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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°59 - SETEMBRO DE 2001

Secagem

Secagem da Madeira de Eucalipto

Existe unanimidade entre os pesquisadores da área que a qualidade da madeira pode ser melhorada, modificada ou ter alguns fatores minimizados ou controlados, em considerável extensão, através de tratos silviculturais e, principalmente, do melhoramento genético.

É reconhecida a grande importância do melhoramento genético para o desenvolvimento do setor florestal. Embora os resultados experimentais sobre técnicas e métodos de melhoramento para as propriedades físicas, químicas e anatômicas sejam muito raramente citados pela literatura, é de consenso geral que a solução ou, pelo menos, a minimização dos problemas relacionados com a produção de madeira adequada ao uso industrial depende do desenvolvimento de programas específicos de melhoramento genético. Os progressos já alcançados, principalmente em produtividade, são expressivos e foram atingidos bons níveis de desenvolvimento tecnológico na produção, no processamento e na utilização da madeira de Eucalyptus proveniente de florestas jovens.

Atualmente, busca-se a interação perfeita entre a matéria-prima e a qualidade do produto final, através do trabalho conjunto dos setores de produção florestal e industrial. Dependendo do produto a ser obtido, as árvores terão que apresentar características adequadas e distintas, o que faz com que as técnicas e métodos de melhoramento empregados para celulose e carvão sejam bastante diferentes daqueles utilizados para a produção de lâminas ou móveis. Assim, para que se possa estabelecer um programa de melhoramento genético florestal é importante que o setor industrial tenha definido muito bem os parâmetros de qualidade e a sua grandeza, ideais para a obtenção de um determinado produto final.

Embora o gênero Eucalyptus represente uma alternativa potencial no abastecimento do setor industrial(serraria e laminação), sua madeira atual apresenta restrições, próprias e inerentes ao uso de florestas jovens, onde os níveis de tensões de crescimento se manifestam de forma mais destacada do que em florestas maduras. Outros aspectos como madeira juvenil, colapso, nós, empenamento, bolsas de resina constituem um obstáculo adicional ao uso da madeira de eucalipto na forma serrada ou laminada.



Melhoramento

É de fundamental importância o conhecimento da existência de variabilidade nas características de interesse e o nível de controle genético nas mesmas quando se considera o desenvolvimento de programas de melhoramento genético para determinada finalidade. A existência de variabilidade fenotípica entre espécies, procedências, famílias e indivíduos( clones) para as características de interesse e o forte controle genético envolvido na expressão da grande maioria dessas características asseguram a possibilidade de obtenção de madeira de alta qualidade para suprir as necessidades industriais, a partir da implementação de programas dessa natureza. Pode-se concluir, então, que se existe variabilidade e se a participação dos componentes genéticos na manifestação das características for expressiva é possível promover alterações desejadas nas características sob seleção.

A escolha da espécie é uma questão primária no planejamento da produção da matéria-prima, uma vez que as variações entre as espécies são de grande magnitude e facilmente percebidas. Ao se analisar o desenvolvimento e as características tecnológicas da madeira de um grupo de espécies de Eucalyptus é fácil perceber as grandes diferenças entre elas. Por isso, a escolha da espécie é a forma mais simples de exploração da variabilidade. As variações entre as procedências, ou origem das sementes da mesma espécie, podem ser significativas quanto às propriedades da madeira, adaptação e desenvolvimento. As procedências de Eucalyptus grandis, da região de Atherton, norte de Queensland, na Austrália, adaptam-se melhor em ambientes com déficit hídrico, crescem mais e apresentam uma madeira de maior densidade do que outras procedências de Eucalyptus grandis do sul da Austrália.

