As máquinas de colheita e transporte florestal apresentam hoje avanços na eletrônica e automação, com a introdução de novos sistemas de controle suportados por softwares e novas unidades de monitoramento dos sistemas.
Em uma análise sobre o desenvolvimento tecnológico de máquinas e equipamentos de colheita florestal no Brasil, nas últimas décadas, constata-se uma evolução bem distinta em épocas que marcaram uma necessidade de aumento de produtividade e otimização de custos. A partir do ano 2000 as máquinas mais utilizadas pela maioria das empresas para corte e processamento passaram a ser os novos modelos de cabeçotes e máquinas base, além de cavaqueadores. Para extração os novos modelos de Forwarders, Clambunks, skilines e track skidder e para carregamento os novos modelos de gruas florestais com joysticks e garras montadas em escavadeiras.
O principal objetivo da mecanização florestal é a obtenção do menor custo de produção no processo de colheita florestal, que é composto por corte, extração e transporte. Entre os benefícios da mecanização estão: redução de mão de obra; facilidade de gerenciamento do processo, aumento da produtividade, aumento da qualidade, aumento da eficiência, redução dos custos operacionais, redução dos impactos ambientais, possibilidade de operação 24 horas em condições climáticas, redução dos acidentes de trabalho e melhores condições ergonômicas para o trabalhador.
A tecnologia empregada nas máquinas atuais continua se desenvolvendo com uma maior aplicação da mecatrônica, avanço na eletrônica e automação com a introdução de novos sistemas de controle suportados por softwares e novas unidades de monitoramento dos sistemas.
A absorção da alta tecnologia das máquinas pelos supervisores, mecânicos e operadores, está diretamente ligada ao esforço realizado na capacitação desses profissionais. Quando não é realizado este esforço a alta tecnologia se torna ociosa.
O foco principal do momento é o treinamento, priorizando a capacitação dos mecânicos e supervisores de operação e manutenção. O realinhamento do foco é fundamental na criação de condições para enfrentar os avanços tecnológicos impostos pelo mercado.
Nos anos recentes houve uma identificação das competências necessárias para ser operador, incluindo a mobilização de conhecimentos, habilidades e atitudes profissionais necessárias ao desempenho de atividades, segundo padrões de qualidade e produtividade requeridos pela natureza do trabalho. As competências devem compreender aspectos como: capacidades técnicas, organizativas, sociais e metodológicas.
As capacidades técnicas permitem operar eficientemente objetos e variáveis que interferem diretamente na criação do produto. Implicam o domínio de conteúdos no âmbito do trabalho e de conhecimentos e habilidades.
Capacidades organizativas são as que permitem coordenar as diversas atividades de trabalho, participar na organização do ambiente e administrar racional e conjuntamente os aspectos técnicos, sociais e econômicos implicados, bem como utilizar de forma adequada e segura os recursos materiais e humanos colocados a disposição.
Sociais são as capacidades que permitem responder a relações e procedimentos estabelecidos na organização do trabalho e integrar-se com eficácia, em equipe horizontal ou vertical, cooperando com outras pessoas de forma comunicativa e construtiva.
As capacidades metodológicas permitem à pessoas responder a situações novas e imprevistas que se apresentam no trabalho, com relação a procedimentos, seqüências, equipamentos e serviços, encontrar soluções apropriadas e tomar decisões de forma autônoma.
Além disso, um dos requisitos importantes para operar o equipamento florestal são as habilidades psicomotoras, de percepção sensorial e cognitiva. Outros requisitos pessoais especiais importantes para operar o equipamento de colheita florestal são: atenção concentrada, ritmo de trabalho, iniciativa, capacidade de adaptação, inteligência não verbal, bom trato interpessoal, flexibilidade de planejamento imediato, rapidez e exatidão de cálculo, autoconfiança e outros.
Além das características o operador precisa ter conhecimentos como: sistemas de colheita florestal, micro planejamento e preservação do meio ambiente. Precisa entender os princípios da mecânica, da hidráulica, da eletricidade, da eletrônica e da mecatrônica, bem como ter capacidade de realizar pequenos reparos e diagnosticar problemas nessas áreas. Na automação é necessário que saiba fazer ajustes, regulagens e programação da máquina. É ideal que tenha conhecimento em informática, logística, economia e finanças.
