Os painéis de madeira produzidos hoje no Brasil possuem como vantagens o maior aproveitamento da madeira e a eliminação de restrições impostas pelas dimensões e defeitos desta. Por isso, os painéis estão sendo aplicados como substituto da madeira maciça em diferentes usos, principalmente, nos segmentos de móveis e da construção civil.
Os painéis de madeira reconstituída são divididos em dois grandes grupos: compostos laminados e compostos particulados. Os painéis de compostos laminados, conhecidos também como painéis de madeira processada mecanicamente, são formados por camadas de lâminas ou sarrafos de madeira maciça, produzidos no país desde a década de 40. Comumente chamados de compensados, são muito usados nos segmentos da construção civil e móveis, utilizando matéria prima obtida por meio de manejo de florestas nativas e plantações florestais. Estima-se que cerca de 70% da produção nacional de compensados seja produzida a partir de plantações florestais de pinus localizadas no Sul e Sudeste brasileiro e o restante originado de madeira tropical obtidas da região Norte do país.
Os painéis de compostos particulados são fabricados com base na consolidação de partículas de materiais lignocelulósicos, por meio do emprego de resinas. Estes painéis passaram a ser largamente produzidos e usados no país a partir da década de 90. No Brasil, os painéis de particulados são produzidos somente com madeira oriunda de plantações florestais (eucalipto e pinus). São vários os painéis inseridos nesta classificação, dos quais os mais utilizados são: aglomerado ou Medium Density Particleboard (MDP), Oriented Strand Board (OSB), Medium Density Fiberboard (MDF) e Chapa de fibra (Chapa dura). Esses quatro representam grande parte da matéria prima utilizada pelas indústrias de móveis no país.
De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Painéis de Madeira, o Brasil está entre os países mais avançados do mundo na fabricação de painéis de madeira reconstituída. É também o país com o maior número de fábricas de última geração de compostos particulados.
O consumo de produtos de origem madeireira em grande escala, pelos diversos setores da sociedade, fez com que surgissem questionamentos sobre os impactos de suas operações ao meio ambiente e a sociedade, instigando discussões em todo o mundo a respeito da sustentabilidade mundial.
Devido às pressões socioambientais ao setor florestal, diversas empresas vêm buscando os chamados “selos verdes”, além do avanço de tecnologia, como forma de diferenciação e melhoria de sua imagem perante o mercado consumidor, especialmente o internacional. Um instrumento de diferenciação socioambiental de produtos de origem florestal que vem ganhando força é a certificação florestal.
A certificação florestal é um mecanismo de controle, não governamental e voluntário, pelo qual se atestam determinadas características do manejo praticado por uma operação florestal. Mas, para que o produto final receba o “selo verde” é necessário que toda a cadeia produtiva passe pelo processo de avaliação, de forma que a matéria prima possa ser rastreada. A verificação deste rastreamento é realizada de forma independente por uma certificadora e é conhecida como certificação Cadeia de Custódia (CoC). Todos os setores de base florestal podem ser certificados caso queiram que seu produto final também receba o selo de certificação florestal, tais como: serrarias, fábricas de painéis, de móveis, de embalagens, lojas de construção civil, carvoarias, siderúrgicas, entre outras.
Entende-se que uma organização que passa pelo processo de certificação florestal está incorporando, em seu processo, as questões ambientais e sociais do manejo florestal, por meio da minimização de seus impactos negativos e, potencializando os positivos. Com isso, o consumidor que opta por um produto com esse selo está também incorporando a conscientização ambiental como mais um item na sua decisão de compra.
Um dos sistemas de certificação com maior atuação no Mundo é o Forest Stewardship Council (FSC), composto de padrões para o manejo e cadeia de custódia.
Painéis de madeira
O consumo de painéis de madeira reconstituída foi crescente em todo o mundo na última década. Em 2012 a produção mundial total alcançou 299.512.338 m3 (FAO, 2013), com destaque para os painéis de partículas (aglomerados e OSB), compensados e MDF .
Apesar do MDF e Chapa de fibra fazerem parte da classificação dos painéis particulados, internacionalmente eles são contabilizados separados, devido a sua importância.
O Brasil respondeu com 3,5% da produção mundial e, apesar deste pequeno percentual, o setor apresenta-se em constante crescimento. Na última década houve um incremento de produção de mais de 50%, passando de 6.603.986 m3 em 2002 para 10.164.022 m3 em 2012 (FAO, 2013). Este incremento se deu, principalmente, ao aumento da produção dos painéis de material particulado (aglomerado, OSB e MDF).
Ainda, sobre esse crescimento associa aos investimentos em modernização das linhas antigas de aglomerado e na implantação das novas linhas de MDF, a partir da década de 90. As mudanças foram marcadas pela substituição das prensas de prato ou cíclicas pelas prensas contínuas, que permitiram melhores índices de produtividade e menores custos de produção. A modernização e a ampliação de capacidade também permitiram às fábricas aumentar a sua flexibilidade operacional, com a fabricação de chapas em diferentes dimensões e espessuras.
