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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°135 - MAIO DE 2013

Transporte

Análise operacional de carregamento florestal

O setor florestal é um dos mais importantes para a economia nacional. Contribuiu com 3% do PIB , e 4 % das exportações brasileiras e 9% (8,6 milhões) de empregos, sendo o setor Agroindustrial Florestal, no segmento de florestas plantadas, responsável por aproximadamente 4,6 milhões de empregos.

O crescimento da área reflorestada ocorreu a partir dos anos 60, devido à concessão de benefícios fiscais e proporcionou altos níveis de produtividade dos plantios, formação de mão de obra especializada e desenvolvimento de novas tecnologias. Atualmente, o setor continua crescendo, pois as empresas de base florestal estão realizando investimentos, tanto na área industrial, quanto em suas florestas. Elas buscam a redução de custos pela economia de escala e fazem isso adquirindo máquinas e equipamentos mais eficientes, bem como aperfeiçoando as etapas do processo produtivo, incluindo, o transporte florestal.

O transporte florestal, portanto, é uma das fases que compõe a cadeia produtiva do setor florestal, portanto, deve ter suas atividades aprimoradas através da aquisição de máquinas mais eficientes, bem como do aperfeiçoamento das técnicas utilizadas.

O transporte florestal consiste no carregamento de madeira dos talhões ou margens das estradas, posterior deslocamento do veículo carregado até o local de produção ou consumo, descarregamento da madeira e retorno do caminhão descarregado para novo carregamento. No Brasil, é realizado através dos modais ferroviário e rodoviário, sendo este último responsável por 85% de toda a madeira transportada. No entanto, as condições de transporte ainda estão longe das ideais e, por esse motivo, estudos buscando maior eficiência no transporte rodoviário florestal são muito importantes.

Além disso, o transporte rodoviário florestal representa uma parcela significativa no custo final da madeira colocada nos pátios das fábricas e, para a obtenção de níveis elevados de eficiência econômica e diminuição dos custos, práticas eficientes devem ser perseguidas. Como a redução dos custos da colheita é vital para qualquer empresa, uma análise detalhada e dividida dos rendimentos obtidos nas etapas de transporte tem um papel importante no aumento da qualidade, na racionalização dos processos e na diminuição dos custos desta atividade.

Mesmo que a frota seja terceirizada, é muito importante que ocorra um planejamento do transporte que avalie: as composições veiculares de carga mais adequadas; as características de rede viária utilizada, o número de turnos mais econômico, a adequação do fluxo de veículos e a infraestrutura de carga e descarga. Cabe à empresa realizar tal planejamento, pois através dele se tem o aumento da eficiência dos veículos, maiores ganhos para os proprietários da frota e redução do valor pago pelo frete em virtude da racionalização do processo.

Dentre as atividades realizadas, destacam-se as atividades de carregamento e descarregamento. Elas compreendem todo o tempo gasto em espera, pesagem, conferência, emissão de documentos e nas operações de carregamento e descarregamento propriamente ditas. Essas atividades podem afetar o custo de transporte, pois tem grande importância no grau de utilização do veículo. Seus custos são bastante expressivos quando o transporte é efetuado em pequenas distâncias, pois os veículos tendem a realizar mais cargas e descargas. Em grandes distâncias a importância dessas atividades é menor, pois sua frequência diminui.

A redução do tempo de carregamento e descarregamento pode ser obtida através da utilização de equipamentos mais eficientes, pela modificação nos procedimentos ou com o emprego de operadores treinados. Além dos tempos de carga e descarga, outros tempos também devem ser analisados o tempo de espera deve ser o mínimo possível e, para tanto, deve-se optar por um sistema de carga e descarga que seja tão rápido e seguro quanto possível, pois a fila de transporte não está somente relacionada ao número de caminhões, mas também ao rendimento ou produtividade dos carregadores.

O estudo visando à organização e à racionalização das operações do transporte florestal rodoviário poderá representar uma grande economia de recursos, bem como aumentar a eficiência operacional e, consequentemente, a produtividade dos caminhões. Deve-se buscar compreender quais são as etapas mais problemáticas do processo, identificá-las e propor soluções.

Dada a importância de se aprimorar o transporte de madeira, analisou-se as técnicas operacionais do transporte secundário rodoviário realizado entre uma fazenda e uma indústria de painéis de madeira. Mais especificamente, visa avaliar tempos e rendimentos operacionais das operações de carregamento da madeira no campo.

Este trabalho valeu-se do estudo de caso como metodologia, pois suas características são as indicadas para trabalhos como este.

