O setor de painéis de madeira brasileiro apresenta grande dinamismo, reflexo da inequívoca competitividade do setor florestal brasileiro e da qualidade e da ampla aceitação do produto nacional no mercado doméstico.
Os painéis de madeira são estruturas fabricadas com madeiras em lâminas ou em diferentes estágios de desagregação que, aglutinadas pela ação de pressão, de temperatura e da utilização de resinas, são novamente agregadas visando à manufatura. A principal vantagem desse tipo de produto é a aplicação como substituto da escassa e encarecida madeira maciça em diferentes usos, como na fabricação de móveis, portas, pisos e rodapés.
Os painéis de madeira podem ser divididos em dois tipos: os painéis de madeira reconstituída e os painéis de madeira processada mecanicamente.
Os painéis de madeira reconstituída passaram a ter seu consumo largamente incrementado no Brasil a partir da década de 1990 e são fabricados com base no processamento químico da madeira, que passa por diferentes processos de desagregação. Os principais tipos de painéis de madeira reconstituída são o medium density particleboard (MDP), o medium density fi berboard (MDF) e correlatos como o high density fi berboard (HDF) e o super density fi berboard (SDF) e as chapas de fibra.
O MDP é o painel mais consumido no mundo, sendo utilizado na fabricação de móveis retilíneos (tampos de mesas, laterais de armários, estantes e divisórias) e, de forma secundária, na construção civil.
Também muito utilizado na fabricação de móveis, o MDF leva alguma vantagem sobre o MDP por causa de características mecânicas específicas que o aproximam da madeira maciça, como consistência, boa estabilidade dimensional e grande capacidade de usinagem. Em menor escala, há a aplicação na construção civil, como piso, rodapé e batente, entre outros.
Apesar das diferenças na aplicação, os processos de produção do MDP e do MDF são similares.
Com o menor consumo mundial, a chapa de fibra é utilizada particularmente na fabricação de móveis, sobretudo em fundos de gavetas e de armários. Porém, a tendência é de que, ao longo do tempo, seja substituída pelo HDF, produto obtido pelo mesmo processo de fabricação do MDF, embora com alta densidade e maior valor agregado, graças ao refinamento das fibras utilizadas.
Os painéis de madeira reconstituída podem, ainda, ser comercializados sem revestimento ou revestidos. O revestimento pode ser aplicado em ambas as faces e apresentam-se em três diferentes tipos:
Baixa Pressão (BP)
Consiste na fundição ao painel de uma folha de papel especial impregnada com resina melamínica pela ação de temperatura e pressão.
FinishFoil (FF)
Consiste na colagem de uma película de papel ao painel.
Lâmina de Madeira (LM).
Consiste em revestir o painel com uma lâmina de madeira natural.
No Brasil, a indústria de painéis de madeira reconstituída utiliza somente madeira oriunda de florestas plantadas. Conforme dados da Associação Brasileira da Indústria de Painéis de Madeira (Abipa), responde por cerca de 500 mil hectares plantados de pínus e eucalipto e emprega cerca de 5.500 funcionários diretamente e 25 mil indiretamente.
Na outra vertente, os painéis de madeira processada mecanicamente são formados por camadas de lâminas ou sarrafos de madeira maciça e representados principalmente pelos compensados, cuja utilização segue a aplicação dos demais materiais, servindo tanto à indústria de móveis quanto à construção civil. No Brasil, essa indústria utiliza madeira no processo produtivo tanto de florestas plantadas (sobretudo de pínus e situadas na Região Sul) quanto de florestas nativas (principalmente na Região Norte).
Mercado
A indústria de painéis de madeira caracteriza-se por ter baixas barreiras à entrada, dado que os valores de investimento são relativamente baixos para os padrões de uma indústria intensiva em capital. Da mesma forma, não existem patentes que limitem a utilização de tecnologias de fabricação por um novo entrante, uma vez que o componente tecnológico se encontra nas máquinas e equipamentos necessários ao processo produtivo.
