Em cinco décadas, a população mundial pulará de 6 para 9,5 bilhões de habitantes e o consumo de madeira subirá quase na mesma proporção do crescimento populacional. O consumo médio mundial é de 0,67 m3 / ano/ pessoa e as estimativas mais recentes dão conta que a taxas de consumo estão crescendo de 1,2 a 3,4% ao ano. Se tais estimativas estiverem corretas, o consumo mundial em 2010 deverá ser da ordem de 5,9 bilhões de m3; analogicamente, é possível considerar que isto significa uma disponibilidade de 590 milhões de hectares de florestas plantadas, a uma taxa de crescimento de 10 m3 / ha / ano. O consumo médio individual brasileiro é de 0,83 m3 / ano, a uma taxa de consumo de 3% e um crescimento setorial variando entre 6 a 8%. É inquestionável o potencial que o Brasil detém para atender à demanda do mercado mundial, pois os seus 5 milhões de hectares de florestas plantadas representam menos de 1% da área demandada.
O Brasil consome atualmente 350 milhões de m3/ ano, o que significa 8% do consumo mundial de madeira. Os reflorestamentos localizados nas regiões Sudeste e Sul do País têm sido principal fator de competitividade de novos projetos industriais, oferecendo grandes volumes de madeira a baixo preço. Estudos mais recentes indicam que existem no País 4,6 milhões de hectares de florestas plantadas, sendo 1,7 milhões do gênero Pinus e 2,9 milhões do gênero Eucalyptus, o que corresponde, por sua vez, a 50% do total de florestas plantadas de Eucalyptus em todo o mundo( aproximadamente 6 milhões de hectares). A maioria dos plantios está localizada nas regiões Sudeste e Sul do País.
Os reflorestamentos localizados nas regiões Sudeste e Sul do País têm sido principal fator de competitividade de novos projetos industriais, oferecendo grandes volumes de madeira a baixo preço, mas estudos indicam que, a médio prazo, a situação apresentará uma mudança drástica. A maior parte dos reflorestamentos existentes encontra-se comprometida com os programas de desenvolvimento dos setores de celulose e papel, bem como da indústria siderúrgica e, atualmente, estão servido, também, de base para atender o setor industrial de madeira sólida
A despeito da existência de muitos sucedâneos, a madeira tem conservado muitos usos, principalmente nos países industrializados, em virtude de suas propriedades e características quase insubstituíveis, como beleza, grande resistência mecânica em relação ao peso, facilidade de uso, baixa condutibilidade térmica e baixa demanda de energia para sua conversão em produtos acabados. Outros produtos alternativos, como o aço, alumínio e plástico, no entanto, têm tentado ocupar os seus espaços, embora tais materiais sejam comprovadamente restritivos dos pontos de vista ambiental e estratégico.
Para o caso específico do Brasil, o eucalipto possui um caráter estratégico, uma vez que a sua madeira é responsável pelo abastecimento da maior parte do setor industrial de base florestal. Basta citar alguns números para se avaliar quão importante é a sua participação na economia nacional. Da madeira de eucalipto, atualmente, se produzem, por ano, 6,3 milhões de toneladas de celulose, representando mais de 70,0% da produção nacional; número também impressionante é o setor de carvão vegetal, com uma produção anual de 18,8 milhões de metros cúbicos, representando mais de 70,0% da produção nacional; outro setor importante é o de chapa de fibra, com uma produção anual de 558 mil metros cúbicos, representando 100,0% da produção nacional; o setor de chapas de fibra aglomerada produz 500 mil metros cúbicos, representando quase 30,0% da produção nacional; o setor de madeira serrada já atinge 500 mil metros cúbicos por ano; outros setores, como o de embalagens, postes, construção civil, áreas de lazer e lazer e usos rurais, consomem mais de 10 milhões de metros cúbicos por ano. Atualmente, já não se discute a importância do gênero e definitivamente ele está consagrado como fornecedor de matéria-prima para diversos fins industriais. O eucalipto se apresenta como alternativa real para atender diversas demandas da sociedade quanto ao consumo de produtos florestais, exigindo, porém, o aprofundamento das questões relacionadas à sua sustentabilidade. O Brasil tem hoje uma grande área plantada de eucalipto (quase 3 milhões de hectares) e detém o maior índice médio de produtividade (40m3 por hectare/ano). Por ser uma árvore de crescimento rápido, com ciclos de plantação de 6 e 8 anos – e de fácil adaptação às mais diferentes condições de clima e solo, o eucalipto passou a ser uma alternativa racional contra a devastação das florestas nativas em diversas regiões do planeta.
As espécies de eucalipto mais plantadas no mundo são: Eucalyptus grandis, E. saligna, E. urophylla, E. camaldulensis, E. tereticornis, E. globulus, E. viminalis, E. deglupta, E. citriodora, E. exserta, E. paniculata e E. robusta. No Brasil, as espécies mais utilizadas são o Eucalyptus grandis( 55% ), Eucalyptus saligna( 17% ), Eucalyptus urophylla( 9% ), Eucalyptus viminalis (2 %), híbridos de E. grandis x E. urophylla( 11% ) e outras espécies( 6%.
As espécies usadas em reflorestamento apresentam, entre outras vantagens, alta produtividade, redução da idade de corte, segurança de abastecimento, homogeneidade de matéria-prima, custo competitivo, produção regionalizada, além da possibilidade de múltiplos usos da floresta e seus produtos.
