Análise compara o custo de uma casa unifamiliar nos sistemas construtivos de alvenaria, madeira de lei e Wood Frame
Nas construções brasileiras há o predomínio do uso da alvenaria, seja ela em tijolo cerâmico ou concreto. Um dos problemas enfrentados no Brasil é a questão de uma boa moradia uni familiar com custo acessível. Diante de tal situação, levantou-se a hipótese de que pouco se busca e ou se conhece sobre soluções alternativas à alvenaria.
Através de um estudo buscou-se avaliar, através de análise comparativa, os custos de uma mesma casa uni familiar de 51 m² nos três sistemas de construção: Sistema Madeira de Lei (Angelim pedra), Alvenaria (Tijolo de barro), e Wood Frame (Perfil de madeira leve). Através desta análise, pretende-se chegar a indicações para cada sistema de construção em termo de qualidade, rapidez da obra e com a melhor relação custo benefício. É importante conhecer estes três sistemas construtivos para informar corretamente o cliente sobre os preços, vantagens e desvantagens dos sistemas em questão.
As casas de madeira encaixada, pré-fabricada, é o sistema mais divulgado e conhecido no Brasil. O material usado é madeira de lei oriunda das florestas da Amazônia. Hoje em dia, a maioria é extraída a través de manejos florestais sustentáveis e com o aval do IBAMA. Estas casas são normalmente de parede simples de 3 até 6 cm de espessura em tábuas macheadas, com a largura de 14 cm múltiplo de 210 cm que é a altura do topo da porta. Elas estão encaixadas lateralmente em pilares de 12 x 12 cm ou até mais. As tábuas não são pregadas para poderem ficar flutuando, podendo compensar assim o encolhimento e dilatamento, conforme a umidade do ambiente. Como estas casas têm somente uma parede e relativamente fina, esta construção adapta-se muito bem em nosso clima subtropical/tropical, mas não é recomendável em localidades de clima muito frio.
A casa de alvenaria convencional é formada por pilares, vigas e lajes de concreto, sendo que os vãos são preenchidos com tijolos cerâmicos para vedação. Neste caso, o peso da construção é distribuído nos pilares, vigas, lajes e fundações e, por isso, as paredes são conhecidas como “não-portantes”. Para a construção de elementos como pilares e vigas são usados aço estrutural e formas de madeira. Depois da construção das paredes, é preciso “rasgá-las” para embutir as instalações hidráulicas e elétricas. Em seguida, deve ser iniciada a etapa de revestimento, caracterizada pela aplicação do chapisco, massa grossa, massa fina e pintura.
No Brasil, a construção civil ainda é em alvenaria caracterizada pela baixa produtividade e principalmente pelo grande desperdício. Porém, o país já começa a dominar a tecnologia de obras industrializadas, tanto na área industrial quanto na residencial, possibilitando a execução de construções com rapidez e qualidade.
Construções em “Wood frame” é o método predominante para construir casas e apartamentos nos Estados Unidos. É utilizado naquele país também para construção de edifícios comerciais e industriais, que podem alcançar até cinco andares. Casas “Wood frame” são econômicas e ótimo isolamento térmico que proporciona o máximo conforto. Além disso, este sistema de construção permite estilos de arquitetura dos mais variados e tradicionais à arquitetura futurística.
Dentro do sistema Wood frame distingue-se ainda dois tipos clássicos de construções, o “Platform frame” e o “Balloon frame”.