A indisponibilidade de terras e a subutilização de tecnologia de ponta no segmento florestal, mais do que diminuir a competitividade, seja pelo elevado valor da terra, pela baixa produtividade da árvore ou pela dificuldade logística de suprimento e fornecimento, podem inviabilizar estrategicamente um projeto, uma vez que parte importante das empresas no país estrutura seu negócio com base na integração da cadeia, buscando formar sua base florestal num raio médio não superior a 150 km da unidade industrial, geralmente situada nas proximidades do mercado consumidor. Nesse sentido, embora as especificidades de cada projeto devam ser levadas em consideração, a percepção é de que a proximidade da unidade industrial em relação a sua base florestal é mais relevante à competitividade do que a proximidade do mercado consumidor, por causa da maior sensibilidade dos produtos de menor valor agregado (nesse caso, a madeira) ao custo de frete. Não menos importante, é comum nos projetos a propriedade de viveiros e laboratórios, em que se possibilitam a autossuficiência de mudas para o replantio e a adaptação de características genéticas às condições locais.
Dois outros pontos merecem destaque: 1- a integração com a produção de resina, segundo insumo em importância, sobretudo com o aumento do porte dos novos projetos no setor de painéis; e 2 - a conciliação da fabricação de painéis como o MDP e o MDF em uma mesma planta, otimizando a produção em decorrência de complementaridade nos processos de fabricação.
No Brasil, uma nova fábrica de painel de madeira reconstituída típica e sem linha de revestimento tem capacidade entre 350 mil e 500 mil m³/ano e demanda investimentos de cerca de R$ 250-350 milhões, mas existem projetos de fábricas de até um milhão de m³/ano e linhas de revestimento agregadas. Para uma fábrica de 500 mil m³/ano, alimentada com eucalipto, com incremento médio anual (IMA) de 40 m³/ha ano e idade de corte de sete anos, estima-se necessidade de área mínima de floresta plantada entre 15 mil e 20 mil ha.
A estrutura produtiva da indústria de painéis de madeira reconstituída é concentrada e a sua capacidade instalada está dividida entre seis empresas principais.
Por sua vez, a indústria de painéis de madeira processada mecanicamente é bastante pulverizada. O segmento de compensados é formado por grande número de empresas, divididas em dois grupos: 1 - Região Norte, com especialização na fabricação de compensados de madeira tropical de florestas nativas; e 2 - Região Sul, com utilização de madeira de florestas plantadas, principalmente de pínus.
Competitividade
O parque industrial brasileiro é um dos mais avançados do mundo. Os investimentos em modernização das linhas ora existentes de MDP e na implantação das linhas de MDF, desde a década de 1990, foram marcados pelo uso das prensas contínuas, no lugar das prensas de prato ou cíclicas.
As prensas contínuas permitem a obtenção de menores custos de produção, uma vez que operam com menor consumo de matéria-prima, menor índice de perdas no processo de lixamento e menor número de empregados, além de consumirem menos energia.
A modernização e a ampliação de capacidade também permitiram às fábricas aumentar a sua flexibilidade operacional, com a fabricação de chapas em diferentes dimensões e espessuras.
A preocupação das empresas no sentido de que melhorias operacionais reduzam custos e aumentem a competitividade dos produtos é outra característica a ser destacada, pois gera melhoria contínua no processo produtivo (ganhos de qualidade) e nos resultados operacionais das empresas (ganhos financeiros), na tentativa de manter margens satisfatórias mesmo em períodos de retração da demanda.
Quanto aos custos de produção, os principais insumos utilizados na fabricação dos painéis de madeira reconstituída são a madeira e as resinas . Como no processo de fabricação do MDF são utilizadas fibras de madeira e não partículas, como no MDP, consomem-se mais madeira e mais resina que no processo de fabricação do MDP. Em média, no Brasil, necessita-se de cerca de 30% mais estéreos de madeira na fabricação do MDF do que na fabricação do MDP, o que se reflete, historicamente, em custos de produção do MDF cerca de 30% superiores aos custos de produção do MDP.6
Para efeito de comparação, na fabricação de um metro cúbico de MDF são necessários cerca de 2,9 metros estéreos de madeira de pínus sem casca, enquanto para o MDP essa proporção é de 1:2,2 . Quando utilizada a madeira de eucalipto sem casca, a relação é de 1:2,6 para o MDF e de 1:2,0 para o MDP. Apesar do maior consumo na fabricação com base no pínus, as características do painel sem revestimento com essa madeira são melhores, como a cor mais clara e a menor absorção de tinta.
Autores: André Biazus, André Barros da Hora, Bruno Gomes Pereira Leite - BNDES |