Os incêndios acidentais na Amazônia consomem de 0,2% a 9,3% do Produto Interno Bruto (PIB) da região, ou algo entre US$ 107 milhões e US$ 5 bilhões. Esse é o custo de pastos e cercas destruídas, madeira desperdiçada, CO² lançado na atmosfera e internações por doenças respiratórias. >
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia realizaram um estudo que acabou chegando ao cálculo de prejuízos causados na Amazônia com os incêndios acidentais. Para Daniel Nepstad, 44, ecólogo americano que liderou a pesquisa no Ipam, a estranheza provocada pela diferença entre 0,2% e 9,3% do PIB deve ser entendida no contexto. Nepstad esclarece que essa distância decorre também, em grande parte, da variação interanual nas condições da floresta. Em anos de El Niño (anormalidade na temperatura do Pacífico que afeta o clima global e causa secas na Amazônia), por exemplo, queima-se uma área muito maior da floresta amazônica, e o intervalo se estreita.
O relatório Ipea/Ipam não considerou queimadas intencionais, como as usadas para abrir áreas de floresta para agropecuária, ou para limpar pastos. Nesses casos, o fogo é considerado um benefício, por paradoxal que pareça. Só foi computado como dano econômico o fogo acidental, aquele que atinge áreas de pastagens e trechos de floresta que o agricultor não queria queimar (cerca de 45% do total danificado).Quando isso ocorre, perdem-se tanto benfeitorias (como cercas) quanto madeiras nobres na parte florestada da propriedade.
Usaram-se para o cálculo valores como US$ 5 de madeiras comerciais por hectare de mata (ou 10 mil m²), o que totaliza US$ 13 milhões em anos de El Niño, quando o fogo engole em média 26 mil km² de florestas (sem contar o incêndio de Roraima em 1998).
Para cercas, foram estimados US$ 1.400/km. O custo do pasto queimado acidentalmente foi calculado pelo preço de aluguel de pastagens, que vai de R$ 37/ha (TO) a R$ 89/ha (AM).
Incêndios e queimadas da Amazônia também causam 2,5% das emissões mundiais de CO2, contribuição considerável para o efeito estufa (aquecimento da atmosfera global). Se o Brasil reduzi-las, poderia tentar vendê-las no mercado internacional de emissões que está surgindo. O estudo calcula que o preço ficará entre US$ 3,50 e US$ 20 por tonelada.
O estudo foi realizado em aproximadamente dois anos pelo Ipam, em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), instituição ligada ao governo federal, e o WHRC - Woods Hole Research Center, dos Estados Unidos. A novidade do relatório, está no fato das análises dos incêndios terem sido feitas por meio de sobrevôos de avião, entrevistas detalhadas com 202 proprietários rurais e imagens de satélites. Normalmente, as emissões de carbono são medidas somente pela observação das áreas desmatadas. Os desmatamentos na região Amazônica são responsáveis em média pela emissão de 200 milhões de toneladas de carbono por ano, segundo a pesquisa.
A dependência do uso do fogo no sistema agrícola da Amazônia tem causado perdas econômicas desnecessárias à região. Por isso, uma das opções de cultivo que já está sendo implementada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é o plantio direto, prática que usa a mecanização para o preparo do solo, desenvolvida especialmente para a área, muito propensa à erosão. A técnica impede que o solo fique totalmente descoberto e a lavoura é cultivada entre fileiras de capim.
Segundo informações do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) está sendo negociada uma opção para liberar crédito a esse produtor. A iniciativa é do Ipam em conjunto com a Federação dos Trabalhadores da Agricultura da Amazônia (Fetagri). A linha de crédito estará disponível por meio do Banco da Amazônia (Basa), com recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO) e de outras instituições financeiras.
Prejuízos
Entre 1996 e 1999, as perdas médias de pastagens e cercas com os incêndios foram de US$ 54 milhões por ano, enquanto as de madeira foram de US$ 7 milhões. Na propriedade, essas perdas significaram, no período, 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) da Amazônia e 0,6% do PIB da produção agropecuária regional por ano. As doenças respiratórias provocaram em média perdas de US$ 6 milhões anuais, causando de quatro mil a 13 mil internações por ano, considerada apenas a rede pública de saúde.
No total, a média das perdas anuais provocadas por incêndios - emissão de carbono, perda de pastagens e de cercas e doenças , ocorridos na região Amazônica, nos últimos quatro anos, somam US$ 102 milhões a US$ 5 bilhões. O que representa entre 0,2% e 9,3% do PIB da Amazônia ou de 2% a 7,9% do PIB agropecuário da região.
Os danos provocados pelo fogo, tais como, a perda da biodiversidade nas florestas que sofrem incêndio, impactos nos rios e igarapés, erosão do solo e os danos causados pela exportação de fumaça para outras regiões não foram possíveis de ser contabilizados. O maior prejuízo vem mesmo das emissões de CO², por representarem danos à economia global.
Em 1998, as emissões de carbono, significaram um prejuízo econômico para o Brasil de US$ 4,7 bilhões, em média, conforme mostra a pesquisa. Em 1995, o valor perdido com as emissões foi de US$ 290 milhões em média. As comparações seguem tendo como referência o fenômeno El Niño.
Os incêndios florestais na Amazônia estão entre os maiores responsáveis pela emissão de carbono na atmosfera (o outro é o desmatamento), além de causarem prejuízos financeiros de porte. O estudo estima que os incêndios na floresta Amazônica ocorridos em 1998, ano do fenômeno El Niño, lançaram no ar cerca de 250 milhões de toneladas de carbono, em média. O que significa o mínimo de 36 milhões de toneladas e o máximo de 472 milhões de toneladas. Em 1995, ano em que não houve o El Niño, foram liberadas em média 16 milhões de toneladas de carbono - mínimo de três milhões e máximo de 29 milhões de toneladas. Na avaliação não está incluída a liberação de carbono pelo desmatamento ou corte raso de florestas.
O El Niño é uma conseqüência da mudança climática global que torna o clima mais seco, propiciando a propagação mais rápida do fogo nas matas. O fogo é usado pelos agricultores na Amazônia para converter a mata derrubada em cinza, a fim de preparar a terra para o plantio e combater as plantas invasoras de pastagens.
O relatório aponta também que a área de incêndio florestal, em 1998, chegou a cerca de 30 mil km² ou quase duas vezes a área desmatada anualmente na região Amazônica. Essa avaliação não incluiu o grande incêndio de Roraima, que aconteceu nesse mesmo ano, onde 13 mil km² de floresta foram incendiados.
A pesquisa ajustou o foco nas propriedades agrícolas, onde as perdas mais significativas são causadas pelo fogo que atinge as áreas vizinhas, quase sempre florestadas. Entre essas perdas, contabilizou os prejuízos associados com a queima acidental de pastagens - que implica no arrendamento de outras pastagens até que o pasto se recupere , de cercas e de floresta ou perda de madeira comerciável. |