O cenário atual do setor florestal brasileiro demonstra os reflexos da exploração predatória das florestas naturais causadas, principalmente, pela expansão da fronteira agropecuária, pelas atividades de mineração, e pela produção de carvão vegetal a partir do cerrado, notadamente, em Minas Gerais e estados do Centro-Oeste. A falta de uma política de monitoramento da exploração, via manejo sustentado, também contribuiu para agravar a situação.
O exemplo maior deste fato é a atual demanda de madeira serrada de eucalipto no mercado, em substituição às madeiras consideradas nobres, advindas da mata atlântica e floresta amazônica.
Os altos preços dos fretes, assim como a dificuldade de retirada e transporte durante as estações chuvosas, na região amazônica, em muito tem contribuído para aumentar a competitividade das madeiras provenientes de reflorestamentos. As pressões ecológicas, exercidas por instituições de todo o mundo, impondo restrições inclusive ao comércio internacional de madeiras oriundas da exploração de florestas nativas, fazem com que cada vez mais se pense em utilizar florestas plantadas para suprir o mercado.
As florestas de eucalipto implantadas no Brasil, é sempre bom lembrar, visavam, até a pouco tempo, atender principalmente a indústria siderúrgica (carvão vegetal) e a de papel e celulose. Vale ressaltar que, existem vários problemas na utilização desta floresta na produção madeira serrada, pois as características selecionadas das árvores visavam maximizar a produção de carvão vegetal e de papel e celulose.
Em decorrência deste fato, nota-se uma movimentação das empresas florestais, instituições de pesquisa e Universidades especializadas no ramo, na procura de meios de viabilização da utilização destas florestas, assim como na redução das perdas no processamento. Por conseguinte, planejar e implantar florestas, com características desejáveis para produção de madeira serrada, é um desafio para o futuro.
Os novos produtos de madeira serrada certamente, estarão na utilização do já consagrado gênero Pinus e, atualmente, do eucalipto, além de outras madeiras de rápido crescimento com potencial para utilização na forma serrada.
Esta estratégia econômica também pode ser considerada como ecológica, pois reduz a pressão sobre as florestas nativas, uma vez que as madeiras de rápido crescimento proporcionam ciclos de corte em períodos de tempo bem menores, além de produzir madeira com características homogêneas, o que aumenta o rendimento durante o processamento.
Dentro deste contexto econômico-ecológico, torna-se oportuno ressaltar a importância da utilização de produtos madeira reconstituída pelas indústrias moveleiras e de construção civil. As vantagens em utilizar este tipo de material, em relação a madeira sólida, são muitas e residem, principalmente, nos aspectos de rendimento em relação ao volume das toras, diminuição da anisotropia, utilização de madeiras de reflorestamento de rápido crescimento, e madeiras de densidade baixa a média que, na confecção do painel, confere rigidez suficiente para aplicação estrutural.
Além das vantagens já citadas, outras devem ser consideradas, por exemplo:
O aproveitamento da madeira na conversão das toras se aproxima de 100%;
Dependendo do uso final do painel, pode ser acrescentado pequenas quantidades de resíduos da indústria madeireira e agro-industrial;
Podem ser produzidos painéis em grandes dimensões, em que o fator limitador consiste nas dimensões das prensas e não das árvores;
Menor variação dimensional em relação a madeira maciça;
Apesar de não possuir bom comportamento na fixação de pregos e outros conectores, e não poderem ser torneados, já existe no mercado produtos desenvolvidos justamente para suprir estas deficiências;
Estrutura do painel com distribuição uniforme do coeficiente de resistência;
Devido a disposição aleatória das partículas, minimiza o fator anisotrópico que a madeira maciça possui;
Se necessário, as peças podem ser moldadas para determinados usos;
São mais fáceis de serem impregnados com produtos repelentes a agentes xilófagos, umidade e retardantes de fogo.