Verificam-se variações genéticas significativas entre procedências para propensão a rachaduras de topo em Eucalyptus grandis e E. pilularis, bem como entre clones de E. grandis, E. saligna e E. grandis x E. urophylla. Os valores das estimativas de herdabilidade encontrados foram altos, mostrando a possibilidade de se conseguir melhorar geneticamente esta característica. Com a técnica de clonagem, é possível detectar as variações entre os indivíduos e os inúmeros programas de produção de matéria-prima para a indústria madeireira tem seguido esta trilha. Análises de rotina para a caracterização tecnológica de clones apropriados para serraria e laminação, em várias espécies e híbridos, têm demonstrado que os níveis de variabilidade são extremamente altos para a maioria das características, possibilitando selecionar árvores com propriedades tecnológicas superiores. O grande desafio atual dos programas de melhoramento genético de Eucalyptus, voltados para a produção de madeira para serraria e laminação, é selecionar árvores ou grupo de árvores que tenham a maior quantidade de atributos tecnológicos juntos.



A) Densidade

A densidade é uma das propriedades que mais fornece informações sobre as características da madeira e alguns autores chegam a afirmar que a qualidade da madeira sólida é quase sinônimo de sua densidade. A densidade da madeira, no setor siderúrgico e na produção de celulose, pode contribuir de forma significativa para promover ganhos do processo e para alterar as características dos produtos. Em função de tamanha importância, a densidade da madeira é uma característica já bastante estudada e os resultados demonstram ser essa uma característica de fácil melhoramento, pela grande variabilidade fenotípica e por sua alta herdabilidade. Determinações de densidade em clones sob seleção demonstram que essa característica apresenta variações de enorme magnitude. O mesmo autor encontrou densidades de clones de Eucalyptus grandis, com sete anos de idade, variando de 0,37 g/ cm3 até 0,55 g/ cm3. Tamanha variação de densidade permite direcionar a matéria –prima para os mais variados fins.



B) Orientação das fibras

A espiralização das fibras é um fator que gera perdas consideráveis durante as operações de desdobro e secagem. A recuperação de defeitos decorrente da espiralização fica difícil, uma vez que as deformações resultantes ocorrem em múltiplos planos da peça serrada, tornando-a praticamente um material de baixo valor. Existem poucas informações sobre estudos genéticos da espiralização das fibras em Eucalyptus, embora alguns pesquisadores afirmem que a herdabilidade é alta e a variabilidade entre árvores é expressiva, para pinus e algumas folhosas. Essa característica é possível de ser melhorada geneticamente e, na África do Sul, a seleção de árvores superiores quanto à espiralização utiliza o critério de desvio das fibras, em relação ao eixo da tora, na distância de 50 cm; se o desvio for maior do que 4 mm, a árvore é rejeitada.



C) Tensões de crescimento

O gênero Eucalyptus é considerado uma madeira de difícil processamento pelas dificuldades de serrar, em razão dosa elevados níveis de tensões de crescimento, e pelas perdas durante a secagem, resultando num material de difícil aproveitamento. Todos os esforços, no momento estão concentrados na busca de material resistente às rachaduras e aos defeitos presentes no processo de secagem.

Variações quanto à predisposição desses defeitos têm sido verificadas a nível de espécies, procedências e de indivíduos. Existem grandes variações entre árvores de várias espécies na Austrália. O mais importante é que a participação de fatores genéticos na expressão dessa característica, explica a maior parte das variações observadas, indicando que a seleção pode efetivamente produzir alterações positivas, no sentido de redução das rachaduras de toras e tábuas de Eucalyptus. Existem indicações fortes que a intensidade com que essas tensões ocorrem e os defeitos delas decorrentes dependem da espécie e da própria árvore, sendo uma característica intrínseca de cada indivíduo.