No primeiro tipo se ergue um andar e se cobre formando uma plataforma, sobre esta se constrói o próximo andar e assim por diante. É o sistema atualmente mais usado. A madeira após sua decadência na arquitetura monumental, cedendo lugar ao ferro, aço e concreto, teve aplicação em uma escala imensa na arquitetura vernácular americana como resultado deste sistema. O método tradicional de poste e viga requeria madeiras muito pesadas (de grande seção) e considerável habilidade de carpintaria na lavração da madeira. Com o sistema Wood frame era requerido apenas habilidades elementares para fixar por pregação apenas peças leves de madeira de dimensões padronizadas. Este sistema versátil e simples tornou-se a maneira de fazer casas na América do Norte, mesmo naquelas com lâmina de tijolos nas paredes externas em lugar do fechamento em madeira. O segundo tipo tem montantes que vão do solo até o telhado do segundo andar. Este sistema é menos usado, sendo restritivo para a altura da construção. O sistema plataforma se originou do sistema Balloon frame. O fato de o Platform frame ter se tornado altamente padronizado e somado a sua simplicidade, tem feito com que ele seja muito mais usado do que o próprio sistema “Balloon” ao qual vem substituindo..
As estruturas de madeira ou aço em conjunto com as placas estruturais LP OSB Home permitem a construção de edificações leves tão resistentes quanto às de concreto. Extremamente flexível, o Sistema permite a utilização de qualquer tipo de acabamento exterior e interior, pode ser aplicado em qualquer estilo arquitetônico e é indicado tanto para edificações unifamiliares de pequeno ou médio porte como para construções multifamiliares e com altura de até cinco pavimentos..
Construção civil
Historicamente o homem sempre foi capaz de grandes construções e continua crescendo e evoluindo suas técnicas em obras grandiosas. Porém houve um “estacionamento” sobre determinadas técnicas e uso de determinados materiais para construção civil, principalmente para as residenciais. Faz-se urgente a revisão e conhecimento de novas técnicas construtivas a fim de modernizar este setor, oferecer qualidade e facilitar a aquisição de moradia de forma universal.
O uso da madeira como pilares e vigas foi descoberto ainda na pré-história e em muitas civilizações ainda antes do fogo. Cada civilização individualmente teve sua importância na utilização da madeira na construção. Em cada uma delas, seu uso na arquitetura se deu de forma diferente, devido ao clima e condições do terreno que determinaram um método a ser usado. Logo, cada localidade com os seus tipos de árvores, adaptou suas necessidades ao que lhe era disponível. A madeira era utilizada como principal elemento construtivo ou combinada com outros materiais como: o barro, a palha, a pedra, o ferro e outros. Com a disponibilidade e facilidade de ser trabalhada, os primeiros barcos surgiram dela, assim como também para fabricação de utensílios domésticos, ou de trabalho, móveis, esculturas, etc.
No Brasil, a enorme variedade de espécies de árvores permitia inúmeras utilidades: tinta, canoas, vigas, pilares, armas de caça, instrumentos musicais e instrumentos de trabalho pelos índios, únicos habitantes em terras brasileiras até a chegada dos portugueses. A partir de então, passou a extração da madeira a ser a principal atividade econômica, logo se tornando o principal produto de exportação.
A arquitetura inicial era basicamente feita com madeira, nas formas e estilos europeus e utilizando as técnicas indígenas locais, o que explica a enorme miscigenação arquitetônica no período colonial. Com o tempo, a extração da madeira além de servir como produto de exportação, servia também como matéria prima para a produção de energia, o que fez com que a devastação fosse bem mais acentuada. A madeira deixou por um bom tempo de ser utilizada nas construções, para ser queimada nas embarcações que passavam pelo litoral brasileiro. Na arquitetura ficou rebaixada à estrutura, e as casas tendo o adobe e a taipa, como revestimento. Como se pode ver, a madeira esteve sempre muito relacionada com a colonização, tanto que o nome do país se deu por causa da madeira que produzia os pigmentos, o Pau-Brasil.
A falta de profissionais formados e qualificados para este sistema desacreditam as construções em madeira levando a um preconceito na qualidade da construção. Construções com este material é comum ouvir falar: “casa de madeira, é fraca”, isso demonstra a o alto desconhecimento do assunto.
Testes realizados em laboratórios apontam o bom desempenho do material em itens como durabilidade, resistência, conforto térmico e acústico. Observadas as questões de projeto, de tratamento adequado e de manutenção, são moradias previstas para 50 anos ou mais.
