A indústria brasileira de produtos em madeira reconstituída, que atualmente se encontra em franca expansão, atenta cuidadosamente quanto a qualidade e aplicabilidade de seus produtos. Outrossim, ressalva-se que este tipo de indústria tem sua matéria-prima baseada em plantios silviculturais de Pinus e Eucalyptus, ou seja, possui uma utilização otimizada dos recursos renováveis, já que o meio ambiente das regiões onde atua é preservado, não se empregando madeiras nativas.
Com o desenvolvimento tecnológico e da engenharia genética, a madeira proveniente de projetos silviculturais tendem a atingir um padrão de homogeneidade de características desejáveis inigualáveis. Desta forma, tal condição poderá propiciar um fornecimento de matéria-prima de excelência, condição fundamental para a obtenção de produtos de alta qualidade pela indústria madeireira.
No Brasil, a facilidade na obtenção de madeiras nativas a baixos custos ocasionou algumas conseqüências, entre elas, o atraso tecnológico verificado na indústria de processamento mecânico da madeira por várias décadas. O atual encarecimento da madeira nativa, resultado do escasseamento das mesmas, aliado às pressões ecológicas e de legislação mais rigorosa, ajudam na busca de alternativas que, sem dúvida, se direcionam no desenvolvimento de plantios silviculturais, que por sua vez vem provocar uma revolução industrial na indústria madeireira, em particular, na de painéis de madeira reconstituída.
Neste contexto, o desenvolvimento dos painéis já produzidos, como os compensados e aglomerados, e os recentemente introduzidos no Brasil, como o MDF e o OSB, dão um novo horizonte de alternativas e possibilidades para o mercado. É importante ressalvar que, mesmo com esses novos produtos, o país ainda se encontra bastante defasado quanto à oferta de produtos de madeira reconstituída em relação aos países tradicionalmente produtores.
OSB - Oriented Strand Board
OSB, o mais recente painel produzido no Brasil, consiste de um painel estrutural de partículas tipo “strand” orientadas, utilizando-se de espécies de baixo custo e toras de baixa qualidade, não interferindo no resultado final, uma vez que o determinante da qualidade do painel é a tecnologia de produção aplicada. Este produto possui aplicação significativa no setor de construção civil, onde é freqüentemente empregado nos principais países produtores, em particular na América do Norte.
Este tipo de painel se enquadra entre os produtos que proporcionam menor desperdício, permitindo o desenvolvimento de técnicas construtivas mais eficientes. Trata-se, portanto, de um painel que emprega adesivo fenólico, já que foi desenvolvido para aplicação estrutural. É considerado como a segunda geração do “waferboard”, já que surgiu como uma evolução deste. Caracteriza-se, portanto, por apresentar durabilidade, estabilidade e resistência.
No mercado norte-americano, desde o seu surgimento em 1975, o OSB vem adquirindo utilizações cada vez mais variadas, ultrapassando em muito àquelas originalmente imaginadas. Isto se deve às características do painel aliado a grande, e até surpreendente, aceitação pelo consumidor final.
No mercado brasileiro, o OSB ainda é um painel relativamente desconhecido, faltando melhor divulgação de suas características e utilização. Por exemplo, os fabricantes de casas de madeira, que baseiam sua construções em painéis de compensado, devem conhecer melhor e analisarem o painel OSB, que pode trazer vantagens ao serem introduzidos em seus processos construtivos. Vale ressalvar que este produto pode vir a suprir lacunas em projetos de casas populares, já que é um produto que alia baixo custo, durabilidade e resistência.
Na América do Norte 51% das aplicações do OSB correspondem a construção de residências, sendo seu uso aprovado por normas estabelecidas no Japão, EUA e Europa. Em 2000, nos EUA, 50% do mercado de painéis estruturais correspondia ao OSB, demonstrando o seu significativo crescimento neste mercado.
Uso do OSB na Construção Civil
Quanto à localização, de modo geral, a implantação das fábricas são próximas à comunidades de maior perspectivas de crescimento, este fato pode ser considerado o grande responsável pela explosão na comercialização de OSB no início da década de 80 na América do Norte, quando foi reconhecida a superioridade deste painel sobre o compensado tradicional, considerando o relativo baixo custo e características de resistência.
Comparando com os painéis convencionais, o OSB possui a elasticidade do aglomerado convencional, mas apresenta resistência mecânica superior, e em relação ao compensado convencional, possui melhor resistência a umidade, pois em sua produção emprega adesivos fenólicos. Em contrapartida, os preços de mercado entre o compensado convencional e o OSB, no Brasil, são muito próximos, contudo, possui custo muito inferior ao compensado naval.
Inicialmente desenvolvido para aplicações estruturais, como forros para telhados, paredes, base para pisos, vigas em “I”, “pallets”, engradados, estrutura interna de móveis, etc, atualmente, tem-se “descoberto” por empresas e diversos profissionais, incluindo designers, novas possibilidades para o uso do OSB, a exemplo de floreiras, mobiliário e decoração em geral. Outrossim, em contribuição à um aproveitamento ainda mais eficiente, desenvolve-se novos revestimentos que melhoram a durabilidade do painel para uso exterior, adaptando-o aos mais diversos climas aos quais for submetido.
