O Brasil é um país que reúne inúmeras vantagens comparativas que o tornam capaz de atuar como líder no mercado mundial de biomassa, em particular aqueles dedicados aos pellets. Nesse sentido, destacam-se as grandes áreas disponíveis para o reflorestamento e a produção acelerada devido à intensa radiação solar recebida o ano todo. Dados de 2011 mostram que o Brasil possui área de reflorestamento com 6,7 milhões de hectares. Nossa matriz energética é positivamente diferente da matriz global porque mais de 40% da energia consumida é renovável, enquanto no resto do mundo a participação é de pouco mais de 10%. A madeira contribui com cerca de 30% desta energia renovável. Essa matriz energética, limpa e sustentável, pode ser explicada por alguns privilégios da natureza, como uma bacia hidrográfica com vários rios, a qual é fundamental à produção de eletricidade, além do fato de ser o maior país tropical do mundo, diferencial determinante para a produção de energia de biomassa.
Essa biomassa vegetal vem sendo fortalecida, neste novo cenário energético mundial, pois, dentre as fontes renováveis de energia, possui grande potencial para suprir as necessidades atuais de energia a preços cada vez mais competitivos e com menor impacto ambiental. Além disso, a escassez de fontes não renováveis, as pressões de ambientalistas e da sociedade civil poderão estimular um maior aproveitamento energético da biomassa. Das formas de se utilizar a biomassa vegetal como fonte de energia, a compactação por meio da peletização, proporcionam algumas vantagens principalmente quanto ao armazenamento e transporte.
No continente Europeu e nos Estados Unidos esse processo de peletização já existe desde a crise do petróleo, precisamente, no final da década de 70. Já no Brasil, surgiu depois de 2001 e sua utilização no mercado interno se restringe, até o momento, a pequenas indústrias e pontos comerciais. Há várias empresas nacionais fabricando queimadores específicos para usar os pellets. Também, é fácil encontrar empresas que adaptam o sistema (óleo BPF, cavacos, carvão...) para utilizá-los. Estufas de secagem, fornos de padarias e pizzarias vem utilizando esse biocombustível mostrando que, aos poucos, essa fonte de energia está se incorporando ao processo industrial e comercial. A formação destes mercados consumidores contínuos é um bom sinal da evolução da utilização deste bicombustível no Brasil.
A madeira é a matéria-prima mais utilizada para a produção dos pellets, mas devido ao grande número de usinas de álcool e açúcar no país e do volume de bagaço de cana gerado por elas no processo, algumas empresas fazem a peletização com esse resíduo. O bagaço gerado pelas usinas tem dois fatores que atrapalham sua utilização como energia: alto teor de umidade (aumenta o custo da secagem) e baixa densidade (aumenta o custo do transporte). Além disso, as usinas preferem utilizar este bagaço “in natura” (com alta umidade e baixo poder calorífico) do que peletizá-lo. O alto custo do processo de compactação e da matéria-prima diminuiu a rentabilidade desta operação. Outro material, muito peletizado nos EUA, que está chegando ao Brasil, é o capim-elefante (Pennisetum purpureum). Uma unidade industrial começa a surgir no Nordeste Brasileiro, com início de operação previsto para 2015, e pretende-se fabricar pellets de capim-elefante e pellets carvão com o mesmo material.
De acordo com a ABIPEL- Associação Brasileira das Indústrias de Pellets, o país tem hoje 12 plantas industriais e duas que estão por iniciar suas atividades nos próximos anos. Essas empresas tem capacidade produtiva de, aproximadamente, 237.000 t/ano, mas sua produção atual atinge, apenas, 25% dessa capacidade. São pequenas plantas industriais com baixa capacidade produtiva. Além disso, questões tecnológicas como a baixa eficiência dos equipamentos utilizados e o alto custo da produção (potencializados pelo alto custo da matéria-prima e dos transportes), ainda limita a popularização dos pellets no mercado interno.
A maior parte das indústrias brasileiras deste combustível renovável está localizada na região centro-sul do país, onde há grandes áreas de reflorestamento e fartura de resíduos que podem ser aproveitados no processo de compactação. Mas o Brasil ainda sofre com a falta de capacidade industrial, que inviabiliza contratos de exportação de médio e longo prazo. No pico do inverno europeu, por exemplo, quando a procura por pellets daqui é intensa, as empresas não conseguem atender o pedido no tempo desejado. Além disso, ainda não há subsídios governamentais que estimulem a utilização da biomassa florestal como recurso energético renovável, uma vez que o país já possui uma matriz energética bastante limpa. Como forma de reduzir as emissões de gases do efeito estufa, os governos da Suécia e dos Estados Unidos, por exemplo, têm subsidiado a compra de aquecedores movidos a pellets em substituição àqueles que utilizam o óleo. Aqui no Brasil, os pellets precisavam de um incentivo governamental como esse para entrar, de uma vez por todas, na matriz energética brasileira. É o que pretende o INEE-Instituto Nacional de Eficiência Energética que elaborou um documento intitulado "Uma política para a Bioenergia". O documento solicita uma regulamentação que sinalize as oportunidades vinculadas ao aumento da eficiência energética dos diversos elementos da cadeia energética da madeira, o que tornará esta fonte progressivamente mais competitiva.
Localização das plantas de pellets no Brasil
As exportações da indústria brasileira de pellets, até o momento, são insignificantes por dois motivos: preço pouco competitivo e custos logísticos. Os preços dos pellets de madeira “made in Brazil” tem mostrado pouca competitividade se comparado com os preços praticados na Europa. A cotação para o mercado interno varia de R$ 400,00 a 600,00 por tonelada/FOB (sem considerar o frete marítimo), preço muito semelhante ao praticado no mercado interno americano e canadense. Por isso, nesse momento, temos poucas empresas que se atrevem a exportá-lo. Com a entrada de empresas de grande porte, como o projeto da Suzano Energia Renovável, que promete produção de 2 Milhões t/ano, e com o ganho de escala de produção e maior eficiência produtiva, o Brasil enfim, poderá tornar-se um líder mundial na distribuição deste biocombustível sólido. Mas, de acordo com a velocidade dos novos empreendimentos em pellets aqui no Brasil, tudo indica que isso só se confirmará depois das Olimpíadas de 2016.
Autores:
Prof. Dr. José Cláudio Caraschi, UNESP - Campus de Itapeva (caraschi@itapeva.unesp.br)
Prof. MSc. Dorival Pinheiro Garcia, Doutorando em Materiais Lignocelulósicos FEG/UNESP (pelletsdemadeira@gmail.com)