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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°59 - SETEMBRO DE 2001

Nós

Nós na Madeira

Os galhos são tão importantes para a vida da árvore como as raízes, pois eles são os portadores dos ramos, folhas, flores e frutos e atuam como condutores de água e dos produtos de assimilação. O nó é a base de galho ou ramo que está encaixado no tronco de uma árvore ou noutro galho maior. O nó tem início na medula e cresce do centro para a periferia, provocando na sua vizinhança uma série de desvios ou descontinuidade dos tecidos lenhosos. As florestas destinadas à produção de madeira serrada ou laminada devem ser induzidas a produzir madeira isenta de nós, resultando em maior valorização no mercado das madeiras chamadas “clear” .

Os nós podem ser considerados vivos quando os galhos estavam fisiologicamente ativos na árvore, havendo uma perfeita continuidade de seus tecidos lenhosos com os tecidos do resto do tronco; esta íntima ligação os integram perfeitamente ao lenho do tronco. Os nós vivos, dependendo de sua posição nas peças serradas, não prejudicam alguns usos, como lambris, forros, móveis, assoalhos etc. O nó morto corresponde a um galho que morreu e deixou de participar do desenvolvimento do tronco, não havendo mais continuidade estrutural e a sua fixação depende apenas da compressão periférica exercida pelo crescimento diametral do fuste. O nó morto pode ser solto quando corresponde a um galho seco que se separou da peça de madeira, deixando uma cavidade ou olhal, que compromete muito a aparência e as propriedades físico-mecânicas das peças serradas. Ao morrerem, os nós podem sofrer transformações, como acúmulo de resinas e outros materiais que lhe conferem acentuada dureza. Dependendo de sua posição na tábua, os nós mortos têm a tendência de se soltar, quando as peças são submetidas à secagem, desvalorizando-a para uma série de usos. A presença de nós mortos na madeira dificulta muito a trabalhabilidade da peça de madeira.

O tamanho e a quantidade de nós na madeira serrada dependem da sua posição e das características da tora original. As toras, por sua vez, dependem de fatores genéticos das árvores que lhes dão origem, do espaçamento original na formação da floresta e do manejo a que foi submetida. Nos eucaliptos, quando as florestas não são adequadamente formadas e manejadas, geralmente os nós são muito numerosos.

Para a produção de madeira isenta de nós têm sido feitas várias recomendações:

Selecionar árvores com boa desrama natural e galhos de espessura reduzida. Há informações que na África do Sul existem trabalhos que demonstram sucesso nos programas de melhoramento e, após alguns ciclos, a seleção se mostrou efetiva na melhoria da desrama natural e na conseqüente redução dos problemas de nós na madeira.

Utilizar espaçamentos mais densos e proceder várias operações de desbaste; espaçamentos mais densos inibem a emissão de gemas e impedem a formação de galhos; tal operação reduz os custos de manutenção com capinas, tão importante na fase inicial de crescimento, e estimula o crescimento em altura.

Utilizar a desrama artificial, eliminando-se uma parte dos ramos laterais do tronco. Segundo pesquisadores da área, a desrama deve ser realizada logo após o fechamento da copa e a uma altura mínima de 2 metros, com as seguintes vantagens:

. produzir madeira livre de nós na base da árvore, onde se concentra a tora de maior diâmetro;

. facilitar o corte das árvores nas operações de desbaste;

. reduzir o risco de fogo, restringindo o seu acesso à copa das árvores;

. permitir o acesso ao talhão para inspeção e marcação das árvores para desbaste

. reduzir a formação de bolsas de resina e podridão do cerne.

Embora muitas espécies do gênero Eucalyptus apresentem boa desrama natural, sabe-se que a permanência dos ramos secos nas idades jovens ou a retirada dos mesmos ocasionam problemas de nós na madeira e a formação de bolsas de resina, problemas sérios que comprometem as propriedades de resistência da madeira e lhe prejudicam a aparência.

Para se produzir uma madeira livre de nós ou madeira com nós de pequena dimensão, deve-se realizar a desrama artificial, o mais cedo possível. No caso de Eucalyptus spp. A idade ideal varia de 1 a 3 anos, dependendo do ritmo de crescimento. Os ramos devem estar, ainda, verdes, fazendo-se a retirada de 50% da copa, quando as árvores atingirem de 2 a 3 metros de altura. Uma segunda desrama deve ser feita quando a árvore atingir de 4,5 a 6 metros, na mesma intensidade, ou seja, retirar 50% da copa. Acima desta altura, acredita-se que a desrama natural seja efetiva e não ocasiona a formação de nós mortos. A desrama, normalmente, vem acompanhada de um desbaste e a definição da freqüência e da intensidade da desrama é feita em função do desenvolvimento da planta e, não necessariamente, da idade. Sem dúvida, a operação de desrama artificial, principalmente a segunda desrama, é considerada uma operação cara, mas necessária quando se pretende obter uma madeira de alta qualidade para serraria e laminação.

A madeira apresentará menor quantidade de nós ou isenta de nós quando for possível integrar as práticas de melhoramento, do espaçamento adequado e da desrama artificial.



Prof. José de Castro Silva

UFV/DEF/CEDAF

Doutorando UFPR

Setembro/2002