No Brasil os painéis mais produzidos são os de aglomerado que, em 2001, representaram quase 62% do volume total produzido. Naquele ano essa indústria alcançou, no País, um faturamento de cerca de US$ 500 milhões contribuindo com exportações de US$ 66 milhões, basicamente oriundas do comércio de chapas duras.
Os fabricantes de painéis de madeira reconstituída utilizam preponderantemente, na confecção de seus produtos, madeira proveniente de maciços florestais plantados e, para completar o mix, resíduos de serraria. As empresas dispõem de mais de 200 mil hectares de florestas próprias de pinus e de eucalipto.
Os painéis de madeira aglomerada são os mais consumidos no mundo dentre os diferentes painéis de madeira reconstituída existentes.
A produção mundial de aglomerados alcançou 84 milhões de m³, em 2000, destacando-se como maior fabricante os Estados Unidos responsável por 25% desse volume. O Brasil posiciona-se em nono lugar, com 2% do volume produzido.
No período 1996/2000, o consumo mundial de aglomerado cresceu a uma taxa média anual de 6,5%; Estados Unidos e Alemanha são os maiores centros de consumo, representando 46% da demanda.
O comércio mundial de aglomerado movimenta cerca de US$ 6 bilhões e 25% do consumo global (22 milhões de m³). A Europa concentra metade das transações realizadas. Observa-se que a comercialização se dá, preferencialmente, entre regiões próximas, uma vez que o preço do aglomerado não suporta valores de fretes para grandes distâncias.
A Europa é a principal região exportadora, enquanto América do Norte e Ásia/Oceania são importadoras. Os Estados Unidos são o maior importador mundial e o Canadá é o maior exportador. A China é outro importador de expressão.
Merece destaque a condição de importador líquido de aglomerado do Continente Asiático. Em 2000, a Ásia importou 2,5 milhões de metros cúbicos de aglomerado e exportou 1,3 milhão, segundo a FAO. Seus fornecedores tradicionais são os países da Oceania, principalmente Nova Zelândia, e da Europa.
A produção brasileira de aglomerado, no período 1996/2000, evoluiu de 1.059 mil m³ para 1.762 mil m³, o que representa um crescimento médio anual de 13,6%, bastante superior à taxa mundial de 5,8%.
Esse crescimento pode ser associado a três fatores principais: i) necessidade de substituição do uso de madeira maciça na indústria moveleira e na construção civil face à escassez de oferta; ii) evolução tecnológica que permitiu melhor usinagem dos painéis aglomerados; e iii) melhoria da percepção do consumidor final sobre a qualidade do aglomerado.
As importações e exportações mostram-se inexpressivas, com a produção basicamente igual ao consumo interno. Em 2001, a produção brasileira foi de 1.833 mil m³ - 4% maior que a do ano anterior.
Entre 80% e 90% da produção local de aglomerado são destinadas aos pólos moveleiros, sendo uma parcela expressiva comercializada diretamente com as fábricas, enquanto um volume menor é vendido para revendedores que atendem os pequenos fabricantes de móveis.
Cerca de metade da produção de aglomerado é revestida com diferentes materiais e tecnologias como, por exemplo, os chamados finish foil e BP (baixa pressão) agregando valor às chapas cruas.
A produção é realizada por sete fabricantes, todos localizados nas regiões Sul e Sudeste, principais centros de consumo (onde se localizam os pólos moveleiros de maior expressão), somando uma capacidade total de 2.350 mil m³ . Das dez plantas de produção existentes, a maioria pode ser considerada atualizada tecnologicamente.
A partir de 1997 ocorreram os investimentos em modernização e, atualmente, as unidades que funcionam com prensas contínuas (76% da capacidade instalada) obtêm menores custos de produção pela redução do consumo de matéria-prima, menores perdas no processo de lixamento, menor número de empregados e menor consumo de energia elétrica.
Essa modernização propiciou, ainda, o aumento da flexibilidade operacional ao permitir a fabricação de chapas de dimensões variadas. Outro benefício foi a redução do preço final do aglomerado, pela maior competição entre os fabricantes, beneficiando a indústria de móveis. Outro fato a destacar é a utilização de madeira proveniente de florestas plantadas, principalmente de pinus e de eucalipto, na totalidade da fabricação de painéis de aglomerado.
