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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°71 - MAIO DE 2003

Painéis - Aglomerado

Chapas de partículas produzidas com madeira da caatinga do Nordeste Brasileiro

O Nordeste Brasileiro, ao longo do tempo, tem sido lembrado mais pelos seus problemas sociais e econômicos do que pelo seu diversificado potencial para gerar e implementar soluções cujo objetivo é redirecionar a trajetória da região e do seu povo. Pouco se tem pensado no desenvolvimento de tecnologia para, por exemplo, se estabelecer uma adequada utilização dos recursos naturais, renováveis, em particular a madeira.

Disponíveis em áreas nativas e em áreas de reflorestamento, algumas espécies se apresentam como promissores insumos para a implantação da indústria de base Florestal, tal como, indústria de fabricação de produtos derivados de madeira. Sendo assim, a produção das chapas de partículas de madeira tendo como matéria-prima madeira do nordeste é uma alternativa inovadora.

O estimulo à realização deste estudo foi o fato da crescente utilização, no Brasil, deste produto. Em 1990 foram produzidos 500.000m3 de chapas de aglomerados e, no ano 2000, a produção ultrapassou 1.500.000m3. As fabricas produtoras de chapas de partículas de madeira aglomerada estão localizadas nas regiões Sul e Sudeste do Brasil e estão produzindo com capacidade plena e destinam cerca de 80% da produção para a indústria moveleira. Os outros 20% têm sido empregados na construção civil e na indústria de embalagens. Ainda não existe, no Nordeste, qualquer unidade produtora de chapas de partículas aglomeradas. Estima-se que a demanda anual por este produto supere os 300.000m3, somente nos estados do Nordeste.

Designa-se como chapa de partículas aglomeradas, uma quantidade de partículas de madeira de várias dimensões impregnadas com resinas sintéticas ou naturais prensadas sob a ação do calor.

São muitas as matérias-primas já utilizadas na produção de chapas de partículas, entre elas, temos o aproveitamento de resíduos industriais grosseiros tais como costaneiras, sobras de destopo, miolos de toras laminadas e cavacos de madeira oriundos do beneficiamento de indústria de móveis e carpintaria.

As madeiras tradicionalmente utilizadas pelas indústrias na produção das chapas são as de baixa e de média densidade.

Acrescentar a estas matérias primas as madeiras da caatinga é ampliar o aproveitamento de um recurso disponível e quase sempre descartado por falta de conhecimento de suas características. As madeiras da caatinga são tortuosas e de pequeno diâmetro, mas quando transformadas em Chapas de partículas apresentam alta resistência mecânica podendo ser aplicada em diversos fins.

Fatores importantes a serem considerados na formação das chapas são: umidade das partículas, vaporização e pressão aplicada. Fatores estes que podem ser controlados de acordo com a espécie utilizada.

Região Nordeste do Brasil

O Brasil é um dos países com maior diversidade de espécies tropicais de madeira. As regiões norte e centro-oeste constituem-se como grandes centros fornecedores de madeira para as regiões sul e sudeste, grandes pólos consumidores. Entretanto, o país dispõe de outras áreas onde a disponibilidade de matas nativas ainda não aguçou o interesse de grupos econômicos competentes para uma exploração racional e sustentada. Tais áreas estão localizadas na região nordeste do Brasil.

Cerca de 800.000 a 1.000.000km2 são ocupados pela vegetação de caatinga. Esta área dispõe de expressivas espécies nativas forrageiras, que têm sido utilizadas de modo aleatório, sem preocupação com o seu potencial.

A natureza permitiu que diversas espécies arbóreas, com características anatômicas próprias, resistissem aos períodos de estiagem da caatinga (sertão, agreste e seridó). Desta forma, há a possibilidade de um planejamento florestal baseado na racionalidade.

A Caatinga do nordeste do Brasil é região de espécies de madeira com grande potencial de manejo e desenvolvimento a curto espaço de tempo. As árvores, ainda que tortuosas, a partir de 7 anos já oferecem condições de uso.

Dentre estas espécies destacam-se: Angico (Anaderanthera macrocarpa), Jurema-preta (Mimosa tenuiflora) e Algaroba (Prosopis juliliflora). É perfeitamente possível admitir que um planejamento florestal, conduzido com base nas mais recentes técnicas silviculturais, garanta a sustentabilidade dos recursos disponíveis com relação às espécies mencionadas.

Estas espécies se apresentam como alternativa para o fornecimento de matéria-prima para a produção de chapas de partículas. Com isto as expectativas para o setor florestal do nordeste se tornarão promissoras.

Chapas de Partículas

Os produtos derivados de madeira são objeto de estudo no Laboratório de Madeira e de Estrutura de madeira - LaMEM, da Escola de Engenharia de São Carlos, USP. Estudos direcionados à busca de um aproveitamento mais racional dessa matéria-prima. Dentre esses produtos encontram-se os painéis estruturais de lâminas paralelas (LVL), as chapas de madeira compensada (PW), as chapas de madeiras aglomeradas (PB) e as chapas de fibra de média densidade (MDF). Tais derivados apresentam consumo ascendente em todo o mundo, inclusive no Brasil.

Diversos dos equipamentos utilizados na fabricação dessas chapas são semelhantes. Quanto à matéria-prima utilizam-se: madeira na forma processada (peças para LVL), resíduos (para PW, PB e MDF) e adição de adesivos (para todas as chapas). Alguns aspectos referentes à matéria-prima podem ser tratados de modo a se alcançar sua melhor utilização, seja no caso da madeira (definição de espécies de potencial de geração de resíduos compatível com a demanda industrial), seja no caso dos adesivos (definição de alternativas que possam contribuir para a redução dos custos de produção sem perda de qualidade do produto). Isto justifica a busca permanente de materiais alternativos que viabilizem a produção dos derivados da madeira através do aproveitamento de nossas matérias-primas disponíveis, o que representa um aumento potencial em termos de tecnologia nacional.

No que concerne às chapas de partículas, Maria Fátima do Nascimento em sua tese de doutorado desenvolveu estudo sobre chapas de partículas homogêneas fabricadas com as espécies Angico, Jurema-preta e Algaroba, provenientes da caatinga do NE do Brasil.

A eficiência deste produto foi analisada quanto à resistência e rigidez através de ensaios mecânicos. Na ausência de um documento normativo brasileiro (o texto está em fase de redação), foram empregados os métodos propostos pela ASTM (norma americana). Os resultados obtidos foram sistematicamente superiores aos alcançados nos ensaios das chapas disponíveis no mercado.

Os resultados apresentados demonstram a alta resistência e qualidade da chapa de partícula produzida com madeira da caatinga do Nordeste brasileiro. As árvores produtoras de madeira existentes no NE não são de grande porte, apresentam alguma tortuosidade e alta densidade, mas são providas de maior conteúdo de tanino, resinas, amido e outras substâncias que promovem aderência natural, além de já serem utilizadas em reflorestamento na região.

Esta produção de CPH poderá ser implantada na região NE do Brasil, gerando condições de evolução nos setores tecnológicos, econômico e social do nordestino alavancando novos horizontes para o sertanejo.



Maria Fátima Nascimento

Dra. em Ciência e Engenharia de Materiais

Escola de Engenharia de São Carlos – USP – e-mail: fati@sc.usp.br

Fabrício Moura Dias

Engenheiro Civil - Doutorando

Escola De Engenharia de São Carlos – USP - e-mail: fmdias@sc.usp.br

Francisco A. Rocco Lahr

Professor Doutor – Escola de Engenharia de São Carlos - USP

e-mail: frocco@sc.usp.b

Maio/2003