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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°135 - MAIO DE 2013

Construção Civil

Indicação da madeira para construção civil

As propriedades básicas da madeira variam muito entre as espécies. Tomando-se a densidade de massa aparente a 15% de teor de umidade, como um indicador dessas propriedades, tem-se a madeira de balsa com 200 kg/m3 e a de aroeira com 1100 kg/m3, ou seja, materiais com propriedades físicas e mecânicas totalmente distintas.

Portanto, na escolha da madeira correta para um determinado uso, deve-se considerar quais as propriedades e os respectivos níveis requeridos para que a madeira possa ter um desempenho satisfatório. Esse procedimento é primordial principalmente em países tropicais, onde a variedade e o número de espécies de madeiras existentes na floresta são expressões da sua biodiversidade.

Soma-se a essa questão a mudança das fontes de suprimento dos principais centros demandantes de madeira serrada, localizados nas Regiões Sul e Sudeste. Com a exaustão das florestas nativas dessas regiões, o suprimento de madeiras nativas passou a ser realizado, em parte, a partir de países limítrofes, como o Paraguai, porém, de forma mais significativa, a partir da região amazônica. As madeiras disponíveis nos reflorestamentos implantados nas Regiões Sul e Sudeste, com pinus e eucalipto, já estão suprindo a construção civil.

Essas mudanças têm provocado a substituição do pinho-do-paraná e da peroba-rosa, espécies tradicionalmente utilizadas pelo setor, por outras madeiras, desconhecidas dos usuários e, às vezes, inadequadas ao uso pretendido.

A variedade de espécies de madeira - e a amplitude de suas propriedades - existente na floresta amazônica dificulta as atividades de exploração florestal sustentada e mesmo uma comercialização mais intensa do potencial madeireiro da floresta, sobretudo naqueles mercados abastecidos tradicionalmente por poucas espécies de madeira.

Tais circunstâncias sugerem uma abordagem para redução da heterogeneidade das madeiras, através do grupamento ou reunião das mesmas em categorias de propriedades comuns.

No mercado brasileiro o grupamento já é praticado, porém de forma não técnica e com desconhecimento por parte do usuário final. Na cidade de São Paulo, sob o nome de cedrinho estão sendo comercializadas cerca de 15 diferentes espécies de madeira (amazônicas e de reflorestamento), que são empregadas indistintamente em uso temporário nas obras.

O lado positivo desse fato é a constatação da aplicação prática do conceito de grupamento de espécies por uso final (várias espécies sendo aplicadas num determinado uso) e a aceitação, portanto, de outras espécies de madeira não tradicionais. Porém, a forma como este processo está se desenvolvendo, baseado na escolha das espécies pela tentativa-e-erro e sem, pelo menos aparentemente, o conhecimento do consumidor, é inapropriada e poderá aumentar o preconceito em relação a madeira como material de construção.

A alocação das madeiras nos grupos de uso final é realizada através de um critério em que foram utilizadas as propriedades e/ou características consideradas como o mínimo necessário para um bom desempenho da madeira no uso especificado. Para cada uma das propriedades escolhidas foram fixados valores mínimos e, às vezes, máximos, tendo como base os valores de madeiras tradicionalmente empregadas nos usos considerados.

Esta estratégia foi adotada considerando que os especificadores de madeira (engenheiros, arquitetos, compradores de empreiteiras, carpinteiros etc.) têm o hábito de indicar somente as madeiras tradicionais, como peroba rosa e pinho-do-paraná. Com isto, busca-se facilitar a aceitação de “novas” madeiras.

Entretanto, há processos de seleção de madeiras tecnicamente mais elaborados, como o utilizado na norma NBR 7190 “Projeto de estruturas de madeiras”, da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, e que substituiu a NBR 6230 com profundas alterações na metodologia e procedimentos de ensaios.

Nessa norma foram estabelecidas três classes de resistência - C 20, C25 e C 30 - para as madeiras de coníferas (pinus e pinho-do- -paraná, p. ex.) e quatro classes - C 20, C 30, C 40 e C 60 - para as madeiras de dicotiledôneas (peroba-rosa, ipê, jatobá, p. ex.). No estabelecimento dessas classes foram consideradas propriedades físicas (densidade de massa básica e aparente), de resistência (compressão paralela às fibras e cisalhamento) e de rigidez (módulo de elasticidade).

A utilização de classes de resistência elimina a necessidade da especificação da espécie da madeira, pois em um projeto estrutural desenvolvido de acordo com essa norma bastará a verificação das propriedades de resistência de um lote de peças de madeira à classe de resistência especificada no projeto.

É importante salientar que a necessidade de especificar a espécie de madeira foi suprimida no que diz respeito à resistência mecânica. Entretanto, isto ainda é necessário quando se precisa empregar madeiras naturalmente resistentes ou permeáveis às soluções preservantes, em função da classe de risco de deterioração biológica a que a madeira estará exposta (item 10.7 da Norma). Outra situação que requer tal especificação é quando se precisa conhecer as características de trabalhabilidade e de decoratividade da madeira.

Fonte:
Madeira Uso Sustentável na Construção Civil , Equipe Técnica, Geraldo José Zenid, Ligia Ferrari Torella di Romagnano, Marcio Augusto Rabelo Nahuz, Maria José de Andrade Casimiro Miranda, Oswaldo Poffo Ferreira, Sérgio Brazolin