Painéis de MDF
O MDF (medium density fiberboard) é um tipo de painel de madeira reconstituída relativamente novo já que o início de sua produção ocorreu na década de 60. Possui consistência e algumas características mecânicas que o aproximam da madeira maciça e difere do painel de madeira aglomerada basicamente por apresentar parâmetros físicos de resistência superiores, boa estabilidade dimensional e excelente capacidade de usinagem.
Sua fabricação no Brasil começou em 1997, ocorrendo, desde então, um expressivo crescimento de consumo, evidenciando a aceitação do produto pelo mercado e atraindo a instalação de mais três fabricantes.
No Brasil, o principal demandante desse painel é a indústria moveleira, constituindo-se a construção civil um mercado potencial, ainda não devidamente explorado, principalmente em itens como pisos, rodapés, almofadas de portas, divisórias, batentes e peças torneadas, entre outros.
A produção mundial de MDF duplicou entre os anos de 1996 e 2000, equivalente a um crescimento médio anual de cerca de 18%. Estados Unidos, Alemanha e China, juntos, representam 39% do volume produzido. No período mencionado foram acima de 30% ao ano os acréscimos de produção verificados na Alemanha, França, China e Brasil. A produção brasileira no ano 2000 representou 2% do volume mundial.
O consumo mundial de MDF vem crescendo cerca de 20% a.a., em média. Os principais consumidores, Estados Unidos, China e Alemanha, respondem por cerca da metade da demanda global. Analisando-se países selecionados, observam-se taxas de crescimento acima da média mundial na China, na Alemanha e no Brasil.
O expressivo crescimento do consumo brasileiro no período 1996/2000, contudo, se deve à base de comparação, uma vez que a produção de MDF no Brasil iniciou-se apenas em 1997. Anteriormente seu consumo era ínfimo, correspondente a pequenas quantidades importadas.
O comércio mundial representou, ao longo do período 1996/2000, cerca de 35% do volume fabricado. Europa e América Latina (Chile) são regiões exportadoras, enquanto Ásia e América do Norte caracterizam-se como regiões importadoras. Em 2000 as exportações movimentaram em âmbito mundial US$ 1,5 bilhão.
No Brasil o MDF começou a ser fabricado em setembro/97 pela fábrica da Duratex, em Agudos (São Paulo). Em seguida começaram a operar as unidades da Tafisa (final de 1998), localizada em Pien; da Masisa (início de 2001), situada em Ponta Grossa e a da Placas do Paraná (final de 2001), localizada em Jaguariaíva, todas no Estado do Paraná.
A produção nacional, que em 2001 atingiu 609 mil m³, está voltada totalmente para o mercado interno e ainda não foi suficiente para eliminar as importações que, naquele ano, atingiram 24 mil m³, correspondente a 3,8% do consumo .
A indústria produtora de móveis é a grande compradora de MDF, com taxa de crescimento médio de consumo de 64% ao ano, no período 1997/2001. Semelhante ao aglomerado, o painel de MDF também é utilizado na forma crua (85%) ou já com revestimento de fábrica (melamínico ou BP).
São quatro as fábricas instaladas no Brasil, todas com tecnologia de última geração e utilizando-se de madeira de pinus (cavacos ou resíduos de serrarias) como principal insumo. Em 2001 as empresas operaram a 87% da capacidade instalada ajustada em função das diferentes épocas de entrada em operação ao longo do ano dos projetos novos (Placas do Paraná e Masisa) e da expansão da Tafisa. Atualmente a capacidade instalada é de 1.080 mil m³/ano o que oferece uma folga para atender a esperada continuidade de crescimento da demanda.
Chapas de Fibra
A produção mundial de chapas de fibra foi de 9,2 milhões de m³ em 2000 (cerca de 11% da produção mundial de aglomerado), com um crescimento de cerca de 7% ao ano, no período 1996/2000. China e Estados Unidos são os dois maiores produtores e consumidores representando perto de 50% do volume mundial. O Brasil posiciona-se como o 3o produtor e o 4o consumidor mundial.
O comércio mundial representa 1/3 do volume produzido/consumido e China, Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha destacam-se como importadores (36% do total), enquanto Alemanha, Canadá e Brasil são os maiores exportadores (34% do total).