Estas referências, porém, devem ser usadas como estabelecimento de metas progressivas ao colaborador, com o apoio da empresa. A implantação desse conceito ainda é um desafio para a maioria das empresas.
A competência do operador deve ser avaliada através do estabelecimento de critérios de desempenho que considerem a produtividade e a produção, envolvimento com a manutenção da máquina, atitude adequada com a tecnologia da mecanização florestal.
Logística e manutenção
A gestão de manutenção e operação para equipamentos mecatrônicos deve considerar, em primeiro lugar, a integração dos departamentos de manutenção e operação. Para articular os departamentos é preciso um planejamento prévio, seguindo alguns critérios, entre eles a capacitação e treinamento dos envolvidos, principalmente dos mecânicos, supervisores e operadores.
É preciso uma boa estrutura de campo com abastecimento ágil, um bom estoque de peças, disponibilidade e rapidez de suprimento. São importantes também a estrutura ferramental, o sistema de gestão de informações da operação e a manutenção da colheita florestal e softwares de controle e monitoramento.
No planejamento de gestão de manutenção e operação de máquinas de colheita florestal todo o planejamento deve ser realizado supondo que a máquina está quebrada na área de colheita de maior distância e difícil acesso.
O sucesso do processo de mecanização da colheita florestal é a alta eficiência da máquina. A logística de peças de reposição é um fator determinante neste processo.
O setor de logística deve contar com pessoas que possam administrar o estoque de forma científica utilizando ponto de pedido, lote econômico de ressuprimento, custo de ordem de compra, estoque de segurança, análise de retorno do investimento em peças de reposição e outros.
Maquinário da última década
Muitas empresas, principalmente as pequenas e médias ainda enfrentam dificuldades para acompanhar os avanços tecnológicos, mas contam com exemplos de empresas que superam essa fase com sucesso. De 1990 a 2000 a tecnologia mais usada pela maioria das empresas para corte e processamento foi: feller bunchers de discos – Delimbers Slachers e Harvesters de pneu e máquinas base de esteiras com cabeçotes processadores. Para extração as Skidders e Forwarders e para o carregamento as gruas florestais com Joysticks e Garras montadas em escavadeiras.
Neste período ocorreu a fabricação dos Forwarders Valmet 636 e Harvester 601 no Brasil com componentes nacionais e importados. Com a abertura de mercado pelo governo brasileiro ocorreu um acréscimo no número de empresas que passaram a utilizar equipamentos importados de alta tecnologia agregada na colheita florestal.
Foram adotados os sistemas de madeira longa, tree lenght system oriundos da América do Norte e o sistema de madeira curta Cut-to lenght dos países Escandinavos. As máquinas eram de alta tecnologia, e seus conjuntos grua, motor, transmissão hidrostática, bombas hidráulicas de vazão variável, comandos hidráulicos de alta sensibilidade, solenóides pilotados por joystick hidráulicos e eletrônicos, válvulas proporcionais com características de curso e corrente – força x corrente e controles de pressão e vazão.
As tecnologias dos cabeçotes processados eram os sistemas computadorizados de controle monitorados por unidades eletrônicas, sensores de comprimento, diâmetro de avanço do sabre. Os cabeçotes também agregavam sistemas de monitoramentos de falhas (Trouble shooting) e de medição de volume.
Neste cenário de evolução tecnológica os pesquisadores constataram que a maioria dos operadores não absorveu a tecnologia, por causa da grande velocidade da introdução das máquinas mecatrônicas de alta tecnologia no mercado. Isso afetou o chamado sistema “homem-máquina”.
O desempenho das máquinas neste estágio necessitava da combinação operativa entre homem e a máquina, com uma integração entre o operador e a máquina para possibilitar todo o potencial de produtividade que a alta tecnologia proporciona à máquina.
Até 1990, para corte e processamento, a maioria das empresas utilizam moto serras, Feller Bunchers tipo triciclos de tesoura e de sabre com o auxílio de grades para o desgalhamento. Para extração, os mais usados eram os tratores agrícolas com pinças hidráulicas denominados Mini skidders e os tratores autocarregáveis. Para o carregamento, as gruas florestais montadas em tratores agrícolas eram as mais usadas.
