O setor moveleiro, distribuído em diversos setores, apresentou um desenvolvimento significante nos últimos tempos. Seu crescimento inclui, principalmente, investimento em mão de obra qualificada, matéria-prima e design. A industrialização do mobiliário brasileiro iniciou-se em 1875 pelos artesãos, sendo a maioria italiana. Essas empresas se caracterizavam pela estrutura familiar, com pequenas oficinas de produção artesanal. A produção de móveis, principalmente móveis sob encomenda, era realizada em pequenas marcenarias utilizando madeira maciça. O processo de desenvolvimento da indústria moveleira no Brasil, até atingir a produção seriada de móveis, está relacionado ao crescimento dessas antigas marcenarias. Somente na década de 1950 é que se consolidaram os principais pólos moveleiros no Brasil.
A indústria de móveis é constituída por vários processos produtivos, o que envolve matérias-primas diferentes e muitos produtos finais. Esta pode ser agrupada em materiais (madeira, metal e outros) e uso final do produto (móveis residenciais, escritório, cozinha). O design e a combinação de materiais têm sido cada vez mais utilizados na produção de móveis mais modernos e baratos, ampliando a competição no mercado internacional de móveis.
Os móveis de madeira, os principais do setor, são distribuídos em dois grupos: retilíneos, lisos, com desenho simples de linhas retas e matéria-prima principal constituída de aglomerados e painéis compensados; e móveis torneados, com detalhes mais sofisticados de acabamento, misturando formas retas e curvilíneas e como matéria-prima a madeira maciça - de lei ou de reflorestamento – e painéis do tipo medium-density fiberboard (MDF).
A redução na oferta de madeira maciça, originária de reflorestamentos de pinus e eucalipto, e o crescimento de produtos de madeira reconstituída, aglomerados (MDP), compensados, OSB, chapas de fibra de média densidade (MDF), deram início à produção de móveis mais leves, menos resistentes e baratos.
Painéis MDP são constituídos por partículas posicionadas de forma diferenciada, com as maiores dispostas ao centro e as mais finas nas superfícies externas formando três camadas, sendo aglutinadas e compactadas entre si com resina sintética através da ação conjunta de pressão e calor. Sendo que outros tipos de materiais lignocelulósicos, além da madeira, podem ser utilizados para a produção de painéis aglomerados. O MDP é um painel homogêneo e de boa estabilidade dimensional (largura, comprimento e espessura), resistente à flexão e ao arranque de parafusos.
Os materiais lignocelulósicos provenientes de subprodutos agroindustriais vêm sendo utilizados com sucesso na fabricação de painéis, sendo possível destacar a casca de arroz, folhas de bambu e também o bagaço de cana-de-açúcar.
Os painéis OSB constituem-se por um tipo de aglomerado estrutural produzido com partículas strand orientadas. Possuindo excelentes características, como alta resistência físico-mecânica, alta resistência a impactos e à retirada de parafusos e pregos, consistência (produto não sujeito à delaminação) e, homogeneidade (ausência de espaços ocos, nós soltos ou fendas).
Já os painéis MDF são definidos, segundo a ASTM D1554, como painéis fabricados a seco, feitos com fibras lignocelulósicas combinadas com uma resina sintética ou outro agente ligante, compactados a uma densidade entre 0,50 a 0,80g/cm3 por prensagem a quente, sendo estes altamente homogêneos.
Quanto às propriedades físico-mecânicas dos painéis, muitos são os fatores que contribuem para as características do produto final, dentre os quais: matéria-prima, densidade dos painéis, razão de compactação, tipo e teores de adesivo, umidade das partículas, temperatura de prensagem e pressão específica.
Algumas variáveis como densidade, compressibilidade, dureza, propriedades de colagem, pH, tipos de fibras e extrativos, apresentam variabilidade entre as diferentes madeira, afetando as propriedades dos painéis.
A estrutura anatômica, propriedades de colagem, pH e densidade são características que interferem na estabilidade dimensional de painéis de madeira reconstituída.
Com este crescente mercado em desenvolvimento dos painéis de madeira e também do setor moveleiro, desenvolveu-se um trabalho visando avaliar a estabilidade dimensional de diferentes tipos de painéis utilizados no setor moveleiro.
Foram utilizados painéis industriais MDP de bagaço de cana proveniente de uma empresa chinesa e painéis industriais MDP, OSB e MDF de Pinus, adquiridos de empresas nacionais. Todos os tipos de painéis foram produzidos com o adesivo uréia-formaldeído.
