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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°59 - SETEMBRO DE 2001

Qualidade

Qualidade da Madeira de Eucalipto

Em vários estados da região centro-sul brasileira, observou-se, nos últimos trinta anos, um vasto e bem sucedido programa de reflorestamento, com algumas espécies do gênero Eucalyptus, visando atender, principalmente, às necessidades de matéria-prima para a produção de polpa celulósica, chapa de fibra, carvão e lenha. Para atender a tais demandas, a seleção de espécies envolveu, inicialmente, programas de melhoramento e algumas práticas silviculturais, como espaçamento e fertilização, objetivando-se ganhos imediatos de crescimento, forma do tronco, regeneração e resistência a pragas e doenças; numa segunda etapa, tais programas foram complementados com a busca de ganhos nas propriedades da madeira, como densidade e dimensões de fibras.

A partir do final da década de 80, algumas empresas buscaram a utilização múltipla das florestas e uma melhor remuneração para a madeira, incentivando as empresas a definir estratégias para produzir uma madeira com melhores atributos. Ao se pensar na utilização da madeira para fins mais nobres, como a produção de móveis e o seu uso em decorações e construção civil, outras características de ordem silvicultural foram incorporadas aos programas de melhoramento genético e de manejo e de condução da floresta, como o desbaste e a desrama, além de avaliar outros aspectos da especiais da madeira, como a ausência de nós e outros defeitos superficiais, os níveis de tensões de crescimento, de madeira juvenil, de estabilidade dimensional, a resistência mecânica, a trabalhabilidade, os desenhos e a coloração. Tratamentos especiais devem ser dispensados à madeira nas fases de processamento primário( desdobro e secagem), bem como nas fases de usinagem e acabamento.

A indústria moveleira está reavaliando as possibilidades de uso da madeira de eucalipto como sua matéria-prima básica. A reduzida participação no mercado é creditada à baixa disponibilidade de material de qualidade no mercado e, principalmente, à desinformação e ao preconceito sobre o comportamento da madeira nos produtos acabados Há uma crença arraigada de que a madeira de eucalipto racha demasiadamente e se deforma, inviabilizando o uso da peça acabada. Tal crença se deve, em parte, à presença de certas características desfavoráveis, como elevada retratibilidade, propensão ao colapso e presença de tensões de crescimento que levam a rachaduras e empenamentos.

É bem verdade que quase toda a madeira até então utilizada para os usos nobres foi proveniente de plantios voltados para a produção de celulose e carvão, privada dos cuidados especiais anteriormente mencionados. Em que pesem, ainda, as limitações, não há dúvidas de que, dentre as hipóteses de outras aplicações para a madeira de eucalipto no Brasil, a sua utilização na indústria moveleira e na construção civil é o que se encontra mais evidenciada e de melhores perspectivas. O quadro atual tem grandes possibilidades de reversão, na medida em que se romperem alguns preconceitos e se aprofundarem os estudos sobre os “gargalos” tecnológicos mencionados.

Produto

É bem fácil imaginar o sem-número de produtos e subprodutos que têm a madeira como fonte principal de matéria-prima. Desde o palito de picolé, o brinquedo para crianças, o lápis de escrita, o mobiliário domiciliar e de escritório, os assoalhos, as esquadrias, os postes para eletrificação, os dormentes para ferrovias, os cavacos para produção de celulose, as estruturas para telhados, os fundos para carrocerias de caminhão, as caixotarias, energia para uso doméstico, caldeiras ou carvão siderúrgico e, até mesmo, as urnas mortuárias.... Talvez o difícil será imaginar a multiplicidade e a interação das propriedades que tornam uma madeira a matéria-prima ideal para um determinado uso. Cada utilização requer exigências próprias de qualidade; consequentemente, não existe melhor qualidade num sentido amplo e não existem parâmetros universais para se medir qualidade. A qualidade é uma classificação arbitrária de variações dos elementos da madeira quando eles são contados, medidos, pesados, analisados ou avaliados para um determinado objetivo. Durante a formação da madeira, numerosos fatores, tanto internos quanto externos à árvore, conduzem a variações no tipo, número, tamanho, forma, estrutura física e composição química dos elementos da madeira.

