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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°69 - FEVEREIRO DE 2003

Não-Madeiráveis

Produtos Florestais não madeiráveis incrementam o setor

A sustentabilidade dos não-madeireiros depende da taxa de extração com a capacidade de regeneração



A viabilidade da economia do extrativismo amazônico depende do processo de domesticação destes produtos. Isso significa que ao comercializar produtos alternativos como óleo e frutas da Amazônia é preciso gerar estrutura para sustentar a demanda futura destes produtos. Segundo o pesquisador da Embrapa Amazônica Oriental, Alfredo K. O. Homma é falsa a concepção de considerar todo produto não-madeireiro como sustentável.

Nem sempre a sustentabilidade biológica garante a sustentabilidade econômica e vise-versa, e o crescimento do mercado tende provocar um colapso da economia extrativista pela incapacidade de atender a demanda. O pesquisador lembra que hoje, ninguém ta comprando laranja, banana, feijão verduras, carne bovina, frangos e outros produtos provenientes do extrativismo ou da caça, porque foram todos domesticados. Embora exista dezenas de produtos, como a pesca, a madeira, o palmito e o fruto do açaí, a castanha-do-pará, entre outros, que, devido ao seu grande estoque, ainda tem a oferta totalmente extrativista, é preciso pensar na regeneração futura desse produto.

Vários extrativos têm sido afetados com a substituição por produtos sintéticos, como as ceras(carnaúba), linalol sintédico (essência de pau rosa), DDT (timbó), chicles sintéticos, borracha sintética, entre outros. A dispersão dos recursos extrativos na floresta faz a produtividade da mão-de-obra e da terra serem muito baixa, fazendo com que essa atividade seja viável pela inexistência de alternativas econômicas, de plantios domesticados ou substitutos sintéticos.

As reservas extrativistas e suas derivações são consideradas como a grande idéia ambiental brasileira, como maneira de evitar o desmatamento na Amazônia, melhorar opção de renda e emprego, proteção da biodiversidade, entre outras atribuições. Para o pesquisador Homma, isso é um equívoco, uma vez que o ato de desmatar constitui de um reflexo da situação econômica do extrator. Se em termos relativos, os preços de produtos agrícolas forem superiores aos dos produtos extrativos, a tendência inevitável é proceder ao desmatamento para o plantio de roças e abandonar as atividades extrativistas.

A necessidade de sobrevivência obriga a adoção de procedimentos similares de agricultura de derruba e queima e da venda de madeira, inclusive castanheiras, em que o curto prazo torna-se mais importante que o longo prazo.

Pregar a volta ao passado, renegado os problemas do presente e esquecendo o futuro, constituiu o grande perigo das propostas em justificar o extrativismo vegetal na Amazônia. Para reduzir o desmatamento na Amazônia, muito mais do que a criação de reservas extrativistas, é necessário tecnificar a agricultura, aumentando a produtividade de terra e da mão-de-obra.

A opção maior, para se atingir o desmatamento zero na Amazônia, como querem a comunidade internacional e a sociedade brasileira, implica a utilização parcial em bases tecnificar a agricultura, de mais de 60 milhões de hectares que já foram desmatados, que representam mais que a superfície conjunta do estado do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

Mesmo se considerara o extrativismo vegetal como opção adequada, essa atividade, exigiria de 300 a 500 hectares por família, permitiria a ocupação de apenas 1 milhão de famílias em toda Amazônia, totalizando 5 milhões de pessoas. Como vivem na Amazônia cerca de 17 milhões de habitantes, 12 milhões teriam que se mudar para o outro local. Apesar dessa lógica absurda, a determinadas propostas internacionais baseadas na transformação de um quarto até um terço da Amazônia em reservas extrativistas.

Uma versão pessimista afirma que, em 2003, cerca de 95% da Amazônia estará desmatada. Em 1980, quando o Instituto Nacional de Pesquisa Espacial Inpe divulgou a primeira estimativa da área desmatada na Amazônia Legal, com base nas imagens do satélite Landsat MSS, referente a 1975, era pouco mais de 15 milhões de hectares em 2001. Mesmo com esse ritmo, o máximo que poderia alcançar seria dobrara a atual área desmatada, a tingindo cerca de 30% da Amazônia Legal.