Na África do Sul, há muitos anos se pratica a seleção de árvores com menor propensão a rachaduras de topo. Os resultados dos ganhos realizados têm servido como estímulo à continuação do uso desta prática nos programas de melhoramento de Eucalyptus para produção de madeira serrada. O mesmo autor realizou diversos trabalhos na área e encontrou diferenças significativas entre clones de Eucalyptus grandis, E. saligna e E. grandis x E. urophylla nas características de rachaduras de toras e tábuas; as variações locais também foram significativas, sugerindo que, além da seleção clonal, se implemente o zoneamento ambiental, como estratégia para a produção de madeira com menores tensões de crescimento. Alkguns pesquisadores verificaram uma grande variação entre árvores de Eucalyptus grandis e E. globulus, permitindo o desenvolvimento de clones com madeira adequada à obtenção de produtos sólidos de alta qualidade. Segundo os mesmos autores, já é prática comum, em algumas espécies de Eucalyptus, a seleção e a clonagem de genótipos com menor propensão a rachaduras.



D) Madeira juvenil

A proporção de madeira juvenil existente numa tora é uma característica que depende fundamentalmente da idade da árvore, bem como do ambiente e do manejo; entretanto, a uma mesma idade e em condições semelhantes de ambiente e de manejo, pode-se constatar que existe grande variabilidade neste aspecto. A madeira de grande diâmetro não é necessariamente madeira adulta. Em algumas espécies e indivíduos, a formação de madeira juvenil estende-se por vários anos, enquanto que, em outras, a formação da madeira madura se inicia mais cedo. O que caracteriza estas variações são as diferenças nas proporções entre madeira juvenil e madeira madura acumulada no tronco. Esta característica parece estar associada à velocidade em que ocorre a transição da fase juvenil para a fase adulta. Em espécies com acentuado dimorfismo foliar, como Eucalyptus citriodora, E. dunnii e E. globulus, é fácil perceber a mudança da fase juvenil para a fase adulta. É notável a variação que existe na mudança de fase entre as várias árvores do povoamento; algumas árvores já mudam de fase no primeiro ano, enquanto outras levam até seis anos para manifestar a mudança da fase juvenil para a fase adulta.

As árvores que apresentam a mudança de fase mais precocemente apresentam menor quantidade de madeira juvenil, pois iniciam a produção de madeira madura mais cedo; ao contrário, árvores que demoram a mudar de fase passam vários anos produzindo madeira juvenil e, no final, apresentam uma grande proporção de madeira juvenil. A velocidade de mudança de fase é uma característica de forte controle genético, o que significa que a quantidade de madeira juvenil pode ser reduzida através da seleção. Os mesmos autores ressaltam que a qualidade da madeira juvenil também apresenta grande variação entre árvores e também pode ser melhorada geneticamente.



E) Bolsas de resina

Na Austrália, as bolsas de resina são um dos principais fatores de desqualificação ou rejeição da madeira de Eucalyptus, principalmente para usos externos ou estruturais. A maioria das informações sobre a formação das bolsas de resina( quino ou veias) nas árvores de Eucalyptus dão conta de que estão associadas a alguma injúria, provocada no tecido cambial e que a formação das bolsas sejam uma resposta da árvore a tais injúrias. Qualquer dano ao tecido cambial pode provocar a formação de bolsas de resina. Entre as muitas causas, cita os ferimentos mecânicos, geadas, stress hídrico, ataque de insetos, estrangulamento do caule por cipós, ação de patógenos, ferimentos mecânicos, ventos e anomalias fisiológicas, como “pau preto” e gomose. Além desses, podem ser considerados potenciais causadores da formação de bolsas de resina um nó morto em processo de desrama natural, desrama artificial mal feita, danos mecânicos durante o desbaste e a retirada da madeira.

Na maioria dos casos, a ocorrência de formação de bolsas de resina se deve a fatores externos, embora seja possível a influências de fatores genéticos. Em alguns casos, pode ser até interpretada a influência de fatores genéticos, como a tolerância a fatores causadores de stress, mas pouco se pode esperar que a seleção direta para ausência de bolsas de resina possa surtir efeito se não forem eliminadas as fontes que causam injúrias no tecido cambial. Uma prova disso é a presença de bolsas de resina em quantidades variadas entre plantas do mesmo clone, onde a variação genética é nula. Eucalyptus maculata, E. citriodora e E. mycrocoris tendem a apresentar mais bolsas de resina que outras espécies.