Para cada produto ou classe de produto é necessário definir as propriedades exigidas para se ter um produto acabado que atenda às exigências do público consumidor. Dependendo da posição do usuário de madeira, o conceito de qualidade pode ter avaliações diferentes. Para o produtor de madeira, boa qualidade significa uma madeira de dimensões desejáveis, boa forma do tronco, isenção de defeitos(nós, podridão), bom rendimento volumétrico, casca pouco espessa etc. Para o operador de serraria, boa qualidade significa alto taxa de conversão madeira bruta/madeira serrada, maior possibilidade de aproveitamento de produtos serrados, baixa quantidade de rachaduras, defeitos(nós, podridão), isenção de resíduos etc. Para o industrial de móveis, boa qualidade significa alta estabilidade dimensional, resistência, rigidez, usinagem e acabamento desejáveis e propriedades organolépticas(sensoriais) desejáveis(coloração, cheiro, gosto, tato etc.). Pelo visto, definir, claramente, a qualidade da madeira não é tão fácil; no entanto, é essencial definir o produto final desejado e o sistema de produção a ser utilizado, procurando-se correlacionar as características da árvore, da madeira, do sistema de processamento e dos produtos finais desejados.



Propriedades desejáveis para madeira serrada e painéis de madeira e a importância relativa de cada propriedade.





É muito importante definir quais propriedades da madeira deverão ser avaliadas para um determinado produto final. A utilização do termo SIM indica que as propriedades são desejáveis; a utilização do sinal ?(sinal de interrogação) indica que as propriedades podem ser desejáveis, mas sua importância ainda não está cientificamente comprovada.

Embora existam mais de seiscentas espécies já conhecidas, botanicamente, os plantios, em larga escala, no mundo, estão concentrados em poucas espécies. Em termos de incremento anual e das propriedades desejáveis da madeira, apenas doze tem sido utilizadas, com mais intensidade, para atender o setor industrial: Eucalyptus grandis. E. saligna, E. urophylla, E. citriodora, E. globulus, E. camaldulensis, E. tereticornis, E. paniculata, E. robusta, E. viminalis, E. exserta, E. deglupta. No Brasil, tem sido consideradas muito promissoras as espécies E. cloeziana, na região central, e o E. dunnii, na região sul. O potencial de utilização múltipla da madeira dessas espécies tem crescido sobremaneira nos últimos tempos, principalmente se se adotar o conceito de floresta de aplicação ampla. Nesse caso, devem crescer as opções de melhoramento das espécies(procedências, clonagens, híbridos), de espaçamentos, de idade de corte, de técnicas silviculturais diferenciadas(desbaste, desrama, de métodos de exploração etc. Dentro de uma área a ser implantada, pode-se conseguir diferentes tipos de florestas para cada um dos produtos a serem obtidos. Haverá, então, a possibilidade de se explorar todo o potencial do gênero Eucalyptus, que prima pela enorme amplitude de opções de utilização e pela qualidade de suas madeiras já comprovada em muitas situações.

Devido à constituição muito especial da madeira de eucalipto, ainda hoje ela é considerada imprestável para certos usos, ditos mais nobres, como movelaria, construção civil e decorações. Tal opinião resulta de experiências realizadas em péssimas condições, fruto de escolha inadequada da espécie, ausência de tratos silviculturais especiais, utilização precoce da madeira e condições precárias de corte, secagem e usinagem. Se, ao contrário, alguns cuidados forem tomados, pode-se chegar a uma vasta gama de aplicações, desde as mais exigentes até as mais modestas, sempre com inigualáveis vantagens sobre muitas das madeiras obtidas de matas nativas e que têm sido historicamente consideradas como ideais.

Setembro/2001