O homem utiliza a madeira desde os primórdios dos tempos. Suas características, como ser um material leve, de grande plasticidade e trabalhabilidade, ou seja, adaptável a uma variedade de formas, a fez ser a principal matéria-prima utilizada pela indústria moveleira.
A produção de uma cadeira, por exemplo, deve suportar o usuário em uma posição tal que este possa permanecer confortável. Deve ser suficientemente forte para suportar o peso da pessoa e ainda leve o suficiente para ser movida sem esforço.
A cadeira é a reprodução do que o ser humano pensa de status, honra, conforto, ordem, beleza, eficiência, disciplina e relaxamento. Quando as ideias mudam, as cadeiras mudam; desta maneira pode-se afirmar que elas são ferramentas culturais, símbolos de modernização e progresso.
O assento é provavelmente uma das invenções que mais contribuiu para modificar o comportamento humano. Na vida moderna, muitas pessoas chegam a passar mais de 20 horas por dia nas posições sentada e deitada. Diz-se até que a espécie humana, homo sapiens, já deixou de ser um animal ereto, homo erectus, para se transformar no animal sentado, homo sedens. Daí deriva-se o termo sedentário, que significa sentado.
A ABNT em sua Norma Técnica NBR 13962 estabelece uma classificação para as cadeiras, dividindo-as em:
i. cadeira fixa;
ii. cadeira fixa com apoia-braço;
iii. cadeira fixa com prancheta;
iv. cadeira fixa com apoia-braço e prancheta;
v. cadeira giratória operacional;
Ergonomia é uma palavra de origem grega formada pelos termos “ergon” que significa trabalho e “nomos” que significa regras, leis naturais. A Ergonomia surgiu como consequência do trabalho interdisciplinar realizado por certos profissionais durante a II Guerra Mundial e é o estudo da adaptação do trabalho ao homem, é iniciada com o estudo das características do trabalhador e posterior projeção do posto de trabalho de modo que sua saúde seja preservada. Porém, a aplicação da ergonomia não se restringe apenas as indústrias, além da utilização na indústria a ergonomia contribui na vida diária como mobília doméstica mais confortável e aparelhos eletrodomésticos mais eficientes e seguros.
O objetivo da aplicação da ergonomia está baseado na saúde, conforto, satisfação, segurança e bem-estar das pessoas no seu relacionamento com os sistemas produtivos.
A ergonomia procura ajustar os objetos artificiais ou naturais ao homem aumentando a eficiência e o conforto de suas atividades e, para que seja possível melhor ajustá-los, é preciso ter o conhecimento de diversos aspectos do comportamento humano no trabalho como as suas características físicas, fisiológicas, psicológicas, sociais e a influência do sexo, idade, treinamento e motivação; e também compreender a máquina, como os equipamentos, ferramentas, mobiliários e instalações, sendo a maior dificuldade da ergonomia as diferenças individuais entre as pessoas tanto em aspecto físico como nas características intelectuais e comportamentais.
Complementando, a antropometria é o processo ou técnica de mensuração do corpo humano ou de suas várias partes.
No Brasil existem poucas publicações a respeito dos dados antropométricos dinâmicos e funcionais da população. As medidas antropométricas são importantes na concepção de projetos de produtos, sendo eles bens de capital ou de consumo.
Fatores como raça, etnia, dieta, saúde, atividade física, postura, posição do corpo, vestuário, entre outros, devem ser considerados na avaliação da antropometria, pois afetam diretamente os dados obtidos.
A carência de dados antropométricos relativos à população brasileira e a falta de normas técnicas nacionais relacionadas a cadeiras de uso doméstico reforçam a importância do desenvolvimento de projetos com a finalidade de propor critérios de avaliação da conformidade, contribuindo para o desenvolvimento do setor moveleiro e para a melhoria do mobiliário fabricado.
O uso inadequado e produtos mal projetados podem causar sérios problemas à saúde do consumidor; preferencialmente, essas condições deveriam ser pensadas na fase inicial de cada projeto, diminuindo, assim, os problemas futuros na hora do uso.
Existem algumas recomendações a serem seguidas, que são estabelecidas através de Normas Técnicas que determinam as dimensões básicas de cadeiras, regras a serem seguidas no projeto e execução de cadeiras de escritório.
Através de um trabalho foi avaliada uma cadeira residencial referente à suas dimensões de altura do encosto, largura do encosto, altura do assento, largura do assento, profundidade do assento e inclinação assento/encosto. Após tomadas as dimensões, estas foram comparadas aos valores determinados pela NBR 13962 , aos dados antropométricos do Instituto Nacional de Antropometria.
Observa-se que as dimensões da cadeira são aceitas em alguns parâmetros, porém nem todas as exigências são cumpridas, como por exemplo, o valor obtido para a angulação do encosto é inferior a todos os valores preconizados.
A altura do assento satisfaz as exigências determinadas pela NBR 13962 e é análoga aos dados antropométricos do INT , mas está acima dos valores recomendados por Panero e Zelnik .
A profundidade do assento atende a determinação da NBR 13962 e apresenta valor inferior quando comparado com os valores do INT e Panero e Zelnik .
Para o valor obtido da largura do assento tem-se que os limites determinados pelo INT são respeitados, porém são inferiores aos determinados pela NBR 13962 e por Panero e Zelnik.
A largura do encosto atende a determinação da NBR 13962 e é inferior aos dados antropométricos do INT.
Para a altura do encosto, quando considerada em função da medida do meio do encosto a determinação da NBR 13962 não é atendida,os valores são superiores aos valores máximos estipulados. Para o valor da altura total do encosto, do piso até a parte superior, tem-se que o preconizado por Panero e Zelnik não é respeitado, apresentando valores superiores.
Com base nas avaliações realizadas podem-se inferir as seguintes conclusões:
Os valores determinados pela NBR 13962 não são respeitados em todo o projeto da cadeira;
Os dados antropométricos determinados pelo INT não são respeitados em todo o projeto da cadeira;
Os valores preconizados por Panero e Zelnik não são respeitados em todo o projeto da cadeira;
São necessários mais dados antropométricos da população brasileira para que os móveis possam ser projetados de forma a atender as necessidades da maior parcela da população;
Os dados e normas existentes devem ser utilizados de forma que sejam projetados móveis que atendam os requisitos ergonômicos.
Autores
Ana Carolina Boa, Aluna de Graduação, UFES; Elizabeth Neire da Silva e Nilton César Fiedler, Professoes do Departamento de Engenharia Florestal, UFES |