Em observações feitas no Brasil, há indicações de que essa variação esteja mais ligada à forma mais ou menos agressiva com que as espécies respondem a fatores estressantes do ambiente. Por isso, o plantio de Eucalyptus maculata, em locais com alta deficiência hídrica, tem provocado a formação de bolsas de resina com mais intensidade do que em locais sem déficit hídrico. O mesmo fenômeno é verificado em Eucalyptus grandis procedentes da região de Coff”s Harbour, ao sul da Austrália, plantadas em locais com alto déficit hídrico. A formação de “pau preto” e a conseqüente formação de bolsa de resina se manifestam mais freqüentemente nessas procedências quando se compara com procedências da região de Atherton, ao norte de Queensland, no norte da Austrália.

A redução dos problemas de formação de bolsas de resina podem ser resolvidos através da utilização correta de espécies/ procedências, evitando-se submeter a plantas a condições estressantes, para as quais não apresentam tolerância, e pelo uso de métodos adequados de manejo.



F) Podridão do cerne

A podridão de cerne em Eucalyptus é um problema que ocorre, principalmente, em locais com alta umidade relativa e se caracteriza por apresentar a região da medula podre, desqualificando a madeira para uma série de utilizações. Para que haja a ocorrência de cerne podre é necessário que haja uma ligação entre o ambiente externo e o interior da madeira. Tal situação é muito freqüente quando existem galhos mortos persistentes que funcionam como porta de entrada para os fungos causadores da podridão do cerne. O fungo se estabelece no ramo morto, evoluindo para o interior da madeira e atingindo o cerne; de modo semelhante, raízes mortas por enovelamento também podem constituir-se em portas de acesso à região central do tronco.

Por estarem ligados diretamente ao cerne, tantos galhos como as raízes podem propiciar a colonização das células mortas do interior da árvore. O melhoramento genético pode reduzir, de forma indireta, a podridão do cerne. A seleção de material genético com boa desrama natural pode contribuir para a incidência de podridão de cerne, evitando que a presença de ramos secos aderidos ao caule funcionem como fonte de inóculo para o interior do tronco. Outra característica importante é a espessura dos galhos, que são mais fáceis de serem desramados. Por certo, a prática da desrama artificial e o uso de recipientes maiores podem ser ferramentas que ajudarão a contornar o problema da podridão de cerne, muito mais facilmente do que através do melhoramento genético.

G) Coloração da madeira

A cor da madeira, por si só, não pode ser encarada como um problema no contexto da obtenção de produtos sólidos da madeira. Pelas variações de gostos e costumes e, até mesmo, por modismo, a produção de madeiras com determinadas cores poderá vir a se tornar uma oportunidade de mercado. Cada mercado de produto acabado têm preferência por um tipo de coloração. A tendência atual na Europa é de preferência pela coloração clara; no Brasil, a preferência atual é de coloração mais escura. Em algumas regiões, principalmente quando se busca a imitação de madeiras tropicais, cores mais escuras ou de outras tonalidades podem ser mais valorizadas.

Embora a cor da madeira seja um fator muito influenciado pelo ambiente, existem variações de grande magnitude entre espécies e entre indivíduos nesse aspecto. Entre as espécies de coloração avermelhada destacam-se o Eucalyptus pellita, E. robusta, E. resinifera, E. botryoides, E. camaldulensis, E. tereticornis e E. brasiana; por seu turno, o Eucalyptus grandis, E. urophylla e o E. saligna apresentam uma tendência para o róseo; as espécies Eucalyptus dunnii, E. maculata, E. nitens E. globulus e E.maidenii apresentam uma coloração mais clara, com tonalidades que variam da cor creme ao bege. Como o ambiente exerce influência na expressão da cor, variações ambientais podem promover a migração de espécies entre grupos diferentes.