A produção nacional de chapa de fibra manteve-se praticamente estável nos últimos cinco anos. Os pequenos acréscimos de demanda - 2,3% ao ano - foram atendidos pela redução das quantidades exportadas. Acredita-se que parte da demanda brasileira por esse tipo de painel venha sendo atendida por aglomerado e MDF .
As exportações de chapas representam quase 95% das vendas externas brasileiras de painéis de todos tipos. No entanto, os volumes exportados vêm diminuindo: em 1997 as exportações de chapa dura representavam 43% do volume produzido, passando a 34% em 2001.
Em valores, as exportações brasileiras de chapas totalizaram, em 2001, cerca de US$ 58 milhões, pulando para US$ 87 milhões em 2002. São dois os fabricantes brasileiros: Duratex e Eucatex com capacidades, respectivamente, de 360 mil m³/ano e 250 mil m3/ano, ambos com fábricas localizadas no Estado de São Paulo.
Preços
Os preços médios dos produtos revestidos em relação aos sem revestimento são 95% maiores para os painéis de aglomerado e 56% para o MDF.
Como o mercado de MDF é recente e ainda existem fábricas iniciando suas operações num ambiente de demanda aquecida acredita-se que os preços ainda estejam distorcidos. Assim, o MDF sem revestimento mostra preço quase 60% superior ao aglomerado similar enquanto o revestido é 27% mais caro.
Entre 1997 (início da fabricação do MDF no País) e 2001 os preços médios anuais no mercado interno, em dólar, caíram 39% para o aglomerado e 27% para o MDF. Em reais o comportamento foi diverso, com o aglomerado subindo 33% e o MDF 60%.
Nos últimos anos, a estabilidade econômica, o avanço tecnológico e o escasseamento de florestas, impulsionaram a indústria de painéis, que hoje está em pé de igualdade com suas congêneres no mundo.
A indústria moveleira utiliza as diversas matérias-primas da seguinte forma:
• AGLOMERADO: tampos de mesas, laterais de portas e de armários, racks, divisórias, laterais de estantes;
• MADEIRA SERRADA: tampos de mesas, frontal e lateral de balcões, assento e estrutura de cadeiras, estruturas de camas, molduras, pés de mesa, estrutura de sofás, laterais de gavetas, embalagem, pés de cama, pés de racks, estrados, acabamento de móveis;
• COMPENSADO: fundos de gavetas, armários, roupeiros, tampos de mesas, laterais de móveis, braços de sofás, fundos de armários, prateleiras;
• MEDIUM DENSITY FIBERBOARD (MDF): componentes frontais, internos e laterais de móveis, fundos de gavetas, estantes, tampos de mesas, racks; e
• CHAPA DE FIBRA DURA (HARDBOARD): fundos de gavetas, de armários e de racks, tampos de móveis, móveis infantis e divisórias.
Além do aglomerado e do MDF, outros dois painéis estão sendo introduzidos no mercado brasileiro: o OSB (oriented strand fiberboard) e o HDF (high density fiberboard), ambos mais voltados para a indústria da construção civil e de embalagens.
A primeira planta industrial para a produção de OSB no Brasil foi concluída no final de 2001 e tem capacidade estimada em 200 mil m3 , com operação em 2002. A produção de HDF terá início em 2003, com a entrada em operação de uma nova planta, sendo a produção e o consumo desse painel ainda baixos. O crescimento da produção de OSB e de HDF afetará, principalmente, a demanda interna de chapas de fibra e de compensados e laminados.
A demanda de aglomerado e MDF está associada à indústria moveleira, que responde por cerca de 90% do consumo.
Apesar da estreita ligação entre a indústria de painéis e a indústria de móveis, o crescimento de ambas não tem ocorrido no mesmo ritmo. Nos últimos três anos, o faturamento do setor de móveis aumentou mais de 30%, na esteira da elevação do PIB per capita e da redução da taxa média de juros praticada pelo comércio.
No caso dos painéis, houve expansão da produção e do consumo de aglomerado e de MDF, acompanhada, contudo, de queda dos preços. O faturamento em dólares da indústria, entre 1999 e 2001 cresceu 13%, enquanto a produção se expandiu 24%.