Novas utilizações para o OSB
Outra característica interessante se refere ao processo industrial, que praticamente não transfere ao ambiente o formaldeído, visto que a cura finaliza na prensagem devido às altas temperaturas empregadas. Além disso, a serragem, pó ou cinzas do OSB podem ser considerados resíduos inofensivos à saúde, ou seja, não há restrições quanto a trabalhos em marcenarias e usinagem. Por estes motivos, dentre outros, o OSB apresenta grande potencial de expansão no mercado de painéis em nosso país, podendo vir a ser considerado como a madeira do futuro.
Painéis de cimento-madeira
Inicialmente, pode-se definir o cimento como sendo um material composto de clínquer, gesso, escórias de alto forno, materiais pozolânicos e carbonáticos. A níveis mundiais, o cimento é comumente empregado na construção civil desde 1845, e à muito vem sendo objeto de estudo, incluindo a indústria madeireira.
Estudos desenvolvidos voltados para o setor de painéis de madeira reconstituída, apresentam resultados que vêm confirmar a capacidade de solidificação do cimento em conjunto com a madeira, dando origem a um painel que poderá ser considerado como revolucionário para o Brasil. Infelizmente, até a atualidade, os mesmos não são produzidos em nosso país, apenas tendo sido produzido em pequena escala por empresas pequenas, que confeccionaram um tipo de painel de baixa qualidade. Contudo, estudos mais aprofundados estão sendo realizados, principalmente pelas Universidades, que poderão dar subsídios à uma produção nacional deste tipo de painel com alta qualidade.
As características apresentadas por este produto permite uma aplicação diversificada, característica que o coloca em posição superior a qualquer outra modalidade de painel. Além disso, não apresenta restrições de ambientes, obtendo bom desempenho em aplicações internas e externas, mesmo considerando ambientes quentes, frios, secos e úmidos, superando em muito as aplicações convencionais do aglomerado convencional.
Aplicações em paredes exteriores
Neste contexto, pode-se concluir que a versatilidade é uma característica significativa do painel de cimento-madeira, pois além de ser considerado como um material relativamente leve, possui resistência à umidade e ao fogo. Ressalva-se ainda, por apresentar bons resultados em testes de resistência à compressão, flexão, abrasão, estabilidade dimensional e trabalhabilidade.
Todavia, é um engano ao se imaginar que se trata de um produto recente, já que foi desenvolvido na Alemanha em 1914, e produzido em larga escala pela indústria, principalmente na Europa e Japão, desde o início da década de 60.Desta forma, principalmente ao considerar-se que o Brasil é um grande produtor de cimento e possuidor de uma silvicultura avançada, as potencialidades de mercado são grandes, destacando-se paredes de casas pré-fabricadas, bancada de parapeitos, pisos, revestimento de túneis, paredes divisórias, paredes com características de isolamento térmico e acústico, portas anti-fogo, entre outras aplicações.
Nota-se, portanto, que as possibilidades de uso não ficam restritas às residências mas, também, pode ser muito prático e eficiente na construção civil em geral, como pavilhões, estádios, edifícios públicos, assim como em ambientes com freqüente uso de água como banheiros, lavanderias e cozinhas.
Ultimamente têm se falado muito em projetos sociais, que garantam um modo de vida mais digno, condição que engloba alguns pontos primordiais como educação, saúde, segurança, moradia e infra-estrutura. As características inerentes aos painéis de cimento-madeira poderiam, com certeza, contribuir devido a seu baixo custo de produção e todas as características já citadas. A construção civil poderia focar seus projetos baseando-se no emprego de painéis de cimento-madeira, em particular, aqueles voltados para a construção de moradias populares, já que este produto pode oferecer a população moradias com qualidade a curto prazo e baixo custo.
Construção de Casas Populares
A entrada do OSB em produção em nosso país, somado a uma provável produção futura de painéis de cimento-madeira e vigas LVL, conjuntamente com o desenvolvimento de bons projetos construtivos de madeira, que reunam qualidade, conforto, baixo custo e rapidez de construção, poderão fornecer subsídios suficientes para uma revolução na construção civil baseada em madeira no Brasil, incluindo, principalmente, as casas populares. Estas últimas, em particular, é objeto de preocupação constante dos governos, visto que a carência de moradia continua crescente no país, já atingindo dezenas de milhões de brasileiros, sendo a atual construção de alvenaria cara, demorada e com altos desperdícios, que ultrapassam 30% durante o processo construtivo.
Diante dos novos materiais supra-citados, um bom projeto construtivo direcionado poderá permitir uma construção limpa, rápida e com o mínimo de desperdício, produzindo casas duráveis, de qualidade, e com conforto termo-acústico superior às de alvenaria.
Carlos Eduardo Camargo de Albuquerque Prof. Adjunto, D.S. - DPF/IF/UFRRJ
Raquel Oliveira Ferreira Acadêmicas Engenharia Florestal - UFRRJ
Bianca Cerqueira Martins Acadêmicas Engenharia Florestal - UFRRJ
Clarisse Cavalcanti da Fonseca Acadêmicas Engenharia Florestal - UFRRJ
Débora Oliveira Gripp Acadêmicas Engenharia Florestal – UFRRJ
Maio/2003 |