A processo de urbanização da sociedade brasileira, em que apenas 18,78% da população é rural, prevalecendo tendências similares a Região Norte, com 30,30% , não haverá mão-de-obra suficiente para promover tamanho desmatamento.

Alguns pesquisadores afirmaram que as explorações de plantas medicinais, aromáticos, inseticidas e corantes naturais, sobre tudo apoiado no extrativismo vegetal, serão as grandes riquezas da Amazônia nu futuro. Um exemplo desse prognóstico afirma que em 2050 a Amazônia seria capaz de produzir 1,28 trilhões de dólares, equivalente a dois PIBs atuais do país. O valor da produção em dólares distribuir-se da seguinte forma: petróleo, 650 milhões; medicamentos e cosméticos, 500 bilhões; agricultura e extrativismo, 50 bilhões; minérios, 50 bilhões; carbono 19 bilhões; turismo 13 bilhões; e madeira 3 bilhões .

Riquezas Amazônicas

A possibilidade de explorar o extrativismo da Amazônia para gerar riqueza no futuro surgiu a partir da década de 80, com o que o pesquisador Homma, da Embrapa chama de “mito da biodiversidade”, baseado nas exportações de plantas medicinais, aromáticas, inseticidas e corantes naturais.

Esta hipótese remete os dois equívocos, um relacionamento com a possibilidade da destruição total da Amazônia, até 2030 e outro, de transformar a biodiversidade num pote de ouro no fim do arco-íris, como a redenção de todos os problemas econômicos.

Todos esses produtos da biodiversidade( animais e plantas) constituiu uma atividade econômica como outra qualquer no mundo. A transformação dos produtos da biodiversidade em riqueza vai depender da tecnologia, de investimentos no setor produtivo, do controle da cadeira produtiva, de mercado, entre outros.

No caso da Amazônia, a exploração deste produto da biodiversidade sempre pecaram pela formação de ciclos econômicos, o seu declínio e transferência de problemas e mazelas para o ciclo seguinte, com efeito retardado de C&T e baseado no uso predatório dos recursos genéticos.

Na Amazônia as exportações baseadas na extração de recursos naturais têm sido o alvo do seu comércio exterior desde os primórdios de suas ocupações. Estes produtos seguem a fase de expansão, estagnação e depois o declínio, decorrente do esgotamento, perda do poder monopólio e aparecimento de substitutos. Assim foi com u ciclo do cacau, que teve o pico máximo de participação na economia colonial, com 96,6% do valor das exportações (1736), a da seringueira como terceiro produto da pauta das exportações nacionais por 30 anos ( 1887 a 1917) e teve o pico máximo de participação em 1910, com 39,1% e, novamente, em 1945, por ocasião da segunda guerra mundial com 69,91% das exportações da Região Norte. O pau-rosa teve a sua participação máxima nas exportações da Região Norte, em 1955, com 16,11% e a castanha-do-pará, em 1956, com 70,57%.

Tomando como base o ano de 2000, o comportamento de cada unidade federativa da Amazônia com o mercado mundial é bastante heterogêneo. No caso do estado do Acre, apesar da ênfase ambientalista, as exportações de madeira (58,86%) e de cromo (25,68%), nióbio, tântalo e manganês superaram mais de 90% do valor das exportações. O valor das importações de petróleo representou 70% do total e, apesar disso, apresentou uma balança comercial positiva. As exportações de madeira e derivados predominam também em Rondônia (92,74%) e Roraima (88,21%).

A síndrome extrativa é importante para chamar atenção da Amazônia e para mudanças de mentalidade as sociedade brasileira ao processo em curso. Contribui fortemente para a formação histórica, econômica, social e política da Região. Dessa forma, como modelo de desenvolvimento, apresenta grandes limitações para a Amazônia e essa mercadoria não pode ser considerada como mercadoria de troca.



Alfredo K. O Homma - Embrapa Amazônia Oriental, Belém, Pará.

e-mail: homma@cpatu.embrapa.br