Através de estudo na Unidade Experimental de Produção de Painéis de Madeira – UEPAM – da Universidade Federal de Lavras, em Lavras/MG, foram retirados cinco corpos de prova em cada painel, com auxílio de uma serra circular esquadrejadeira, os quais foram posteriormente acondicionados em sala de climatização com condições de umidade e temperatura controladas até massa constante.
Testes físicos
Para a avaliação da estabilidade dimensional dos diferentes tipos de painéis foram realizados os testes de absorção de água após duas e vinte e quatro horas de imersão inchamento em espessura após duas e vinte e quatro horas de imersão e taxa de não retorno em espessura.
Para a realização do ensaio de absorção de água após duas horas, foi determinada a massa inicial dos corpos de prova com auxílio de uma balança digital com precisão de 0,01g e estes foram imersos em água por duas horas. Posteriormente, foram retirados da água e sua massa foi determinada.
Para a determinação do inchamento em espessura após duas horas, os corpos de prova foram imersos em água destilada por duas horas e, após este período, foram retirados da água e medidos em dois pontos distintos previamente marcados no corpo de prova, com auxílio de um paquímetro digital com precisão de 0,01mm.
Para a determinação da taxa de não retorno em espessura, após os corpos de prova permanecerem em água por vinte quatro horas, este foram novamente climatizados, sendo posteriormente mensurado a espessura em dois pontos do corpo de prova
Densidade aparente dos painéis
Houve diferenciação estatística entre a densidade aparente média dos diferentes tipos de painéis, sendo os painéis MDP e MDF produzidos com as madeira de pinus os que apresentaram os maiores valores médios. Fato este que se deve as peculiaridades de produção de cada tipo de painel no seu processo industrial, o qual varia para cada tipo de painel e em função dos critérios de produção de cada empresa.
Houve diferença estatística entre os tratamentos. Para ambas as propriedades os painéis MDP de pinus e MDF foram iguais estatisticamente e diferenciaram dos demais tratamentos, obtendo os menores valores médios. Não houve diferenciação estatística entre os painéis MDP de bagaço de cana e os painéis OSB.
Tal fato se deve às maiores densidade aparente média dos painéis MDP de pinus e MDF, visto que estudando painéis aglomerados com densidades de 0,5; 0,7 e 0,9g/cm³, constatou diminuição nos valores de absorção de água com o aumento na densidade dos painéis.
Em outro trabalho realizado, estudando painéis de madeira aglomerada de Pinus elliottii e Eucalyptus dunnii, os valores médios encontrados de absorção de água variaram de 42,09 a 71,75% para duas horas de imersão e de 73,12 a 80,05% para vinte e quatro horas.
Comparando painéis aglomerados comerciais produzidos com bagaço de cana na China com painéis comerciais produzidos com a madeira de pinus no Brasil obteve para os painéis MDP de bagaço de cana os valores de 17,50% e de 67,90% para a 2h e 24h, respectivamente, enquanto que para os painéis MDP de Pinus, os valores foram de 12,60% e de 60,60%, respectivamente.
Houve diferença estatística entre os tratamentos nas propriedades inchamento e espessura. Na propriedade inchamento o painel MDP de bagaço de cana diferenciou-se estatisticamente dos demais tratamentos, obtendo os maiores valores médios. Não houve diferença estatística entre os demais painéis.
Para o inchamento os painéis MDP de bagaço de cana e os painéis OSB diferenciaram dos demais tratamentos, apresentando os maiores valores médios. Enquanto que para a propriedade espessura os painéis OSB foram os que apresentaram os maiores valores médios, diferenciando-se dos demais tratamentos, os quais foram iguais estatisticamente.
Apenas os painéis MDP de bagaço de cana e OSB não estão em conformidade com as normas A208 e NBR 14810 apresentando valores superiores a 8% em inchamento em espessura após vinte e quatro horas de imersão.
De forma geral, os painéis MDP e MDF de pinus apresentaram a melhor estabilidade dimensional entre os diferentes tipos de painéis, estando ainda em conformidade com as normas A208. e NBR 14810, sendo assim os painéis mais indicados para produção de móveis;
Os painéis MDP de bagaço de cana apresentaram-se melhor estatisticamente que os painéis OSB nas propriedades inchamento e espessura, sendo iguais estatisticamente nas demais propriedades avaliadas.
Autores
Stefânia Lima Oliveira, Mestranda, Universidade Federal de Lavras; Rafael Farinassi Mendes, Doutorando, Universidade Federal de Lavras; Amélia Guimarães Carvalho, Mestranda, Universidade Federal de Lavras; Lourival Marin Mendes, Professor do Departamento de Engenharia Florestal, UFLA; Gustavo Henrique Denzin Tonoli, Professor do Departamento de Engenharia Florestal, UFLA |