Apesar de a maior parte dessas florestas estarem comprometida na produção de madeira para os denominados usos tradicionais, como celulose, papel, carvão vegetal, lenha e chapa de fibras, espera-se que uma parcela possa ser imediatamente destinada a outras aplicações madeireiras. As experiências em serraria, marcenaria, movelaria, lâminas e compensados, bem como na construção civil, são muito pequenas. As poucas informações disponíveis são fruto de experiências muito restritas, com limitações sérias de suas extrapolações, uma vez que , na maioria dos casos, não se tem um controle rigoroso da matéria-prima e dos parâmetros relativos ao seu processamento. Além disso, a maior parte da madeira que tem sido processada em serrarias provém de povoamentos florestais que não foram inicialmente planejados para a obtenção de uma matéria-prima destinada a esta finalidade.
Eucalipto para a Produção de Móveis
As principais características da árvore que provocam impacto direto na produtividade da unidade industrial são: a) diâmetro; b) retidão; c) circularidade; d) ausência de nós; e)ausência das tensões internas de crescimento. Segundo o mesmo autor, as principais propriedades físicas e mecânicas da madeira que provocam o impacto na qualidade do produto final a ser produzido são identificadas como: a) resistência mecânica; b) massa específica aparente; c) estabilidade dimensional. Definidas as características e propriedades da madeira é necessário identificar quais os processos tecnológicos a serem utilizados.
Os principais impactos tecnológicos nas características das madeiras passam pelo melhoramento florestal, práticas silviculturais e de manejo, além das etapas de processamento primário e secundário. Existe unanimidade entre os pesquisadores da área de produtos florestais que a qualidade da madeira para determinados usos pode ser melhorada, modificada ou ter alguns fatores minimizados ou controlados, em considerável extensão. Atualmente, busca-se a interação entre os atributos desejados da matéria-prima e a qualidade do produto final, através do trabalho conjunto dos setores de produção florestal e industrial. A integração entre silvicultores e engenheiros e técnicos da área de processamento é por demais necessária
É reconhecida a grande importância do melhoramento genético para o desenvolvimento do setor florestal. As possibilidades de contribuição do melhoramento genético em algumas características são:
A) Tensões de crescimento - Inúmeros esforços, no momento estão concentrados na busca de material resistente às rachaduras e aos defeitos presentes no processo de secagem.
B) Massa específica - grande variabilidade fenotípica e alta herdabilidade.
C) Orientação das fibras - A espiralização das fibras é um fator que gera perdas consideráveis durante as operações de desdobro e secagem é possível de ser melhorada geneticamente.
D) Madeira juvenil - depende fundamentalmente da idade da árvore, bem como das condições locais e do manejo silvicultural; A madeira de grande diâmetro não é necessariamente madeira adulta.
E) Bolsas de resina - principais fatores de desqualificação ou rejeição da madeira de Eucalyptus, principalmente para usos externos ou estruturais
F) Podridão do cerne -É um problema que ocorre, principalmente, em locais com alta umidade relativa e se caracteriza por apresentar a região da medula podre, desqualificando a madeira para uma série de utilizações.
G) Coloração da madeira - existem variações de grande magnitude entre espécies e entre indivíduos nesse aspecto
H) Nós - busca-se a seleção de árvores com boa desrama natural
I) Colapso - deformação durante o processo de secagem
J) Outras características - textura, trabalhabilidade, comportamento na fresagem, colagem e em situações de esforço, como pregos, parafusos e encaixes.
As principais estratégias do melhoramento para a qualidade da madeira são: A) Hibridação; B) Híbridos férteis e C) Clonagem em escala comercial
Técnicas Silviculturais
Até o presente momento, a grande experiência silvicultural brasileira se resumiu na produção de florestas jovens, de ciclo curto e de rápido crescimento, visando ao atendimento dos setores de celulose, energia e chapas duras. O resultado de qualquer análise sobre outras aplicações da madeira de eucalipto no Brasil (serraria, movelaria, marcenaria, lâminas, compensados e construção civil) demonstra que as experiências são muito pequenas. Toda a madeira de eucalipto atualmente disponível foi projetada para a sua utilização nos usos anteriormente mencionados, e, ainda, não se tem a madeira ideal para a indústria moveleira.
Recomenda-se um manejo de florestas com ciclos longos, superiores a 20 ou 30 anos, para obtenção de toras grossas e cernes coloridos, além de uma maior estabilidade da madeira. A produção de florestas com usos múltiplos deve obedecer a um planejamento e devem ser compatibilizados os aspectos operacional-econômico e o silvicultural-ecológico, fazendo-os atuar em sinergia.
Os espaçamentos mais comuns para uso múltiplo estão entre 6 e 9m2 por planta e depende da espécie, condições de sítio, técnicas de colheita, idade de corte, entre outros fatores. Espaçamentos mais amplos permitem um crescimento de árvores livres de competição, produzindo árvores mais desenvolvidas, com ramos mais grossos e mais persistentes, influenciando na idade da colheita e na qualidade da madeira, com maior presença de nós.
A madeira de eucalipto se revela como uma matéria-prima estratégica para o desenvolvimento industrial brasileiro. O tratamento adequado à sua madeira é o grande segredo de sua versatilidade. Dados publicados pela FAO mostram que, nos próximos anos, haverá um descompasso crescente entre oferta e demanda de madeira no mercado internacional A situação privilegiada de que o Brasil desfruta atesta a sua grande vocação florestal que pode suportar a industria de base, em termos competitivos.
Prof. José de Castro Silva – DEF/ UFV
Prof. Jorge Luis Monteiro de Matos – UFPR
Maio/2003 |