Os híbridos e clones têm apresentado madeiras com coloração das mais variadas; pelas alterações que são produzidas, ao se cruzarem espécies com madeiras que apresentam coloração diferente se pode esperar a possibilidade de aparecerem árvores com as mais diferentes tendências de cor. Como a tendência mundial é a utilização de madeira clara, várias espécies podem ser utilizadas em cruzamento: Eucalyptus dunnii, E. globulus, E. nitens, E. maidenii; tais espécies, no entanto, são mais indicadas para ambientes subtropicais, com clima mais ameno, o que, no Brasil, seria indicado apenas para os estados da Região Sul.

Outro aspecto a ser considerado de grande importância em relação à cor é a homogeneidade entre o cerne e o alburno. Essa característica é por demais importante, principalmente para a indústria de móveis e usos internos na construção civil. O Eucalyptus dunnii apresenta uma considerável homogeneidade na coloração entre o cerne e o alburno, o que não se observa para o Eucalyptus grandis. É possível a obtenção de híbridos de E. grandis x E. dunnii, buscando-se a homogeneidade da coloração da madeira .



H) Nós

A presença de nós mortos na madeira é um fator de depreciação, quando se usa a madeira em partes estruturais, na fabricação de móveis e de lâminas. As madeiras serradas livres de nós, camadas madeiras “clear”, alcançam melhores valores no mercado. Para se produzir uma madeira livre de nós, recomenda-se a desrama artificial, que tem efeito complementar na redução da formação das bolsas de resina e na ocorrência de podridão de cerne.. Embora a ocorrência desse problema seja muito influenciada pelo espaçamento inicial de plantio, a seleção de árvores com boa desrama natural tem proporcionado ganhos importantes na redução de nós da madeira. Vários exemplos bem sucedidos do melhoramento dessa característica podem ser obtidos, onde a seleção se mostra efetiva na melhoria da desrama natural e na conseqüente redução dos problemas dos nós da madeira. Apesar dos resultados positivos da seleção, as intervenções de desrama artificial podem muito efetivamente para a redução dos problemas de nós da madeira. O ideal seria integrar as duas atividades, selecionando-se plantas com ramos finos, com boa capacidade de desrama natural e utilizando-se, como medida complementar de limpeza do tronco, a prática da desrama artificial.



I) Colapso

A secagem da madeira de Eucalyptus tem sido considerada um desafio para os empresários da área. Além de ser a etapa mais cara no processamento primário é a etapa mais decisiva para se ter uma matéria-prima de qualidade para a maioria dos usos. Os maiores problemas ocorridos durante a secagem dizem respeito à anisotropia dimensional, cuja conseqüência é a ocorrência de sérios defeitos, como rachaduras, empenos, abaulamentos e colapso. As madeiras de Eucalyptus são reconhecidamente mais instáveis do que as demais espécies de folhosas. Alguns pesquisadores afirmam que, quanto à estabilidade dimensional, a variabilidade existente entre espécies e alguns híbridos de Eucalyptus é suficientemente alta para se obter ganhos pela seleção de espécies. As variações entre indivíduos, no entanto, parecem ter maiores possibilidades de produzir impactos positivos no processo de secagem e na homogeneização da matéria-prima.

O colapso é uma tendência manifestada por algumas espécies ou por indivíduos de algumas espécies de se deformarem durante o processo de secagem, prejudicando a qualidade e o rendimento da madeira beneficiada. Sua ocorrência está ligada aos diferentes níveis de permeabilidade entre os anéis da madeira. Alguns pesquisadores, realizando vários estudos sobre o potencial de variabilidade e de seleção para reduzir a ocorrência de colapso, verificaram a incidência de nove tábuas livres de colapso dentre um total de 46 árvores avaliadas de Eucalyptus pilularis, e de 25 tábuas livres de colapso em 78 árvores de Eucalyptus grandis. Através da seleção, existem boas possibilidades de redução do colapso. Existe o uso de técnicas e tratamentos como pré-secagem, tipos de estufa e programas especiais, buscando a redução do colapso e vários outros problemas que ocorrem durante a secagem. Um grande problema reside no fato de os diferentes lotes de madeira colocados na estufa pertencerem a diferentes árvores e diferentes posições dentro das árvores, além de diferentes sítios, com diferente comportamento durante a secagem. Essa heterogeneidade de material na estufa, por certo, provocará problemas na secagem, mesmo que se utilizem programas especiais e as condições sejam as mais adequadas.

