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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°66 - AGOSTO DE 2002

Resíduos

Estudo sugere uso de serragem como insumo

Estudo sugere uso de serragem como insumo



Projeto cria opções de utilização da serragem tanto na atividade florestal quanto em fruticultura, predominantes na região Sul, principalmente em pequenos produtores.



A Embrapa Florestas, do Paraná, junto com outras entidades, está desenvolvendo um estudo que visa encontrar uma solução técnica para um resíduo que pode causar problema ambiental. O estudo está sendo desenvolvido há quatro anos com a idéia de transformar a serragem em produtos utilizáveis por meio de tecnologias simples e baratas.

Denominado “Adequação e possibilidades de uso de resíduos da atividade florestal com ênfase na serragem em fruticultura e florestas plantadas” (aspectos técnicos, econômicos, sociais e ambientais), se aprovado deve ser aplicado entre outubro de 2002 e outubro de 2005, segundo o pesquisador da Embrapa Antônio Francisco Bellote.

Ainda não foram realizados todos os experimentos para testar a viabilidade do projeto, mas os pesquisadores trabalham dentro de três hipóteses: a primeira é que o projeto aumente a produtividade, a segunda é que apenas cause benefícios ao meio ambiente e a terceira e menos provável é que reduza a produtividade. Segundo o estudo, reduções de produtividade em rotações florestais subsequentes não tem sido comumente relatadas. Possivelmente, a troca de material propagativo por genótipos mais eficientes na extração e aproveitamento de nutrientes, e melhores cuidados de implantação e manutenção dos povoamentos, tenham encoberto as perdas de produtividade pela redução da oferta de alguns nutrientes. Está claro que a manutenção ou aumento da produtividade de povoamentos florestais dependerá da reposição dos nutrientes exportados, atualmente realizada através de adubações minerais, com resultados satisfatórios.

A preocupação de desenvolver sistemas de produção

sustentáveis é uma imposição prática, social, ambiental e política. O setor industrial brasileiro de base florestal é um dos mais competitivos internacionalmente e tem nas florestas plantadas a matéria-prima necessária as atividades. Ambientalmente, as florestas plantadas além de contribuir para a preservação das florestas nativas, são estratégicas na retirada do carbono da atmosfera imobilizando-o na madeira.

Os resíduos as atividades florestais podem ser transformados em produtos através de processos de reciclagem práticos e econômicos e destinados à utilização em plantios.

O projeto é resultante de parceria entre a Funpar, Embrapa

Florestas e a Universidade Federal do Paraná e tem o objetivo geral de desenvolver opções de uso para a serragem em práticas silviculturais e em fruticultura. É composto por três subprojetos complementares que envolvem estudos de adequação da serragem para as aplicações desejadas em produção de mudas, em plantios florestais e em fruticultura.

Espera-se o desenvolvimento de tecnologias que permitam

transformar a serragem em produtos utilizáveis, através de tecnologias simples e baratas. Isolar e quantificar a presença de ácidos húmicos e avaliar a contribuição de sua adição no aumento do carbono orgânico do solo. Os produtos obtidos da serragem serão avaliados ainda quanto às possíveis alterações na macrofauna e microbiota do solo, seus efeitos nas árvores e produção de frutas, e possíveis alterações ecológicas indesejáveis.



Caracterização do problema



A preocupação de desenvolver sistemas de produção florestal sustentáveis é uma imposição prática e política que vem ganhando importância desde o final do século vinte. Esta preocupação sem dúvida envolve a utilização eficiente de insumos, particularmente nutrientes, água e energia, e a redução dos resíduos e efluentes, tanto de origem agrícola como industrial. O ideal seria que todo o resíduo orgânico gerado fosse transformado em produtos utilizáveis, através de processos de reciclagem práticos e econômicos, e destinados à reposição de nutrientes e da matéria orgânica do solo ou transformados em energia utilizável.



Significativos investimentos em pesquisa têm sido empregados com a finalidade de desenvolver sistemas de produção sustentáveis de alimentos e fibras, principalmente nos países industrializados. O objetivo final desses esforços é beneficiar as futuras gerações conservando os recursos naturais.