Outro aspecto importante e desconhecido pela sociedade refere-se à questão ecológica, ou seja, quando se pensa no uso da madeira é automático para o leigo imaginar grande devastação de florestas. Consequentemente, o uso da madeira parece representar um imenso desastre ecológico. No entanto, é esquecido que, em primeiro lugar, a madeira é um material renovável e que durante a sua produção (crescimento) a árvore consome impurezas da natureza transformando-as em madeira. A não utilização da árvore depois de vencida sua vida útil devolverá à natureza todas as impurezas nela armazenadas. Em segundo lugar, não se deve esquecer jamais que a extração da árvore e o seu desdobro são um processo que envolve baixíssimo consumo de energia, além de ser praticamente não poluente.
Considerando os inconvenientes do uso da madeira, entende-se o motivo pelo qual se optou pelo aço e concreto armado. Porém, processos de modernização e aperfeiçoamento no tratamento e manuseio da madeira permitem atualmente anular estas características negativas, fazendo com que ainda seja um material de muito bom resultado nas edificações.
Alvenaria
A alvenaria é tão antiga como a história da arquitetura, iniciada com as primeiras civilizações, cerca de 9000 a 7000 a.C., tendo surgido como uma técnica de construção. Foi a simplicidade do seu conceito (colocar uma pedra sobre outra) que permitiu a sobrevivência dos recém-sedentários, naturalmente que aperfeiçoando materiais e tecnologias ao longo dos tempos.
Atualmente, a alvenaria é a técnica mais utilizada para o fechamento de paredes de edifícios, muros a monumentos, sendo os blocos mais vulgares de cerâmica e de betão. A qualidade dos materiais empregados, as incorreções ao nível da concepção e as deficiências na execução, são responsáveis por anomalias nas edificações que causam além de aumento de custo, tempo de execução e desgaste da obra. Trata-se de desempenhos não compatíveis com a importância funcional e econômica da alvenaria e compromete o resultado esperado nesta técnica construtiva.
No Brasil, o sistema convencional ainda impera devido a forte cultura construtiva brasileira e a maior necessidade de planejamento no caso de outros métodos construtivos. Os dois tipos de blocos cerâmicos mais utilizados são: Blocos de vedação destinados à execução de paredes, com capacidade de suportar seu peso próprio e pequenas cargas, geralmente utilizados com os furos na horizontal, e o bloco estrutural ou portante, que além de exercerem função de paredes, podem ser utilizados em edificações podendo substituir pilares e vigas de concreto devido a sua elevada resistência mecânica. Para vedação, o bloco cerâmico mais utilizado é o de 6 e 8 furos.
Sendo a alvenaria de bloco cerâmico, a estrutura de vedação mais popular utilizada no Brasil, levando em consideração o alto índice de carência em habitação neste país juntamente com a maior desvantagem deste tipo de técnica, que é o tempo de execução, tem-se a ideia de que este sistema não seria o mais adequado para a situação brasileira. Não somente por esta razão, pois o peso da edificação neste caso é o mais elevado em comparação aos 02 outros materiais estudados.
“Wood Frame”
O termo Wood frame refere-se a uma técnica de construção de edifícios muito usada em diversos países do mundo, em especial no continente norte americano e no norte da Europa. O principal material estrutural do sistema é a madeira. Aplicada em forma de perfis montantes com duas polegadas de largura com seção que pode variar de 4 a 12 polegadas.
