O grande volume de resíduos provenientes das serrarias está motivando municípios da Amazônia a buscar novas opções. O aproveitamento para geração de energia é uma boa alternativa com resultados diretos.
A preservação da região amazônica tem sido uma grande preocupação nesta década, especialmente devido ao crescimento da consciência ambiental. A exploração local de recursos naturais está associada ao desmatamento e às freqüentes queimadas, visando a utilização do solo para agricultura. Considerando-se o desmatamento, pode-se ver a relevante participação das serrarias, cujos métodos usados para a exploração da madeira não seguem os parâmetros de sustentabilidade. Por outro lado, pode ser considerado que, em alguns municípios da Amazônia, as serrarias oferecem a principal atividade econômica, sendo responsável pela maioria dos empregos locais. Portanto esta situação oferece uma boa oportunidade para avaliar alternativas que podem permitir o desenvolvimento sustentável da região, como melhoria no desenvolvimento da infra-estrutura através da utilização de resíduos de madeira a partir das serrarias como um combustível para produzir energia elétrica.
Atualmente, a lenha é usada como matéria prima para a produção de carvão. Apesar de sua conversão ocorrer dentro de estufas em forma de “iglu”, causando sérios problemas de saúde aos trabalhadores e a emissão de gases causadores do Efeito Estufa. Neste contexto, esse documento apresenta alternativas para a utilização da biomassa para a criação de energia na região amazônica, incluindo a produção de energia elétrica, melhorias na atual tecnologia usada na produção de carvão e perspectivas para o crescimento das atividades econômicas.
Como exemplo está a cidade de Ulianópolis, onde o fornecimento de energia se dá através do sistema interligado nacional, que iniciou há dois anos atrás, através da linha de transmissão de Tucuruí. Apesar do sistema de conexão interligado, a maioria das serrarias têm geradores a óleo diesel como um recurso suplementar de fornecimento de energia elétrica. De acordo com as indústrias locais, acontecem freqüentes interrupções no fornecimento de energia local, que podem durar até 24 horas.
Assim, em Ulianópolis, o fornecimento de energia é feito pela energia fornecida pelo sistema interligado e os motores a óleo diesel, com o mesmo nível de importância.
O município possui 11.778 habitantes na área urbana e 7.231 na área rural. Lá estão instaladas 16 empresas, cujos resíduos geram em torno de 6 MW de pontência.
As serrarias apresentam dois tipos de gasto de madeira: serragem e resíduos de madeira. A serragem não apresenta nenhum tipo de utilização, sendo a mais alta quantidade de material acumulada nas indústrias. Os resíduos de madeira são usados com matéria prima na produção do carvão em estufas “iglu” e vendido para indústrias de ferro e aço próximas.
Essa atividade tem sido alvo das inspeções da Secretaria do Meio Ambiente e da Agricultura local, devido aos seguintes aspectos: o primeiro é relacionado à poluição local, porque algumas indústrias de carvão estão localizadas na área urbana. A segunda razão envolve as condições de saúde dos trabalhadores, os quais têm contato direto com a fumaça e partículas geradas durante a produção do carvão.
Tentando resolver os problemas apresentados, o prefeito encontrou outras áreas para a instalação das indústrias de carvão, melhorando a situação de poluição do local. Entretanto, a tecnologia de conversão utilizada ainda é a mesma e os problemas referentes à saúde dos trabalhadores não foram resolvidos.
Essa situação mostra que a biomassa utilizada sem planejamento não é suficiente para garantir o desenvolvimento sustentável da situação. Mesmo que fossem usadas tecnologias mais limpas e mais eficientes na produção do carvão, isso não contemplaria o atual insustentabilidade como método de extração empregado na exploração florestal.
Como alternativas de tecnologia consideram-se duas fontes principais de madeira capaz de empregar como combustível para a produção de energia:
Madeira plantada: a exploração desse tipo de madeira objetiva a conversão da madeira em energia elétrica. É possível utilizar recursos naturais como recursos de biomassa, entretanto é necessário considerar, juntamente com a exploração, a atividade de reflorestamento.
Processo Industrial: nesse caso, a exploração da madeira não objetiva a produção de energia elétrica, sendo usada para esse objetivo, os resíduos de madeira originados do processo industrial.
Inicialmente, duas opções na conversão da biomassa foram consideradas: o processo de gaseificação e o uso de “Rankine” Cycle System. A diferença entre as duas alternativas é que no “Rankine” Cycle System, a biomassa é queimada completamente e na gaseificação,ocorre uma queima parcial da biomassa, o que produz um gás composto por H2 e CO, o qual é queimado em um motor ou turbinas de gás adaptado a óleo diesel.
Apesar da melhor combustão obtida através da utilização do gás, esta tecnologia ainda precisa de pesquisas, especialmente devido aos aspectos ambientais e técnicos.
Nos cálculos preliminares usando “Rankine” Cycle System para a tecnologia de conversão da biomassa, os resultados obtidos atingiram um poder em torno de 3MW. Duas opções de tecnologia foram consideradas:
Caldeira convencional
Caldeira fluída
Para poder-se usar resíduos das serrarias em Ulianópolis, devem ser considerados aspectos relacionados com a floresta tropical. De acordo com donos de serrarias, um plano de reflorestamento poderia ser muito caro. Neste contexto, presente proposta é adequada, porque permite que a energia elétrica produzida seja vendida para uma utilidade local, o que poderia criar recursos financeiros para ser usados em programas de reflorestamento e usar a energia produzida para melhorar outra atividade econômica, como a agricultura.
Maio/2003 |