Assim como no mundo, os produtos com maior demanda de produção no Brasil também são os compensados, aglomerados, OSB e MDF .
Dos três produtos com maior produção no Brasil, o compensado tem os menores percentuais e encontra-se em declínio desde 2009 . Acredita-se que esta diminuição deva-se à crise econômica mundial de 2008, pois, no geral, 50-60% da produção nacional de compensados é destinada à exportação. Em 2012, os compensados continuaram a apresentar a maior quantidade de exportação do setor de painéis no país , mas com percentuais inferiores aos alcançados em 2007 e 2008, que chegaram a mais de 80% de sua produção.
Já a produção de painéis de madeira particulada (MDF, aglomerado e OSB), no Brasil, se direciona, em sua maior parte, para atender ao mercado interno, que está em ampla expansão devido, principalmente, à boa aceitação pelos consumidores por móveis destes materiais. Uma das explicações para esta expansão está à questão do preço ser mais acessível, quando comparado aos móveis de madeira maciça. Para a população de renda mais baixa, que é a maioria no Brasil e que está aumentando o seu poder de compra, móveis com preços mais baixos, mesmo que durem menos, serão os preferidos.
Segundo dados da ABIPA estão previstos mais investimentos nos próximos anos, com valores aproximados de US$ 1,2 bilhão na instalação de novas unidades industriais, que irão proporcionar um aumento da capacidade instalada de 10,3 milhões de metros cúbicos, para aproximadamente 10,9 milhões de metros cúbicos anuais em 2014. Porém, deve-se ressaltar que o país ainda não utiliza seu potencial máximo de produção, pois acompanha as variações do mercado interno.
Certificação Cadeia de Custódia
Para diferenciar os produtos de origem florestal certificada no mercado usa-se, geralmente, o chamado "selo verde", que vai afixado ao produto, na embalagem ou com a informação na nota fiscal. Estes produtos devem ser rastreados em todo o seu processo produtivo. Esse processo visa assegurar que os materiais certificados não se misturaram com os materiais não certificados, por meio da certificação Cadeia de Custódia .
Os números da certificação de Cadeia de Custódia são superiores ao de Manejo Florestal, pois, muitas vezes, uma mesma organização fornecedora de matéria prima (detentora do certificado de manejo florestal) poderá atender a várias empresas de processamento, garantindo assim, a origem de vários produtos de base florestal.
Verifica-se que o percentual de certificados Cadeia de Custódia e Manejo Florestal no Brasil ainda é pouco expressivo ao se comparar com números mundiais, dos quais a Europa detém o maior número de certificados nos dois tipos de certificações. Entende-se que o setor ainda precisa avançar para aumentar esses números, no qual a consciência ambiental dos consumidores se torna fundamental para que o selo seja um fator importante na decisão de compra do produto desejado, e, assim, contribua para que as empresas invistam no processo.
Em relação ao setor produtivo florestal no Brasil, de acordo com os dados do FSC , o que mais investe na certificação Cadeia de Custódia é o setor de celulose e papel .
Entende-se que este fato ocorre porque a maior parte das indústrias de celulose no Brasil já estão certificadas. Além disso, essas indústrias são integradas, ou seja, detém as florestas e a fábrica em conjunto, facilitando o processo de certificação. Outro fator de importância é que grande parte de sua produção é destinada à exportação para países, cujos compradores e consumidores exigem o selo. Assim, como a celulose é a base para fabricação de outros produtos, torna-se mais fácil a garantia da rastreabilidade nos processos subsequentes de produção de papéis, embalagens e gráficas (que estão somados neste percentual).
No item de produtos madeireiros, estão contidos os certificados referentes à madeira em tora, madeira serrada, cavacos, painéis reconstituídos, mobiliários, peças para construção civil e engenharia, carvão vegetal, dentre outros. Este é um setor que vem avançando em números na certificação de cadeia de custódia, alavancado pelo segmento de painéis de madeira. Mas, ainda é afetado pelo baixo número de matéria prima certificada (certificados de manejo florestal), da qual garanta a rastreabilidade do produto final.
Já o terceiro setor, o de produtos florestais não madeireiros, contém os certificados de taninos, óleos essenciais, gomas, cortiça, dentre outros. Este setor ainda caminha lentamente, não só no Brasil, como no mundo, estando muito ligado às pequenas comunidades extrativistas.
Certificação do setor de painéis
Os 22,4 % dos certificados nacionais de Cadeia de Custódia dos produtos madeireiros contemplam uma extensa gama de setores, incluído os painéis de madeira.
Observa-se que o maior percentual dos produtos madeireiros certificados refere-se ao segmento de painéis de madeira, com 16,4%, demostrando que há interesse no setor pela aquisição de selos socioambientais. Entretanto, esse percentual está diretamente associado às grandes empresas produtoras de painéis de compostos particulados, que, assim como da produção de celulose, também são integradas, detentoras das florestas e das fábricas. Assim, se o manejo florestal (plantações) já está certificado fica fácil fazer a certificação . Estima-se que 90% de toda a produção nacional deste segmento (Aglomerado, OSB, MDF e Chapa de Fibra) esteja certificada.