Esquema representativo dos produtos de madeira reconstituída
O primeiro painel produzido industrialmente no mundo foi um compensado, fato ocorrido no início do século XX nos Estados Unidos da América. Desde então, houve um grande processo de desenvolvimento que pode ser dividido em três períodos:
O primeiro período, ocorrido entre 1905 e 1935, caracterizou-se pelo desenvolvimento de tecnologia básica, em termos de projetos de fabricação de equipamentos para linha de produção, difusão e ampliação de mercado deste novo produto denominado de painéis compensados de madeira;
segundo período, ocorrido entre 1936 e 1955, caracterizou-se por consolidar as indústrias de compensados como importante segmento da indústria madeireira, com desenvolvimento de sistemas de prensagem mais avançados e produção de resinas sintéticas (fenol-formaldeído, uréia-formaldeído) para colagem dos painéis. A década de 50 foi marcada pela vasta produção e utilização de compensados;
O terceiro período, ocorrido entre 1956 e 1980, por sua vez, foi marcado pelas inovações tecnológicas, com aperfeiçoamento em termos de materiais (resinas, extensores e catalisadores), e desenvolvimento de secadores mais eficientes, assim como de prensas automáticas de múltiplas aberturas, contribuindo para aumentar a produtividade, melhorar a qualidade do produto e reduzir os custos de produção.
As chapas de partículas de madeira aglomerada, por sua vez, surgiram na Alemanha, no início da década de 40, como forma de viabilizar a utilização de resíduos de madeira, face a dificuldade de obtenção de madeiras de boa qualidade para produção de lâminas para compensados, devido ao isolamento do país durante a 2a Guerra Mundial.
A produção foi paralisada logo a seguir, devido a redução na disponibilidade de resina, tendo em vista a prioridade de uso de petróleo para finalidade militar. Ao fim da guerra, em 1946, o processo de desenvolvimento foi retomado nos Estados Unidos, com aperfeiçoamentos de equipamentos e processos produtivos. A partir da década de 60, houve grande expansão em termos de instalações industriais e avanços tecnológicos, que culminaram no desenvolvimento de chapas estruturais tipo Waferboard e OSB em meados da década de 70, atualmente difundidos pelo mundo.
O desenvolvimento da tecnologia de produção de compensados, chapas de fibras e de partículas passou pela cronologia a seguir
1858 – Lyman (EUA), desenvolveu a primeira patente em chapas de fibras;
1866 – Fleury (EUA), desenvolveu a patente para fabricação de chapas de fibras isolantes pelo processo úmido;
1880 – desenvolvimento da tecnologia de produção de chapas duras/isolantes pelo processo úmido;
1913 - início da produção de compensado no mundo;
1914 – instalação da 1a fábrica de chapas isolantes baseado na tecnologia de produção de papelão;
1930 – instalação da 1a fábrica de chapas duras com a utilização de toretes de madeira;
1931 – desenvolvimento do equipamento desfibrador “Asplund” na Suécia, através do método contínuo de desfibramento a alta temperatura e pressão;
1932 – instalação da 1a fábrica de chapas de fibra na Alemanha;
1940 – início da produção de compensado no Brasil;
1943 – desenvolvimento do sistema de formação do colchão por método pneumático (ar), que foi a idéia básica para o desenvolvimento do processo seco e semi-seco;
1951 – início da produção de chapas duras pelo processo semi-seco;
1952 – desenvolvimento de planta piloto para chapas duras pelo processo seco;
1955 – início de produção de chapas de fibra no Brasil;
1966 – início de produção de chapas de madeira aglomerada no Brasil;
1970 – início da produção de chapas de fibras de média densidade (MDF);
1975 – início de produção de Waferboard e OSB no mundo;
1997 – início de produção de MDF no Brasil;
2002 – início de produção de OSB no Brasil.
A defasagem do Brasil em relação aos principais países produtores de chapas de madeira reconstituída é considerável e precisa ser reduzido, a fim de que se atinja, a médio e longo prazos, uma igualdade técnica e competitiva com estes países, o que é plenamente viável. É neste sentido que a previsão para o início deste milênio de mudança do perfil da produção brasileira de painéis, caminha cada vez mais para uma realidade bem próxima com a entrada dos painéis MDF e OSB.
Indústria de compensado
O parque nacional voltado à produção de compensado conta 300 unidades industriais. A capacidade instalada representada por estas unidades é de aproximadamente 2,2 milhões de m3/ano, sendo que as 40 maiores indústrias respondem por pouco mais de 60% desta capacidade instalada.