O método Wood frame, que consiste em um esqueleto de ripas de madeira, foi possível a partir de inovações nas maquinarias e serrarias mecânicas, que permitiram obter secções de madeira muito finas e com maior rapidez. Desse modo, a introdução de técnicas industrializadas permitiu uma construção mais barata, capaz de ser facilmente montada e desmontada, substituindo o emprego dos carpinteiros por mão de obra não especializada. Com a colonização da América, os povos do norte da Europa levaram consigo os seus conhecimentos de marcenaria e carpintaria tendo à sua disposição abundantes recursos florestais. Cidades inteiras eram construídas com estruturas em madeira, usando elementos de grande seção. Disponível no Brasil há 14 anos, só agora começa a se disseminar, sobretudo em regiões com boa oferta de madeira reflorestada, como o Paraná e o Espírito Santo. O tempo de obra é ao menos 25% menor que na alvenaria comum. A oferta de mão de obra, ponto crítico nos vários sistemas do gênero, é melhor neste caso, em que as paredes são montadas na fábrica e levadas prontas para a obra. Apesar de o Wood frame ser utilizado em outros países, a atual norma brasileira NBR 7190:1997 - Projeto de Estruturas de Madeira - não apresenta critérios muito apropriados para o dimensionamento dessas estruturas leves, pois considera em suas especificações dimensões mínimas para elementos estruturais considerando-se a segurança de estruturas isostáticas e de treliças.
No Brasil, o que barra o crescimento das técnicas alternativas é a sua tímida divulgação e muita insegurança quanto ao sistema, justamente por falta de conhecimento da técnica, por falta da normatização e da mentalidade de que o uso da madeira gera o desmatamento e consequente desastre ecológico.
A prática do sistema Wood frame no Brasil depende quase que exclusiva do conhecimento da técnica, pois visto que, além das poucas desvantagens em relação aos demais sistemas (Alvenaria e madeira de lei) trata-se de uma construção de casas de madeira de alta tecnologia, qualidade, velocidade, flexibilidade, conforto térmico e acústico e com preço competitivo. Portanto a divulgação e conscientização da população em relação às técnicas e materiais podem mudar a realidade brasileira em termos de habitação.
O uso de técnicas e materiais alternativos na construção civil que possam vir a competir ou mesmo substituir as técnicas convencionais pode servir de apoio e solução para casos como no Brasil, onde há um déficit habitacional e com condições precárias de habitação apesar de ser um país com grande potencial florestal. Aqui, diferentemente dos países norte-americanos, europeus e Japão predomina o preconceito em relação à madeira, por exemplo.
Estas inovações na construção civil podem inclusive levar o Brasil a competir com estes países mais desenvolvidos, desde o processo tecnológico da matéria prima até seu desempenho final e custo beneficio ao usuário. Como estes sistemas alternativos permitem uso conjugado de diversos tipos de materiais e soluções racionalizadas, torna-se possível a flexibilidade de projeto na grande maioria das obras. Essa flexibilidade torna a edificação interessante, pois possibilita o uso de determinado material localmente encontrado, tornando a obra mais barata e mais rápida, bem como tornar competitivo o sistema, o que seria o caso no Brasil com todo seu potencial madeireiro.
Bem como se esperava, cada técnica e material tem seus prós e contras, não só em relação a custos, mas também em relação à trabalhabilidade, disponibilidade local da matéria prima, mão de obra para cada caso, tempo de execução, durabilidade e ao final, também o gosto do cliente.
A análise comparativa mostra que o sistema em Alvenaria e Madeira de lei, referente a custo total, são praticamente iguais, de maneira que a decisão final caberá ao cliente. A disponibilidade da mão de obra respectiva também influenciará para a escolha de um ou outro sistema de construção. Já o sistema Wood Frame, mesmo que de forma tímida no Brasil, pode ser considerada a melhor opção a ser adotada, pois este sistema mostra uma clara vantagem em termo de custo sobre os outros sistemas considerados. Este fato vai influenciar sem dúvida a escolha do cliente, ainda mais quando se considera as outras vantagens que apresenta o sistema Wood frame, quando comparado com os demais.
Logo, se faz necessário que haja certo empenho das empresas envolvidas e donos das técnicas na conscientização da sociedade e dos profissionais do ramo, para que a aceitação destes novos sistemas se torne realidade e tragam resultados positivos quanto à utilização da matéria prima, que é a madeira nas construções brasileiras.
Autor
Laurilan Gonçalves Souza, Master em Arquitetura
Instituto de Pós Graduação IPOG |