A queima de matéria orgânica (resíduos de cana-de-açúcar, casca de arroz, cavacos de madeira etc.) para a produção de energia elétrica é uma prática cada vez mais empregada no País. Conforme estudo realizado pelo Grupo Safira Energia, a capacidade instalada das usinas de biomassa no Brasil cresceu 21% em 2013, em relação ao ano anterior, passando de 7.342 MW para 8.870 MW (volume de energia que corresponde a mais que o dobro da demanda média no Rio Grande do Sul).
O diretor executivo da empresa, Mikio Kawai Jr., salienta que as chuvas que ocorreram ao final de 2012 propiciaram um bom tempo para a safra de cana de 2013 (principal insumo da geração térmica a partir da biomassa). Soma-se a isso o crescimento da demanda por açúcar e álcool, que fez com que se expandisse a área plantada no Brasil, principalmente no interior do Estado de São Paulo.
A cana ganha destaque, pois tem escala, amparada nos mercados globais de açúcar e etanol. “No segmento de geração de energia ter escala é fundamental”, reforça o dirigente. Porém, ele aposta que no futuro haverá uma diversificação das matérias-primas orgânicas aproveitadas para a geração de energia elétrica. O diretor da Safira calcula que a cana corresponda hoje a cerca de 80% da produção de eletricidade por biomassa.
Se a importância da biomassa para o setor elétrico aumenta, o mesmo ocorre com sua valorização. Kawai Jr. antecipa que a tendência é que o preço da biomassa aumente cada vez mais. “Pois, tanto neste ano, como no próximo, a perspectiva é de que o custo de energia seja extremamente elevado”, destaca.
O dirigente projeta que será possível ultrapassar, ainda em 2014, o patamar de 10 mil MW de capacidade instalada a partir da biomassa. O dirigente enfatiza que a adoção da matéria orgânica como fonte de energia serve também para dar uma destinação adequada ao que antes era um problema ambiental, que é o caso dos resíduos da cana ou a casca de arroz. Além disso, apesar da queima da biomassa acarretar impacto ambiental com a emissão atmosférica, esse reflexo é mitigado durante o processo de crescimento da cana ou de outro vegetal que é aproveitado para essa finalidade. Isso ocorre por causa da absorção do gás carbônico e a liberação de oxigênio, no fenômeno da fotossíntese. O mesmo não acontece com as fontes térmicas fósseis, como o carvão e o gás natural.
As usinas operadas com biomassa estão tentando melhorar a eficiência energética da geração, principalmente aproveitando os resíduos da cana. Essa meta é possível através do aumento da pressão das caldeiras. Com a medida, acaba-se gerando, com a mesma quantidade de bagaço, mais energia.
Usinas de biomassa
De acordo com dados do Boletim de Operação das Usinas, publicado mensalmente pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica - CCEE), as usinas de biomassa mais do que dobraram o fator de capacidade de energia elétrica em comparação com o mês passado, registrando aumento de 156,3% na geração, que chegou a 1.663 MW médios. Na variação anual, entre abril de 2013 e de 2014, foi registrado aumento de 31,6%. O motivo da alta está ligado ao início do período de safra da cana de açúcar.
Resíduos de Madeira
No Estado do Mato Grosso os projetos para aproveitamento do resíduo da madeira com a finalidade de gerar energia se disseminam aos poucos. Em Aripuanã, aproximadamente 35 indústrias terão o pó de serra e cavacos de madeira aproveitados pelos próximos 12 anos por uma usina com capacidade instalada de 30 mW. No mesmo município, outra termoelétrica com capacidade para gerar 1,5 mW de energia irá receber os resíduos de 19 serrarias, instaladas no distrito de Conselvan. Para garantir a geração elétrica são necessárias 45 toneladas de pó de serra e lenha. Com a parceria, as indústrias madeireiras entregam o resíduo para queima à usina termoelétrica e, em contrapartida, são supridas com a energia gerada ao mesmo custo praticado pela concessionária estadual.
Na região noroeste do Estado, a intenção é adotar um modelo semelhante para aproveitamento dos resíduos sólidos, gerando energia por meio de uma termoelétrica, revelou o presidente do Sindicato das Indústrias Madeireiras e Moveleiras do Noroeste de Mato Grosso (Simno), Roberto Rios. “Com a doação de uma área pela prefeitura, a indústria pode ser implantada por meio do associativismo entre os empresários do setor”. No município há aproximadamente 70 indústrias madeireiras e moveleiras, sendo 53 sindicalizadas.
É significativo o potencial local para geração de energia por fontes renováveis, além de ser altamente desejável a inserção incentivada da biomassa. No caso de Mato Grosso, pode-se transformar a cana, palmáceas tropicais em energéticos, produzir oleaginosas com aproveitamento para biocombustível, florestas plantadas para produção de energia e incentivo à utilização dos resíduos de madeira, casca de arroz, bagaço de cana com investimentos em cogeração pelas indústrias para produzir eletricidade e para fins térmicos. |