Nesse sentido, o melhoramento genético, principalmente através da clonagem, poderá contribuir na redução de perdas na secagem. O colapso apresenta um forte controle genético, podendo-se prever ganhos pela seleção de indivíduos menos propensos a apresentar colapso. A seleção de clones superiores e o desenvolvimento de programas de secagem específicos para cada clone, onde a madeira a ser submetida à secagem constitui um grupo mais homogêneo de peças, podem proporcionar inúmeros ganhos na operação de secagem da madeira de eucalipto.



J) Outras características da madeira

Várias outras características da madeira que são desejáveis para a obtenção de produtos sólidos podem ser incluídas nos programas de melhoramento. Na fabricação de produtos nobres como móveis, peças de decoração e usos internos na construção civil várias características como textura, trabalhabilidade, comportamento na fresagem, colagem e em situações de esforço, como pregos, parafusos e encaixes, são importantes e deverão merecer atenção especial para ser melhoradas. Muito provavelmente deve haver variações entre árvores, possibilitando a seleção desse tipo de características, o que promoveria ganhos importantes para a indústria manufatureira.



ESTRATÉGIAS DO MELHORAMENTO PARA A QUALIDADE DA MADEIRA



A) Hibridação

A hibridação interespecífica é uma alternativa de grande importância e de grande impacto dentro dos programas de melhoramento genético; sem dúvida, é uma das estratégias mais seguras para se obter as características desejáveis, considerando-se a velocidade de geração desses indivíduos e, especialmente, a velocidade de integração desses indivíduos nos processo produtivo. O cruzamento de espécies que possuem características superiores, diferenciadas entre si, permite produzir árvores, especialmente projetadas para determinada finalidade, com maior quantidade de atributos desejados. A hibridação possibilita combinar, num único indivíduo ou grupo de indivíduos, características florestais distintas que sejam de interesse. Desde que se utilizem espécies que sejam complementares, quanto à obtenção dessas características desejadas, pode-se, por exemplo, produzir árvores de alto crescimento,, com menor propensão a rachaduras, com fibras bem orientadas, com uma coloração bem definida.

É possível concluir que a hibridação, através híbridos interespecíficos, é uma ferramenta indispensável para se adequar a madeira de Eucalyptus para diversos usos, sobretudo pela agilidade proporcionada, quando comparada com os métodos tradicionais. De modo geral, as características tecnológicas da madeira de híbridos interespecíficos são intermediárias, em relação aos valores das espécies progenitoras. A faixa de variação observada nos valores assumidos pelas características tecnológicas dos indivíduos híbridos permite que sejam selecionadas árvores com valores superiores à média da espécie de maior valor ou valores inferiores à média da espécie de menor valor.

Outra vantagem decorrente do uso dos híbridos é a manifestação da heterose ou vigor híbrido, verificada na maioria dos cruzamentos interespecíficos, possibilitando o aparecimento de indivíduos com maior capacidade de crescimento. Quando se busca o aumento do diâmetro, por exemplo, os indivíduos altamente heteróticos são de grande utilidade, uma vez que sua superioridade dificilmente pode ser obtida em árvores dentro de cada espécie pura. Sem dúvida, a produção de híbridos entre espécies de Eucalyptus tem um grande impacto e deverá ser decisivo para se buscar a madeira de qualidade pretendida para o setor industrial.

