papéis com baixa gramatura também implica no uso de menores quantidades de adesivo no processo produtivo, reduzindo, conseqüentemente, os custos de produção.
Papel base de melhor qualidade: Até recentemente, o papel base nacional possuía uma qualidade bastante aquém da esperada. Os principais aspectos que comprometiam o papel base nacional estavam relacionados à não-uniformidade da gramatura e acabamento superficial. Tal situação tem sido revertida gradativamente pelos produtores nacionais de papel base.
Tendência Internacional
O BP é o principal tipo de revestimento empregado internacionalmente, o que reflete a preferência do mercado internacional por produtos de melhor qualidade, os quais por sua vez apresentam maior valor agregado através do design. No Brasil, a situação é inversa, pois ainda predomina a adoção de revestimentos com baixo custo e menor qualidade, resultando em uma maior demanda para os papéis decorativos tipos FF.
Internacionalmente, o Brasil figura como um importante mercado para revestimentos tipo FF . O mercado brasileiro responde por mais de 10% do mercado mundial de FF. No entanto, quando se trata de produtos mais evoluídos, como por exemplo os revestimentos tipo BP, a participação do Brasil é modesta, da ordem de 1%. No caso do HPL, a participação atinge apenas 3,5%.
Existe a perspectiva de que a demanda de papéis decorativos no mercado doméstico atinja em 2005 quase 240 milhões de m². Além do crescimento, deverá ocorrer uma alteração no perfil. Seguindo a tendência internacional, o BP deverá ter uma maior participação no mercado doméstico. Existe a expectativa de que o aumento da participação do BP também seja reflexo da redução da demanda de HPL, somado ao aumento da utilização do BP em nichos específicos, como por exemplo, pisos laminados. Pressões ambientais também devem favorecer a substituição de revestimentos naturais pelo BP.
Marco Tuoto
Rodrigo Rodrigues
Maio/2003 |