Já entre as produtoras de painéis de compostos laminados, os percentuais são menores. Acredita-se que somente 20% das fábricas brasileiras estão certificadas pelo sistema FSC. Esse baixo percentual está diretamente associado à falta da certificação do manejo florestal (madeira) que atende as indústrias de laminação e compensados.
Quando se verifica a cadeia da utilização de painéis, principalmente, os segmentos de móveis e construção civil, observa-se uma boa participação em relação aos certificados totais do Brasil (32,3%). Entretanto, se comparado com a quantidade de fábricas e lojas, esse número é muito pequeno.
De acordo com dados do Instituto de Estudos e Marketing Industrial - IEMI, , existiam no Brasil, 17.530 indústrias cadastradas no setor moveleiro, das quais 86% se dedicam a fabricar móveis de madeira. Destas fábricas menos de 1% possuem o selo FSC.
Para o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior , o segmento de móveis está entre os mais importantes da Indústria de transformação no país, não só pela importância do valor da sua produção, mas também pelo seu potencial de geração de empregos.
Nos últimos anos, devido à melhor distribuição de renda entre as classes consumidoras mais baixas e os incentivos do Governo Federal aos setores industriais (diminuição de impostos), a demanda por produtos em diversos setores da economia nacional melhorou. O setor de mobiliário foi um dos que se beneficiou com o demanda das classes consumidoras emergentes. Dados do IEMI , demostram aumento no consumo dessas classes econômicas, de 49,8% em 2007 para 59,7% em 2012.
Além disso, ainda existe um desconhecimento muito grande sobre qual tipo de material está sendo utilizado nos móveis. Os móveis de madeira particulada são revestidos com películas coloridas que imitam as madeiras ou são cobertas com lâminas de madeira, que induzem o consumidor achar que é de madeira maciça.
A maior parte dos mobiliários “populares” são fabricados com painéis de madeira reconstituída, principalmente, aglomerado e MDF, pois tem menor custo se comparados às peças de madeira maciça ou serrada. Consequentemente, o aumento da produção de móveis de painéis de madeira reconstituída contribuiu para o aumento crescente das indústrias produtoras deste tipo de material. Mas, em relação à certificação florestal o segmento de móveis não acompanhou o de painéis. Apesar de receber a matéria prima já certificada, são poucas as indústrias que certificaram a sua cadeia de custódia. Logo, são poucas as peças que chegam ao consumidor final (na loja) com o selo FSC.
Entendendo que os consumidores brasileiros ainda fazem suas compras motivados somente pela qualidade e preço do produto, não se torna atrativo para as indústrias de móveis continuarem o processo de rastreabilidade da matéria prima florestal, pois, o selo de certificação florestal, FSC, ainda não é um diferencial ou um item de atratividade para os consumidores finais no Brasil.
Ao entrevistar consumidores em uma feira de expositores de móveis, verificou que 57% das pessoas não sabia o que era a certificação florestal ou que representava a sigla e imagem do selo FSC.
Já no mercado externo, principalmente o Europeu, além das características de qualidade e preço do produto, o consumidor também verifica se os impactos ambientais e sociais no processo de produção são considerados. Isto implica na exigência de selos socioambientais, que, no caso dos produtos de origem florestal, é a Certificação Florestal – FSC.
Com isso, acredita-se que os certificados do setor moveleiro estão relacionados às empresas que exportam parte de sua produção, sendo assim, uma exigência de mercado para a venda dos produtos. Isto foi confirmado em outra pesquisa, na qual eles concluíram que a certificação florestal só foi realizada em empresas de móveis exportadoras, que tinham essa exigência do comprador internacional. Portanto, acredita-se que estes números só irão aumentar no Brasil quando a demanda pelas questões socioambientais do processo produtivo passarem a fazer parte da tomada de decisão na compra dos consumidores finais.
Entre as constatações que se observa, a produção de painéis de madeira particulada (aglomerado, OSB e MDF) é crescente no Brasil. Dentre os cerificados florestais de Cadeia de Custódia FSC, o segmento de painéis de madeira se destaca com o maior percentual de produtos madeireiros certificados.
Além disso as indústrias brasileiras produtoras de painéis reconstituídos tem se esforçado para se certificarem e a maioria tem conseguido êxito. Entretanto, o mesmo não acontece com os outros elos da cadeia, como, por exemplo, as indústrias de móveis, em que existem poucas certificadas.
Fonte: Vanessa M. Basso, Doutoranda em Ciência Florestal da UFV; Clarissa G. Figueiró, Graduanda em Engenharia Florestal da UFV; Bruno G. de Andrade, Doutorando em Ciência Florestal da UFV; Laércio A. G. Jacovine, Professor do Departamento de Engenharia Florestal da UFV; e Angélica de Cássia O. Carneiro, Professora do Departamento de Engenharia Florestal |