B) Híbridos férteis

Um dos atributos mais importantes do gênero Eucalyptus, do ponto de vista do melhoramento genético, diz respeito à sua capacidade de produzir híbridos férteis. Isto possibilita que híbridos possam ser cruzados entre si ou com outras espécies, no sentido de se obter composições gênicas múltiplas e em diferentes proporções, buscando a madeira mais próxima do ideal quanto possível. Quando se cruzam duas espécies distintas entre si, o híbrido produzido possui 50% da constituição genética de cada uma das espécies progenitoras. Pode ser que o híbrido ainda seja carente de alguma característica de interesse e, nesse caso, é necessário o cruzamento com uma terceira espécie que possua a característica em questão.

Os novos híbridos teriam 25% da constituição genética de cada uma das espécies progenitoras originais e mais 50% da terceira espécie cruzada com o híbrido. Outros tipos de combinações podem ser produzidas aumentando-se ou diminuindo-se a participação do conjunto gênico de determinada espécie no composto produzido, de acordo com o conjunto de atributos desejáveis das espécies envolvidas, no sentido de se produzir árvores que sejam o mais próximo possível da árvore idealizada. O ideal é se usar clones de híbridos já selecionados e adaptados, como a base para a realização dos cruzamentos. Dentro dessa linha, poderão ser realizados retrocruzamentos, tendo como base um clone híbrido superior, que pode ser retrocruzado com as espécies progenitoras originais para obter novos híbridos.

O cruzamento do híbrido Eucalyptus urophylla x E. grandis com E. dunnii produziu árvores com crescimento excelente. A densidade da madeira apresentou o mesmo comportamento esperado para os híbridos, ou seja, uma média intermediária entre os pais, com uma variação individual significativa. Selecionadas precocemente, algumas árvores foram clonadas apresentando boa capacidade de enraizamento. Outra combinação que apresentou resultados muito bons foi o cruzamento do mesmo híbrido com Eucalyptus maidenii. O mesmo autor tem realizado novos trabalhos, envolvendo o cruzamento com outras espécies, principalmente com o Eucalyptus globulus, onde se busca introduzir importantes características da espécie, como o mais baixo teor de lignina, para a produção de celulose. Os retrocruzamentos do híbrido Eucalyptus urophylla x E. grandis com E. urophylla ou E. grandis também apresentaram resultados promissores em termos de crescimento. Outras combinações que podem apresentar algum potencial são os cruzamentos entre híbridos F1 distintos, produzindo-se híbridos duplos; nesses cruzamentos, espera-se produzir grande variabilidade nas características dos indivíduos, que serão de grande utilidade na identificação de árvores desejáveis para a realização de novos cruzamentos ou para uso direto nos plantios.

A possibilidade de se utilizar substâncias indutoras de florescimento precoce, como o Paclobutrazol tem agilizado a combinação de espécies e indivíduos e a integração de suas características. Os ciclos de reprodução podem ser obtidos em espaços que variam de 12 a 24 meses para espécies que florescem mais cedo e, de 36 a 48 meses, para espécies que florescem mais tardiamente. A utilização de tais substâncias indutoras de florescimento precoce tem agilizado a criação de árvores superiores.

C) A clonagem em escala comercial

A clonagem é extremamente útil na realização operacional dos ganhos obtidos com o melhoramento genético e a hibridização, promovendo a homogeneização das propriedades tecnológicas da madeira. Desse modo, a clonagem possibilita a produção em massa de madeira com características previamente selecionadas e, por outro, assegura maior rendimento do processo de produção, em todas as suas etapas, por permitir que se avalie o comportamento industrial dos clones e lhes sejam aplicados procedimentos técnicos específicos. Adicionalmente, pode-se ter ganhos expressivos na qualidade final dos produtos, em virtude da maior homogeneidade e direcionamento das propriedades da matéria-prima, fator altamente desejável na atividade industrial. A clonagem já está mundialmente difundida como a ferramenta mais eficiente na produção de madeira em quantidade e qualidade exigidas pelo mercado e que a utilização de clones de híbridos de Eucalyptus setor uma constante no setor florestal nos próximos anos.

Setembro/2001