A coleta de dados foi realizada observando-se em campo das operações envolvidas no transporte, desde o carregamento até o descarregamento das toras visando descrever as atividades desenvolvidas e seus inter-relacionamentos; Cronometragem dos tempos operacionais das atividades de carregamento das toras na fazenda, utilizando a método do estudo de tempos e movimentos, pelo tempo contínuo, considerando-se um erro de 5%; e análise de documentos cedidos pela empresa que continham tempos e informações relevantes;

Pelo estudo, a madeira transportada foi Eucalyptus grandis, com casca, cortado em toras que mediam, aproximadamente, seis metros de comprimento. O peso específico da madeira transportada durante o período de estudo variou entre 764 kg/m3 e 776 kg/m3.

O transporte analisado é realizado continuamente, pois a empresa necessita de madeira para a fabricação de seus produtos durante seu funcionamento que ocorre 24 horas por dia. Portanto, transportam a madeira extraída até a fábrica, continuamente, até que a extração acaba. Nesse momento, os veículos farão o mesmo trabalho em outra área. A distância média de transporte de madeira entre as fazendas e as unidades fabris é de 55 quilômetros.

A quantidade média de madeira transportada por dia, durante a realização deste estudo, foi de 2.894 toneladas ou 3.740,87 m³. A frota média de veículos utilizada para o transporte de madeira foi de sete bitrens, quatro tritrens e nove rodotrens, porém verificou-se ociosidade na operação de algumas composições que faziam poucas viagens ao longo do dia e depois retornavam a garagem da empresa. Havia, portanto, grande número de frota reserva.

O transporte era realizado por uma empresa contratada. Foram utilizados os seguintes equipamentos: três carregadores florestais, além de uma frota de 20 composições rodoviárias de carga, compostas por bitrens, tritrens e rodotrens.

A operação de transporte apresentou à seguinte sequência: os caminhões deslocam-se vazios até a fazenda, após chegarem ao destino entram em uma fila para o carregamento, quando chega sua vez, deslocam-se até o talhão e posicionam o veículo para o carregamento. Após o carregamento dos veículos, os motoristas amarram e limpa a carga. Neste estudo, as atividades foram agrupadas da seguinte maneira para a coleta dos tempos:

1. Espera para o carregamento: período no qual o motorista fica na fila enquanto outros veículos são carregados;

2. Movimentações das toras: inclui o tempo gasto na colocação das toras no veículo de carga;

3. Ajustes da carga: duração da atividade de acomodar as toras no caminhão utilizando os carregadores florestais;

4. Amarração e limpeza da carga: tempo gasto para amarrar as toras e retirar galhos que possam estar para fora do caminhão.



Para analisar os tempos da etapa dois, movimentações das toras, dividiu-se a operação em duas atividades, pois uma análise mais refinada dos métodos utilizados requer uma divisão maior das atividades. As duas atividades foram denominadas abastecimento e retorno. A primeira é o tempo em que o carregador florestal trabalha com a garra cheia. Inicia-se no momento em que coleta as toras nas respectivas pilhas e acaba no momento em que solta as toras no caminhão. Retorno é a atividade na qual o carregador florestal trabalha com a garra vazia, arrumando toras no caminhão, deslocando sua garra vazia para a carga, além de pequenos deslocamentos, para que o carregador consiga alcançar o veículo que se encontra atrás.

Observaram-se esperas para o carregamento em 13 dos 31 casos acompanhados, geralmente, a espera ocorria quando as composições chegavam em grupos.

Depois do carregamento é feita a limpeza da carga seguida de sua amarração. A primeira consiste deslocar o veículo até uma área livre no talhão, para não atrapalhar o trânsito e o carregamento de outras composições e tirar galhos, toras ou cascas que por ventura tenham ficado para fora do veículo e possam cair pelo trajeto. A amarração é feita pelo motorista e consiste em amarrar a carga com cintas tracionadas por catracas, para prender as toras.

Foram observados carregamentos de 31 veículos e 573 movimentações dos carregadores florestais. As movimentações foram utilizadas para calcular o tempo médio das atividades de abastecimento e retorno das garras que compõe a operação dois.

Tabela 1 – Tempo médio das atividades de abastecimento e retorno realizadas pelos carregadores florestais

Portanto, cada movimento para colocar toras nos veículos demorava em média 38,6 segundos. Como os veículos são diferentes, é preciso utilizar um parâmetro em comum para a comparação, nesse caso decidiu-se utilizar a tonelada. Verificou-se a quantidade de carga entregue pelos veículos na fábrica e com o tempo de movimentação de cada um deles, foi possível obter o tempo médio de carregamento que foi de 20,93 seg/t.