Brasil: Faturamento e Produção Anual da Indústria de Painéis de Madeira Reconstituída
O início da produção interna de MDF provocou um deslocamento da demanda de aglomerado, com impacto sobre os preços de ambos. Atualmente, verifica-se que o mercado ainda não encontrou seu ponto de equilíbrio, uma vez que a produção de MDF continua crescendo.
Esse quadro de intensa competição e de queda de preços entre os fabricantes de painéis de aglomerados e de MDF acirrou-se em 2001, com a entrada em operação de duas novas plantas de produção de MDF, no Paraná, com capacidade total de 500 mil m3, ou seja, um acréscimo de 46,3% sobre a produção nacional verificada em 2000.
O mercado de painéis, contudo, tende a se consolidar e a indústria fabricante deverá fortalecer seu relacionamento com os consumidores em razão de: i) escasseamento da madeira maciça, tornando os painéis de madeira reconstituída a matéria-prima mais importante da indústria moveleira; ii) gradual conquista de mercado externo, através de exportações de MDF e de móveis de painéis; e iii) avanço da utilização de painéis de madeira reconstituída em outros setores industriais, como construção civil e embalagens.
A indústria fabricante de painéis de madeira tem trabalhado, ainda, com outras formas de relacionamento com seus consumidores, buscando a fidelização. É possível observar a negociação de pacotes oferecendo um mix de produtos, variando tipos de painéis (no caso das empresas que fabricam aglomerado e MDF), espessuras e revestimentos, que atendam às necessidades específicas do cliente. Essa nova forma de comercialização pode vir a representar um diferencial importante no posicionamento das indústrias no mercado, favorecendo aquelas com maior gama de produtos.
A estimativa da demanda brasileira de painéis de madeira reconstituída, para o período 2002/2005, contempla uma taxa média anual de crescimento de 10% para o aglomerado e de 17% para o MDF.
Quanto à oferta, foram considerados os acréscimos de capacidade provenientes de projetos de otimização de fábricas de aglomerado e de novos projetos de implantação de HDF e MDF. Observe-se que a linha de produção de HDF, atualmente em construção, poderá ser ajustada para a produção de MDF, sendo, portanto, considerada conjuntamente na posição da oferta.
Existe hoje uma sobrecapacidade na indústria fabricante de painéis aglomerados e de MDF. Estima-se que, com as taxas de crescimento projetadas, a sobrecapacidade de aglomerado seria absorvida já em 2004/2005, enquanto que os produtores de MDF necessitariam voltar-se para a busca de novos nichos de mercado como exportação e construção civil, por exemplo.
Cabe destacar que as projeções não levam em consideração a oferta proveniente de empresas fabricantes de painéis localizadas no MERCOSUL. Com a forte retração econômica da Argentina, torna-se prudente considerar que existem três plantas de MDF naquele país, com capacidade de produção anual de 570 mil m3 e um consumo interno anual estimado em 125 mil m3.
Nesse contexto, é imperioso que a indústria brasileira de painéis de madeira reconstituída se organize para conquistar rapidamente novos mercados, no Brasil e no exterior. A exportação direta de painéis, principalmente do MDF, e o apoio à exportação de móveis são os caminhos mais naturais.
As exportações brasileiras de móveis vêm evoluindo favoravelmente, passando de US$ 366 milhões para US$ 561 milhões, entre 1997 e 2002, respectivamente. Estima-se que os móveis de painéis tenham respondido por apenas 20% do valor total das vendas externas de móveis no período, havendo, portanto, espaço para crescimento. Quanto à construção civil, no restante do mundo o MDF é largamente utilizado para a fabricação de portas, esquadrias, rodapés, etc. No Brasil, a construção representa apenas 5% do consumo de MDF, atualmente. Estima-se que esse percentual possa chegar a 30%.
O mercado de painéis de madeira reconstituída ainda está em processo de consolidação. A aquisição de novas tecnologias, a introdução de novos produtos e o rápido aumento da produção, provocaram um desalinhamento nos preços relativos e uma sobrecapacidade momentânea. O ajuste ocorrerá com o amadurecimento da demanda, a conquista de novos nichos de mercado e provável movimento de concentração de produtores.
Thais Linhares Juvenal – Gerente Setorial BNDES
René Luiz Grion Mattos - BNDES
Maio/2003 |