A legislação ambiental é cada vez mais severa, exigindo

investimentos altos para o controle eficiente dos resíduos e efluentes gerados. As áreas de descarte de resíduos sólidos estão se tornando escassas, distantes e com custos de implantação e gerenciamento cada vez maiores.



Um outro motivo para se preocupar com o destino dos resíduos é a crescente concorrência internacional que impõe barreiras não tarifárias, exigindo em muitos casos a certificação de origem da matéria prima florestal, e ainda dos processos envolvidos na produção dos diversos bens de base florestal exportados.

O ideal, segundo o projeto, seria que os resíduos de uma atividade

fossem os insumos de outras, num circuito fechado sem geração de resíduos inúteis. Resíduos de outras origens podem complementar, tanto do ponto de vista físico como químico, os resíduos do desdobro da madeira, notoriamente pobres em nutrientes.



A pesquisa tem por principal objetivo desenvolver opções de uso da serragem em práticas silviculturais e na fruticultura. Avalia o potencial da serragem e seus derivados, isoladamente ou em mistura com outros tipos de resíduos.







Importância econômica





As atividades relacionadas ao Setor Florestal Brasileiro representam

aproximadamente 2,2% do PIB (Produto Interno Bruto). O setor de base florestal, segundo estatísticas recentes, assegura 700 mil empregos diretos e 2 milhões de indiretos. Apesar das dificuldades econômicas dos últimos anos, decorrentes da globalização, fusões e incorporações, o setor florestal manteve taxas expressivas de crescimento.



As exportações de produtos florestais geraram entre US$ 2,7

a 3,7 bilhões de dólares anuais entre 1994-2001. Correspondendo a aproximadamente 5% do total das exportações brasileiras. Dentre os produtos agropecuários, esse valor é superado apenas pela receita obtida pela soja e seus derivados.



Os principais produtos da pauta de exportações são os

painéis, chapas e madeira serrada ou beneficiada, a celulose e o papel. A exportação de móveis tem apresentado expressivo crescimento nos últimos anos, alcançando aproximadamente meio bilhão de dólares atualmente, com atividades concentradas nos estados das regiões Sul e Sudeste.

A produção é baseada em madeira oriunda de

reflorestamentos. Apenas este segmento compreende 13.500 empresas, proporciona 300 mil empregos diretos e 1,2 milhão indiretos e movimenta US$ 6,0 bilhões de dólares anualmente.

Existe possibilidade de manutenção e ou aumento da

participação brasileira no mercado externo, que é de aproximadamente 4% do mercado mundial, portanto ainda insignificativa se considerada em relação a outros países e ao potencial florestal do Brasil. Esta expansão passa pela necessidade de superar as barreiras não tarifárias impostas aos produtos brasileiros. Há exigência de certificação da matéria prima e dos processos industriais, sendo os critérios de certificação severos com relação à produção, tratamento e disposição de resíduos e efluentes.



As empresas de base florestal recolhem historicamente

aproximadamente US$ 2,0 bilhões de dólares anuais em impostos. O carvão vegetal é responsável por 40% da produção nacional de ferro gusa, com tendências de participação crescente. A utilização do carvão vegetal reduz a necessidade de queima de carvão mineral reduzindo a poluição atmosférica (emissão de óxidos de enxofre para a atmosfera).

A madeira gera mais de 20% da energia primária produzida

no Brasil, sendo utilizada para secagem de grãos e em pequenas empresas como padarias, olarias, indústrias cerâmicas dentre outras. Entretanto, tem crescido o número de caldeiras a base de biomassa de madeira, em empresas de grande porte, queimando principalmente resíduos florestais. Necessário salientar, que entre as atuais opções práticas de combustíveis para geração de energia, a madeira é a que menos libera dióxido de carbono para a atmosfera.







Geração de resíduos





O beneficiamento da madeira em suas diversas fases gera resíduos, que pelos grandes volumes envolvidos trazem problemas logísticos e ambientais para sua disposição adequada. Os resíduos mais importantes são a cinza das caldeiras resultantes da queima de resíduos de biomassa de madeira e as cascas provenientes do descascamento de toras nos pátios das fábricas e o lodo das fábricas de celulose. Resultam ainda do desdobro da madeira, nas serrarias, fábricas de compensados e de laminados, além de cascas e maravalha, a serragem e as costaneiras.