Verificou-se, portanto, que foram realizadas 573 movimentações para o abastecimento dos 31 veículos observados. O total de madeira colocada nos veículos foi de 1.056,7 t, portanto, a média de madeira colocada em cada movimentação foi de 1,84 t, o que resulta em um tempo de 20,93 segundos para colocar uma tonelada no veículo. Portanto, a capacidade média dos carregadores florestais é de 4128 t/dia.

Os demais tempos também foram obtidos por cronometragem das operações, e os resultados obtidos foram: tempo total de espera na fila de 11.973 segundos, tempo total gasto para ajustar a carga de 999 segundos e tempo total de limpeza e amarração da carga de 26.919 segundos.

O tempo referente à fila independe da capacidade dos veículos, portanto, serão considerados constantes para todos os tipos de veículos, no entanto, os tempos de limpeza e amarração e de ajustes da carga dependem da capacidade do veículo e, portanto, também devem ser rateados por sua capacidade.

Após os cálculos, constatou-se um tempo médio de amarração e limpeza de 25,5 seg/t e um tempo médio de ajuste de 0,95 seg/t.

Verificou-se, portanto que a operação que consome maior tempo é a amarração, que representa 54% do total. A movimentação de toras consome um intervalo menor, 44% do tempo total de carregamento do veículo. Ao contrário do que se esperava, a operação de amarração da carga, que é mais simples de ser realizada, consome maior tempo que a movimentação de toras.

Da teoria das filas sabe-se que o grau de ocupação é função da taxa de chegadas, da taxa de atendimento e do número de canais.

Considerando-se o volume máximo de 3.500 toneladas de madeira ao dia como a taxa média de chegada, uma taxa média de atendimento 4128 toneladas/dia e três carregadores florestais (canais de atendimento), conclui-se que o grau de ocupação dos carregadores florestais é de, aproximadamente, 28%, o que significa que os carregadores possuem capacidade suficiente para atender toda a demanda de madeira necessária e encontram-se ociosos uma boa parte do tempo. Portanto, as filas possuem outra causa, que não a baixa capacidade dos carregadores florestais.

Com o acompanhamento de diferentes tipos de composições, foi possível identificar algumas variáveis relativas ao tipo de composição utilizada e verificar se o tipo de composição influencia nos tempos de carregamento de toras.

Os tempos de carregamento variam de acordo com a composição utilizada, sendo menores para as composições do tipo rodotrem e maiores para os bitrens. As principais diferenças encontram-se no tempo de amarração e ajustes da carga.

A diferença no tempo de amarração, neste estudo de caso, deve-se a quantidade de cintas contidas nos veículos, que é proporcionalmente menor nos veículos de maior capacidade. E isso se deve pelo fato de o bitrem, geralmente ter sido carregado em sua capacidade máxima, assim suas toras ficando mais perto do final dos fueiros, portanto daí sai a necessidade de um maior número de cintas de amarração para segurança.

A partir dos resultados obtidos neste trabalho, conclui-se que:

A atividade que demanda mais tempo no carregamento florestal é a amarração da carga, seguida pela atividade de carregamento. Para melhorar o desempenho desse sistema é preciso tornar a amarração da carga mais rápida. Nesse sentido, sugere-se a adoção de um sistema de unitização através de lingas que, ao mesmo tempo, facilitaria a amarração e a movimentação das toras. No entanto, ressalta-se que devem ser realizados mais estudos buscando e testando soluções para tornar a amarração e movimentação da carga mais rápida.

Quanto ao tipo de composição verificou-se que o carregamento dos rodotrens é mais rápido que o carregamento dos bitrens e tritrens. Essa diferença deve-se ao maior espaço para movimentação das toras que possibilita um carregamento sem que as toras se “entrelacem”, portanto, mais rápido.

Quanto às filas que se formam no carregamento, concluímos que elas devem-se aos comboios formados pelos motoristas para realizar os deslocamentos. Durante o estudo, verificou-se que os motoristas realizavam os deslocamentos fábrica-fazenda e fazenda-fábrica juntos. Somado a isso, verificou-se que a capacidade dos carregadores florestais é suficiente para a taxa de carregamento necessária ao abastecimento da empresa. Concluímos, porquanto, que essa prática prejudica o carregamento florestal e que deve ser evitada para melhorar o rendimento do processo como um todo.

Autores

Gustavo Henrique Stein, Tecnólogo em Logística e Transporte do Campus de Itapeva, UNESP; José Cláudio Caraschi, Professor do Campus de Itapeva, UNESP; Érico Daniel Ricardi Guerreiro, Professor do Departamento de Engenharia de Produção, UFG