A indústria brasileira de compensado é bastante fragmentada, predominando empresas de pequeno porte com estrutura de produção tipicamente familiar. Estimativas da ABIMCI (Associação Brasileira de Madeira Processada Mecanicamente), indicam que 60% do compensado brasileiro é produzido com madeira tropical, enquanto que os outros 40% são produzidos a partir de madeira proveniente de florestas plantadas nas regiões Sul e Sudeste, particularmente o Pinus. Cabe salientar que inclui-se como compensado tropical o tipo “combi” (face em madeira tropical e miolo em madeira de Pinus).
Os inexpressivos investimentos tecnológicos realizados recentemente nas unidades produtoras de compensado, bem como a deficitária estrutura de produção e os elevados custos com matéria-prima (nativas da região Norte), caracterizam-se como fatores limitantes ao desenvolvimento desta atividade no Brasil.
A produção nacional de compensado atingiu em 2000 1,95 milhões de m3..
A taxa média de crescimento da produção de compensado no período 1990-2000 foi de 6,4% ao ano, e após um período de relativa estagnação, a produção apresentou um significativo incremento na primeira metade da década de 90.
Observa-se que, para o período entre 1990 e 2000, o consumo interno de compensados cresceu cerca de 3,3%.
No período entre 1990 e 2000, o crescimento das exportações de compensado foi de 12,8% ao ano, acumulando um crescimento total de 233%. Expressivos volumes foram exportados entre 1993 e 1995, em virtude das condições bastante favoráveis e atrativas no mercado internacional .
Consolidação da produção, exportação e consumo interno de Compensados no Brasil
Ao longo dos últimos 10 anos, os principais países importadores do compensado brasileiro foram os EUA, o Reino Unido, Porto Rico e Alemanha.
Evolução dos dados do mercado brasileiro da indústria de compensados.
Historicamente as importações de compensado realizadas pelo Brasil são insignificantes. Os volumes envolvidos nestas transações não ultrapassam a 500 m3 anuais
Os incentivos vigentes têm levado a um incremento substancial na área reflorestada destes países, além de atrair investidores internacionais.
Acredita-se que em médio prazo a indústria de base florestal, particularmente na Argentina e no Uruguai, deverá se desenvolver com extrema competência alavancada pelos incentivos atualmente existentes.
Estes aspectos devem ser considerados no âmbito do acordo do MERCOSUL, buscando igualdade de competição a todos os seus integrantes. Afinal este é o princípio de mercados sem fronteiras.
Quanto ao setor privado, o mesmo deve estar preparado para vencer os desafios impostos pela globalização (competitividade), haja vista as perspectivas de crescimento da atividade industrial-madeireira tanto a nível nacional como internacional, almejando o desenvolvimento econômico e social tanto do Brasil como do MERCOSUL.
Chapas de fibra e de partículas
O setor de painéis de madeira industrializada ampliou a sua representatividade, transformando a ABIMA – Associação Brasileira da Indústria de Madeira Aglomerada, criada em dezembro de 1967, na ABIPA – Associação Brasileira da Indústria de Painéis de Madeira, a ela integrando as indústrias produtoras de chapas duras.
A ABIPA congrega as maiores indústrias produtoras de painéis de madeira industrializada, instaladas no território nacional, utilizando como fontes de matéria-prima, recursos naturais renováveis como o pinus e o eucalipto, atuando em diversos segmentos, como fornecedora de matéria-prima para indústrias moveleira, de construção civil, de embalagem, automobilística e eletro-eletrônica.
Tipos de produtos, localização e capacidade nominal instalada (m3/ano)
A indústria brasileira de painéis de madeira industrializada, sempre atenta a qualidade, tem como objetivo a utilização de recursos naturais renováveis, preservando, desta forma, o meio ambiente, a flora e a fauna das regiões onde atua.
As áreas de reflorestamento, estão distribuídas nos Estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.O Pinus e o Eucalyptus são os gêneros plantados, cultivados e utilizados para abastecer de matéria-prima a indústria brasileira de painéis.
Apresentam uma área de reflorestamento de 380.000 hectares total, e 250.000 hectares de área efetivamente reflorestada.