A utilização mais comum dos resíduos do desdobro tem sido a queima direta, e mais recentemente o fabrico de aglomerados tipo M.D.F. Entretanto, não se utiliza integralmente esses resíduos devido aos grandes volumes gerados, sua localização descentralizada, ou ainda às grandes distâncias dos centros consumidores, demandando altos custos de transporte. Por falta de uma destinação imediata, grandes quantidades desses resíduos foram simplesmente empilhados, permanecendo nessas pilhas por muitos anos, e encontram-se hoje em diversos estágios de decomposição. Muitas vezes os resíduos são simplesmente queimadas a céu aberto, ou sofrem combustão espontânea com emanação de particulados finos para a atmosfera, provocando problemas respiratórios e reações adversas na população.



A deposição da serragem “in natura” pode provocar problemas nas culturas agrícolas e florestais. A presença de extrativos diversos nesse material pode atingir níveis tóxicos para as plantas. A relação C/N é muito elevada induzindo a deficiências de N quando o processo de decomposição ocorre nas proximidades das plantas. Esta limitação é comum à maioria dos resíduos orgânicos. Dessa forma torna-se necessário um condicionamento prévio dos resíduos antes de sua aplicação. O tempo necessário para que ocorra a decomposição e obtenha-se um “composto” em condições de poder ser aplicado diretamente ao solo é longo, sendo uma das principais limitações ao uso de resíduos.



A transformação da serragem num produto depende ainda da possibilidade técnica, prática e econômica de métodos que permitam a padronização dos compostos gerados. Diversos indicadores mostram grande potencial para a utilização:

É oriunda da madeira que é um recurso renovável

Está disponível em grandes quantidades e a custos baixos

Tudo indica que poderá ser processada por métodos simples e baratos.











Desenvolvimento





Para realizar as atividades de pesquisa, programadas em uma serie de experimentos que serão conduzidos, tanto em condições controladas, de viveiro e casa de vegetação, assim como em condições de campo. O projeto contará, além da infra estrutura e campos experimentais disponível nas unidades da Embrapa, e nas áreas dos parceiros, envolvidos diretamente no projeto, com o apoio irrestrito de empresas do setor florestal.



A programação de pesquisa será desenvolvida no Rio Grande do Sul: na região de Caxias do Sul, junto ao Sindimadeira, Cambará S.A. Produtos Florestais, Reflorestadores Unidos e Universidade de Caxias do Sul; região de Bento Gonçalves, junto à Embrapa Uva e Vinho; em Pelotas, junto à Embrapa Clima Temperado. No Estado do Paraná: na região de Guarapuava, junto à Madereira Nacional S.A.; região de Curitiba junto a Universidade Federal do Paraná e Embrapa Florestas.



Resultados e impactos esperados





O projeto tem como tema a utilização de resíduos do processamento da madeira como insumo agrícola e florestal. Assim, os trabalhos a serem desenvolvidos e os resultados esperados, envolverão estudos que visem a caracterização da serragem e a sua transformação em insumo agrícola e florestal. A quantificação e identificação dos macro e micro organismos decompositores, a viabilização do seu uso como fertilizante e/ou condicionador do solo nas culturas agrícolas e florestais, bem como a avaliação socio-econômica da disponibilidade destes resíduos, e o seu potencial de uso nos segmentos agrícola e florestal, bem como, pinus, eucaliptos e acácia negra.



Espera-se desenvolver conhecimentos que permitam a agregação de valores ao resíduo do processamento da madeira permitindo que possa ser utilizado como fertilizante e/ou condicionador do solo e se possível como insumo agrícola com potencial comercial.



Em razão do risco de contaminação ambiental que representa a destinação final da serragem, os resultados a serem obtidos no projeto, estimularão o detentor destes resíduos a desenvolver mecanismos que permitam a agregação de valor nos mesmos, aumentando a competitividade das empresas processadoras de madeira; elevando a competitividade do setor, contribuindo para a manutenção e criação de empregos diretos e indiretos e auxiliando as empresas do segmento florestal a se adequarem aos requisitos da ISO 14.000.