A grande diferença das máquinas utilizadas até 1990 em relação as da última década é que as mais recentes necessitaram novas formas de trabalhar e pensar, exigindo uma nova postura do homem, uma mudança cultural.
Gap tecnológico
A desproporção entre tecnologia e conhecimento chama-se Gap tecnológico, problema que teve origem na década passada e ainda é comum nos dias atuais. As razões do Gap tecnológico são: velocidade do desenvolvimento tecnológico das máquinas; velocidade do ciclo de mudança das máquinas de baixa tecnologia para as de baixa tecnologia; máquinas não adaptadas às condições operacionais brasileiras; sistema operacional com pouca informação sobre as máquinas; treinamento da mão-de-obra com alto custo e grande tempo; baixo nível de escolaridade e inexistência de centros de treinamentos adequados à nova realidade, entre outras.
As conseqüências do Gap tecnológico são: uma baixa na eficiência operacional, na produtividade, na disponibilidade mecânica e na satisfação com a mecanização. E, alta no custo de manutenção, no consumo de óleo diesel, no custo operacional e na frustração com o processo de mecanização.
As características da operação com Gap tecnológico do processo de mecanização florestal no Brasil demandaram uma mudança no perfil dos operadores. A partir desse período iniciaram experiências na tentativa de definição do perfil do operador. Houveram várias formas bem como a promoção dos operadores de baixa tecnologia, contratação de técnicos para operar as máquinas, assessoria de psicólogos e outros. Foi constatado que uma das variáveis do sucesso no processo de mecanização da colheita florestal é o operador mantenedor (operador ideal).
Porém, a introdução no mercado nacional de equipamentos florestais com alta tecnologia gerou o GAP tecnológico em toda a pirâmide dos envolvidos no processo de colheita florestal, incluindo supervisores, gerentes e diretores.
A primeira tentativa de redução deste problema ocorreu no topo da pirâmide, através de uma busca dos conhecimentos da aplicação destas máquinas por parte dos diretores e gerentes. Esses profissionais começaram a participar de seminários e feiras nacionais e internacionais, como também na visitação de empresas fabricantes e usuárias de equipamentos.
Logo surgiu a decisão de focar o operador, copiando o modelo operador mantenedor, em vigor nos países Escandinavos naquele período, acreditando que os fornecedores de equipamentos seriam suficientes para oferecer e realizar o suporte de assistência técnica. Foi constatado que os operadores aprenderam a operar num curto prazo de tempo. Porém, não solucionou os problemas de eficiência operacional e disponibilidade mecânica. Isso porque não foi considerado que nos países escandinavos naquele período estavam na terceira geração de operadores, sendo empresas familiares e 60% dos operadores eram os próprios donos das máquinas.
Tendências tecnológicas
Os fabricantes das máquinas usadas na colheita florestal no Brasil tendem a dar continuidade de evolução e incorporação de sistemas de controle suportados por softwares, além de avanços nos sistemas de auto diagnóstico Devem apresentar melhorias também, na comunicação e nos controles com novos sistemas de monitoramento das atividades das máquinas e nos sistemas de transmissão de informações.
Estima-se uma evolução nos avanços tecnológicos da computação, da eletrônica e de elementos de máquinas e hidráulica. Outra preocupação é a integração das máquinas com a preservação do ambiente e a certificação. Para isso, é preciso usar alguns cuidados como: óleo hidráulico biodegradável (vegetais e sintéticos); alarmes preventivos contra incêndios; menores taxas de emissão de gases poluentes, menor compactação do solo; maior qualidade no povoamento remanescente, menor altura do toco, menos erosão e outras.
O cuidado com a saúde do operador também é fundamental, evitando danos ao trabalhador e desperdício para a empresa. Por isso, a ergonomia das máquinas é um fator preventivo fundamental. Detalhes como a redução dos ruídos, a melhoria da climatização e iluminação, maior segurança através do monitoramento de situações inseguras, como operações em declividades, tendem a decidir a escolha de uma máquina para colheita florestal.
Maio/2003 |