Localização geográfica das principais empresas brasileiras produtoras de painéis de madeira industrializada
Consolidação da produção, importação, exportação e consumo interno de todos os produtos (aglomerado, chapas de fibras e MDF) de 1994 a 2000
Existe uma tendência no crescimento de produção e de consumo interno. Isto se deve principalmente ao aumento na produção de aglomerados e MDF, uma vez que as chapas de fibras duras e isolantes se mantêm estáveis. Além disso, a importação revelou-se crescente até 1997, sendo influenciada, principalmente, pela importação das chapas MDF, visando a estratégia de difusão do produto no mercado brasileiro. Contudo, a partir de 1998, esta importação reduziu-se significativamente, em virtude da entrada em operação da fábrica da Duratex em Agudos, SP, iniciando a produção nacional de MDF. Atualmente, encontra-se também em operação, a indústria de chapas MDF da Tafisa em Piên, além da unidade da Masisa em Ponta Grossa, e Placas do Paraná Quanto à exportação, verifica-se um ligeiro declínio, que provavelmente está relacionado com o aumento significativo do consumo interno. Com a entrada em operação de novas unidades industriais, além dos projetos de ampliações das já existentes, praticamente irá garantir o abastecimento interno no futuro, além de possibilitar o crescimento das exportações.
Evolução dos dados do mercado brasileiro da indústria de painéis de madeira
As crescentes restrições ambientais ao uso de madeira de folhosas nativas e, principalmente, o elevado custo do transporte para os centros consumidores, favorece a produção de serrados de Eucalyptus, o qual certamente apresentará taxas de crescimento superiores a média de outras espécies de folhosas. O Eucalyptus deverá ter uma penetração via substituição de nativas e possivelmente cobrirá a possível limitação no suprimento da madeira de Pinus.
A implantação de novos empreendimentos de maior porte e mais eficientes, com a produção centrada em florestas plantadas (Pinus e Eucalyptus ), deverá reduzir a demanda por madeira tropical.
Para o compensado, as florestas tropicais representam um grande potencial. No entanto, a conversão dos recursos disponíveis em bens, dependerá de uma política apropriada de desenvolvimento, particularmente para a região Amazônica.
Além das florestas tropicais, os desenvolvimentos recentes preconizando a utilização do Eucalyptus oriundo de florestas plantadas, têm mostrado boas perspectivas como alternativa às madeiras tropicais na produção serrados, compensados, PMVA e ainda, painéis estruturais, a exemplo do LVL e as vigas laminadas.
O crescimento dos painéis reconstituídos no Brasil, representado a curto prazo pelo aglomerado , MDF e pelo OSB, mudará o perfil de consumo no Brasil;
Projeta-se uma perda de participação relativa de compensado e da chapa dura de fibra no mercado nacional, resultante de uma penetração dos novos painéis reconstituídos (MDF, OSB etc..);
Com o início da produção do OSB, a perspectiva fica em torno da início da produção de painéis de madeira-cimento em escala industrial;
O incremento no uso da madeira, para produção de produtos reconstituídos, é uma tendência evolutiva e irreversível. Além disso, o Brasil apresenta excelentes condições, à curto prazo, para a produção de painéis estruturais de madeira reconstituída, devido à experiência com os recursos silviculturais de eucalipto e pinus, atualmente implantados em larga escala. Entretanto, as condições climáticas propiciam uma curta rotação, reduzindo significativamente os custos, se comparado com os países de 1o mundo;
O estudo de espécies exóticas e nativas de rápido crescimento, com potencial para fornecimento de madeira em larga escala, deve ser intensificado, buscando uma maior variabilidade de matéria-prima, assim como reduzir a dependência de apenas dois gêneros (Pinus e Eucaliptus);
A oferta futura de madeira maciça possui uma tendência declinante. Portanto, é de suma importância o desenvolvimento de esforços a fim de evoluir a oferta em variedade e quantidade de produtos reconstituídos, objetivando o aproveitamento máximo da madeira, a exemplo do fineboard, que é um produto reconstituído a partir do pó da madeira.
LOURIVAL MARIN MENDES Professor Assistente – DCF/UFLA
CARLOS EDUARDO CAMARGO DE ALBUQUERQUE Professor Assistente – DPF/IF/UFRRJ
SETSUO IWAKIRI Professor Titular – DETF/UFPR
Maio/2003 |