A demanda por energia tem levado à busca por fontes alternativas e uma opção que se mostra cada vez mais importante é o uso de biomassa. Diferentes materiais orgânicos têm sido utilizados para produzir energia.
Nesse cenário, plantas que atingem 5,5 metros em apenas seis meses são uma alternativa promissora. Trata-se de um tipo de sorgo, com rápido crescimento e alto potencial produtivo. O chamado sorgo biomassa tem sido pesquisado pela Embrapa e apresenta qualidade para gerar energia, com poder calorífico similar ao da cana, do eucalipto e do capim elefante.
O material pode ser utilizado em usinas termoelétricas, como também em indústrias que têm caldeiras e geram energia para consumo próprio. O pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG) André May explica que o material se mostra mais econômico por produzir muita massa num curto intervalo de tempo. Chega a produzir 150 toneladas de matéria fresca por hectare e até 50 toneladas de matéria seca por hectare. Além disso, o sorgo biomassa é vigoroso, resistente a pragas, a doenças e tem boa tolerância ao acamamento.
Rafael Parrella, também pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, destaca que a cultura é totalmente mecanizável. "Plantio, manejo e colheita são feitos com uso de máquinas. Diferentemente da cana e do capim elefante, que têm plantio com estacas, o sorgo biomassa é propagado por sementes, o que facilita a implantação das áreas."
Rafael é melhorista e tem desenvolvido cultivares de sorgo biomassa. "Estamos avaliando híbridos experimentais em vários locais, onde há demanda por matéria-prima para cogeração de energia. Avaliamos produtividade e adaptação a diferentes ambientes no Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país", explica.
André May pesquisa o sistema de produção da cultura. Ele afirma que o sorgo biomassa permite ao produtor ter "estoque no campo". Ao final do ciclo de crescimento, caso não seja feita a colheita, o sorgo permanece com suas características. A planta não seca nem se perde. Além disso, é possível colher e fazer fardos para uso posterior.
O sorgo biomassa rebrota. Tem potencial para mais de dois cortes. Só depende da distribuição de chuvas ao longo do ano. Em lugares como o Sudoeste Goiano, podem ser aproveitadas as rebrotas.
Um fator problemático para todas as matérias-primas usadas na geração de energia a partir de biomassa é a umidade. Na hora da queima, se a umidade do material for alta, haverá gasto energético para fazer a evaporação e perda de eficiência na geração de energia. Por isso, têm sido conduzidos estudos para reduzir a umidade do sorgo biomassa. "Estamos com trabalhos de colheita e pós-colheita para diminuir a umidade do material, que é, em média, de 50%", comenta o pesquisador.
A partir da avaliação dos híbridos desenvolvidos pela Embrapa, serão lançadas cultivares de sorgo biomassa. "Desde 2009, estamos selecionando os melhores híbridos para registro e lançamento. Deve haver sementes disponíveis no mercado para a safra 2014/2015", explica Rafael.
A fim de avaliar a qualidade de materiais para gerar energia é medido o poder calorífico, ou seja, a quantidade de energia por unidade de massa liberada na queima de um determinado combustível. Existem duas medidas: poder calorífico superior (pcs) e poder calorífico inferior (pci).
Sorgo como matéria-prima dedicada à energia
O aumento da demanda por energia no Brasil vem aumentando significativamente nos últimos anos. Apesar da vasta fonte de energia hidráulica disponível no país, matérias-primas complementares são necessárias, neste caminho, a biomassa é uma opção natural e viável.
Algumas empresas já vem apostando no mercado brasileiro de matéria-prima para as indústrias de base biológica e o sorgo, que possui alto índice de biomassa e consegue atingir até três ciclos de safra por ano, é uma das boa opções. "Essa produtividade é possível dependendo do híbrido e das condições climáticas da região", explica Tatiana Gonsalves, diretora comercial da NexSteppe.
De acordo com a executiva, fatores como a angulação da luz solar, a temperatura, a umidade relativa do ar de diversas regiões brasileiras contribuem para uma produtividade alta do sorgo. "Conseguimos resultados bastante atrativos em campos de testes, chegando a uma produção entre 70 e 80 toneladas de biomassa verde por hectare".
Esta produtividade é possível por conta do melhoramento genético, que faz com que o sorgo alcance alturas de até seis metros com pouca umidade na planta. "Conseguimos reduzir até 50% da quantidade de água retida no sorgo, de forma que a biomassa seca permite uma queima mais produtiva nas caldeiras e também uma redução nos custos de transporte deste material", afirma. |