ENXUGANDO CUSTOS E INCREMENTANDO GANHOS.
A introdução de novos equipamentos automatizados com base na microeletrônica e de novas técnicas de gestão empresariais concorreram para o incremento da produtividade na indústria de móveis e para a flexibilização dos processos de produção, ou seja, obtenção de muitos tipos de produto de uma mesma linha de produção, os quais passaram a ser produzidos em maiores escalas, perdendo o seu caráter artesanal.
Além dos avanços tecnológicos, o aumento da horizontalização da produção, ou seja, a presença de muitos produtores especializados na produção de componentes para a indústria de móveis, também vem contribuindo para a flexibilização da produção, assim como para a redução dos custos industriais e o aumento da eficiência da cadeia produtiva. Tanto na Europa como nos Estados Unidos verifica-se grande concentração da produção final nas grandes empresas, enquanto que as pequenas e médias especializam-se no fornecimento de partes de móveis ou atuam em determinados segmentos do mercado.
Paralelamente, a introdução de novas matérias-primas além das tradicionais madeiras nobres - cuja comercialização, devido a preocupações ambientais, encontra-se hoje restrita - também vem influenciando tanto o processo produtivo como o mercado consumidor. Entre as matérias-primas mais usadas nos últimos anos destacam-se o medium-density fiberboard (MDF), diversos materiais para revestimento e madeiras reflorestáveis, como o eucalipto e o pinus, que vem sendo introduzido no setor moveleiro em algumas regiões do Brasil.
Na Malásia, Indonésia, Filipinas e Ceilão já surgem móveis feitos de seringueira e até de fibra de bananeira. Com o significativo desenvolvimento da tecnologia moderna, os grandes empecilhos ao uso de madeiras menos nobres foram sendo eliminados, como, por exemplo, no caso do pinus, cujos nós, que o tornam pouco atraente, são facilmente retirados com uma otimizadora ótica de corte. São notáveis, também, os progressos adquiridos nas técnicas de acabamento que permitem fazer com o pinus, por exemplo, móveis de ótima apresentação. A própria norma ISO-14000 vem inibindo o mercado de móveis confeccionados com madeira de lei e estimular o uso de madeira de reflorestamento, que parece ser uma tendência a ganhar força no mercado mundial e para a qual a indústria brasileira revela condições de competitividade.
A variedade de matérias-primas trouxe consigo uma outra tendência: a de misturar diferentes materiais na confecção do móvel, prática que, em geral, barateia o custo final, mantendo o mesmo patamar de qualidade. Por exemplo, é mais recomendável utilizar o MDF nas partes frontais do móvel, que requerem design mais trabalhado e, portanto, maior usinagem, enquanto para os fundos usa-se a chapa dura e para as prateleiras e laterais o aglomerado. Assim, os diversos tipos de materiais são complementares uns aos outros, e não concorrentes entre si. O sofisticado design do móvel italiano, em geral, mistura metais, madeira, vidro, pedra, couro, entre outros materiais.
Todas as transformações acima tiveram grande influência sobre o mercado consumidor, colaborando para a sua expansão. A massificação do consumo ocorreu em muitos segmentos da indústria moveleira, especialmente no de móveis lineares (retilíneos) confeccionados a partir de painéis de madeira reconstituída. Nesses segmentos, o ciclo de reposição de móveis por parte dos usuários sofreu forte redução, principalmente nos países desenvolvidos, aumentando o dinamismo da indústria, ou seja, aos poucos os móveis vêm perdendo a característica de bens duráveis de longa duração.
Ademais, o novo estilo de vida da sociedade moderna, que passou a priorizar maior funcionalidade e conforto, introduziu novos conceitos ao projeto do produto. Parcela crescente dos móveis comercializados passou a ser projetada de forma que qualquer cidadão não tenha dificuldades na montagem - ready to assemble e do it yourself -, eliminando a figura do montador e, com isso, barateando o produto. Essa é uma tendência típica nos Estados Unidos e alguns países da Europa, onde a funcionalidade do produto é um atributo essencial. Além disso, esse tipo de móvel, ao baratear também o frete, obtém uma grande vantagem no comércio internacional.
Há países, ainda, como a Itália, que procuram distinguir seus produtos através do design, ou seja, perseguem uma estratégia de diferenciação do produto, conseguindo assim obter uma renda diferencial advinda da exclusividade. O mesmo não ocorre num mercado em que a concorrência se dá via preços e se comercializa um produto padrão. Aqui, o produtor individual não tem forças para influir nos preços de mercado. Sua sobrevivência depende da sua eficiência.
Outros países vêm se especializando em segmentos do mercado ainda pouco explorados, como é o caso de Taiwan, que tem forte presença no comércio internacional e vem desenvolvendo móveis em metal, com maior valor agregado, em pequenos volumes e grande diversidade de estilos. Nesse segmento, a obtenção de patentes para novos estilos é mais fácil quando a comparação é feita com os móveis de madeira, que possuem maior número de estilos já patenteados. Ademais, a alta flexibilidade da produção é viabilizada pela existência de muitos fornecedores de partes e componentes.
As estratégias de diferenciação do produto são muito importantes, mas o preço final permanece como um importante fator de competitividade no setor. Na medida em que a indústria reduziu preços, os móveis foram perdendo o seu anterior caráter de bens de luxo, o que resultou no declínio do ciclo de reposição. As fortes tendências para o futuro são de um tipo de móvel prático, padronizado e confeccionado, principalmente, com madeira de reflorestamento, de baixo custo.
Evolução do faturamento da Indústria de móveis no Brasil
1994 - R$ 3,7 bilhões (móveis de madeira)
1995 - R$ 3,9 bilhões (móveis de madeira)
1996 - R$ 4,6 bilhões (móveis de madeira)
1996 - R$ 6,2 bilhões
1997 - R$ 6,2 bilhões
1998 - R$ 7,4 bilhões
1999 - R$ 7,3 bilhões
2000 - R$ 8,8 bilhões
2001 - R$ 9,7 bilhões
2002 - R$ 10,3 bilhões
(60% referem-se a móveis residenciais, 25% a móveis de escritório e 15% a móveis institucionais, escolares, médico-hospitalares, móveis para restaurantes, hóteis e similares).
Maio/2003 |